Marcelo Zero: Não adianta os vira-latas ladrarem. Lula irá para onde o interesse nacional apontar

Tempo de leitura: 5 min
Foto: Ricardo Stuckert/PR

Os Cães Ladram, mas a Caravana Lula Irá Para Onde o Interesse Nacional Aponta

Por Marcelo Zero*

A viagem de Lula à China foi um êxito substancial.

Após o período nefasto de isolamento bolsonarista, durante o qual tivemos conflitos desnecessários com nosso principal parceiro comercial e econômico, o presidente Lula retomou, em grande estilo, uma parceria estratégica que data de 30 anos.

O número de acordos e memorandos oficiais firmados (15), afora os assinados na esfera privada, demonstra que a viagem serviu para refundar e aprofundar uma associação estratégica extremamente proveitosa para os interesses do Brasil.

Vale ressaltar que, dos 15 instrumentos oficiais firmados, 6 dizem respeito diretamente à cooperação na estratégica área de tecnologia, entre os quais pode-se destacar o que prevê a construção e lançamento do CBERS 6, satélite de monitoramento de recursos terrestres extremamente importante para o Brasil.

Ademais, os acordos firmados preveem a cooperação em diversos campos portadores de futuro, tais como:

i) Nanotecnologia

(ii) Energia limpa

(iii) Inteligência artificial

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(iv) Biotecnologia

(v) Cidades inteligentes

(vi) Novos materiais

(vii) Ciência e tecnologia espacial e aplicações

(viii) Economia digital

(ix) Tecnologia da informação e comunicação

(x) Indústria 4.0

(xi) Biodiversidade

(xii) Ciências polares e oceânicas, etc.

Firmamos também um importante acordo para o desenvolvimento social e rural e combate à fome e à pobreza, um acordo para produção conjunta de conteúdo televiso e audiovisual, um acordo de cooperação entre nossas agências de notícias, um acordo específico para economia digital, um outro acordo específico para as TICs, um acordo para facilitação de comércio, etc., etc.

O agronegócio foi objeto de apenas 2 acordos na área sanitária, destinados basicamente a facilitar nossas exportações de carnes.

Como se vê, o Brasil está procurando diversificar a sua parceria com a China, colocando-a em patamar superior, tanto do ponto de vista econômico, como geopolítico.

A China deixou há muito tempo de ser somente uma exportadora de produtos de baixa tecnologia.

Hoje, ela é uma grande potência mundial em tecnologia e a primeira economia em PPP do mundo, que concorre exitosamente com EUA, Japão e Europa em setores de alta complexidade.

A China, é, por exemplo, o país que mais investe em tecnologias limpas e energias renováveis.

O Brasil quer se aproveitar dessa expertise para dar um salto de qualidade em seu desenvolvimento, promovendo a imprescindível transição ecológica e a indústria 4.0, o que deverá tornar nosso país uma grande potência, ao mesmo tempo “verde” e industrial.

Nesse quadro, a China é um grande parceiro estratégico.

Nada contra exportar os bens oriundos do nosso muito competente agronegócio, que, graças aos grandes investimentos feitos pela Embrapa, tem o pleno domínio tecnológico da agricultura tropical.

Mas o Brasil precisa também ser competitivo em indústria e serviços avançados.

Entretanto, infelizmente, há gente no Brasil que vê com desconfiança essa proximidade com a China, com o BRICS, com os países do Sul Global etc.

Advertem que isso poderá “desagradar aos EUA”.

Agora mesmo, alguns jornalistas criticaram Lula por ter visitado a Huawei, empresa que é malvista pelos EUA, por ter questionado o uso exclusivo do dólar em transações comerciais e até mesmo por ter reafirmado o princípio de “uma só China”, no que tange à questão de Taiwan.

Essas críticas eram previsíveis. Afinal, o “vira-latismo”, essa ideia nefasta de que o Brasil é um país pequeno e dependente, e que tem de se comportar como tal, existe há muito tempo. Arraigou-se num inconsciente coletivo bananeiro. Combinada com uma vasta ignorância sobre a nova ordem global, essa ideia produz sandices sem fim.

Tomemos o exemplo do dólar.

O que Lula fez não foi mais do que expressar uma inquietação mais ou menos generalizada.

É óbvio que o dólar, que tem grande liquidez, continuará a ser a principal moeda de troca por muito tempo. Porém, há uma tendência paulatina, mas inexorável, de se buscar, cada vez mais, alternativas ao dólar.

Há duas razões básicas que a explicam.

A primeira é econômica.

Há uma preocupação mundial com a dívida pública dos EUA, a qual aumentou quase cinco vezes, de cerca de US$ 6,5 trilhões, há 20 anos, para US$ 31,5 trilhões, hoje.

Saliente-se que os EUA são comercialmente deficitários desde 1975.

Na realidade, os EUA não “quebram” por causa da hegemonia do dólar. Países, indivíduos e empresas compram muitos títulos da dívida norte-americana, ainda considerados os mais seguros do mundo. Com isso, os EUA financiam seus imensos e crescentes déficits.

Não obstante, esse mecanismo vem sendo paulatinamente corroído.

No início deste século, as reservas globais estavam em cerca de 70% vinculadas ao dólar. Hoje, esse número já caiu para menos de 60%.

A China, por exemplo, se desfez de cerca de US$ 268 bilhões de suas reservas em dólar.

Ademais, os EUA vêm perdendo peso no comércio mundial.

Segundo cálculos do Lowy Institute, no ano 2000 os EUA eram, de longe, o líder comercial global.

Naquele ano, 80% das nações comerciavam mais com os EUA do que com a China.

Em 2018, porém, a situação já tinha se invertido. Os EUA eram o principal parceiro comercial em somente 30% dos países. A China já tinha ultrapassado os EUA em 128 dos cerca de 190 países do mundo.

Assim, muitos se perguntam até quando esse mecanismo de financiamento dos imensos déficits dos EUA poderá se manter. A desconfiança, em relação ao dólar, está, naturalmente, aumentando.

Mas o principal motivo para tal desconfiança é político.

Os EUA têm usado reiteradamente seu controle das finanças globais para punir países que não são do seu agrado. Usam o dólar como arma política.

Países objeto dessa arma perdem suas reservas e se vêm impedidos de transacionar financeira e comercialmente.

Com isso, os EUA estão quebrando uma regra de ouro para a confiabilidade de sua moeda: a da neutralidade do sistema financeiro. Ora, um sistema financeiro com forte viés geopolítico não é confiável.

Por isso, é natural que China, Rússia, Brasil, Argentina, Arábia Saudita etc., estejam buscando ativamente alternativas ao dólar, como forma de se proteger do “dólar político”, de reduzir os custos financeiros de suas transações e de proteger seus ativos.

Destaque-se que a China estabeleceu acordos como este feito com o Brasil para transacionar em renminbi, com cerca de 25 outros países. Recentemente, foi anunciado um com a Arábia Saudita.

Em nossa região, Chile e Argentina, países que fazem parte da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR), firmaram também acordos semelhantes. Mediante outras iniciativas, já são cerca de 40 países no mundo todo que admitem fazer suas trocas comerciais em renminbis.

O renminbi já responde por cerca de 7% das transações comerciais globais e a tendência é que esse índice cresça muito.

O próprio Brasil estabeleceu um ajuste monetário semelhante com a Argentina. E, para quem não sabe, a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) tem, desde a década de 1990, o Convênio de Créditos Recíprocos (CCR), o qual possui a mesma finalidade.

Obviamente, os EUA não gostam dessa tendência. Donald Trump recentemente declarou que, se padrão monetário internacional, atualmente baseado no dólar, for substituído, será como “perder uma guerra mundial”, e que os EUA correm o risco de virar um “país de segunda linha”.

No entanto, a culpa não é da China, da Rússia, do Brasil ou de quem quer que seja.

A responsabilidade principal é dos próprios EUA.

Conforme escrevi em outro artigo neste site, a combinação, por parte de Washington, de crescente nacionalismo e protecionismo econômico com unilateralismo político e diplomático obviamente abre espaço para que a China e outros países, como a Rússia, projetem seus interesses com mais força no mundo.

Neste sentido, podemos até comparar os resultados práticos e imediatos das duas grandes e recentes viagens de Lula: EUA e China.

Da China, o Brasil volta com dezenas de acordos oficiais e privados, os quais asseguram investimentos e vantagens de cerca de R$ 50 bilhões.

Dos EUA, o Brasil voltou com a promessa de os EUA investirem estratosféricos US$ 50 milhões, no Fundo Amazônia. E olha que Biden confere “grande prioridade” à luta contra o aquecimento global.

Os EUA podem não querer cooperar. Direito deles. Mas é direito do Brasil, e de todos os outros países, buscar cooperação onde ela existir.

Com Lula, o Brasil voltou ao mundo disposto a cooperar com todos os países, sem distinções político-ideológicas.

O Brasil retomou sua tradicional diplomacia pragmática e exitosa.

Vamos estreitar os laços com todas as regiões e nações e, ao mesmo tempo, vamos contribuir com uma ordem global pacífica, simétrica, multilateral e multipolar, assentada numa nova governança mundial.

Não adianta os cães vira-latas ladrarem. A caravana Lula irá, impávida, para onde o interesse nacional apontar. E sem pedir licença a ninguém.

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.

.

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Comentários

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Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1643399184161071104

“Os assassinos de Lumumba, Nkrumah, Nasser e Gaddafi,
hoje vêm nos ensinar sobre democracia”.

FRED M’MEMBE, presidente do Partido Socialista de Zâmbia,
SOBRE A PRESENÇA DOS ESTADOS UNIDOS NA ÁFRICA

A fala antecedeu a visita de Kamala Harris à Zâmbia.

Jornalista Pablo Matta Machado

Filho de José Carlos Novaes da Mata Machado,
o Zé Carlos (20/03/1946-28/10/1973), Militante
da APML que foi torturado e assassinado
pela ditadura empresarial-militar, no DOI-Codi
de Recife em Pernambuco.

https://twitter.com/pablommachado/status/1643399184161071104
https://twitter.com/pablommachado/status/1637900487315062796

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1643399184161071104

“Os assassinos de Lumumba, Nkrumah, Nasser e Gaddafi,
hoje vêm nos ensinar sobre democracia”.

FRED M’MEMBE, presidente do Partido Socialista de Zâmbia,
SOBRE A PRESENÇA DOS ESTADOS UNIDOS NA ÁFRICA

A fala antecedeu a visita de Kamala Harris à Zâmbia.

Jornalista Pablo Matta Machado

Filho de José Carlos Novaes da Mata Machado,
o Zé Carlos (20/03/1946-28/10/1973), Militante
da APML que foi torturado e assassinado
pela ditadura empresarial-militar, no DOI-Codi
de Recife em Pernambuco.

https://twitter.com/pablommachado/status/1643399184161071104
https://twitter.com/pablommachado/status/1637900487315062796

Zé Maria

Professor Laurindo [Lalo Leal Filho] nota que uma repórter [brasileira]
notavelmente sabuja do Departamento de Estado mencionou as seguintes
pessoas [fontes] para basear seu texto crítico a Lula:
“fontes americanas”
“visão de Washington”
“funcionário do governo americano”
“Washington diz”.
Isso é Relações Públicas!

“Tio Sam não dá aqueles ‘premiozinhos’
com direito a passagem e hospedagem
à toa.”

https://twitter.com/luizazenha23

Zé Maria

.

Os Estados Unidos da América não dá mais conta de cuidar
da sua própria Economia e, ao mesmo tempo, de manter a
Hegemonia Geopolítica.
Por isso vive espionando e aplicando Golpes de Estado
– notadamente por meio da OTAN e sob Falsos Pretextos –
em Países que estão fora do Eixo Capitalista Ocidental.

Atualmente, por exemplo, as Armas Norte-Americanas
estão apontadas literalmente para a Rússia, porque o
Objetivo Fundamental dos EUA não é ‘salvar’ a Ucrânia,
mas sim derrubar Putin do Governo Russo; assim como,
a partir de 2013, atuou na Logística para derrubar o
Governo de Dilma Rousseff (PT), manipulando a
Informação através da Imprensa Empresarial e utilizando
Meios Informacionais com Uso de Redes Clandestinas
das Corporações de Tecnologia do Vale do Algoritmo, e
instrumentalizando a ‘Operação’ Lava-Jato, para, inclusive,
destruir a Economia Brasileira, atingindo fundamentalmente
a Petrobras e as Empresas Nacionais de Engenharia do Brasil.

Por conseguinte, o Lula deve sim se calçar economicamente
(e politicamente) nos Países dos BRICS – essencialmente em
China e Rússia – e das demais Organizações Intergovernamentais
fora da Área de Influência dos EUA, como CELAC e UNASUL, e
mantendo Relações Amistosas (e comerciais, obviamente) com
as Nações da União Africana e da Liga Árabe e assim também o Irã,
defendendo as Posições Diplomáticas Históricas do Brasil na ONU,
como a Proteção do Território da Palestina contra Invasões Israelenses,
até que se crie formal e oficialmente o Estado Palestino Independente.

.

abelardo

Avalio que ao acrescentar a sua lista de deformidades a burrice e a estupidez, a matilha dos raivosos, traiçoeiros e violentos vira-latas, que se escondem feito fantasmas na oligarquia da política brasileira, se torna ainda mais perigosa, ainda mais violenta, ainda mais trapaceira e ainda mais confiável na certeza da impunidade para os seus crimes. A retaguarda que parece defendê-la, talvez também prometa um pouco mais de ossos de primeira, caso conclua com êxito a missão ordenada. Porém, se com ausência da burrice e da estupidez, a casa não para de cair nos territórios elitizados da matilha. Então, imagino, com o auxílio flagrante da burrice e da estupidez, que agregou em suas entranhas, os desastres das suas ações se potencializará ainda mais. Pois foi assim que entendi a extremamente babaca e infantil tentativa de extorsão contra Cristiano Zanin Martins, que defendeu brilhantemente o seu cliente Luiz Inácio Lula da Silva, e que também é forte candidato a uma vaga no STF. E é aí, na indicação para o STF, que está o maior cagaço da matilha dos vira-latas. Usaram uma babá como bucha, para tentar atingir a imagem de Cristiano Zanin Martins e fazer de uma acusação supostamente forjada, um verdadeiro carnaval de covardias, mentiras, agressões, etc. Assim, eu penso, além da tentativa de minar a candidatura de Cristiano Zanin Martins ao STF, se deliciariam com um aparente estrago que poderia atingir o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Porém, como a burrice, a estupidez, a incompetência e a inveja são marcas registradas da matilha engravatada e até uniformizada, que envolve a política brasileira, com todo o meu respeito aos verdeiros e fiéis cães vira-latas e aos de raça definida. Entendo que estão perdendo mais uma batalha e com a acelerada descida da ladeira do poder e da influência, a matilha se aproxima mais do esgoto fétido e imundo, que a aguarda solenemente como sua nova morada e, por sua vez, a mão da verdadeira e leal justiça, se aproxima dos esconderijos obscuros e ocultos, que guardam os principais comandantes da burra e estúpida matilha.

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