Marcelo Zero: Erros crassos de avaliação dos EUA e da Otan e o novo míssil russo
Tempo de leitura: 3 minErros Crassos de Avaliação dos EUA e da Otan e o Novo Míssil Russo
Por Marcelo Zero*
A situação delicadíssima na Ucrânia revela dois erros crassos os EUA e da Otan, em relação à Rússia.
O primeiro erro foi o abandono, por parte dos EUA e da Otan, em 2019, do chamado Tratado INF -Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty
O Tratado INF, concebido na década de 1990, proibiu todos os mísseis balísticos nucleares e convencionais lançados do solo, mísseis de cruzeiro e lançadores de mísseis das duas nações (EUA e Rússia) com alcances de 500–1.000 quilômetros (310–620 mi) (curto alcance médio) e 1.000–5.500 km (620–3.420 mi) (alcance intermediário). O tratado não se aplicava a mísseis lançados do ar ou do mar.
Em maio de 1991, Rússia e os EUA já haviam eliminado 2.692 desses mísseis, seguidos por 10 anos de inspeções de verificação no local.
Mas, como assinalamos, em 2019, os EUA abandonaram o INF. E voltaram a investir nesses mísseis.
A alegação principal para a denúncia daquele tratado era a de que a China não participava do INF e estava desenvolvendo mísseis de alcance intermediário para atacar Taiwan.
Mas o alvo também era a Rússia. Como de hábito, os neocons julgaram que a Rússia não teria capacidade para desenvolver mísseis intermediários avançados que competissem com os estadunidenses.
Esse foi o primeiro grande erro.
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O segundo grande erro foi o anúncio, em julho de 2024, de que a Otan e os EUA, a partir de 2026, implantariam mísseis de alcance intermediário com capacidade nuclear na Alemanha. Mísseis capazes de atingir o território da Rússia, rápidos e lançados de plataformas móveis. Uma ameaça concreta de eventual nuclearização do conflito ucraniano.
Pouco depois, Putin reagiu:
A administração dos EUA e o governo alemão fizeram uma declaração sobre seus planos de implantar sistemas de mísseis de precisão de longo alcance dos EUA na Alemanha, em 2026.
Os mísseis podem atingir grandes instalações militares e estatais russas, centros administrativos e industriais e infraestrutura de defesa. O tempo de voo para alvos em nosso território de tais mísseis, que no futuro podem ser equipados com ogivas nucleares, seria de cerca de dez minutos.
Os Estados Unidos já realizaram exercícios para praticar a implantação de sistemas de mísseis Typhon de seu território para a Dinamarca e as Filipinas. Esta situação lembra os eventos da Guerra Fria relacionados à implantação de mísseis Pershing americanos de médio alcance na Europa.
Se os Estados Unidos implementarem esses planos, nos consideraremos livres da moratória unilateral anteriormente assumida sobre a implantação de armas de ataque de médio e curto alcance, incluindo o aumento das capacidades das tropas costeiras de nossa Marinha.
Hoje, o desenvolvimento de tais sistemas na Rússia está quase concluído. Tomaremos medidas semelhantes para implantá-los, levando em consideração as ações dos Estados Unidos, seus satélites na Europa e em outras regiões do mundo.
Novamente, os EUA e seus neocons não levaram a sério a possível reação da Rússia.
Já o terceiro erro dos EUA e da Otan foi a liberação do uso mísseis de médio alcance para que a Ucrânia atinja território russo.
Após a Ucrânia, com a aprovação da administração Biden, atingir a Rússia com seis mísseis ATACMS, de fabricação americana, na terça-feira (19), e com mísseis de cruzeiro britânicos Storm Shadow e HIMARS, também de fabricação americana, na quinta-feira, a Rússia reagiu.
A resposta concreta da Rússia foi avassaladora e surpreendente.
Atingiu instalações militares ucranianas com um novo míssil hipersônico de poder letal e contra o qual a Europa não possui defesas eficientes.
Os novos mísseis, chamados Oreshnik (avelã), são uma variante do antigo RS-26 com um alcance mais curto e uma carga útil de seis (em vez dos quatro anteriores) veículos de reentrada múltiplos e independentemente direcionáveis (MIRV).
Ou seja, cada míssil pode atingir seis alvos diferentes. Cada veículo de reentrada pode transportar seis submunições. A carga útil pode ser inerte, destruindo o alvo pelo poder de cisalhamento de sua energia cinética, altamente explosiva, ou nuclear.
O míssil usa combustível sólido e é móvel em estradas, pode ser disparado em curto prazo de posições camufladas.
Lançado da Rússia, o míssil pode atingir qualquer alvo na Europa em menos de 20 minutos. Na reentrada na atmosfera, as ogivas do míssil atingem velocidades hipersônicas de 3-4 quilômetros por segundo. Não há sistema de defesa aérea no mundo que possa detê-los.
A surpreendente e bem-sucedida demonstração de uma capacidade tão decisiva é um alerta para os estrategistas da Otan.
Como alertou o site Moon of Alabama, embalados pela conversa mole neoconservadora sobre a supremacia ocidental e as supostas incapacidades russas, os europeus estavam ansiosos para conectar seu destino a uma guerra por procuração contra a Rússia. Tendo sido derrotados na luta pelas commodities da região de Donbass, eles pressionaram para estender o alcance de suas armas para a Rússia.
Deu tudo errado. A Europa está agora indefesa ante as novas armas russas, que podem atingir todos os centros políticos e industriais daquele continente com poder devastador, inclusive nuclear, e com apenas alguns minutos de aviso.
Melhor voltar, de forma hipersônica, à mesa de negociações.
*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.
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