MST espera que ministro Pepe Vargas acelere as desapropriações de terra
Tempo de leitura: 5 minpor Luiz Felipe Albuquerque, da Página do MST
A expectativa dos movimentos sociais do campo é que, com a posse do novo ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Pepe Vargas, avance o processo de desapropriação de latifúndios para a criação de novos assentamentos.
“Esperamos que o novo ministro possa acelerar o processo de desapropriações de terra. Isso não foi feito em 2011, por conta também da burocracia interna do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e do MDA. Os maiores prejudicados foram as famílias que estão acampadas”, avalia Alexandre Conceição, integrante da Coordenação Nacional do MST.
Alexandre pontua que a lentidão do governo, a ineficiência dos órgãos públicos e a crescente concentração de terras no país contribuem para que os trabalhadores acampados façam uma grande jornada em abril. Atualmente, 186 mil famílias estão acampadas em todo o país, de acordo com dados oficiais do Incra.
“A jornada de abril será uma grande mobilização, com ações em vários estados com marchas, ocupações e atos públicos, em defesa da Reforma Agrária, em memória dos mortos no massacre do Eldorado dos Carajás. A Reforma Agrária e a pauta dos movimentos da Via Campesina só sairão com essas grandes mobilizações”, afirma Alexandre.
Abaixo, leia entrevista completa à Página do MST.
Como você avalia a troca de ministro no Ministério do Desenvolvimento Agrário?
A troca de ministro é responsabilidade da presidenta Dilma. No entanto, esperamos que o novo ministro possa acelerar o processo de desapropriações de terra. Isso não foi feito em 2011, por conta também da burocracia interna do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e do MDA. Os maiores prejudicados foram as famílias que estão acampadas.
A presidenta defende que a Reforma Agrária não é só distribuir terra. Nós concordamos com isso, no entanto, hoje tem cerca de 186 mil famílias acampadas em todo o Brasil. Sem criar novos assentamentos, mais famílias irão se tornar acampadas, o que criará mais problemas para o próprio governo. Com isso, esperamos que o novo ministro possa de fato, junto com o Incra, acelerar o processo de desapropriação de terra.
A que se deve os baixíssimos números referentes à Reforma Agrária em 2011?
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Os dados de 2011 foram dos piores dos últimos 16 anos. A presidenta assinou o primeiro decreto de desapropriação de terra apenas no final de dezembro, demonstrando que o Incra não funcionou, que o MDA não dialogava com o Incra, prejudicando as desapropriações. O governo tem um modus operandi que dificulta ainda mais a burocracia do ministério e do Incra. Estamos esperando que o governo destrave esse processo e retome as desapropriações de terra.
Quais as expectativas daqui pra frente?
Nossa expectativa é que o governo possa acelerar e desburocratizar o Incra e o MDA. As superintendências estaduais do Incra têm que ir a campo para fazer o georreferenciamento das áreas, que podem ser colocadas para benefício da Reforma Agrária, fazer as vistorias e começar encaminhar com agilidade os processos de desapropriação de terras.
São muitas as famílias acampadas pelo Brasil. Consequentemente, elas lutarão no próximo período. Com esse avanço do agronegócio e do capital internacional na agricultura brasileira, a expulsão das famílias do campo e o trabalho escravo acabam ganhando força. Com isso, temos cada vez mais problemas sociais e teremos mais gente na beira das estradas prontas para fazer a luta pela terra.
Não adianta o governo fazer o discurso de que vai investir na Reforma Agrária, nos assentamentos e na desapropriação de terra se não tiver orçamento. O governo está cortando orçamento. Se cortar o que já é muito pouco teremos mais um ano perdido. O orçamento deve ser ampliado e não cortado, para que de fato se possa ter investimentos.
O governo fez compromissos com o MST na jornada de agosto. Esses compromissos foram cumpridos?
Não, muito pouco avançou. Mobilizamos a nossa base de Norte a Sul do país. Conseguimos um orçamento suplementar e uma maior adequação dos recursos. No entanto, esse orçamento foi liberado apenas em dezembro. Isso emperrou o Incra e o MDA, fazendo com que menos da metade do valor fosse utilizado. Para se ter uma ideia, apenas 600 famílias do MST foram beneficiadas com essa suplementação.
O que o movimento espera da Jornada de Lutas de abril?
A jornada das mulheres já foi bastante movimentada durante a semana do 8 de março, com mobilizações em 18 estados. Semana passada também iniciaram mobilizações em agências bancárias, para reivindicar a questão do crédito destinado à agricultura familiar. Ou seja, foram exemplos de que o povo está animado para fazer luta.
Dessa forma, a jornada de abril será uma grande mobilização, com ações em vários estados com marchas, ocupações e atos públicos, em defesa da Reforma Agrária, em memória dos mortos no massacre do Eldorado dos Carajás. A Reforma Agrária e a pauta dos movimentos da Via Campesina só sairão com essas grandes mobilizações. Por isso, na jornada, devem se somar as mobilizações do conjunto dos movimentos do campo.
Quais serão as principais reivindicações?
A primeira reivindicação básica são as desapropriações de terras e a criação de novos assentamentos. Não é verdade que esse país irá se desenvolver na agricultura familiar sem criar novos assentamentos, porque a exploração dos recursos naturais está diretamente associada com a concentração de terra, principalmente pelas empresas transnacionais que estão tomando conta das nossas terras.
Só a China, por exemplo, tinha um orçamento de US$ 300 bilhões para a compra de terras aqui no Brasil no ano passado, desnacionalizando nossas terras. Com isso, a primeira reivindicação é o território e a desapropriação, a desconcentração do território por meio da Reforma Agrária.
E em relação aos assentamentos?
Em relação às políticas públicas que foram criadas ao longo dos governos Lula e Dilma para o desenvolvimento dos assentamentos, tivemos avanços importantes, mas têm que ser melhoradas e algumas delas revistas. Precisamos de uma qualificação dessas políticas tanto do ponto de vista orçamentário quanto na desburocratização para que sejam universais no Brasil. Não adianta boas políticas para poucas famílias.
O governo precisa tirar do papel a implementação do programa de agroindústrias, para que os pequenos agricultores e os assentamentos possam além de produzir, beneficiar os produtos in natura, agregando valor à produção e gerando renda para as famílias. Para isso, nós precisamos de ciência e tecnologia na Reforma Agrária.
Como está a assistência técnica?
Vamos lutar para que a assistência técnica seja universalizada e contínua. O processo é sazonal, porque sofre com a falta de orçamento a cada safra. Ou seja, não há continuidade no processo e ainda não virou uma política massiva. Há muitas falhas e, portanto, a falta de assistência técnica prejudica a produção. Para a agricultura familiar continuar a produzir alimentos, é necessário que haja uma assistência técnica universal, com capacidade técnica e incorporação de tecnologia que aponte à agroecologia, para eliminar o alto consumo de agrotóxicos, fruto dessa matriz de produção calcada no agronegócio.
Qual o significado da articulação das diversas organizações do campo?
A carta assinada pelas organizações tem uma simbologia muito forte. No ano passado, fez 50 anos do 1º Congresso Camponês do Brasil, quando pela primeira e única vez na história todas as forças do campo se reuniram para realizá-lo, em abril de 1961.
A carta vem carregada dessa simbologia, com as forças do campo se encontrando novamente depois de 50 anos para fazer uma revisão do mundo rural, da situação agrária do país e voltar a traçar uma análise em conjunto, no sentido de pautar o governo e a sociedade em defesa da Reforma Agrária.
Estão acontecendo várias reuniões e encontros dos nossos movimentos para que possamos traçar um processo de luta durante todo esse ano, com grandes mobilizações a nível nacional. Quem sabe poderemos repetir o grande congresso de 61. Cada organização tem sua pauta política específica, mas do ponto de vista da luta pela Reforma Agrária estamos dado passos no mesmo rumo.
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Comentários
Janaína
Penso que Reforma Agrária deve ser uma exigência de todo brasileiro. Com essa estrutura agrária, onde a propriedade só vem se concentrando a cada ano que passa nas mãos de um número pequeno de grandes latifundiários é que não dá mesmo para pensar num Brasil Sem Miséria.
A Presidenta Dilma terá o apoio da maioria dos brasileiros se determinar-se a levar adiante uma verdadeira Reforma Agrária.Um tipo de reforma que já foi feita em todos os países desenvolvidos e que vai sendo levada adiante na Nicarágua,Venezuela, Bolívia e Equador,de forma organizada e pacífica,nos últimos anos.
Polengo
É difícil arrumar algo que está "borrado" há 5 séculos.
Espero que este seja o caminho.
Felipe
"O primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil" – Rousseau.
Poxa, olha o tamanho da encrenca que os portugueses nos meteram ao aplicar a fórmula mágica desvendada ulteriormente pelo Rousseau
A primeira borrada iniciou-se quando os grandes infatntes resolveram dar uma chegadinha com as caravelas e estabelecer a propriedade privada aqui. Bem que eles poderiam ter aparececido com uma idéia mais legal que esta… Rs.
E lá se foram 5 séculos.
Fernando
Tomara que a Dilma tenha contra os latifundiários a mesma coragem que teve contra o Ricardo Teixeira.
Felipe
Será que "esperar 'é um bom verbo para representar o que compete a práxis de uma movimento social?
carlos
Esquerdista sem conteúdo quer brigar com o significado das palavras, e escolhe o que lhe convém
vejam abaixo e escolham os seus:
http://diciariorapido.com.br/esperar/
Verbo (Veja a conjugação de esperar)
es.pe.rar
1= ter esperança; aguardar com desejo e uma certa confiança de que algo vá se realizar
Eu espero poder viajar para a Europa no ano que vem.
2- acreditar, desejar, confiar
Eu espero que o meu plano seja aprovado pela diretoria.
3- ficar inativo ou em estado de repouso até que algo aconteça
Fiquei no ponto esperando o ônibus e ele não veio.
4- estar disponível ou pronto (se diz de coisas)
Há uma carta esperando por você no seu cubículo.
5- ser neglicenciado por um certo tempo
Este é um assunto que pode esperar, temos coisas mais importantes a tratar.
6- adiar um assunto, uma decisão
Esperamos uma semana antes de comprar a casa.
7- aguardar algo com grande antecipação
Eu estou esperando o dia em que alguém vai lhe dar uma lição.
Felipe
Carlos,
Concordo contigo sobre eu ser de esquerda, pois sempre procurei ler Marx, Engels, Lênin, Trotsky, Proudhon entre outros autores de esquerda. E para reforçar o meu "esquerdismo" sempre procurei ser ativo no movimento estudantil (dentro da universidade) e no sindical (trabalhando em indústria).
Quanto à conjugação do verbo "esperar", eu continuo pensando que este verbo não é uma boa representação em nenhum dos seus tempos verbais para um enunciado que deseja estabelecer ação ao caminho dos movimentos sociais cujo sentido está na práxis (materialismo) e não nos sentidos idealistas – próprios dos conceitos capitalistas.
E a respeito dos significados das palavras, eu sempre aplico uma atenção especial sim, pois é com elas – a principio – que toda batalha ideológica é travada, desde a disputa das consciências até a quebra ou predominância de poderes estabelecidos.
Faço uso de um estudioso que teve por objeto o estudo do discurso sobre a História para ilustrar seu valor implícito (discurso/palavra) – discurso que sempre deve ser revelado e denunciado, independentemente da orientação política ou filosófica.
“Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e com o poder. Nisto não há nada de espantoso, visto que o discurso – como a psicanálise nos mostrou – não é simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o objeto do desejo; e visto que – isto a historia não cessa de nos ensinar – o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar.” – FOUCALT, Michel, A Ordem do Discurso, aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970.
carlos
Esquerdista, meu chapa. É um desvio, daqueles que fica pegando palavrinhas pra causar dissenso…
Foucault? vc é marxista ou pós-moderno?
Miguel
Voce consegue entender que "esperar" nesse contexto significa "ter expectativa", e nao "aguardar"?
e o pos-modernismo de foucault foi responsavel por muito do "esperar" da forma como voce compreendeu. esse negocio de "lutas parciais", "sujeitos multiplos" e cada um brigando por seu fator identitario separado levou ao esquecimento da luta por direitos universais, o que necessariamente divide, desune, e dificulta.
mano
Olá!!!!Tem alguém aí????????????????
Vlad
Isso não é um chat.
Polengo
Caro Vlad: certamente isso não é um chat, mas certamente é um chato.
mano
Presidenta Dilma,companheira,faça uma verdadeira reforma agrária,de vez.Faça!!!!!!!!!!!
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