O AGENTE MUSK
Por Manuel Domingos Neto*
Certo dia, lá se vão 50 anos, mostrei a Pierre Monbeig um relatório que encontrara no Serviço Histórico do Exército francês indicando a interferência militar na escolha dos jovens intelectuais enviados ao Brasil para operar na USP.
Surpreso, o professor sorriu e me perguntou: “fui um agente involuntário do Exército”?
Além de Monbeig, Fernand Braudel, Lévi-Strauss e Roger Bastide, entre outros, participaram dessa empreitada que repercute ainda hoje. O eurocentrismo predomina no meio acadêmico brasileiro.
Os que disputam a hegemonia mundial criam expedientes capazes de atuar em seu favor.
Desde o século XIX, o envio de missões religiosas, artísticas, científicas e militares integram práticas de governos que disputam estrategicamente mercados consumidores e fornecedores de matérias primas.
O controle da imprensa e de grandes contingentes de emigrantes integram o amplo rol de lances estratégicos dos que dominam ou querem dominar o mundo.
Quem vasculha arquivos históricos de grandes potências descobrirá facilmente que projetos guerreiros abrangem mais que capacidade econômica, tecnológica e militar. A disseminação de valores e a indução de comportamentos coletivos é fundamental. Quem pensa e conduz a guerra procura conquistar almas.
Daí a forte ligação do Pentágono com Hollywood, desde 1915, com Griffith, que dirigiu “The Birth of a Nation”.
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Captando cedo a importância do cinema na disputa pela simpatia internacional, os comandantes estadunidenses recrutariam John Huston, William Wyler, John Ford, Frank Capra e George Stevens para cobrir a Segunda Guerra Mundial. Ainda hoje o mundo assiste a hecatombe por suas lentes.
Cada potência disputou a influência no Brasil com os instrumentos ao seu dispor.
No final do século XIX, a França, perdendo a competição tecnológica, econômica e militar para a Alemanha, investiu em seu prestígio intelectual. Depois da primeira derrota do Reich, conseguiu abrir as portas dos quartéis brasileiros. Modernizou o Exército, ensinou o anticomunismo e vendeu muito material de guerra, incluindo aviões e peças de artilharia recauchutadas.
A recente visita do presidente francês ao Brasil e seu terno enlace com Lula despertou-me lembranças e apreensões.
Nada mais falso do que uma Defesa Nacional ancorada em aquisições externas. O mais forte não fornece armas ao mais frágil sem garantias de submissão. Quem compra equipamentos bélicos de potências coloniais vende a alma ao diabo. Gasta muito por um simulacro de Defesa Nacional.
Remoo minhas anotações enquanto leio o estridente noticiário acerca de Elon Musk, descrito como bilionário excêntrico, rico, arrogante, bravateiro e emulador da extrema direita mundial.
Não cabe imaginar que um potente indutor de comportamentos coletivos cresça e atue à revelia de detentores dos grandes cordões da política internacional.
Musk não é um gênio sul-africano que se fez sozinho. Não iria longe sem parcerias com os gestores da estratégia de dominação estadunidense. Antes de tudo, Musk é um agente do Pentágono.
Nenhuma potência com aspirações de autonomia permitiria que um indivíduo ou uma instituição detenha isoladamente influência passível de contraditar seus desígnios.
A consciência democrática brasileira se revolta diante das tiradas aviltantes de Musk.
Aplaude Alexandre de Moraes, que promete enquadrá-lo juridicamente. Muitos dizem que o Brasil faz bem não cerceando a mídia digital controlada por este agente do Pentágono. Concluem que, caso Lula enfrentasse essa briga, escorregaria numa casca de banana.
Convenhamos, há enfrentamentos dos quais não se pode fugir. A contenda com Musk não pode ser relegada ao Judiciário nem se restringir à regulação estabelecida pelo Congresso, que só agirá positivamente se pressionado pela sociedade.
Trata-se de uma luta política de fôlego e abrangência. Envolve múltiplas iniciativas concatenadas e de alcance estratégico.
Não é apenas a democracia que está em risco, mas a autonomia nacional. Diz respeito ao poder político e só pode ser enfrentada com medidas que assegurem ao Estado brasileiro meios para repelir o condicionamento da sociedade por forças estrangeiras.
Musk não é um mero empresário. É um agente a serviço de Washington. Seus apoiadores não sabem o que seja defesa da pátria.
* Manuel Domingos Neto é doutor em História pela Universidade de Paris. Autor de O que fazer com o militar – Anotações para uma nova Defesa Nacional (Gabinete de Leitura).
Leia também
Ângela Carrato: A extrema-direita e as crises fabricadas por ela
Luís Nassif: Xadrez da guerra mundial de Elon Musk contra o Brasil
Comentários
Zé Maria
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Os “Agentes” Locais
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“Roda Viva ou Roda Morta?”
As intervenções feitas pela bancada do programa da TV do Governo Paulista
revelaram-se insuficientes diante da gravidade do que diz e representa
o Filho 01 do imoral inelegível e indiciado ex-Presidente, Capitão Miliciano.
Por Jornalista Liniker Xavier, na CartaCapital
Na noite na segunda-feira 8, a TV Cultura, estatal paulista sob a gestão
do governo Tarcísio de Freitas, e que enfrenta uma notória queda de
audiência, colocou em destaque no tradicional Programa Roda Viva
o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) [Primogênito de Jair Bolsonaro].
Foram quase duas horas de mentiras e ataques.
Em sua participação, Flávio não apenas empenhou-se em uma defesa
articulada do clã Bolsonaro, mas também lançou ataques ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) e defendeu Elon Musk, alçado a protagonista
da contenda extrema-direta x STF.
Sua ida ao programa exige uma reflexão: até que ponto é justificável
que uma plataforma pública abra espaço para figuras que, notoriamente,
têm se posicionado a favor de demandas que contrariam os pilares
da democracia?
A jornalista Vera Magalhães, apresentadora do Roda Viva, enfatizou
que o programa se destina a “falar por todos e para todos”, reiterando
o compromisso do jornalismo em ser crítico, questionador, apartidário,
independente e defensor da democracia.
Esse ideal, contudo, parece estar sendo inadvertidamente manipulado,
sob a capa da diversidade de opiniões, para minar a democracia sobre
a qual o próprio jornalismo se fundamenta.
A distinção entre o verdadeiro pluralismo e o perigoso fenômeno do falso
equilíbrio nunca foi tão tênue.
O pluralismo demanda a representação de uma diversidade de perspectivas
e vozes, refletindo a complexidade da sociedade.
O falso equilíbrio, contudo, é uma distorce esse ideal, especialmente quando
visões extremistas ou desprovidas de fundamentação são postas em pé
de igualdade com argumentos ancorados em evidências.
A responsabilidade de não servir como um megafone para discursos de ódio,
desinformação ou condutas que ameacem a estabilidade democrática é
um princípio que não pode ser negligenciado.
E isso exige da Mídia [Venal] um exercício constante de equilíbrio entre
a salvaguarda da liberdade de expressão e o cumprimento de sua
responsabilidade social.
A liberdade de expressão é um pilar da democracia, mas quando utilizada
como escudo para a disseminação de discursos nocivos, torna-se urgente
que a própria Mídia (Imprensa) se regule de forma ética e consciente.
Quando figuras controversas são submetidas a críticas, frequentemente
adotam a postura de vítimas de uma suposta conspiração midiática.
Seus seguidores interpretam qualquer contestação como confirmação
das suas convicções.
A participação de Flávio Bolsonaro no Roda Viva transformou-se em
uma ferramenta para os detratores da democracia, que diligentemente
picotaram a entrevista em uma série de clipes, cuidadosamente editados
para destacar a defesa do indefensável pelo Senador Fluminense, [filho
mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro].
Esses trechos, disseminados pelas redes sociais e outras plataformas digitais, servem para amplificar, legitimar e tornar normais os discursos
contrários à democracia, introduzindo uma falsa sensação de normalidade
e aceitação dessas ideias no debate público.
As intervenções feitas pela bancada de jornalistas’ do Roda Viva [ou Morta?]
revelaram-se insuficientes diante da gravidade do contexto em questão,
que não era de mero exercício de debate político.
A mensagem que o Senador passou soou mais como uma ameaça ao Brasil:
se depender do “Clã Bolsonaro”, a normalidade do país está condicionada
ao arquivamento das ações judiciais que pesem contra sua família.
A postura de neutralidade e a busca pelo equilíbrio, frequentemente
exaltadas como virtudes jornalísticas, podem transformar-se em
autocensura.
Jornalistas e meios de comunicação, em nome do profissionalismo,
podem hesitar em exercer críticas incisivas a figuras ou ideologias
que flertam com o autoritarismo, por receio de serem etiquetados
como parciais.
Foi o que aconteceu no Programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo.
Ao abrir espaço para alguém cujas convicções e histórico político
são marcados por um nostálgico apreço por regimes autoritários,
o Roda Viva falhou.
É uma amarga ironia Flávio Bolsonaro ter quase duas horas de entrevista
em um programa que carrega o nome de obra escrita por Chico Buarque,
símbolo de resistência contra a ditadura militar.
“A gente quer ter voz ativa,
no nosso destino mandar,
mas eis que chega roda-viva
e carrega o destino pra lá”.
Íntegra em:
https://www.cartacapital.com.br/blogs/midiatico/chico-buarque-jamais-imaginaria-a-roda-viva-tao-simpatica-a-um-bolsonaro/
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Zé Maria
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“US Government Backdoors”
Tirante a Língua Neofascista solta do Musk,
Gates, Page, Zuckberg e Demais Bilionários
Donos das “Bigh Techs” prestam o Mesmo
Serviço ao Governo dos EUA no Pentágono.
Aliás, fora o Marketing Promovido na Imprensa,
a Tradicional e a Especializada da Extrema-Direita,
Elon Musk é só um Chinelão diante dos Executivos
das Corporações de Tecnologia (“Bigh Techs” ).
E pôs uma Laranja [Yaccarino (ex-NBC)] CEO do ‘X’.
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Zé Maria
Excertos
“Convenhamos, há enfrentamentos
dos quais não se pode fugir”
[,,.]
“Trata-se de uma luta política
de fôlego e abrangência.
Envolve múltiplas iniciativas concatenadas
e de alcance estratégico.”
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