Marcelo Zero: Alguns esclarecimentos sobre a Venezuela

Tempo de leitura: 3 min
Brasília (DF), 30/05/2023: Os presidentes Nicolás Maduro e Lula durante reunião com mandatários de países da América do Sul, no Palácio do Itamaraty. Foto: Hugo Basrreto/Metrópoles

Alguns Esclarecimentos Sobre a Venezuela

Por Marcelo Zero*

A imprensa conservadora está comemorando a crise diplomática entre Brasil e Venezuela. Não deveria. Relações diplomáticas são estabelecidas entre países; não entre governos. Crise diplomática, especialmente com vizinhos, é sempre ruim para os interesses nacionais.

Além disso, essa crise bilateral é negativa também para a integração regional. Temos de evitar qualquer importação de conflitos geopolíticos para nossa região.

Ao contrário do que alguns “analistas” desinformados afirmam, o governo Lula nunca deu “cheque em branco” para o governo Maduro.

O Acordo de Barbados não foi inventado pelo Brasil.

Tal acordo foi mediado pela Noruega e recebeu apoio de muitos países. Recebeu apoio da Espanha, do México, da Colômbia, da Uniao Europeia etc. etc. Até mesmo os EUA, que voltaram a precisar do petróleo venezuelano, apoiaram o acordo. O Brasil simplesmente somou-se a um esforço internacional para pacificar a Venezuela e levantar as duras sanções que tanto mal causam ao povo venezuelano.

Todo o mundo esperava que o processo desse certo e que as eleições fossem lisas e transparentes. Infelizmente, isso não aconteceu. O Brasil, seguindo sua tradição diplomática, apostou em negociações e na paz.

Portanto, culpar o Brasil pelos desmandos do governo Maduro e pelo fracasso do processo é simplesmente ridículo.

Quem está sendo derrotado é o próprio governo Maduro, o qual está cada vez mais isolado.

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O Brasil, em contraste com as agressões descabidas e surreais do governo de Maduro contra Lula e Celso Amorim, continua a apostar na continuidade das relações diplomáticas, no diálogo e na paz.

O governo Maduro, contudo, parece querer investir no antigo isolacionismo regional, que caracterizou, por muito tempo, a política externa venezuelana.

Na década de 50 do século passado, a Venezuela já havia se convertido no segundo produtor e no primeiro exportador mundial de petróleo. Essa notável afluência econômica foi obtida numa relação de estreita dependência com os EUA, o principal comprador do óleo venezuelano.

Dessa forma, a política externa venezuelana, durante décadas, apostou apenas nessa relação bilateral privilegiada. Virou as costas para seu entorno.

Tal situação só começou a mudar na década de 1990. É dessa época (1994) a assinatura do Protocolo da la Guzmania, que iniciou a aproximação do Brasil com a Venezuela.

Já no período chavista, houve modificação profunda da política externa venezuelana, e Chávez passou a ser um entusiasta da integração regional. Tinha boas relações até mesmo com a Guiana.

Agora, o governo Maduro parece estar desinvestindo na integração regional e apostando em suas relações com potências extrarregionais, como China e Rússia.

Com efeito, Maduro está brigando com a maioria dos países da nossa região, mesmo com os amigos tradicionais, em razão dos justos questionamentos sobre as eleições.

É uma espécie de volta ao isolacionismo regional, com sinais geopolíticos trocados.

Isso é muito ruim para os interesses brasileiros e para toda região.

A América do Sul e a América Latina não podem ser palco de conflitos e disputas geopolíticas. Temos de fugir da agenda estéril e contraproducente da nova Guerra Fria.

Temos de investir em integração, diálogo e paz.

A diplomacia brasileira tem de persistir em tolerância e racionalidade.

Os celerados que gritem sozinhos. Isso não vai resolver nada. As sanções não serão levantadas e ninguém vai entrar no BRICS insultando o Brasil.

* Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Comentários

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José Espare

E pensar que até pouco tempo atrás a gente via Marcelo Zero como alguém de esquerda, progressista. Agora, está aí, dando nó em pingo d’agua para defender uma indefensável política externa de submissão ao imperialismo.

marcio gaúcho

O sonho de Lula em unificar a América Latina num só pensamento é uma ideia impossível. Temos tantas diferenças de culturas, de colonialismo, costumes e línguas que somos uma Torre de Babel, onde ninguém se entende e se exasperam os egoísmos e orgulhos. Dessa moita não sairá coelho! Está mais do que na hora de Lula se voltar para dentro do Brasil, esquecendo a sua política de estadista global, pois é avaliado como um sonhador e imbecil pelas potências internacionais, pelas suas propostas inócuas. Se assim continuar, o trabalhismo já era e não vai vingar vencedor nas próximas eleições!

Zé Maria

.

Chegará a um ponto em que o Brasil
não poderá se furtar de se posicionar:

Ou se dedica ao Apoio e Interesses dos BRICS+
ou apoia os Estados Unidos da América (EUA).

O Enfrentamento Econômico está Muito Próximo.
Se continuar fazendo Jogo Duplo, vai se dar mal.

Deveria se preparar, inclusive, para em breve sacar
suas Reservas Cambiais das ‘aplicações’ [a Juros
Reais Negativos] em Títulos do Tesouro dos Estados
Unidos da América (EUA) – que financiam a Dívida
dos EUA – diversificando-as.

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