Manuel Domingos Neto: Quo vadis, Lula?

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No final de maio de 2023, já no governo Lula, aconteceu em Brasília o “I Seminário Internacional de Doutrina Militar Terrestre do Exército Brasileiro’’. Demonstração de alinhamento do Exército brasileiro aos Estados Unidos e a seus fiéis escudeiros Fotos: U.S. Army South via CCOMSEx e US National Archives

Quo vadis, Lula?

Por Manuel Domingos Neto*

Lula empenha-se pela paz em um mundo crispado. Exorta beligerantes e atores decisivos às negociações para finalizar a guerra. Projeta seu nome e resgata a diplomacia brasileira.

O que pretende Lula quando permite uma demonstração de alinhamento do Exército brasileiro aos Estados Unidos e a seus fiéis escudeiros no teatro ucraniano?

Trata-se do evento intitulado “I Seminário Internacional de Doutrina Militar Terrestre do Exército Brasileiro”, marcado para o final deste mês, em Brasília.

O Exército receberá representantes de “nações amigas” para atualizar princípios doutrinários a partir das novidades apresentadas na guerra em curso. Longe de ser convescote diplomático-militar, estarão reunidos homens preocupados com o preparo e emprego de tropas.

Nas palavras do general Theophilo Gaspar de Oliveira, que responde pelo Comando de Operações Terrestres do Exército Brasileiro, serão discutidos “conceitos e linhas de esforços para a superação das ameaças que vêm se apresentando no ambiente operacional, tanto dentro quanto fora do campo de batalha”.

Entenda-se por ameaças “fora do campo de batalha” o amplíssimo leque de iniciativas visando derrotar os russos.

Dentre os militares das “nações amigas” que se encontrarão em Brasília, destacam-se potências ocidentais lideradas por Washington: Alemanha, Reino Unido, França, Espanha, Finlândia, Itália, Holanda, Portugal, Suécia e Suíça.

Do Oriente, da Eurásia e da África estão convidados militares do Japão, Coreia do Sul, Indonésia, Arábia Saudita, Turquia, Paquistão, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, África do Sul, Israel, Egito, Angola, Moçambique, Nigéria e Tunísia.

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Dos vizinhos sul-americanos foram convidados a Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru. O evento, com a duração de três dias, nega o discurso de integração do subcontinente.

O Exército não tergiversa sobre as pretensões do encontro.

Segundo o general Theóphilo, os trabalhos devem resultar no “fortalecimento dos laços entre os centros de doutrina dos países amigos” a fim de melhorar o compartilhamento de conhecimentos e o “mútuo desenvolvimento da doutrina militar terrestre no âmbito internacional”.

O primeiro ponto da pauta explicita o comprometimento político dos convidados: trata-se do conceito desenvolvido pelo exército estadunidense de “Operações Multidominio” (em inglês, Multi-Domain Operations), iniciativas desenvolvidas transversalmente em terra, no mar, no ar, no espaço e campo cibernético.

Tal conceito vem sendo disseminado desde que os Estados Unidos definiram a China e a Rússia como ameaças ao seu poderio.

Os demais pontos da pauta relacionam-se ao primeiro: a busca de padronização de conceitos sobre a Guerra Híbrida visando combater atores estatais e não estatais por meio de capacidades convencionais e irregulares; os problemas para o emprego de forças blindadas e mecanizadas e a montagem de sistemas ofensivos remotamente pilotados.

Em Brasília, a máquina de guerra do “Ocidente” ajusta seus ponteiros.

O que Lula pretende ao permitir tal iniciativa? Onde quer chegar?

Não percebe que um evento como esse aprofunda os laços do militar brasileiro com Washington e descredita seu discurso pacifista?

*Manuel Domingos Neto é professor aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF), ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) e ex-vice-presidente do CNPq.

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Comentários

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Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/EgD8lmmWAAAa2Ei?format=jpg

“Ser de Esquerda não é Opção, é Decorrência de quem Enxerga o País”

Luis Fernando Veríssimo
Escritor cujo Nome já o qualifica

https://twitter.com/AngelJones_13/status/1297314423846187008

Nelson

O governo do PT já havia cometido o erro crasso de enviar tropas para a “missão de paz” no Haiti onde as mesmas ficaram subordinadas ao comando dos militares dos EUA. Lá “nossos” militares sofreram mais alguns “banhos” de ideologia pró-capitalismo e lavagem cerebral. Boa parte dos que lá estiveram formaram a retaguarda do desgoverno de Bolsonaro.

Na verdade, uma vez que Bolsonaro não tem capacidade ou mesmo vontade para administrar um condomínio de um prédio de seis andares que seja, essa patota é que, de fato, “geriu” o país nesses quatro anos tenebrosos. Geriu exatamente no sentido desejado pelos EUA, de desmantelar o Estado brasileiro.

Juarez

Cria corvos e eles te bicarão.

Zé Maria

Se dependesse da Opinião da Cúpula Militar braZileira,
o Brasil seria Membro da OTAN.

Zé Maria

FIM DO PPI DA PETROBRAS

Cumprindo Compromisso de Campanha Eleitoral,
LULA consegue acabar com a Dolarização dos Combustíveis no Brasil.

https://www.cartacapital.com.br/economia/petroleiros-celebram-fim-do-ppi-na-petrobras-pesadelo-chegou-ao-fim/

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