Alguns Esclarecimentos Sobre a Venezuela
Por Marcelo Zero*
A imprensa conservadora está comemorando a crise diplomática entre Brasil e Venezuela. Não deveria. Relações diplomáticas são estabelecidas entre países; não entre governos. Crise diplomática, especialmente com vizinhos, é sempre ruim para os interesses nacionais.
Além disso, essa crise bilateral é negativa também para a integração regional. Temos de evitar qualquer importação de conflitos geopolíticos para nossa região.
Ao contrário do que alguns “analistas” desinformados afirmam, o governo Lula nunca deu “cheque em branco” para o governo Maduro.
O Acordo de Barbados não foi inventado pelo Brasil.
Tal acordo foi mediado pela Noruega e recebeu apoio de muitos países. Recebeu apoio da Espanha, do México, da Colômbia, da Uniao Europeia etc. etc. Até mesmo os EUA, que voltaram a precisar do petróleo venezuelano, apoiaram o acordo. O Brasil simplesmente somou-se a um esforço internacional para pacificar a Venezuela e levantar as duras sanções que tanto mal causam ao povo venezuelano.
Todo o mundo esperava que o processo desse certo e que as eleições fossem lisas e transparentes. Infelizmente, isso não aconteceu. O Brasil, seguindo sua tradição diplomática, apostou em negociações e na paz.
Portanto, culpar o Brasil pelos desmandos do governo Maduro e pelo fracasso do processo é simplesmente ridículo.
Quem está sendo derrotado é o próprio governo Maduro, o qual está cada vez mais isolado.
Apoie o VIOMUNDO
O Brasil, em contraste com as agressões descabidas e surreais do governo de Maduro contra Lula e Celso Amorim, continua a apostar na continuidade das relações diplomáticas, no diálogo e na paz.
O governo Maduro, contudo, parece querer investir no antigo isolacionismo regional, que caracterizou, por muito tempo, a política externa venezuelana.
Na década de 50 do século passado, a Venezuela já havia se convertido no segundo produtor e no primeiro exportador mundial de petróleo. Essa notável afluência econômica foi obtida numa relação de estreita dependência com os EUA, o principal comprador do óleo venezuelano.
Dessa forma, a política externa venezuelana, durante décadas, apostou apenas nessa relação bilateral privilegiada. Virou as costas para seu entorno.
Tal situação só começou a mudar na década de 1990. É dessa época (1994) a assinatura do Protocolo da la Guzmania, que iniciou a aproximação do Brasil com a Venezuela.
Já no período chavista, houve modificação profunda da política externa venezuelana, e Chávez passou a ser um entusiasta da integração regional. Tinha boas relações até mesmo com a Guiana.
Agora, o governo Maduro parece estar desinvestindo na integração regional e apostando em suas relações com potências extrarregionais, como China e Rússia.
Com efeito, Maduro está brigando com a maioria dos países da nossa região, mesmo com os amigos tradicionais, em razão dos justos questionamentos sobre as eleições.
É uma espécie de volta ao isolacionismo regional, com sinais geopolíticos trocados.
Isso é muito ruim para os interesses brasileiros e para toda região.
A América do Sul e a América Latina não podem ser palco de conflitos e disputas geopolíticas. Temos de fugir da agenda estéril e contraproducente da nova Guerra Fria.
Temos de investir em integração, diálogo e paz.
A diplomacia brasileira tem de persistir em tolerância e racionalidade.
Os celerados que gritem sozinhos. Isso não vai resolver nada. As sanções não serão levantadas e ninguém vai entrar no BRICS insultando o Brasil.
* Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.
Leia também
Venezuela convoca embaixador no Brasil e critica novas declarações de Celso Amorim
Marcelo Zero: O Brasil não deve vetar o ingresso da Venezuela no BRICS
Comentários
José Espare
E pensar que até pouco tempo atrás a gente via Marcelo Zero como alguém de esquerda, progressista. Agora, está aí, dando nó em pingo d’agua para defender uma indefensável política externa de submissão ao imperialismo.
marcio gaúcho
O sonho de Lula em unificar a América Latina num só pensamento é uma ideia impossível. Temos tantas diferenças de culturas, de colonialismo, costumes e línguas que somos uma Torre de Babel, onde ninguém se entende e se exasperam os egoísmos e orgulhos. Dessa moita não sairá coelho! Está mais do que na hora de Lula se voltar para dentro do Brasil, esquecendo a sua política de estadista global, pois é avaliado como um sonhador e imbecil pelas potências internacionais, pelas suas propostas inócuas. Se assim continuar, o trabalhismo já era e não vai vingar vencedor nas próximas eleições!
Zé Maria
.
Chegará a um ponto em que o Brasil
não poderá se furtar de se posicionar:
Ou se dedica ao Apoio e Interesses dos BRICS+
ou apoia os Estados Unidos da América (EUA).
O Enfrentamento Econômico está Muito Próximo.
Se continuar fazendo Jogo Duplo, vai se dar mal.
Deveria se preparar, inclusive, para em breve sacar
suas Reservas Cambiais das ‘aplicações’ [a Juros
Reais Negativos] em Títulos do Tesouro dos Estados
Unidos da América (EUA) – que financiam a Dívida
dos EUA – diversificando-as.
.
Deixe seu comentário