Maduro toma posse na Venezuela e projeta seis anos de paz: ‘A oligarquia está derrotada’

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Fotos: Prensa Presidencial/Venezuela

Maduro toma posse na Venezuela e projeta seis anos de paz: ‘A oligarquia está derrotada’

Presidente da Venezuela disse que país enfrentou tentativa dos EUA de ‘impor um presidente’ no país

Por Lorenzo Santiago, no Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) 

O presidente Nicolás Maduro tomou posse nesta sexta-feira (10) em Caracas e disse que os próximos 6 anos de mandato serão “marcados pela paz”. Em meio a uma pressão da oposição que ameaçou interferir na cerimônia, o presidente disse que “prometeu paz e entregou paz”.

A cerimônia começou com a juramentação de Maduro ante a Constituição. O responsável por fazer o discurso de abertura foi o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez. Maduro recebeu o colar das chaves da arca, a faixa presidencial e cumprimentou deputados e convidados internacionais antes de assinar o termo de posse e fazer o discurso.

Diferente do habitual, a cerimônia não foi realizada no Hemiciclo da Assembleia Nacional.

Maduro também agradeceu o apoio das ruas não só das marchas realizadas nesta quinta-feira (9) como durante a posse.

Em seu discurso, o presidente eleito não deixou de falar sobre a “atuação estadunidense” sobre a economia venezuelana e disse que Washington foi derrotado na tentativa de “atacar” o país caribenho.

“Tivemos força contra uma articulação pública e midiática dos EUA, que transformaram a eleição da Venezuela em uma disputa global. Não é Maduro, é um povo que cresce em um homem. Se Maduro tem sentido, é porque Chávez tem sentido. Eles tentaram transformar a eleição de um país pacífico, mas a oligarquia está derrotada, os EUA estão derrotados”, afirmou.

Maduro também reforçou a importância do poder cidadão, que chamou de “poder moral e fundacional da República”. De acordo com ele, essa ideia de criar um quarto poder que fosse popular foi inspirado em Simón Bolivar, que no processo de independência da Venezuela já pleiteava a necessidade do poder político transmitido à população. Além do Executivo, Legislativo e Judiciário, a Venezuela tem também os Poderes Popular e Eleitoral.

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Durante o discurso, Maduro lembrou a articulação de movimentos de esquerda em torno dos congressos antifascistas.

Os eventos realizados nos últimos meses em Caracas reuniram militantes, congressistas e lideranças de movimentos populares para discutir a formação de uma frente internacional contra a extrema direita.

As lideranças de extrema direita também foram citadas pelo chavista. De acordo com ele, os EUA não aprenderam com a experiência do ex-deputado Juan Guaidó.

O mandatário citou a ultraliberal Maria Corina Machado, que nesta quinta acusou ter sido presa pela polícia Venezuelana depois do ato opositor, mas que foi desmentida pelo ministro do Interior, Diosdado Cabello. Nas redes sociais, circularam vídeos da ex-deputada falando que estava bem.

“Ninguém impõe um presidente na Veneuzela. Não puderam e não poderão colocar um Guaidó 2.0, que tem a mesma bagagem. Eu vi ontem, tinham um plano. Mas que foi desarticulado”, afirmou.

O mandatário também debochou do que chamou de “tentativa frustrada” de tomar posse. “Eles não disseram que estariam na Assembleia e que fariam a juramentação?”, perguntou o presidente rindo.

O chefe do Executivo também saudou os convidados e cumprimentou o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e o ex-presidente Manuel Zelaya fez referência ao “legado construído pelo ex-presidente Hugo Chávez”.

“A Constituição foi criada pelo povo e hoje podemos dizer que a Carta Magna é vitoriosa e a Venezuela está está paz. Os últimos 6 anos representam um símbolo da luta contra o imperialismo e da história de 500 anos dessa terra, contra todas as formas de dominação”, disse.

Ao final do discurso, Maduro disse respeitar a Constituição à risca e afirmou ter ouvido de Jorge Rodríguez que a intenção é elaborar nos próximos dias o calendário eleitoral para a disputa legislativa, de prefeitos e governadores de 2025.

Já há um projeto de reforma da lei eleitoral em discussão na própria Assembleia Nacional. Segundo a constituição, para valer no pleito deste ano, a reforma deve ser aprovada até março.

Tensão com oposição

Os dias anteriores à posse foram marcados por tensão e uma disputa da oposição em torno da cerimônia.

O ex-candidato opositor, Edmundo González Urrutia, questiona os resultados e afirmou que estaria na Venezuela neste 10 de janeiro para tomar posse, mas não disse como faria isso. Ele é alvo de um mandado de prisão.

Maduro será o presidente mais longevo da história da Venezuela. Se terminar seu mandato em 2031, ele terá ficado 18 anos no comando do país e superará o libertador Simón Bolívar, que chefiou o governo venezuelano por 15 anos.

Ele foi eleito em 28 de julho de 2024 com 6,4 milhões de votos (51,97%) contra 5,3 milhões (43,18%) do opositor Edmundo González Urrutia.

‘Somos do Brics’

O venezuelano voltou a dizer que a Venezuela vai se desenvolver nos próximos anos junto ao Brics. De acordo com ele, o país já faz parte do bloco “há 200 anos, porque somos do mundo que empurra uma nova história”.

A entrada no Brics foi motivo de tensão entre os governos brasileiro e venezuelano em outubro. O governo Lula vetou a participação do país caribenho na última cúpula realizada em Kazan. Depois disso, os dois governos trocaram farpas pela imprensa e Caracas chegou a convocar o embaixador em Brasília, Manuel Vadell, para consultas.

Reforma constitucional

O discurso também foi marcado por uma ideia já levantada por Maduro no final de 2024: uma reforma constitucional.

Segundo ele, é preciso um projeto de consenso, inclusivo, debatido com diferentes setores para “aperfeiçoar, melhorar, ampliar e embelezar” a Carta Magna.

A atual Constituição é um dos principais elementos políticos utilizados pelo governo já que foi a principal proposta de campanha da primeira eleição de Hugo Chávez, ainda em 1998.

‘David x Golias’

Em referência à passagem bíblica, o presidente terminou o discurso afirmando ser o “David do povo venezuelano”.

“Eu vou sair na frente de Golias, e vou enfrentá-lo, e Samuel 17:43 nos diz que uma vez no caminho até o povoado de David eles se encontraram frente à frente, e Golias falou a David: ‘Aproxime-se, aproxima-se e vou atirar seu corpo aos animais selvagens e às aves de rapina’. E David disse ao filisteu, a Golias: ‘Você vem contra mim com essa espada gigante, com essa lança […] mas eu David venho contra você em nome do Senhor todo poderoso e todos os exércitos'”, disse.

Edição: Leandro Melito

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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