Marcelo Zero: Não há soberania e democracia sem o controle nacional das redes de informação e comunicação
Tempo de leitura: 4 minNão há soberania e democracia sem o controle nacional das redes de informação e comunicação
Por Marcelo Zero*
O recente caos criado por uma mera falha na atualização no software de uma única empresa de cibersegurança que presta serviços à gigante Microsoft demonstra a grande fragilidade de uma economia e de um mundo extremamente dependente das tecnologias de informação e comunicação.
O problema, entretanto, não está nas tecnologias em si mesmas, mas na enorme concentração desse domínio tecnológico em pouquíssimas empresas, principalmente as de origem estadunidense.
Isso cria problemas econômicos e políticos muito sérios, que afetam diretamente, e de forma multidimensional, a soberania nacional e as democracias.
A internet e as poucas empresas que a dominam tornaram-se o oposto daquilo que fora imaginado no início da popularização da rede mundial de computadores.
Com efeito, na década de 1990, o boom da internet nos países mais desenvolvidos, notadamente nos EUA, suscitou a falsa esperança de que a rede mundial de computadores, um espaço em tese neutro e democrático, propiciaria a todos os cidadãos oportunidades únicas e homogêneas para informar-se, formar-se e cooperar ativamente, de forma horizontal.
São dessa época, note-se, os principais escritos de Manuel Castells sobre a sociedade em redes, em tese não hierarquizadas e mais democráticas.
Não obstante, com o passar do tempo foi ficando claro, para outros pensadores da rede e do mundo digital, que a internet está muito longe de ser um espaço efetivamente livre e democrático.
Obras como “Who Controls The Internet?” de Tim Wu e Jack Goldsmith, “The Net Delusion”, de Evgeny Morosov e, sobretudo, “The Digital Disconnect: How Capitalism is Turning The Internet Against Democracy”, de Robert McChesney, começaram a compor uma visão mais realista e mais sombria da internet e de suas redes.
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Essa última obra, em particular, demonstra como o mundo da internet é dominado pelos interesses de grandes companhias, principalmente estadunidenses, que efetivamente moldam e dominam a rede mundial de computadores.
Essas grandes companhias, com suas tecnologias proprietárias e seu imenso poder de produzir e controlar informações, poder agora “turbinado” pela inteligência artificial, transformam a internet numa grande plataforma de afirmação crescente de seus interesses próprios e particulares, em detrimento do interesse público e das democracias.
O X de Elon Musk, que se recusou a obedecer às decisões judiciais do Brasil, é exemplo bem-acabado dessa crescente ameaça.
Mas não se trata somente de interesses comerciais e econômicos. Há também os interesses políticos.
As denúncias de Edward Snowden revelaram ao mundo que as grandes companhias que controlam o fluxo de informações da internet, como Google, Microsoft, Apple, Meta, Yahoo etc. contribuíam ativamente, através do sistema de espionagem PRISM, controlado pela NSA norte-americana, para transformar a internet numa gigantesca plataforma de controle político.
Nenhum cidadão do mundo que esteja conectado à rede está livre desse sistema ubíquo e bastante invasivo de espionagem, que devassa e-mails, ligações telefônicas, mensagens de texto, arquivos e postagens nas redes sociais.
Tudo isso, diga-se de passagem, é feito ao abrigo das leis norte-americanas, principalmente do Patriot Act, e, como o grosso do fluxo de informações da internet passa por servidores que estão nos EUA, torna-se praticamente impossível contestar juridicamente essas atividades.
As denúncias de Snowden também revelaram que os fluxos internacionais de informações da rede mundial não apenas são devassados, mas também manipulados. Frise-se que não há algoritmos inteiramente neutros. Todos têm intencionalidade e são produtos humanos.
O domínio econômico-político da internet e das redes sociais por parte dos EUA e suas empresas pode resultar facilmente em ataques “ciberpolíticos” contra países, governos, empresas e indivíduos.
A “primavera árabe”, a “Praça Maidan”, as manifestações de 2013, no Brasil, entre vários outros fenômenos políticos aparentemente “espontâneos”, tiveram, sem dúvida, o dedo político de agências de inteligência dos EUA.
Justiça seja feita, após as denúncias de Snowden, Obama, muito pressionado pelo escândalo mundial, tentou rever alguns processos e normas.
Criou, em agosto de 2013, o Review Group on Intelligence and Communications Technologies especificamente tal finalidade.
Disso, resultou o USA Freedom Act, que modificou e substituiu cláusulas do Patriot Act.
A nova lei impôs alguns limites à recolha em massa de metadados de telecomunicações sobre cidadãos dos EUA pelas agências de inteligência americanas, incluindo a NSA.
Mas, por outro lado, restaurou a autorização para escutas telefônicas e o rastreamento de terroristas “lobos solitários”.
Na prática, ficou tudo praticamente igual, especialmente para estrangeiros, que não gozam da proteção das leis norte-americanas concernentes ao direito à privacidade.
Os novos limites e regras sobre o colhimento de metadados aplicam-se às interceptações de comunicações estadunidenses.
Ademais, surgiram novos sistemas e programas tecnológicos de espionagem massiva.
De acordo com o Washington Post, o programa MUSCULAR, muito menos conhecido, que explora diretamente os dados não criptografados dentro das nuvens privadas do Google e do Yahoo, coleta mais que o dobro de pontos de dados, em comparação com o PRISM.
Como as nuvens do Google e do Yahoo abrangem todo o globo e como a captação é feita fora dos Estados Unidos, ao contrário do PRISM, o programa MUSCULAR não exige garantias e controles jurídicos.
Todo esse cenário indica a mais premente necessidade de o Brasil se preparar para diminuir sua dependência em relação às bigtechs. Ao mesmo tempo, precisamos criar um sistema de defesa cibernética que seja realmente robusto e abrangente.
Atualmente, nossa defesa cibernética é feita pelo Exército, sob o controle do Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber), sediado em Brasília (DF). Mas isso não é suficiente, pois esta defesa está muito centrada na área militar.
O Senado criou uma Subcomissão permanente de Defesa Cibernética, no âmbito da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional. Na primeira audiência pública feita nessa subcomissão, sugeriu-se que o Brasil tenha uma agência estatal civil que cuide do assunto. Poderá ser um passo importante.
O fato é que, hoje em dia, estamos extremamente vulneráveis. Em todos os sentidos.
Em especial, no campo democrático. Acordemos.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
Leia também
Eugênio Bucci: O totalitarismo escópico e o poder dos algoritmos
Comentários
Zé Maria
.
Aula Magna On Line
“Democracia, Estado de Direito e Novas Formas de Autoritarismo”
com o Jurista, Escritor e Professor PEDRO ESTEVAM SERRANO
https://streamyard.com/watch/2q7NJKqrnEma
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Zé Maria
https://t.co/f8vnZemw2D
https://x.com/RevistaForum/status/1816554411344138480
Zé Maria
“Democracia e O Fim da Monotonia Ideológica do Ocidente”
Executivo do setor de tecnologia chinês, Robert Wu,
fala sobre o esgotamento da perspectiva ocidental
para os dilemas da humanidade
[ Reportagem: Iara Vidal | Revista Fórum | 25/7/2024 ]
O ‘Ocidente’ – expressão para designar ‘os países ricos do Norte Global’ –
adota a própria régua para avaliar outras sociedades que optam por caminhos diferentes para o próprio desenvolvimento.
Mas a uniformidade de pensamento que dominou as políticas e a diplomacia ocidentais por décadas, agora enfrenta um escrutínio sem precedentes, tanto de dentro quanto de fora.
A nova ordem mundial, forjada em meio a crescentes desafios globais e mudanças geopolíticas, acena que a era da monotonia ideológica do Ocidente está chegando ao fim.
É o que conclui a análise feita pelo chinês Robert Wu, CEO da BigOne Lab,
empresa líder de dados alternativos da China.
Ele comenta essa transformação em curso em um texto publicado
no boletim informativo China Translated, que oferece análise prática
dos eventos com impacto de longo prazo.
Wu tece suas reflexões a partir de um exemplo de como a mídia ocidental
encara os próprios dilemas.
Ele cita uma postagem de Ian Bremmer, que escreve para o Eurasia Group,
sobre o decadente debate presidencial entre Donald Trump e Joe Biden
realizado em junho e que mostrou um deprimente concurso de medição
de forças entre republicanos e democratas.
O executivo chinês pondera que, ao invés de promover uma reflexão
sobre de que forma a autointitulada “maior democracia do mundo”
chegou a tal ponto, Bremmer opta por fazer piada sobre o sistema
político da China.
“É um senso de complacência profundo na mente das elites ocidentais.
Por exemplo, justamente quando Donald Trump e Joe Biden terminaram
seu deprimente concurso de medição de forças que foi o debate
presidencial, Ian Bremmer do Eurasia Group, em vez de refletir sobre
como o Ocidente chegou a este ponto, postou isto”, escreveu Wu.
No artigo escrito em primeira pessoa, Wu relata sua jornada de interesse
pelo Ocidente e posterior decepção.
Ele esclarece que o texto não é exatamente sobre o Ocidente.
“É sobre como uma criança na China se encantou inicialmente
pelo Ocidente, apenas para se decepcionar mais tarde.
É uma história sobre mim mesmo”, esclarece.
Wu compartilha o seu processo de formação política, iniciado aos 14 anos
de idade, que promoveu a mudança em sua percepção de um jovem sobre
o mundo após descobrir os eventos da Praça Tiananmen, que aconteceram
em 1989.
Surpreso e sobrecarregado, ele se lançou em uma jornada
de autodescoberta e aprendizado intensivo, começando pelo
aprimoramento do inglês para acessar informações globais.
Desenvolveu uma paixão por revistas internacionais como
a Newsweek e a National Geographic.
Ao mesmo tempo, relata no texto, o entendimento dele sobre o mundo
começou a florescer em mais direções.
“Li filosofia, história mundial, história chinesa, economia, ciências,
ciências sociais, história da ciência…”, relembra.
“Este mundo não é para os fracos de coração.
Decisões difíceis são tomadas o tempo todo.
Não haveria uma solução mágica para os problemas
do mundo. E, uma vez que houve uma tentativa
de solução mágica, desastres geralmente seguem”,
reflete.
Ele cita eventos tanto da China quanto do Ocidente para refutar a ideia
de que existe uma panaceia para os desafios da humanidade.
“Sim, o Grande Salto Adiante e a Revolução Cultural
foram essas pílulas mágicas letais.
Mas também foi a Guerra do Iraque.
Nunca consegui entender completamente a Guerra
do Iraque.
Olhando para trás, vejo uma combinação de paranoia,
presunção moral e pura ignorância que levou os
estadunidenses a uma guerra que supostamente
seria uma pílula mágica que traria liberdade e
prosperidade para a antiga terra da Mesopotâmia.
Em vez disso, o que se obteve foi apenas dor
e sofrimento para as pessoas envolvidas e
a perda de um milhão de vidas”, questiona.
Essas experiências formaram a base de uma visão de mundo mais ampla
e informada, desafiando a narrativa restrita a que estava inicialmente
exposto, tanto na China quanto no Ocidente.
EUA são uma ilha
Wu recorre a uma palestra proferida por Kishore Mahbubani, ex-diplomata
singapuriano, na Universidade em Harvard, para ilustrar de que maneira as
histórias são contadas no Ocidente, mais especificamente pela mídia dos
Estados Unidos.
“Uma coisa que realmente me surpreendeu, por um lado,
os Estados Unidos têm a mídia mais livre do mundo,
os melhores jornais financeiros, as melhores estações
de televisão financeira do mundo. Mas posso dizer isso,
como alguém que viaja para 30 ou 40 países por ano,
quando chego aos Estados Unidos, e quando vou para
o meu quarto de hotel no Charles Hotel e ligo a televisão,
sinto que fui cortado do resto do mundo. Literalmente.
A insularidade do discurso estadunidense é realmente
assustadora. Isso também é verdade para o New York Times.
Isso também é verdade para o Washington Post.
Isso é verdade para o Wall Street Journal.
Há esse discurso incestuoso, autorreferencial entre esses
jornalistas de jornais, e eles reforçam as perspectivas
uns dos outros e acabam por não entender o mundo.”
Velhas Lentes para Enxergar o Novo Mundo
Atualmente, compartilha Wu, sempre que volta a ler a mesma mídia
ocidental dominante que o levou a uma jornada de conhecimento
20 anos atrás, fica chocado ao descobrir que, embora ele mesmo
tenha evoluído muito desde então, o que ele constantemente lê
parece não ter mudado nada.
“Durante todo esse tempo, a mesma mídia parece
só conseguir colocar o mesmo velho conjunto
de lentes para explicar o mundo.
Há apenas uma doutrina, uma régua e um princípio
para decidir o que é bom ou ruim:
a ‘Religião’ da ‘Democracia e da Liberdade'”, provoca.
Wu observa que, para a mídia ocidental, não importa a importância do
desenvolvimento econômico, a paz, o respeito pelas regras e pela
civilidade que podem apenas florescer em um ambiente de estabilidade
e prosperidade, e através de uma boa educação pública.
Todos esses tópicos importantes desaparecem diante da todo-poderosa
‘Religião’ da ‘Democracia e da Liberdade’.
“Você toma essa pílula mágica, você está curado.
Recuse-a? Você está condenado”, constata.
“De repente, percebi que a mesma mídia ocidental
que costumava me surpreender 20 anos atrás é,
tristemente, também uma forma de doutrinação.
É, por falta de uma palavra melhor, propaganda.
Não apenas qualquer propaganda, mas uma forma
mais perigosa de propaganda na qual as pessoas
envolvidas não percebem isso de forma alguma!”,
alerta.
Seita da Ultra-Direita
Wu reflete que começou a apreciar a ambiguidade para compreender
o mundo e seus dilemas e a preferi-la em vez de uma resposta clara.
Porque, na visão dele, uma resposta clara não é apenas tediosa.
“Também é perigosa, pois cria e amplifica divisões imaginárias
entre pessoas que mantêm uma visão contra as que mantêm outra”,
explica.
“Onde quer que haja pessoas, haverá diferenças.
É isso que torna o mundo belo e diversificado
em primeiro lugar. Mas se um grupo de pessoas
se apegar demais à sua própria perspectiva,
uma cruzada religiosa se segue”, analisa.
Na perspectiva de Wu, essa “cruzada religiosa” em defesa de uma ideologia
é a força motriz por trás do surgimento do trumpismo e da ultra-direita.
Ele comenta que as elites ocidentais têm vivido por anos dentro de suas
próprias bolhas ideológicas autocongratulatórias, cegando sua visão,
enganando-se com a ideia de que a história acabou.
O “fim da história” é uma visão de mundo sustentada por Francis Fukuyama, um cientista político estadunidense, em ensaio de 1989, ‘The End of History?’ publicado na revista The National Interest.
Posteriormente, Fukuyama expandiu suas ideias no livro ‘The End of History and the Last Man’, publicado em 1992.
A tese de Fukuyama argumenta que, com o fim da Guerra Fria e o declínio global do comunismo, a humanidade estava chegando ao “fim da história”. Este conceito não se refere ao fim dos eventos históricos per se, mas à culminação da evolução ideológica da humanidade em uma forma final de governo. Segundo Fukuyama, a democracia liberal representava o ponto final desse desenvolvimento ideológico, sendo o sistema de governo ao qual todos os estados eventualmente convergiriam.
A expressão “o fim da história” foi cunhada por Francis Fukuyama, um cientista político americano, em seu ensaio de 1989, “The End of History?” publicado na revista “The National Interest”. Posteriormente, Fukuyama expandiu suas ideias no livro “The End of History and the Last Man”, publicado em 1992.
Apesar de ser amplamente discutida e muitas vezes criticada, especialmente após eventos globais subsequentes que desafiaram
sua visão, como o surgimento do terrorismo global, crises financeiras,
a ascensão da China comunista como potência global e o ressurgimento
de tensões nacionalistas e autoritárias, a teoria de Fukuyama segue sendo
referência nos debates sobre política global e desenvolvimento ideológico.
Wu prossegue em sua análise sobre a ascensão da extrema direita nos EUA
e ressalta que, por muito tempo, a elite estadunidense negligenciou
a situação dos desprivilegiados, os caipiras, os “rednecks” (“pescoços
vermelhos”, em tradução livre; expressão que designa a classe de
trabalhadores rurais brancos), a pobreza da “Cinturão do Ferrugem”
(região no nordeste dos Estados Unidos que, durante o século XX,
foi um dos maiores e mais produtivos centros de manufatura pesada
do país, incluindo indústrias de aço, automóveis e manufatura.
Abrange partes dos estados de Illinois, Indiana, Michigan, Ohio,
Pensilvânia e Nova York e vivencia um declínio econômico desde
as décadas de 1970 e 1980 com a ascensão do neoliberalismo).
“Para reagir a essa raiva, as elites parecem incapazes
de entregar políticas concretas para reajustar o equilíbrio.
Em vez disso, elas só parecem ser capazes de aumentar
a retórica moralizadora, culpando e rotulando seus
oponentes como ‘pessoas más’.
Elas se apegam à sua monotonia ideológica, o que só faz
o campo oposto endurecer ainda mais.
Os dois campos estão para sempre presos em um jogo
de “certo vs errado”, de “bom vs mal”, cada lado acreditando
apenas que sua própria ideologia está certa.
Esse tipo de divisão é muito difícil de ser superada, a menos que
uma mudança fundamental nas crenças centrais ocorra”, observa.
Há Mais de um Tipo de Democracia
Wu pontua que quando a monotonia ideológica chega aos assuntos
globais, ela também constantemente enquadra o mundo em um binário
de “bem vs mal” e não pensa duas vezes antes de travar guerras
intermináveis para defender seu lado dos valores.
“Isso não apenas semeou mais desequilíbrios na estrutura global,
mas também um mal-entendido fundamental do mundo.
Talvez, eles falhem em reconhecer que nem todas as grandes potências querem recorrer à guerra para alcançar seus objetivos?
Meu maior medo sobre as relações EUA-China é ver fanáticos e extremistas
assumindo as rédeas da formulação de políticas, que querem nada além
de derrotar o outro lado, arriscando uma conflagração global”, admite.
O autor esclarece que não tece críticas à ideia de democracia, mas que
se opõe à noção de que existe apenas um tipo de modelo, o liberal,
adotado por países como os EUA, da Europa e o Brasil.
“Eu amo a democracia. A democracia é boa. A liberdade é valiosa.
Estou simplesmente me opondo à ideia de que um conjunto de ideias
deve ter precedência absoluta sobre os outros”, reconhece.
Ele esclarece ainda que a China não tem ressentimentos contra
a democracia e, ao contrário do senso comum alastrado pelo Ocidente,
palavras como “democracia” não são censuradas na China.
Destaca que “democracia” está no cerne do programa de modernização
da China. Está escrita na constituição do país e do Partido Comunista da
China (PCCh) e é mencionada em todos os principais documentos
de política, como o recente comunicado do crucial 3º Plenário.
“Nenhum oficial chinês hoje em seu juízo perfeito diria que a democracia
em si é uma coisa ruim, e se o fizessem, perderiam facilmente o poder.
(Eles têm objeções à democracia ao estilo ocidental).
Nós, os chineses modernos, compartilhamos a mesma crença fundamental
de que o governo deve ser do Povo, pelo Povo e para o Povo.
Apenas discordamos do Ocidente sobre como fazer isso funcionar”, afirma.
Nesse contexto, pode ser mais fácil para entender por que, no ano passado,
quando Biden chamou Xi [Jinping] de ‘ditador’, em vez de ficar em silêncio sobre isso,
o aparato do PCCh e do Estado entrou em ação para combater essa
narrativa.
Isso porque o poder político chinês é essencialmente construído sobre
um conjunto de valores que também incluem a democracia, não deixando
espaço para a existência de um verdadeiro “ditador” caricatural.
Outro fato importante trazido por Wu que ajuda a entender sobre o próprio
país dele é que para muitas pessoas que têm apenas um conjunto de lentes
para olhar o mundo, uma coisa que ainda não entendem é que a China
não é contra a democracia.
O que a China busca é encontrar e gerenciar o equilíbrio certo entre muitos
bons sistemas de valores ao mesmo tempo.
Durante o 18º Congresso do PCCh, em 2012, quando Xi Jinping ascendeu
ao cargo de Secretário-Geral, o Partido consagrou os 12 “Valores Socialistas Centrais”, que são:
Prosperidade, Democracia, Civilidade, Harmonia, Liberdade, Igualdade,
Justiça, Estado de Direito, Patriotismo, Dedicação ao Trabalho, Integridade
e Amizade.
“Você vê, tanto a democracia quanto a liberdade estão listadas
como parte dos 12 valores centrais da República Popular da China.
Elas não são menosprezadas. Elas não são ignoradas.
É apenas que elas estão em pé de igualdade com outros 10 valores
centrais e não têm posição dominante sobre os outros”, observa.
Democracia de Todo o Processo da China
A China enfrenta o desafio de equilibrar esses 12 “Valores Socialistas
Centrais”, uma tarefa que, apesar de críticas, busca evitar a dominância
de um único princípio sobre os outros.
Conflitos entre esses valores são inevitáveis, mas refletem a complexa
realidade de priorizar diferentes aspectos em momentos distintos,
dependendo das circunstâncias vigentes.
No coração dos esforços de modernização do país, surge o conceito
de “democracia de todo o processo”, uma ideia que tem sido alvo
de escárnio por parte do Ocidente, que a vê como uma fachada
para um regime autoritário.
No entanto, essa noção é defendida como um esforço legítimo para
integrar a democracia a outros valores essenciais, reconhecendo
que não existem soluções simples para desafios complexos.
A abordagem da China, que também envolve a aceitação de que
não há “caminhos claros” ou “pílulas mágicas” para a governança,
destaca a busca por uma metodologia realista que contempla
a sensibilidade e adaptação contínua às condições mutáveis,
uma estratégia que pode oferecer insights valiosos para a
compreensão do desenvolvimento político e social contemporâneo.
Mundo Multipolar
Em meio a crescentes desafios globais e mudanças geopolíticas,
a era da monotonia ideológica do Ocidente parece que está chegando
ao fim.
A uniformidade de pensamento que dominou as políticas e a diplomacia
ocidentais por décadas agora enfrenta questionamentos constantes.
Esta transformação não apenas reflete um mundo multipolar emergente,
mas também a necessidade de abordagens mais matizadas e diversificadas
para resolver problemas complexos globais.
Por muito tempo, a narrativa ocidental baseada na ‘promoção da democracia e da liberdade’ como soluções universais para todos
os problemas políticos e sociais foi recebida com ceticismo
por várias nações ao redor do mundo.
Essa abordagem, muitas vezes vista como uma exportação de
valores ocidentais, ignorava as nuances culturais e históricas
que moldam diferentes sociedades.
O resultado foi uma série de intervenções mal sucedidas e uma
percepção crescente de hipocrisia, particularmente em relação
às políticas internas e externas do Ocidente.
No entanto, mudanças significativas estão ocorrendo.
As vozes dentro das democracias ocidentais estão
cada vez mais chamando atenção para as falhas e
limitações de sua própria governança.
O surgimento de movimentos sociais que desafiam o
‘status quo’ e exigem uma reforma significativa é um
testemunho da crescente demanda por uma representação
mais autêntica e inclusiva.
Além disso, o reconhecimento das falhas nas políticas externas,
exemplificado pela reação crítica às guerras no Oriente Médio
e a gestão de crises internacionais, sinaliza uma reflexão
introspectiva que há muito é necessária.
Internacionalmente, a ascensão de potências globais
como China e Índia desafia a ordem liderada pelo Ocidente,
propondo novos modelos de desenvolvimento e cooperação
internacional que não se baseiam exclusivamente nos valores
ocidentais.
Essas nações estão promovendo uma visão de mundo que valoriza
a soberania nacional e a colaboração pragmática sobre a imposição
ideológica.
Esse cenário está abrindo caminho para um diálogo mais rico e
diversificado sobre como abordar questões globais como mudanças
climáticas, desigualdade econômica e segurança internacional.
O fim da monotonia ideológica do Ocidente oferece uma oportunidade
para explorar novas formas de cooperação internacional que respeitem
e celebrem a diversidade de perspectivas e experiências.
À medida que avançamos, a chave para um engajamento global eficaz
será a capacidade do Ocidente de ouvir e integrar diferentes pontos
de vista, reconhecendo que não há uma única solução para todos
os problemas do mundo.
O reconhecimento das complexidades e das múltiplas realidades
enfrentadas por diferentes países será crucial para construir
um futuro mais equitativo e sustentável.
O fim da monotonia ideológica do Ocidente não é um sinal de declínio,
mas um despertar para uma nova era de cooperação global, onde
múltiplas vozes e valores têm um papel crucial na formação de nosso
mundo compartilhado.
Essa transição representa uma evolução necessária das relações
internacionais, refletindo um mundo que está, de fato, se tornando
verdadeiramente globalizado em sua abordagem para resolver
os desafios mais prementes da humanidade.
Confira o texto, em inglês, de Robert Wu:
https://www.china-translated.com/p/the-end-of-wests-ideological-monotony
https://revistaforum.com.br/global/chinaemfoco/2024/7/25/democracia-da-china-fim-da-monotonia-ideologica-do-ocidente-162759.html
.
Zé Maria
https://www.csjt.jus.br/documents/955023/0/b10c26c1-cc09-4636-b107-9751d523c83f.png/a61a40f9-13a9-2886-368d-954e5223c932?t=1721836284915
“Justiça do Trabalho agora faz parte do Tramita Gov.Br”
A plataforma integra sistemas administrativos da Administração Pública
da União, dos Estados e Municípios.
A Justiça do Trabalho chegou ao Tramita Gov.Br, destinada à tramitação
de processos administrativos eletrônicos entre os diversos Sistemas
de Processo Administrativo Eletrônico (SPE).
Centenas de órgãos da União, dos Estados e Municípios integram
o Tramita Gov.Br.
A integração foi resultado de parceria firmada entre Conselho Superior
da Justiça do Trabalho (CSJT) e o Ministério da Gestão e da Inovação em
Serviços Públicos (MGI) do Governo Federal.
A adoção da plataforma promove avanços significativos na agilidade e
na interoperabilidade da Administração Pública, garantindo mais segurança,
integridade, agilidade e redução de custos no serviço público.
Com a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica, os produtos digitais
nacionais para tramitação de processos administrativos e das ouvidorias
da Justiça do Trabalho (SEI e PROAD-OUV) passam a integrar o rol
“Sistemas de Processo Administrativo Eletrônico”.
A partir de agora, os órgãos e entidades podem receber e enviar processos
administrativos para o Judiciário Trabalhista.
O Judiciário Trabalhista se junta a mais de 150 órgãos e entidades
que estão conectados por meio do Tramita Gov.Br.
Confira a lista completa de órgãos e entidades que fazem parte da
plataforma digital de comunicação entre sistemas de processo administrativo:
https://www.gov.br/gestao/pt-br/assuntos/processo-eletronico-nacional/conteudo/tramita.gov.br/relacao-dos-orgaos-e-entidades
https://www.csjt.jus.br/web/csjt/-/justi%C3%A7a-do-trabalho-agora-faz-parte-do-tramita-gov.br
.
Zé Maria
https://midianinja.org/wp-content/uploads/2024/07/Membros_do_MBL-1024×682.png
Polícia Federal instaura Inquérito para investigar
Movimento BraZil Livre (MBL) por crime de calúnia
e difamação contra o presidente Lula.
A investigação policial decorre de solicitação
em agosto de 2023 do então Ministro da Justiça,
Flávio Dino, a quem a PF, em última instância,
estava administrativamente subordinada
quando da ocorrência do fato.
https://t.co/SJFRrts0mi
https://x.com/MidiaNINJA/status/1816125169708007715
https://midianinja.org/pf-abre-inquerito-contra-mbl-por-divulgar-fake-news-sobre-lula/
.
Zé Maria
Excerto
“A internet e as poucas empresas que a dominam
tornaram-se o oposto daquilo que fora imaginado
no início da popularização da rede mundial de
computadores.”
.
.
[Sonhou-se que a Internet, um dia, proporcionaria
a Plena Liberdade de Expressão e Diversidade de
Informação, independentemente de poder político
e econômico-financeiro. Esqueceu-se deveras que
“no Sistema Capitalista não existe almoço grátis”.
Aliás, hoje, “nem a água é gratuita”.]
.
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