Movimentos querem que USP reverta demissão de Ana Rosa Kucinski, morta pela ditadura
Tempo de leitura: 4 min
por Conceição Lemes
A Universidade de São Paulo (USP) foi a universidade brasileira mais atingida pela ditadura civil-militar. Houve todo tipo de arbitrariedade contra os professores, funcionários e alunos que resistiram ao golpe de 64: perseguição, delação, demissão.
Um dos casos emblemáticos é o da professora Ana Rosa Kucinski Silva, do Instituto de Química. Em outubro de 1975, foi demitida por “abandono de função”. Só que Ana Rosa havia sido sequestrada e assassinada pelos órgãos da repressão da ditadura no ano anterior, em 1974.
Por isso, nesta segunda-feira 13, a partir das 11h30, o Fórum Aberto pela Democratização da USP realiza ato no Instituto de Química da USP, na Cidade Universitária, para pedir à Congregação da unidade que anule a decisão tomada em outubro de 1975.
OMISSÃO DA USP
Ana Rosa graduou-se em Química e concluiu seu doutorado em Filosofia na própria USP. Na década de 1970, tornou-se uma das mais jovens professoras no recém-criado Instituto de Química da USP. Ao mesmo tempo, ingressou na Ação Libertadora Nacional (ALN), que se opunha ao regime militar.
No dia 22 de abril de 1974, quando tinha 32 anos de idade, Ana Rosa foi vista pela última vez, nas proximidades da Praça da República, em São Paulo. Desapareceu junto com seu marido, o físico Wilson Silva, no momento em que celebravam quatro anos de casamento. Desde então, nunca mais foi vista. Há relatos de que teria sido torturada e executada na chamada “Casa da Morte”, em Petrópolis (RJ).
A lei 9.140, de 1995, incluiu o nome de Ana Rosa na lista oficial das 136 pessoas que se encontravam desaparecidas “em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, entre 02/09/61 a 15/08/79, e que por este motivo tenham sido detidas por agentes públicos”. Somente com a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), instituída por essa mesma lei, Ana Rosa foi finalmente declarada vítima do Estado brasileiro. Mais recentemente, o ex-delegado de polícia e ex-agente do SNI Cláudio Guerra apontou-a como uma das pessoas que tiveram seus corpos incinerados pelos órgãos de repressão na Usina Cambahyba (RJ), em 1974.
O Fórum Aberto pela Democratização da USP frisa que, apesar de tais evidências, até agora a USP não tomou qualquer medida para reverter a decisão resultante do processo instaurado pela Reitoria em 1974: a demissão da professora por 13 votos favoráveis e dois votos em branco. O desligamento de Ana Rosa foi publicado no Diário Oficial por ato do então governador do Estado, Paulo Egydio Martins.
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O ato do dia 13 reforça as iniciativas da família, em especial de seu irmão, jornalista e professor Bernardo Kucinski, de denunciar o caso e pedir providências.
O Fórum Aberto pela Democratização da USP reúne Adusp, Sindicato dos Trabalhadores (Sintusp), Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre da USP), Associação de Pós-Graduandos do campus da capital (APG-USP), Centro Acadêmico de Filosofia (CAF), Centro Universitário de Pesquisas e Estudos Sociais – Centro Acadêmico das Ciências Sociais (CeUPES), Centro Acadêmico de História (CAHIS), Centro Acadêmico de Relações Internacionais (GUIMA), Centro Acadêmico da FEA (CAVC), Centro Acadêmico da Engenharia de Produção (CAEP), Centro Acadêmico de Engenharia Elétrica (CEE), Centro Acadêmico de Engenharia Civil (CEC), Grêmio da Poli (Gpoli), Centro Acadêmico do Instituto de Química (CEQHR), Centro Acadêmico Lupe Cotrim, da ECA (CALC), Centro Acadêmico Ruy Barbosa (Educação Física), Centro Acadêmico da Mecânica (CAM), Centro Moraes Rego (CMR), Associação dos Engenheiros Químicos (AEQ), Levante Popular, Juventude às Ruas, Grupo de Trabalho pela Estatuinte da USP (GT Estatuinte), Coletivo Político Quem, Coletivo Merlino, Coletivo Manifesto pela Democratização da USP, Liga Estratégia Revolucionária, Frente de Esculacho Popular, Fórum da Esquerda.
PELA COMISSÃO DA VERDADE DA USP: ASSINATURAS ONLINE
O Fórum Aberto pela Democratização da USP prossegue a coleta de assinaturas pedindo a constituição da Comissão da Verdade na universidade. Agora, a assinatura pode ser feita pela internet. Acesse AQUI e assine.
O Fórum Aberto pela Democratização da USP reforça:
Apesar da USP ter sido a universidade brasileira mais atingida pela ditadura civil-militar, até hoje não trouxe à luz aquilo que nela houve de delação e perseguição dos que resistiram às consequências do golpe de 1964.
Como nos lembra Marilena Chaui, existiu uma “limpeza de sangue” no seio da Universidade. Ademais, muito de sua estrutura administrativa atual teve origem [e é tributária do] no estado de exceção e é tributária dele, razão pela qual ela é reconhecida ainda hoje como a mais conservadora e antidemocrática das universidades públicas brasileiras.
Nesse sentido, é fundamental que esta Universidade instaure uma Comissão da Verdade para promover verdade, memória e justiça, bem como para estar em consonância com os dias correntes, abandonando o que nela se instaurou de antidemocrático durantes os anos sombrios.
Por isso, reiteramos, assine o pedido de constituição de uma Comissão da Verdade da USP acessando o site www.verdadeusp.org , no qual também se encontra o teor do requerimento que pede tal Comissão.
Leia também:
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Marcio Sotelo Felippe: A Folha e a batalha dos “dois lados”
Por uma Comissão da Verdade da USP. Participe!
Francisco Carlos Teixeira: Paulo Egydio deveria ser chamado a depor na Comissão da Verdade
Luiz Claudio Cunha: Volte às pantufas, general Leônidas!
Bernardo Kucinski: E quem foi mesmo que financiou a repressão?
Comentários
Raimundo
Enquanto isso, um humilde faxineiro foi espancado por seguranças armados, durante numa festinha da USP promovida pelo CAM, forçado a confessar um roubo que não cometeu. O que a presidência do CAM tem a nos dizer sobre isso?
abolicionista
Vamos ver se o reitor João Grandino Rodas aparece por lá e explica por que absolveu assassinos e torturadores do que ele chama de “revolução”. Vamos ver se explica de onde tirou o dinheiro que usou para comprar um tapete persa de alguns milhares de reais que decora sua sala “majestosa”, como ele gosta de dizer.
JORGE
Azenha
O que a Marilena Chaui constatou na USP ocorreu em todas as esferas de poder no Brasil. Explico, o país foi, literalmente, “purificado”, ou puxava o saco da UND ou puxava carroça, de norte a sul, pela ditadura udenomilitar e, até hoje sofremos as consequências pois, essa turma de puxa-sacos é quem hoje manda nas instiuições brasileiras.
NUNCA DEVEMOS ESQUECER QUE A DITADURA UDENOMILITAR NÃO FAZIA CONCURSO PÚBLICO E SIM COLOCAVA NOS POSTOS CHAVES DO ESTADO SEUS FILHOS, ALIADOS, AMIGOS OU PARENTES. INIMIGOS JAMAIS. E ISSO FOI A PRÁTICA DE 1964 A 1985. De Gari a Ministro do STF.
Dizem até notícias de jornais recentes que continuam fraudando concursos.
Talvez o fato se explique pelo brocado popular “filho de peixe peixinho é”. Ainda, confirma cientificamente que a doença do autoritarismo é genética.
Um abraço.
Movimentos querem que USP reverta demissão de Ana Rosa Kucinski, morta pela ditadura | Viomundo | rastros de 64
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Armando do Prado
Quem nos causou agonia deve ser punido exemplarmente, ainda que tenhamos que continuar lutando por isso. Não aos canalhas, assassinos e torturadores.
Rodrigo Leme
A Ana Rosa foi colega do meu tio e sumiu na mesma época em que ele foi preso. Justíssimo o pleito, mas isso não justifica o festival de besteiras de quem quer imputar na direção da USP hoje crimes da ditadura. Gente nojenta, liderada pela mesma pessoa de sempre, que usa cadáveres para fazer política.
Rodolfo
Não igualaram a ditadura a direção atual, apenas falaram que ela apresenta praticas semelhantes. O que é algo totalmente diferente.
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