Marcelo Zero: Ao seguir os EUA contra a Venezuela, Brasil demonstra estupidez diplomática e cegueira geoestratégica
Tempo de leitura: 4 minEstupidez Diplomática e Cegueira Geoestratégica
por Marcelo Zero
Os grandes objetivos dos EUA com a tentativa de golpe de Estado na Venezuela são muito claros.
Um é econômico e o outro é geopolítico.
O econômico tange à necessidade de ter acesso privilegiado e seguro à maior reserva provada de petróleo do mundo, que dista apenas 3 dias de navio das grandes refinarias norte-americanas situadas no Golfo.
Já o geopolítico se refere ao desejo de conter a influência da China e da Rússia na América do Sul, uma vez que a nova doutrina de segurança nacional dos EUA colocou essa disputa como prioridade absoluta.
Ao contrário dos que acreditam em kit gay e mamadeira de piroca, essa ação bélica dos EUA contra a Venezuela é motivada basicamente por esses dois fatores, e não tem nenhuma relação com suposta preocupação com democracia e direitos humanos.
Afinal, a longa e tenebrosa história das intervenções dos EUA na América Latina e no Oriente Médio mostra claramente que a democracia é a última das preocupações do Departamento de Estado.
Evidentemente, pode-se questionar essa atitude violenta e inescrupulosa dos EUA, do ponto de vista ético.
Contudo, é forçoso reconhecer que há racionalidade nessa ação norte-americana. Eles estão defendendo seus interesses imperiais.
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Se a Venezuela entrar em guerra e milhões morrerem, para eles pouco importa. O importante é que o acesso ao petróleo esteja assegurado e que o regime aliado da Rússia e da China seja eliminado da face da Terra.
No entanto, cabe a pergunta: quais seriam os interesses objetivos do Brasil que estariam sendo defendidos ao se apoiar essa aventura golpista na Venezuela?
A Rússia e a China são nossos rivais? Não, não são. São grandes aliados.
Formamos com esses países, e também com Índia e África do Sul, o grupo dos BRICS, provavelmente a mais importante iniciativa diplomática mundial desse início de século. Um grupo que tornou a ordem mundial mais multipolar e democrática e que elevou extraordinariamente o protagonismo internacional do Brasil.
Além disso, a China é, de longe, nosso principal parceiro comercial, e temos com ela uma parceria estratégica que já completou 25 anos.
Em 2018, exportamos para a China quase US$ 67 bilhões, com um saldo comercial positivo a nosso favor de mais de US$ 31 bilhões.
Em contraste, no mesmo período, exportamos “apenas” US$ 28,77 bilhões para os EUA, com déficit contra nós de cerca de US$ 200 milhões.
Ou seja, exportamos mais do que o dobro para a China que para os EUA, e obtemos com ela um saldo extraordinariamente positivo.
Não bastasse, temos com a China projetos de grande relevância estratégica, como o de desenvolvimento conjunto de satélites, por exemplo.
Com a Rússia, embora nossa relação econômica não seja tão expressiva, temos relações políticas e diplomáticas muito adensadas.
A Rússia vê o Brasil como um dos polos emergentes em uma ordem global policêntrica e mais democrática.
Por isso, valoriza muito nossas relações bilaterais. Temos, inclusive, um Plano de Ação da Parceria Estratégica entre a República Federativa do Brasil e a Federação da Rússia, firmado em 2010.
E a Venezuela? É um país rival do Brasil? Temos com ela algum conflito? Dependemos do petróleo venezuelano, como os EUA? O regime bolivariano foi alguma vez hostil ao Brasil?
Não. É exatamente o contrário. A Venezuela é uma grande amiga do Brasil. Amizade que vem de longe, mas que se adensou e se solidificou justamente no período bolivariano.
A progressiva aproximação entre os dois países foi facilitada por fatores históricos e geográficos.
Em primeiro lugar, a fronteira da Venezuela com o Brasil, a mais extensa daquele país (2.199 km), foi estabelecida definitivamente por um tratado de 1859. Assim ao contrário do que ocorreu com seus outros vizinhos, Colômbia e Guiana, a Venezuela nunca teve disputas territoriais com o Brasil.
Em segundo, as relações bilaterais, sempre foram cordiais, embora pouco densas para a sua potencialidade.
A partir de meados dos anos 90, foram feitos muitos investimentos conjuntos para o desenvolvimento da fronteira amazônica conjunta e da infraestrutura energética e de transporte bilateral.
Essas relações, porém, se adensaram muito neste século. Entre 2003 e 2008, as exportações brasileiras para a Venezuela passaram de US$ 608 milhões para 5,15 bilhões, um crescimento de 758% em apenas 5 anos.
Além da quantidade, é preciso também ressaltar a qualidade desse comércio. Cerca de 72% das nossas exportações para a Venezuela são de produtos industrializados, com elevado valor agregado e alto potencial de geração de empregos.
Em 2009, já no início da grande crise mundial o Brasil teve com a Venezuela seu maior saldo comercial: US$ 4,6 bilhões dólares, 2,5 vezes superior ao obtido com os EUA (US$ 1,8 bilhão).
Em 2012, o montante agregado de contratos de investimento de empresas brasileiras na Venezuela ascendia a US$ 15 bilhões, cifra extraordinária.
Assim, o Brasil lucrou muitíssimo com essa aproximação à Venezuela e com a entrada desse país no Mercosul, ocorrida justamente no período bolivariano.
De 2013 para cá, com a grave crise, essas cifras minguaram, mas o potencial de cooperação, face à complementariedade das duas economias, continua intocado.
O que pode não continuar intocado é a disposição política daquele país de continuar a ser um grande parceiro do Brasil.
A aposta dos EUA na intervenção e no acirramento do conflito interno na Venezuela poderá resultar numa guerra civil militarizada e internacionalizada, com consequências desastrosas para seu povo, sua economia e suas relações com o Brasil.
A América do Sul, que é um subcontinente de paz, poderá ser converter numa espécie de novo Oriente Médio, uma região geopoliticamente instável e conturbada.
Ora, esse cenário não interessa ao Brasil, qualquer que seja o governo de plantão. Ao Brasil interessa um entorno próspero, pacífico e integrado e continuar a desenvolver a cooperação com a Venezuela.
Por isso, é do interesse objetivo do Brasil apostar, como manda sua Constituição, na não-intervenção e na solução pacífica das controvérsias, buscando sempre o diálogo e a paz.
Mas, mesmo que não ocorra um conflito grave na Venezuela, os EUA, se tiverem êxito, deverão impor lá um regime que recoloque aquele país como seu satélite, ressuscitando o status quo ante que havia lá predominado até o final do século passado, o qual impedia que os interesses do Brasil pudessem se espraiar naquele país de forma mais densa.
Assim, mesmo na eventualidade remota de que o regime venezuelano seja substituído com facilidade, os interesses do Brasil sairiam prejudicados, pois, ainda nesse caso, sobraria pouco espaço geopolítico para que o Brasil voltasse a ter relações muito adensadas com a Venezuela.
O espaço político e econômico que o Brasil ocupou na Venezuela voltaria a ser ocupado pelos EUA.
Sejamos claros: aos EUA interessa a desagregação regional e ao Brasil interessa a integração regional.
Em suma, ao secundar os EUA nessa aventura golpista e intervencionista na Venezuela, estamos atirando nos próprios pés. É uma demonstração cabal de estupidez diplomática e cegueira geoestratégica,
Isso é claro para quem tem um mínimo de discernimento e racionalidade.
Mas, ao que tudo indica, é entendimento que está muito além do alcance de gente que vai a Davos fazer discurso patético e marketing político no bandejão local.
Comentários
Nelson
E os nossos órgãos da mídia hegemônica e seus comentaristas se puseram a naturalizar o golpe de Estado que o Sistema de Poder que domina os Estados Unidos está tentando impor ao povo venezuelano.
–
A linguagem desses órgãos é adaptada para fortalecer a campanha de convencimento de corações e mentes, de que tal Sistema está certo e de que é necessária mais uma invasão a outro país, com a destruição e mortandade daí resultantes.
–
A coisa acontece de tal modo que dá toda a razão ao economista estadunidense, Paul Craig Roberts, quando ele se refere a esses órgãos como “presstitutes”.
Zé Maria
Venezuela:
Guaidó, Governos Genuflexos, Petróleo e a Cortina de Fumaça de Trump
Por Aram Aharonian, em estrategia.la, via Carta Maior,
com Tradução de Victor Farinelli
A Venezuela entra numa fase que não parece ter retorno.
O plano anunciado por Guaidó, dirigido pelos Estados Unidos,
só pode se materializar através da violência.
O presidente norte-americano enfrenta um formidável problema
político interno e busca uma cortina de fumaça para ocultar
esta grave crise doméstica.
Logo, uma guerra de baixa intensidade na Venezuela seria ideal
para a lógica diplomática de Trump.
Depois de um mês, a paralisação do governo estadunidense significa a estagnação mais longa vista na história moderna do
e já deixou sem salário mais de 800 mil funcionários.
Ademais, há poucas evidências de que Donald Trump e os democratas
do Congresso se unirão para resolver a crise a curto prazo.
Poderá a direita manter um conflito destas características por um tempo prolongado e a nível nacional?
Em 2017, a violência prolongada a fez perder legitimidade e isolou o golpismo.
Nesta terceira tentativa de assalto violento ao poder em cinco anos, pensam que conseguirão se impor somente com o apoio internacional, ou com a esperança de que surja um Pinochet que incline as Forças Armadas para o lado do golpismo e da repressão – as mesmas premissas que fracassaram nas outras duas vezes.
Diante de tudo isso, o que dirá o Santo Padre, que vive em Roma?
íntegra em: https://t.co/jd51FhJjUr
https://twitter.com/cartamaior/status/1088568951766990848
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/Venezuela-Guaido-governos-genuflexos-petroleo-e-a-cortina-de-fumaca-de-Trump/6/43043
Original em: http://estrategia.la/2019/01/24/venezuela-guaido-los-gobiernos-genuflexos-la-cortina-de-humo-de-trump-el-petroleo/
Zé Maria
Trump quer transferir a Administração da Citgo* para o Impostor Guaidó.
*A Refinaria Venezuelana, Subsidiária da PDVSA – sediada em
Houston, no Texas – é a Maior Fonte de Receita da Venezuela.
O conselheiro de segurança nacional de Trump, John Bolton,
disse na quarta-feira que o governo dos EUA estava focado em
“desconectar o regime ilegítimo de Maduro da fonte de suas receitas”…
O tamanho total dos ativos estrangeiros da Venezuela, incluindo
aqueles alojados nos Estados Unidos, não é conhecido.
A Venezuela tem Reservas Significativas de Ouro na Alemanha,
na Grã-Bretanha e na Turquia – embora nenhum desses países tenha chegado a reconhecer Guaidó como Governante;
e a Turquia já falou que apoia Maduro.
https://www.washingtonpost.com/world/national-security/trump-administration-eyes-transferring-control-of-citgo-to-the-new-venezuelan-government-it-has-recognized/2019/01/25/3f257a0c-20eb-11e9-8b59-0a28f2191131_story.html
Zé Maria
E os Bolsobestas associando a Venezuela ao Hezbollah [?!?], às Farc e ao Narcotráfico, quando toda vida foram os Governos Colombianos de Direita que sempre tiveram relações com o Tráfico de Drogas e com as Milícias Paramilitares de Ultradireita da Colômbia.
Julio Silveira
É o retorno do Brasil governado por testosterona e armas, dos que desprezam os neuronios para uso em beneficio publico.
Jose carlos
” Se a Venezuela entrar em guerra e milhões morrerem, para eles ((americanos)) pouco importa. O importante é que o acesso ao petróleo esteja assegurado e que o regime aliado da Rússia e da China seja eliminado da face da Terra. ”
Nada melhor numa briga vc arrumar um trouxa para brigar por vc e apanhar no seu lugar. Gente burra nesse mundo não falta.
Bolsonaro deixou o exercito antes de estudar mais e nunca voltou a estudar. Ele é muito raso. Certamente mais da metade da América Latina ficará contra o Brasil e isso refletirá nas relações econômicas e comerciais com outros países da América e da Europa, Ásia e até da África.
E outra: os filhos do Bolsonaro irão para a guerra ? Não, não é não.
Só irá brasileiro pobre.
E o pior de tudo. A Venezuela nunca nos agrediu.
Mas a família Bozo consegue se superar sempre.
Americano instiga o Brasil invadir a Venezuela porque não quer encarar a Rússia. Tão arrumando um cara (brasil) burro e trouxa para brigar no lugar deles. O que tem de imbecil nesse mundo num tá escrito no gibi. É uma reedição da guerra do Paraguai que foi insuflada pela Inglaterra, se não me falhe a memória.
E ainda pondo os trouxas ( Brasil, Colômbia … ) para brigar, guerrear por eles os americanos não precisarão enviar um único soldado para o campo de batalha e assim não correrão o risco de serem atacados pela Rússia.
Edvan Correia
Os *Estados Unidos* Impõe “Sanções” E *Causam Fome E Crise Na Venezuela* Para Provocar Uma Guerra Civil E Roubar O Petróleo Venezuelano! Que VERGONHA O Bolsonaro Participar Desse GUERRA-SUJA Contra Um Povo Irmão! #DitadorTRUMP
https://lh3.googleusercontent.com/-WJ9VB5txjmY/XEnP_mOUhgI/AAAAAAAAEFk/68eL-Cr8VV4A-5pz1202RHh9s1vz1IcXACL0BGAs/w530-d-h398-n-rw/VENEZUELA_530_398%2BFN.PNG
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