Luis Felipe Miguel: Pablo Marçal

Tempo de leitura: 4 min

Pablo Marçal

Mesmo depois de que a política brasileira se transformou no show de horrores que é hoje, com Jair Bolsonaro e os seus, os adversários parecem despreparados para um Pablo Marçal

Por Luis Felipe Miguel*, em A Terra é Redonda

Pablo Marçal é o perfeito picareta. Tentou começar a vida como ladrão comum — chegou a ser condenado por furto qualificado, pelo envolvimento numa quadrilha do ramo da fraude bancária.

Depois, avaliando melhor como poderia investir seus talentos, evoluiu para coach messiânico, isto é, para o charlatanismo em escala industrial.

Em outros tempos, talvez viria a ser profeta, fundador de religião. Hoje, usa as redes sociais para enganar os otários e amealhar fortuna.

Se a gente vivesse num país menos esculhambado, ele certamente já estaria preso.

Sua pilantragem não tem efeitos apenas sobre o bolso de suas vítimas; ele também coloca a vida e a integridade física de seus seguidores em risco.

Quem não se lembra do grupo de 32 coitados que precisaram ser resgatados pelo Corpo de Bombeiros, depois que o coach os incitou a subir uma montanha sob condições climáticas adversas?

Ou do funcionário que morreu de ataque cardíaco depois que o patrão Marçal o fez participar de uma “maratona surpresa”?

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O retrato já está bem claro: é um patife amoral, autocentrado, capaz de qualquer coisa desde que anteveja algum benefício para si mesmo. Um homem, como se nota, talhado para pertencer à elite política do Brasil.

Pablo Marçal, que é um esperto, percebeu isso. Em 2022, ensaiou uma candidatura presidencial, mas era só encenação mesmo.

Usou sua visibilidade para vender apoio a Jair Bolsonaro, uma figura com quem guarda proximidades óbvias.

Agora, concorre à prefeitura de São Paulo para valer. Ele não conhece a cidade, não tem ideia de como se administra uma metrópole, não tem experiência gerencial ou política, não tem nenhuma proposta para área nenhuma.

Não importa. Arranjou uma legenda, aliás dirigida por pessoas suspeitas de envolvimento com o crime organizado, para abrigar sua candidatura.

Amontoa ideias descabidas, ridicularizadas por especialistas ou mesmo por quem seja provido de um mínimo de bom senso, como construir um prédio de 1 km de altura, e as enuncia como se substituíssem um plano de governo.

Mas o foco de sua campanha é disparar impropérios, acusações infundadas e todo o tipo de baixaria contra seus adversários.

A personalidade “extravagante” do mistificador é quase irresistível para uma mídia que não tem qualquer senso de responsabilidade diante da sociedade.

Pablo Marçal recebe um espaço gigantesco no noticiário; propostas imbecis e xingamentos sórdidos ganham manchetes; é convidado para participar dos debates, embora não se qualifique para tal (dada a irrelevância de seu partido), sob o argumento do “interesse jornalístico” — na verdade, do sensacionalismo barato, do qual ele é mestre.

Mesmo depois de que a política brasileira se transformou no show de horrores que é hoje, com Jair Bolsonaro e os seus, os adversários parecem despreparados para um Pablo Marçal.

Seu absoluto desinteresse por qualquer coisa de sério, seu desprezo olímpico pela verdade e pela decência, tudo isso se mostra desconcertante.

O coach sabe puxar seus oponentes para a disputa no terreno que lhe é favorável: a agressão, a baixaria. Guilherme Boulos arriscou um enfrentamento e saiu perdendo.

Como diz a sabedoria popular: quem briga com um porco fica tão enlameado quanto ele. A diferença é que o porco gosta.

José Luiz Datena, quase tão despreparado quanto Pablo Marçal para ocupar a prefeitura, viu que seus talentos de apresentador de televisão empalideciam diante da desenvoltura de seu novo oponente.

Ricardo Nunes, mentiroso contumaz, também percebeu que não é páreo para o coach.

Os três — Boulos, Datena e Nunes — estão optando por não comparecer a debates. Estratégia arriscada, que deixa Pablo Marçal solto.

Aliás, ele adotou a tática de não responder a perguntas e simplesmente ocupar o tempo para falar o que lhe dá na telha.

Depois, recorta o que quer e posta nas suas redes. São mais de 12 milhões de seguidores só no Instagram.

Seria necessário, aliás, pensar em formas de regulação disso, sob o risco de sermos submetidos a um governo de influencers.

Por que não suspender os perfis de todos os candidatos durante a campanha e concentrar seus conteúdos em um único espaço, administrado pela justiça eleitoral — uma espécie de HGPE da internet?

Ingênuo? Irrealizável? Inócuo? É provável que sim. Mas alternativas têm que ser pensadas e testadas.

Quem se sai melhor é Tabata Amaral. A jovem deputada da Fundação Lemman se mostra mais equilibrada diante do destempero do coach; seu estilo tecnocrático é o contraponto perfeito e ela se aproxima do que sempre procurou, ser a imagem do preparo e da ponderação entre os candidatos.

Mais um efeito negativo da presença de Pablo Marçal na campanha, é preciso anotar.

Por mais absurdo e patético que seja seu estilo, ele agrada a uma importante fatia do eleitorado que está sendo cada vez mais levada a ver agressividade como firmeza, incompetência como autenticidade e falta de compostura como indignação contra o sistema.

Feitas as contas, Marçal já é vencedor:

(i) Tornou-se o centro da campanha eleitoral, recebendo o máximo de atenção, que é algo que ele sempre persegue;

(ii) caso não chegue ao segundo turno, será dono de um cabedal de votos suficiente para vender caro seu apoio;

(iii) caso chegue, terá que ser “respeitado” como político e levado “a sério” pelos outros partidos.

(iv) Caso ganhe as eleições, terá na prefeitura gigantescas oportunidades para “bons negócios” — e se a cidade de São Paulo se lascar, como certamente ocorrerá, a culpa é de seus moradores;

(v) eleito ou com bom desempenho eleitoral, pode se colocar novamente em 2026, disputando a liderança da extrema direita (Jair Bolsonaro já sentiu o baque) ou, uma vez mais, vendendo caro seu apoio.

(vi) Qualquer que seja o resultado, está aproveitando a visibilidade da campanha para ampliar a base de seguidores, logo de clientes potenciais para suas picaretagens;

(vii) por último, mas não menos importante, tornar-se um “líder político” ajuda a blindá-lo contra as denúncias e processos por suas práticas estelionatárias.

O sucesso de Pablo Marçal é um sintoma dos problemas graves da política brasileira.

É preciso enfrentar tanto o sintoma quanto as causas — e o enfrentamento das causas passa necessariamente por educação política e elevação dos termos do debate.

*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil (Autêntica). [https://amzn.to/45NRwS2]

Publicado originalmente nas redes sociais do autor.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Jeferson Miola: Pablo Marçal e o fracasso da democracia em conter o fascismo

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Comentários

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Zé Maria

https://x.com/Pedro_Serrano1/status/1829023343883751584

“Uma coisa é certa, uma rede querer operar no Brasil sem se submeter a suas leis e instituições é querer se pôr como um poder privado acima da soberania estatal e, portanto, acima da Constituição, dos direitos e da democracia.
“Uma tirania absoluta, sem limites legais e morais-políticos.
A suspensão de atividades até que se submeta a nossas leis é uma obviedade que se impõe.
O ministro Alexandre está correto nesse tema”.

PEDRO ESTEVAM SERRANO
Constitucionalista Brasileiro
Professor de Direito (PUC-SP)

https://t.co/7bJgPLAyR7
https://x.com/RevistaForum/status/1829161828590731384
https://revistaforum.com.br/brasil/2024/8/29/moraes-acerta-contra-tirania-absoluta-de-elon-musk-no-twitter-afirma-pedro-serrano-164689.html

Zé Maria

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Imprensa Fasci-NeoLiberal publicou Pesquisa Falsa
dando Liderança a Candidato Vigarista em São Paulo.
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“Alguém está mentindo.
É bom ficar de olho nessa Veritá.”

https://x.com/LuisNassif/status/1828873471390011748
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Zé Maria

Hoje que estávamos com estômago forte,
arriscamos assistir a uma entrevista com o Desprefeito de São Paulo na Globonews.

Impressionante como faz contorção verbal e mente na cara dura o tal Nunes, o Tosco!

Nelson

Para quem acreditava que Jair Bolsonaro seria o degrau mais baixo a que a nossa política poderia descer no tocante a apodrecimento, Marçal está aí, a comprovar aquilo que eu costumo dizer nos debates que procuro fazer com as pessoas: “há espaço para piorar”.

Bolsonaro, Marçal e outras ignomínias que pairam por aí são fruto da pouquíssima disposição que parte expressiva do povo brasileiro, não duvido de que possa ser a maioria, demonstra para discutir, para debater política.

Por conta disso, sem conhecer como as coisas funcionam, esses brasileiros levam no oba-oba uma questão muito séria que é a política.

Diante disso, tenho que concordar com o professor Luís Felipe, quando ele afirma que “se a cidade de São Paulo se lascar, como certamente ocorrerá, a culpa é de seus moradores”.

Bernardo

Preciso. Faltou somente dizer que outro aliado desse picareta é a inércia e omissão da Justiça Eleitoral e da procuradoria de Justiça que deveria exigir rápida investigação e processo desse infeliz. Também a RF deveria investigar a vida financeira de uma pessoa amealhou muito, dizem 300Mi de US$.

Zé Maria

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Marçal e Nunes: Bolsonaro Ataca São Paulo com Candidaturas Criminosas.
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“Ricardo Nunes é aliado de primeira linha de Bolsonaro.

O ex-presidente e ladrão de joias é tão próximo de Nunes
que indicou o candidato a vice do desprefeito de São Paulo.”

BOULOS 50
https://x.com/GuilhermeBoulos/status/1828553395449536829

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/GWBMfCiWUAAdYox?format=jpg

“Bora Boulos!

Isso é inédito!

Vai ser primeiro conteúdo honesto
publicado na história das redes
desse criminoso condenado!”

ERIKA HILTON
Deputada Federal (PSoL/SP)
https://x.com/ErikakHilton/status/1828548630845776122

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Zé Maria

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TRE de São Paulo acaba de conceder a Guilherme Boulos
direito de resposta a ser publicada nas redes sociais do
Bandido Marçal, referente às calúnias que o candidato
do PSOL vem recebendo do influencer criminoso.

A Decisão foi proferida no conjunto de duas ações
movidas por Boulos na Justiça Eleitoral, relativas a
publicações mentirosas feitas on-line por Marçal.
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“Eu não vou permitir que esta eleição seja pautada
por uma mentira absurda.

O sujeito que se acha acima da lei terá que publicar
minha resposta nas suas redes.

E não adianta ficar entrando com recurso,
porque desta vez o caso não vai prescrever.”

GUILHERME BOULOS 50
Candidato a Prefeito de São Paulo.
Professor. Deputado Federal (PSoL/SP).
https://x.com/GuilhermeBoulos/status/1828545546933415972
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Zé Maria

https://x.com/i/status/1828458257381310704

“Essa história de direita civilizada,
de bolsonarismo moderado,
não me convence, francamente.
Não vou permitir que essa turma
continue governando São Paulo.
Aliás, aliada do crime, muitas vezes.

E nem vou permitir que um bandido,
vigarista, como Pablo Marçal,
chegue perto da Prefeitura.”

GUILHERME BOULOS 50
Candidato a Prefeito de São Paulo.
Professor. Deputado Federal (PSoL/SP).
https://x.com/GuilhermeBoulos/status/1828458257381310704

Zé Maria

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E a gente ainda tem de perder tempo com um Bandido Descarado

como esse Criminoso Bolsonarista cujo resgistro foi aceito no TRE/SP.

https://www.cartacapital.com.br/politica/tse-destrava-processo-que-pode-implodir-a-candidatura-de-pablo-marcal/

Zé Maria

https://x.com/i/status/1828265000030364061

A Estratégia Fascista Neoliberal
de Difamar, Caluniar e Ameaçar
Políticos da Esquerda e Família,
que surtiu efeito contra Manuela,
não terá sucesso contra Boulos.

Nessa segunda-feira (26), durante sabatina na CNN Brasil,
Marçal [o influencer criminoso] voltou a mentir sobre Boulos,
afirmando que a filha do deputado “vai chorar duas vezes”,
fazendo referência ao fato de que ela sofreu bullying na escola .

Isso porque o candidato do PSOL já havia relatado que
suas filhas de 13 e 14 anos haviam chorado após comentários
na escola repercutindo as calúnias de Marçal, o Criminoso.

No Roda Viva, o candidato do PSOL foi questionado
sobre os ataques do “cocach” e se revoltou ao falar
do sofrimento que suas filhas passam com as mentiras
propagadas pelo bandido bolsonarista contra o pai delas.

https://revistaforum.com.br/politica/2024/8/26/boulos-no-roda-viva-no-falta-dinheiro-falta-prefeito-em-sp-164532.html
.
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“Boulos deu excelente entrevista ao Roda Viva.
Pena que os foqueiros da Cultura, CBN, Estadão,
Folha e Uol vieram com fake news trazer desinformação.”

Boulos apresentava propostas e projetos de Governo,
enquanto os jornalistas se preocupavam em repercutir
contra ele fofocas, mentiras, calúnias e difamações dos
outros candidatos da Direita à Prefeitura de São Paulo .

“Tática suja, típica desses veículos.”
https://x.com/xararelaxando/status/1828478495166431729

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1828265716216107032
https://x.com/vinicios_betiol/status/1828265716216107032

https://t.co/iEC8ukDoaL

“Já percebi que estamos lidando
com um bandido, um criminoso.
É assim que eu vou lidar com ele [Marçal]
e tratá-lo até o fim dessa eleição.
E vou derrotá-lo”.
GUILHERME BOULOS (PSOL 50)
Candidato a Prefeitura de São Paulo

https://x.com/RevistaForum/status/1828344509819674882

https://revistaforum.com.br/politica/2024/8/27/video-boulos-se-emociona-no-roda-viva-ao-expor-sofrimento-das-filhas-com-fake-news-de-maral-164534.html

Zé Maria

.
.
Por falar em Picareta e Organização Criminosa…

Rico aposta no Cassino da Bolsa de Valores.

Pobre Joga em Bet ou no Jogo do Tigrinho.
.
.
“Bets e ‘Jogo do Tigrinho’ [*] Impactam Saúde Mental,
Orçamento das Famílias e Economia do País”

Demora na regulamentação permitiu crescimento desordenado
do setor e mudou padrão de consumo da população mais vulnerável

Relatório aponta que boa parte do dinheiro eventualmente ganho
pelo apostador é colocado novamente no jogo, demostrando um
círculo vicioso que não tem impacto significativo na economia real.

“Há um ambiente empresarial com muitos recursos financeiros,
que fez com que essas empresas capturassem influenciadores
que passaram a ser os seus grandes patrocinadores.
Os seguidores foram induzidos para esse ambiente de jogos,
que se alastrou muito rapidamente, com o atrativo de se ganhar
dinheiro rapidamente.”

“O comportamento de consumo das famílias
já afeta o ambiente de entretenimento e de lazer.
As pessoas estão modificando os seus hábitos.
Já impacta fortemente a questão do endividamento
e a saúde mental das pessoas.”

IONE AMORIM
Consultora do IDEC.
Em Entrevista ao Brasil de Fato.

[ Reportagem: Nara Lacerda | Brasil de Fato | 26/08/2024 ]

O Brasil encerrou, nesta semana, mais um passo no processo
de regulamentação de casas de apostas online.

Foram recebidos mais de 100 pedidos de autorização de funcionamento
de empresas de jogos e apostas virtuais.

A partir da finalização desse processo, todas as iniciativas que não tiverem
autorização governamental serão consideradas ilegais.

Quem descumprir regras e normas legais sofrerá punição.

Essa é uma das etapas finais do processo de legalização dessas atividades
no Brasil, que começou no governo de Michel Temer (MDB), em 2018.

Na economia do país e das famílias, as consequências das chamadas bets
e de jogos conhecidos como tigrinho estão aparecendo e causando
preocupação: elas vão do aumento do endividamento e diminuição de
recursos para itens básicos ao adoecimento mental e até suicídio.

Uma pesquisa do banco Itaú, um dos maiores do Brasil, estima que brasileiros e brasileiras perderam quase R$ 24 bilhões em jogos e apostas online em um ano.

Recentemente, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, apontou que alguns estudos mostram que o aumento de renda no Brasil não elevou o consumo e nem as economias das famílias como poderia. A explicação pode estar no consumo dos jogos e das apostas online.

Em entrevista ao Brasil de Fato, a consultora do programa de Serviços Financeiros do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), Ione Amorim, afirma que a demora na regulamentação da atividade trouxe prejuízos consideráveis.

“Há um ambiente com muitos recursos financeiros, que fez com que essas
empresas capturassem influenciadores que passaram a ser os seus grandes patrocinadores.
Os seguidores foram induzidos para esse ambiente de jogos, que se alastrou
muito rapidamente, com o atrativo de se ganhar recursos rapidamente.”

Segundo ela, o setor de apostas e jogos online já preocupa diversos setores
da cadeia produtiva brasileira.

“O comportamento de consumo das famílias já afeta o ambiente
de entretenimento e de lazer.
As pessoas estão modificando os seus hábitos.
Já afeta o sistema bancário, já impacta fortemente a questão
do endividamento e a saúde mental das pessoas.”

“O Hospital das Clínicas aqui em São Paulo já admite não ter mais estrutura
para receber pessoas para tratar esse problema este ano.
Estamos falando de saúde pública, de um problema que é uma epidemia”, explica.

Análise da a empresa de consultoria Strategy&, as apostas representam
o equivalente a 76% das despesas de “lazer e cultura” das classes D e E.

O total gasto com os jogos corresponde a 5% do que é destinado à alimentação.

O relatório expressa preocupação com a ampliação desse tipo de atividade
frente ao índice de brasileiros e brasileiras que revelam não ter segurança
financeira. Segundo a pesquisa Hopes and Fears 2024, ele chega a 43%.

Ainda de acordo com a consultoria, as apostas já representam 1,38%
do orçamento familiar nas classes com menor poder aquisitivo.

A análise aponta também que boa parte do dinheiro ganho é colocado
novamente no jogo, o mostra que o eventual lucro de quem joga não tem
impacto significativo na economia real.

A informação é reafirmada em um estudo de 2023, divulgado pelo Instituto
Locomotiva, que mostra que somente 36% dos ganhos são usados em
outros gastos.

O levantamento estima que 20% da população de baixa renda aposta
pelo menos uma vez por mês.

“Precisamos trabalhar a educação financeira e o risco do endividamento.
As pessoas precisam estar cientes de que este ambiente não é saudável.
A maioria das pessoas que hoje estão perdendo mais dinheiro são as que
já estão negativadas. Elas estão sendo expostas a agiotagem em redes
sociais”, alerta Ione Amorim.

Confira a entrevista na íntegra em:

https://www.brasildefato.com.br/2024/08/26/bets-e-jogo-do-tigrinho-impactam-orcamento-das-familias-saude-mental-e-economia-do-pais

[*] “Fortune Tiger” (popularmente conhecido como “Jogo do Tigrinho”)
é um jogo de apostas e cassino online caracterizado como jogo de azar,
desenvolvido pela empresa maltesa PG Soft.

O sistema de Fortune Tiger é hospedado fora do Brasil e a organização
que desenvolveu o jogo não possui registro no país.

O Fortune Tiger supostamente ofereceria ganhos substanciais em um
curto período de tempo através da internet.

Na prática, o aplicativo opera como uma máquina caça-níqueis, exigindo
dinheiro real para participação, supostamente delegando os pagamentos
para os cassinos e casas de apostas associadas à PG Soft, uma empresa
europeia com sede em Malta (Vide: https://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Empresas_de_jogos_de_azar).

Tornou-se popular no Brasil em 2023, embora seja ilegal.

Desde então, Influenciadores que eram pagos para divulgar o jogo foram
presos em Diversas Operações Policiais no País.

No auge da popularidade do Fortune Tiger, houve mais de 700.000 pesquisas mensais no Google Search .

Em setembro de 2023, foi retirado da GooglePlay Store.
Entretanto, lives’ com dezenas de horas de duração sobre o Jogo do Tigrinho têm surgido diariamente em canais populares de YouTube, App da Google, sem qualquer relação com o assunto, como culinária, música e jogos infantis.

Há relatos de pessoas que cometeram suicídio após perder grandes
quantias de dinheiro no jogo.

O governo federal proibiu propagandas com influencers e celebridades
que apresentem apostas online como meio para melhorar de vida.
A regra, que vale tanto para apostas esportivas como para jogos online
(caça-níquel, roleta, crash, por exemplo), foi regulamentadap por portaria
publicada pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda,
e começa a valer de fato em 2025.

Segundo o texto, são vedadas as ações de comunicação, publicidade,
propaganda e marketing que “apresentem a aposta como socialmente
atraente ou contenham afirmações de personalidades conhecidas ou de
celebridades que sugiram que o jogo contribui para o êxito pessoal ou social
ou para melhoria das condições financeiras”.

A portaria também determina que toda publicidade seja identificada com termos como “informe publicitário” ou “publicidade”.

Nos últimos meses, influenciadores têm sido alvo de operações policiais por prometer lucro fácil em caça-níqueis online como o Fortune Tiger, um dos mais populares.

As normas para a publicidade de apostas online também impedem
propagandas que deem a entender que é possível desenvolver habilidade
para influenciar o resultado de uma aposta – no caso do Jogo do Tigrinho,
são comuns vídeos de pessoas que afirmam ter encontrado uma ‘falha’
que permitiria ganhos exorbitantes.

O governo também proibiu propaganda – com ou sem celebridades –
que encoraje práticas excessivas de aposta e apresente o jogo como
prioridade na vida.

As celebridades e outros envolvidos podem ser punidos com advertência
ou multa que vai de R$ 50 mil a R$ 2 bilhões em caso de irregularidades.

Os valores são os mesmos aplicados a outras infrações das normas.

Usuários Dependentes
A portaria também estabelece uma série de normas para prevenir a dependência de apostas online.

Uma delas prevê que as plataformas suspendam o registro de usuários
que estejam “em risco alto de dependência e de transtornos do jogo patológico”.

Para tanto, as plataformas precisarão monitorar os apostadores
e classificar o perfil de risco de cada um.

As plataformas também deverão dar aos apostadores:

-O direito de criar um limite de valor a ser apostador e de tempo que
quer gastar nas plataformas; esse limite pode ser diário, semanal,
mensal etc.

-A opção de programar alertas ou de bloqueios de uso

-A adoção de períodos de pausa, nos quais o apostador terá acesso,
mas não poderá apostar em sua conta; e

-A solicitação de autoexclusão, por prazo determinado ou definitivamente,
em que o apostador terá sua conta encerrada, só podendo voltar a se registrar após finalizado o período definido.

O Ministério da Fazenda estabeleceu ainda que as plataformas mostrem
para o usuário, de forma permanente e com acesso fácil, quanto tempo
eles permaneceram jogando, quando perdeu e qual é o saldo disponível.

Bloqueio de Sites
O governo federal pretende que, a partir de 2025, todas as apostas online
– esportivas ou não – só possam ser feitas em sites sediados no Brasil
e autorizados pelo Ministério da Fazenda, que terão o endereço do site (URL)
terminado em ‘bet.br’.

Atualmente, a maioria das apostas online são feitas em sites estrangeiros.

A portaria publicada diz que os provedores de internet, após receberem
notificação da pasta, deverão bloquear sites e excluir aplicativos de
plataformas não autorizadas.

A norma também obriga os provedores de internet e empresas que
divulguem publicidade (como Google e Facebook, por exemplo),
a excluir propagandas de sites de apostas ilegais.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_Tigrinho#cite_note-20

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