Manuel Domingos Neto: Fogo na mata é pedra cantada

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Brasília, DF, 15/09/2024: Incêndio atingiu o Parque Nacional de Brasília. Bombeiros e populares tentavam conter as chamas Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Fogo na mata é pedra cantada

Por Manuel Domingos Neto*

Três ramos industriais de alta rentabilidade estiveram na aurora da modernidade: o metalúrgico, o naval e o açucareiro. Rivalizavam em sofisticação tecnológica e importância estratégica.

A indústria açucareira nasceu globalizada e o teor energético do açúcar mudaria a condição alimentar da humanidade.

Para produzir açúcar além-mar o colonizador assassinou nativos, trouxe escravizados da África e tocou fogo na mata.

O engenho precisava de gado vacum como fonte proteica, força de tração e meio de transporte. O couro servia para mil aplicações. A produção de tabaco e a extração do ouro também precisavam do boi.

Em poucas décadas, os sertões foram ocupados. O colonizador dizimou povos originários e tocou fogo em bioma especialíssimo, favorável à reprodução humana.

Na caatinga, o fogo era aceso antes das chuvas para o rápido florescimento de ramagem que engordasse o boi.

O sertão foi empobrecido: sumiram centenas de plantas que ajudavam a nutrir a população. A drenagem natural das chuvas foi destroçada.

Antigos bebedouros e nascentes desapareceram. No Ceará, já no final do século XVIII, o colonizador criara o maior rico seco do mundo, o Jaguaribe.

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Na Europa, a indústria têxtil avançara no século XIX. Mais fogo na mata para produzir algodão.

Os ricos e civilizados aprenderam a beber café e, para produzi-lo, os colonizados continuaram tocando fogo na mata.

No Brasil, as cidades cresciam e multiplicavam a demanda por proteína animal. Para a criação de bovinos, seja extensiva (em terras abertas) ou em espaços demarcados, tocava-se fogo na mata.

A reprodução dos rebanhos passou a depender de chapadas montanhosas e, sobretudo, do Vale do Parnaíba.

Todos cantavam “o meu boi morreu, o que será de mim, vou mandar buscar outro, maninha, lá do Piauí”. Essa foi a primeira canção entoada de norte a sul do Brasil.

A agressão aos biomas mostraria suas consequências em 1877, quando eclodiu a maior crise humanitária do Brasil: meio milhão de pessoas morreram de fome, sede e peste.

A população brasileira girava em torno de vinte milhões.

Não fosse o refrigério do Vale do Parnaíba, onde havia água, peixe, carne, mel e frutas nativas, a mortandade seria maior.

Meio século se passara desde que dois cientistas austríacos descreveram o Piauí como a Suíça brasileira.

Os países industrializados precisaram de cera de carnaúba, óleos vegetais e borracha natural. A exploração avançou nos biomas do Meio Norte e na Amazônia.

As divisas resultantes beneficiariam a industrialização concentrada no Sudeste.

A Ditadura Militar empenhou-se em garantir a venda das riquezas naturais. Abriu estradas na floresta e ofertou grandes glebas ao estrangeiro.

Os governos democráticos persistiram com igual orientação, agora entregando a mata aos monocultores e mineradores.

As velhas práticas de dizimação dos povos originários persistiram. Além de fogo, o mato foi atingido por produtos químicos.

A defesa ambiental entrou em pauta há décadas sem que houvesse revisão do modelo agrícola basicamente definido na colonização. Todo o apoio foi dado aos agroexportadores.

Essa de “celeiro do mundo” é roubada. O lucro não fica aqui. Vai para o estrangeiro que controla as finanças e o comércio internacional. Beneficia quem produz máquinas e insumos agrícolas.

A agricultura moderna não gera empregos no campo: gera demandas à indústria. No caso brasileiro, não beneficia nem o campo nem a cidade.

Monocultura para exportação é desgraça. Incendeia a mata, empobrece o ambiente e prepara calamidades. Enriquece poucos e deixa o povo sem arrimo.

O Piauí, que forneceu proteína para boa parte dos brasileiros, hoje bebe leite de São Paulo.

O desastre não é uma emergência, é rotina histórica, velha como a colonização. É traço permanente da economia agrícola prioritariamente voltada para a demanda externa.

Há quem diga que os incêndios são criminosos, provocados para desgastar Lula. Assim, encobre-se perversidade secular.

Que os bandidos sejam presos, mas não vale esquecer que o crime maior é o tipo de agricultura incentivado pelo Estado.

Não há plano de combate ao fogo que dê jeito. Nem programa de defesa ambiental que atenue a perda da biodiversidade ou programa assistencial que tire da penúria milhões de famintos de hoje e de amanhã.

O que precisamos é de uma agricultura que produza comida farta, barata, diversificada, saudável e que não nos jogue fumaça nos olhos.

Onde se viu governo progressista bater palmas para o MATOPIBA?

O Brasil precisa de um tipo de desenvolvimento que sepulte a mentalidade colonial prevalecente, inclusive em importantes parcelas da esquerda.

Manuel Domingos Neto é doutor em História pela Universidade de Paris. Autor de O que fazer com o militar – Anotações para uma nova Defesa Nacional (Gabinete de Leitura).

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Zé Maria

SALVE O VERDE!
(Jorge Ben)

Por Quarteto em CY (1978)

https://youtu.be/qVFLOYkuvNo

Toca viola, toca viola violeiro
Segura o ritmo, segura o ritmo batuqueiro
Entra na roda, entra na roda milongueiro
Pois estão chegando, estão chegando os partideiros
Cantando assim:
Salve o verde
Salve o verde

Deus salve o verde,
Que o homem está acabando
E construindo o cinza
Salve o verde,
Salve o verde

Ta faltando grama, neste jardim;
Ta faltando árvore, nessa cidade;
Ta faltando oxigênio, nessa atmosfera;
O que será, o que será, o que será,
o que será da biosfera?
O que será, o que será, o que será,
o que será, da biosfera?

Salve o verde,
Salve o verde,
Salve o verde.

https://open.spotify.com/intl-pt/album/71ZubYRSrVxjpF6OxNhb1j
https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_ls1KIBH7IaWTCz7ldXPLWQkqem6d0Yj74
https://www.discogs.com/pt_BR/release/3135401-Quarteto-Em-Cy-Salve-O-Verde-

Zé Maria

O QUE VIRÁ DEPOIS DAS QUEIMADAS?

“O Alerta Chegou”

Por Dri Delorenzo, na Edição nº 129 da Revista Fórum
(https://semanal.revistaforum.com.br)

O país queima e enfrenta a seca mais extrema de sua história.

Os incêndios ocorrem e há suspeita de que grande parte deles
seja criminosa.

A ciência está dando o alerta vermelho.

Nesta semana, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou que
o planeta corre o risco de aumentar 3°C na temperatura média global
até o fim do século, se a destruição ambiental continuar.
É o dobro que se definiu no Acordo de Paris, assinado em 2015.

O efeito para as cidades será o aumento de ondas de calor e do contágio
de doenças,inclusive com a maior propagação de mosquitos transmissores
de enfermidades como dengue, febre amarela, zika e chikungunya.

Como sempre, os países mais pobres sofrerão os maiores impactos.
É o que mostra um estudo também divulgado nesta semana pelo World Resources Institute (WRI).

Além das queimadas deste mês, ainda tivemos, em maio, a tragédia das inundações no Rio Grande do Sul.

Não podemos eleger negacionistas da crise climática.

Como diz o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini,
entrevistado nesta edição da Revista Fórum semanal:

“Vivemos Uma Amostra Grátis de Como Será Daqui Pra Frente”

Em entrevista à Fórum, Marcio Astrini, secretário-executivo
do Observatório do Clima,reforça que é preciso parar com a
destruição ambiental imediatamente ou não haverá mais
solução para a crise climática.

[ Reportagem: Júlia Motta | Revista Fórum Edição nº 129 ]

Íntegra em:

https://semanal.revistaforum.com.br/wp-content/uploads/2024/09/Revista-Forum-129-20.9.2024.pdf

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Zé Maria

https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2024/09/911×1200-2-777×1024.jpg

País em Chamas
Brasil Refém do Crime e da Ganância

Edição Nº 1329 da Revista Carta Capital

https://www.cartacapital.com.br/edicao/1329-2/
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