MST lança carta ao povo brasileiro sobre o 7 de Setembro: Em defesa da soberania nacional e popular; íntegra
Tempo de leitura: 5 minMST lança carta ao povo brasileiro sobre os 200 anos da Independência do Brasil
Em defesa da soberania nacional e popular, o movimento ressalta necessidade de construir comitês populares em todo o país, em carta sobre o 7 de Setembro
MST
Nesta quinta-feira (1º), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lançou uma carta “em defesa da soberania nacional e popular”, em manifesto ao povo brasileiro em razão dos 200 anos da independência do país, sobre os marcos deste 7 de setembro.
No documento, os Sem Terra destacam que o país nunca conquistou plenamente uma condição de soberania, ressaltando que “o modelo de desenvolvimento econômico foi feito à custa de quatro séculos de escravização”.
O movimento ainda aponta o caráter da elite brasileira, “totalmente servil aos interesses do capital internacional”, sustentando um “modelo econômico que promove e se alimenta da gigantesca desigualdade econômica e social existente em nosso país”.
A carta também traz críticas à gestão Bolsonaro. “Não se constrói uma Nação tendo um governo que ataca as instituições do Estado e desrespeita os processos eleitorais.”
Por fim, o movimento defende que se realize “uma grande mobilização nacional para derrotar, nas urnas e nas ruas, o neofascismo, o racismo, o machismo, a lgbtqia+fobia e a violência pregada por Bolsonaro”.
“A organização popular é a nossa principal força. Precisamos, desde já, construir Comitês Populares, em todos os espaços e no maior número possível de municípios, para que o povo brasileiro seja o protagonista das transformações estruturais necessárias.”
Mobilizações populares
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Além da carta, o Movimento se prepara para as mobilizações populares que serão desenvolvidas ao longo dessa primeira semana de setembro.
Entre elas, ações solidárias construídas em conjunto ao campo popular da Frente Contra a Fome e Sede, que ocorrerão em nível nacional neste sábado (3), com o mote “Panela cheia, povo feliz”.
A ação tem o objetivo de denunciar o aumento da fome e levar alimentação saudável às famílias em situação de pobreza. Além disso, as ações apontam para a necessidade de defesa e construção de um projeto popular para o país, a favor da agroecologia e produção de alimentos saudáveis em comunhão com a natureza.
Ainda durante a próxima semana, no próprio dia 7, ocorrerão ações mobilizadas não só pelo MST, mas pelo conjunto dos movimentos do campo popular, que massificarão as lutas nas ruas em todas as grandes regiões do país, na realização do 28º Grito dos/as Excluídos/as.
Confira abaixo a carta na íntegra:
EM DEFESA DA SOBERANIA NACIONAL E POPULAR
Carta do MST ao Povo Brasileiro
Neste 7 de Setembro de 2022, completam-se 200 anos da Independência política do Brasil em relação à Portugal.
Nosso país jamais conquistou plenamente sua Soberania Nacional e Popular. Desde a chegada da colonização europeia, em 1500, o modelo de desenvolvimento econômico foi feito à custa de quatro séculos de escravização.
Foi estruturado para atender os interesses externos e para a promoção da desigualdade social, desde sua origem. Uma economia forte no cenário internacional, que gera a pobreza do seu povo e destruição ambiental em seu território.
Um país privilegiado por suas riquezas naturais extraordinárias e um povo valoroso, dirigido por uma elite, ainda hoje, antinacional, antissocial e antidemocrática. Uma elite que se contenta em ser o capitão do mato do capital internacional, para assegurar o saque das riquezas do nosso país.
Para assegurar a existência desse modelo, as classes dominantes não hesitaram em recorrer, sucessivas vezes, a golpes de Estado, ditaduras e a institucionalização da violência contra o povo brasileiro.
O resultado desse modelo é o país que temos hoje: totalmente servil aos interesses do capital internacional, com uma economia situada entre as maiores do planeta, às custas da exploração do nosso povo, de nossas terras e riquezas naturais. Um modelo econômico que promove e se alimenta da gigantesca desigualdade econômica e social existente em nosso país.
A burguesia jamais se dispôs a construir uma Nação. Quando os povos indígenas, negros e pobres, em geral, ousaram lutar pela Liberdade e Igualdade, foram vilmente reprimidos em seu próprio país.
A perpetuação de verdadeiras mazelas estruturais, como a concentração de terras, da riqueza e renda, servem tanto para aumentar a desigualdade social quanto para as classes dominantes exercerem seu domínio sobre as classes subalternas. Cercaram tudo: a educação, o conhecimento, a cultura, a comunicação e a informação, como se fossem privilégios exclusivos das classes dominantes.
Não! O Brasil é dos brasileiros e das brasileiras e não de suas elites. Essa terra tem dono, já gritava Sepé Tiarajú!
Chegamos a uma situação de subordinação extrema aos interesses internacionais. Temos um Presidente da República que, sob conivência dos militares que se enriquecem em seu governo, batem continência à bandeira dos Estados Unidos para manifestar o quanto é servil ao império. Nossa bandeira jamais será a dos EUA!
Um presidente que hipocritamente usa a bandeira nacional nos ombros; promove negociatas das nossas riquezas naturais e de empresas estatais em benefício ao capital internacional; servil às corporações transnacionais das sementes transgênicas, dos agrotóxicos e da mineração, e incentiva a violência contra os territórios dos povos indígenas, tradicionais e quilombolas.
Não há democracia quando o patrimônio do povo brasileiro, como a Petrobras ou a Eletrobrás, está subordinado aos interesses e ganância do mercado internacional.
Não se constrói uma Nação tendo um governo que ataca as instituições do Estado e desrespeita os processos eleitorais. Apropria-se das cores e símbolos nacionais para promover o fascismo e o ódio entre as pessoas. Exalta torturadores, ditaduras e golpes de Estado.
Não se fortalece a democracia tendo um governo que adota políticas que promovem a fome e a pobreza; facilita a aquisição de armas que acabam nas mãos do crime organizado e das milícias; incentiva a destruição ambiental e as queimadas, destrói todos os biomas, principalmente do Cerrado e o Amazônico.
É um governo que, com suas políticas e ações, aprofunda a dependência e se afasta cada vez mais da Soberania Nacional e Popular. Assim, inexistem motivos para comemorarmos os 200 anos de Independência.
Só é possível ser um país soberano se conduzirmos nosso destino em direção ao bem-estar de todo povo brasileiro, garantindo acesso igualitário à educação, à saúde, ao trabalho, à renda e à cultura.
Um projeto de país onde os bens da natureza são considerados bens sociais, destinados a atender os interesses da população e não os do mercado.
Um projeto de desenvolvimento econômico que promova a distribuição da riqueza e renda produzida, fortaleça as cadeias produtivas nacionais, a ciência e a tecnologia.
Um projeto que radicalize a democracia, democratizando o Estado e assegurando a participação popular na definição dos rumos do nosso País.
Um Projeto popular que garanta as igualdades, as diversidades e os direitos, combatendo todas as formas de preconceitos e violências. Que democratize o acesso à terra, fazendo Reforma Agrária Popular para produzir alimentos saudáveis. E que amplie a oferta de serviços públicos universais, assegurando vida digna ao povo brasileiro.
Um projeto Popular de integração com os povos latino americanos e do continente africano. Jamais saldaremos a dívida que temos com esses povos, mas podemos revertê-la em ações de solidariedade e generosidade, exigindo que nosso governo se submeta a esse desejo de reparação histórica e projeto de futuro.
Agora, urgentemente, precisamos realizar uma grande mobilização nacional para derrotar, nas urnas e nas ruas, o neofascismo, o racismo, o machismo, a lgbtqia+fobia e a violência pregada por Bolsonaro.
A organização popular é a nossa principal força. Precisamos, desde já, construir Comitês Populares, em todos os espaços e no maior número possível de municípios, para que o povo brasileiro seja o protagonista das transformações estruturais necessárias.
Só seremos independentes se construirmos um Projeto Popular e Soberano em nosso país.
Viva o Povo Brasileiro!
Viva o Brasil!
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
7 de Setembro de 2022
Carta na íntegra: https://drive.google.com/drive/folders/175EEpPdeo_DhZx1OgwoMGgGR2rKiejsS?usp=sharing
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Comentários
Zé Maria
Quem Produz os Alimentos que Chegam à Mesa d@s Brasileir@s?
Agronegócio é celebrado por muitos como garantia de comida na mesa.
De toda essa produção agrícola, porém, pouco vai para a mesa dos brasileiros.
A Maioria dos Alimentos vem de Outra Fonte: a AGRICULTURA FAMILIAR
[ Reportagem: Nádia Pontes (*)| Deutsche Welle (DW) | via Racismo Ambiental ]
Quando se consideram Alimentos Consumidos no país,
70% vêm da Agricultura Familiar, segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
São pequenos agricultores que plantam para abastecer a família e
vendem o que sobra da colheita – como Mandioca (87%), Feijão (70%),
Horticultura (63%), Leite (58%), Milho (46%), Batata (44%), Arroz (34%),
Fruticultura (37%) e Carnes (Suínos = 59%; Aves = 50%; Gado = 30%).
(https://racismoambiental.net.br/wp-content/uploads/2018/01/grafico-agricultura-familiar-brasil.jpg)
No Estado da Bahia é onde se encontra o Maior Número de Agricultores Familiares do Brasil.
O Governo Federal prefere não fazer separação entre Agricultura Familiar
e Empresarial [Agronegócio Exportador].
Em documentos oficiais, no entanto, a divisão ainda é feita.
Dados da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento
Agrário apontam a existência de 4,4 milhões de agricultores familiares.
Eles seriam responsáveis por 38% de toda Produção Agropecuária Brasileira
e empregariam 74% da Força de Trabalho do Setor.
A diferenciação também é clara para Pesquisadores.
“No modelo de agronegócio, predomina a monocultura,
ou um pequeno número de culturas, as chamadas ‘commodities’,
enquanto na agricultura familiar predomina a policultura e a
produção de alimentos”, aponta Danilo Aguiar, pesquisador
da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).
“A agricultura empresarial é mais capital intensiva, faz uso de
mais máquinas e insumos químicos [VENENOS] e menos mão de obra, normalmente desenvolvida em propriedades maiores, voltada totalmente
para o Mercado”, adiciona Aguiar.
Em 2017, e o principal campeão do PIB foi o agronegócio, que comemorou
safra recorde, de 241,9 milhões de toneladas.
De toda essa produção agrícola, porém, pouco vai para a mesa dos brasileiros.
O Brasil aumentou o volume do produto mais vendido pelo país: Soja.
Das 115 milhões de toneladas colhidas, 78% foram para a China.
A exportação de milho também cresceu.
“O milho brasileiro está se consolidando como
grande commodity internacional”, afirma
Neri Geller, secretário de Política Agrícola
do Ministério de Agricultura.
Os agricultores familiares lamentam a pouca representatividade em Brasília.
Depois da extinção do Ministério de Desenvolvimento Agrário, em 2016,
que era voltado para agricultura familiar, uma secretaria especial,
ligada à Casa Civil, foi criada, fora da alçada do Ministério da Agricultura,
“Isso diminuiu o status da importância da Agricultura Familiar”, critica
Antoninho Rovaris, da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG).
“Está claro que o Ministério da Agricultura, que é dos grandes produtores
e tem grande bancada no Congresso Nacional, se sobrepõe”, afirma.
“A bancada ruralista diz que está defendendo todo mundo.
Mas não nos sentimos representados”, conclui.
*(https://www.dw.com/pt-br/n%C3%A1dia-pontes/person-35926801)
Íntegra:
https://racismoambiental.net.br/2018/01/15/quem-produz-os-alimentos-que-chegam-a-mesa-do-brasileiro/
https://www.dw.com/pt-br/quem-produz-os-alimentos-que-chegam-%C3%A0-mesa-do-brasileiro/a-42105492
Zé Maria
Detalhe:
Depois do Golpe de 2016, quando a Presidente Dilma foi afastada
e assumiu o Conspirador Michel Temer (MDB), os Incentivos à
Agricultura Familiar foram relevados ficando a Critério Eventual da
Vontade Política de Governadores Estaduais e Prefeitos Municipais.
Os Governos do Partido dos Trabalhadores (PT) foram os que mais
investiram na Produção Agropecuária de Subsistência.
Zé Maria
Independência Territorial não é o mesmo que Soberania Nacional.
A Nação Brasileira continua Refém da “Elite do Atraso”
Escravocrata Impatriótica Entreguista Histórica.
Por conseguinte, o Brasil se mantém Dominado pelo
Poder Econômico Financeiro Local e Internacional.
A Classe Trabalhadora Brasileira quer ser Senhora
do Próprio Destino, apoderando-se do que Produz.
Zé Maria
Onde há Fome no meio de tanta Riqueza
não há Liberdade Individual nem Coletiva.
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