Lenio Streck: Por que Lula é inocente; vídeo

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Por que Lula é inocente

Por Lenio Streck*, enviado por Dr. Rosinha

Já explicamos que Lula é inocente um milhão de vezes. Apresentamos a Constituição, as leis, os Códigos. Mas todos os dias ouvimos mentiras e ofensas ao ex-Presidente Lula dizendo que ele não foi inocentado.

Sou Lenio Streck, ex-promotor de justiça por 28 anos, professor e advogado. Tenho mais de 80 livros publicados. Conheço esse assunto com a palma da mão. Se eu fosse médico, diria que já fiz mais de 10 mil cirurgias.

Vamos lá. Imagine que um vizinho seu lhe odeie. E faz uma acusação falsa de roubo contra você. Você vai preso. Esse vizinho é amigo do delegado, do promotor e do juiz. E que o juiz e o promotor sejam muito amigos. Aliás, o juiz era um “juiz de fora”. Nem poderia lhe julgar.

Você é inocente; grita pela inocência. Diz que o juiz é de fora (incompetente). Mas o juiz lhe condena mesmo assim.

Você recorre ao tribunal de segunda instância. E lá o Presidente do Tribunal, mesmo sem ler a sentença do juiz, diz que ela está “perfeita”. Jogo jogado. E a sua pena de prisão até é aumentada.

Então você vai para cima, noutro tribunal. Clama pela inocência. E, de novo, ninguém lhe ouve.

Nesse meio tempo, descobre-se que o juiz estava mancomunado com o promotor. O juiz dizia para o promotor como fazer melhor a acusação contra você. É como se, no futebol, até o VAR tivesse mancomunado com a arbitragem.

Aí então você vai ao topo, no Supremo Tribunal. Fosse no futebol, seria como ir até a FIFA para reclamar de um jogo roubado.  Os ministros do Supremo, então, descobrem a farsa. Tudo o que você dizia era certo. O juiz não poderia ter julgado você, o promotor era amiguinho do juiz e todas as provas contra você foram anuladas.

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O processo foi todo anulado. Você estava preso por quase dois anos. Agora está livre. Mas tinha mais processos contra você. E todos também foram anulados.

Diga-me: você é culpado ou inocente? Você é culpado por ter sido perseguido?

Esta é a história de Lula. Bem assim. Lula jogou um jogo em que o juiz do jogo não podia apitar e marcou um pênalti no meio do campo contra o time do Lula. E ainda amarrou as mãos do goleiro. E terminado o jogo, o juiz foi trabalhar na diretoria do outro time, o do Bolsonaro.

Você ainda tem dúvidas de que Lula é inocente? Pergunto então: se acontecesse com você? Depois de dois anos preso, a justiça reconhece que tudo foi uma armação, uma trampa. Você gostaria ou aceitaria que lhe chamassem de ladrão e que você não é inocente?

Que sofrimento deve ter passado o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Dois anos preso injustamente. E quando é libertado e se candidata a voltar a ser Presidente, tem de ouvir um montão de bobagens e ofensas.

No fundo, você sabe que ele é inocente. Conte para seus Amigos. Pergunte-lhes se fosse com eles. Ou com um familiar. A gente só sabe do tamanho do calo quando põe o sapato.

*Lenio Streck, jurista, professor e advogado

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Comentários

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Nelson

Parabéns ao professor Streck.

Explicação simples, clara, concisa e perfeitamente inteligível por qualquer um que opte por olhar a questão com racionalidade, sem paixões. Qualquer um que opte pela democracia e, portanto, pelo Estado Democrático de Direito, vai entendê-la com facilidade.

Já os que optam por olhar a questão com o fígado, somente com ódio no coração, devem estar cientes de que estarão preferindo a ditadura, ainda que se apresentem como adoradores da democracia. Assim, devem se conscientizar de que não estão livres de que a coisa pode, em algum momento, se voltar contra eles.

Esses devem estar cientes de que estarão preferindo a regressão a mais de dois séculos, à era pré-Revolução Francesa, ou mesmo até à Idade Média. Por consequência, deverão estar preparados para quando, em algum momento, qual um bumerangue desgovernado, essa opção se voltar com eles.

Orgulho de ter conterrâneos do seu naipe num Estado que parece cada vez mais infestado de nulidades. Um Estado que já brilhou com personagens do calibre de Getúlio Vargas, Luís Carlos Prestes, Almirante Negro, João Goulart, Leonel Brizola e vários outros, mas que, hoje, não fossem figuras como Olívio Dutra e alguns poucos, estaria totalmente imerso na opacidade tal a quantidade gente desprezível que é colocada em evidência sem que tenha qualquer mérito para tanto.

Zé Maria

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É uma coincidência que hoje, 9 de Outubro de 2022, faz exatamente 163 Anos
do Nascimento de Alfred Dreyfus (1859-1935), Capitão de Artilharia do Exército
da Terceira República da França, que foi Vítima do MAIOR ERRO JUDICIÁRIO
DA HISTÓRIA MODERNA, Condenado que foi, Injustamente, à Pena de Prisão
Perpétua por um Crime que comprovadamente ele NÃO COMETEU; e cujo
Processo Infame de Perseguição Militar, Religiosa, Xenofóbica e Midiática
ficou Conhecido como “CASO DREYFUS”.

O Capitão do Exército Francês foi Preso em 1894 e
sofreu a Desonra e Degradação Públicas, em 1895,
até que, em 12 de julho de 1906, a Suprema Corte
da França, por unanimidade, anulou a Condenação
imposta pelos Tribunais Militares, pronunciando-se
pela Definitiva INOCÊNCIA de Alfred Dreyfus” sendo
ele então Reabilitado, Reintegrado ao Exército, como
Major, e Condecorado com a Legião de Honra.

http://www.dreyfus.culture.fr/fr/
http://www.dreyfus.culture.fr/fr/mediatheque/media-theme-Les_medias_et_l_Affaire-1.htm

Zé Maria

.

Íntegra da Carta Aberta ao Presidente da República da França publicada no
Jornal L’Aurore, em 13 de Janeiro de 1898, pelo Escritor Émile Zola (1840-1902),
que apontou os Reais Culpados pela Farsa Jurídica-Militar que levaram à Condenação injusta à Pena de Prisão Perpétua do Capitão Alfred Dreyfus
por um Crime que, em verdade, comprovadamente ele não cometeu.

“EU ACUSO…!

CARTA AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Por ÉMILE ZOLA

Excelentíssimo Senhor Presidente da República, permita-me, em gratidão à generosa acolhida que o senhor me deu em uma ocasião passada, apelar para sua justa glória e dizer que sua estrela, tão honrada até aqui, está ameaçada pela maior das vergonhas, a mais indelével das manchas.

O senhor livrou-se, são e salvo, das maiores calúnias, tendo conquistado os corações; saiu apoteótica e radiosamente desta festa patriótica que foi para a França a aliança com a Rússia, e prepara-se para presidir ao triunfo solene da nossa Exposição Universal, que coroará nosso grande século cheio de trabalho, verdade e liberdade.
Mas é enorme a mancha sob o seu nome – eu iria dizer sob seu governo – que é esse abominável caso Dreyfus!
Uma corte marcial acaba, por ter recebido ordens nesse sentido, de ousar absolver o tal Esterhazy, supremo golpe em qualquer verdade, em qualquer justiça.
E está feito: a vergonha está estampada no rosto da França, e a história registrará que foi sob a sua presidência que tamanho crime social foi cometido.

E como foram ousados, serei da minha parte ousada também.
Vou falar a verdade, pois prometi resguardá-la, já que a justiça, conspurcada diversas vezes, não faz isso, plena e inteiramente.

Tenho o dever de falar, eu não quero ser cúmplice.

Minhas noites seriam assombradas pelo espectro de um inocente que sofre no além-mar, mergulhado na mais dolorosa tortura, por um crime que ele não cometeu.

E será à sua Excelência, senhor Presidente, que dirigirei meus clamores, a verdade, com toda força da minha revolta de homem honesto. Conheço a sua honra e, por isso, sei que ignora a verdade.
A quem mais eu poderia denunciar a turba malfeitora dos verdadeiros culpados, que não à Sua Excelência, o primeiro magistrado do país?

A verdade, para começar, sobre o processo e a condenação de Dreyfus.

Um homem nefasto, responsável por tudo, autor de tudo, é o comandante du
Paty de Clam, naquele momento um simples oficial.
Ele é a personificação do caso Dreyfus; nada será esclarecido até que uma investigação imparcial tenha estabelecido claramente seus atos e sua responsabilidade.
Ele representa uma figura nebulosa, a mais complicada, obcecado pelas intrigas romanescas, comprazendo-se, à maneira dos folhetins baratos, com papéis que desaparecem, cartas anônimas, encontros e lugares desertos, mulheres misteriosas que carregam, à noite, provas irrefutáveis.
Ele imagina ter ditado o documento a Dreyfus; é ele que sonha estudá-lo em um cômodo inteiramente revestido de espelhos, é ele que o comandante Forzinetti nos representa, empunhando uma lanterna velada, desejando se aproximar do acusado adormecido, para projetar sobre seus olhos um jato de luz e surpreendê-lo então em seu crime, na confusão do sonho.

Não tenho mais nada a dizer: se procurar, alguma coisa aparece.

Declaro simplesmente que o comandante du Paty de Clam, encarregado de instruir o caso Dreyfus, como representante da justiça, e, segundo a cronologia e a importância dos fatos, é o primeiro culpado do erro judicial que foi cometido.

Depois de algum tempo o documento foi parar nas mãos do coronel Sandherr, diretor do serviço de inteligência, que morreu de paralisia geral.
Então, as coisas começaram a “desaparecer”, papéis sumiram, até hoje estão sumidos; e foram atrás de saber quem era o autor do documento, e um pré-requisito foi pouco a pouco se construindo: o culpado teria de ser um oficial do Estado-Maior e da artilharia: duplo erro manifesto, que mostra a superficialidade com que o processo foi tratado, pois um exame cuidadoso demonstra que o culpado necessariamente precisa ser um oficial de tropa.

Foi feita uma busca em domicílio, olharam os papéis, como se tudo fosse um caso de família, uma tramóia a ser desvendada dentro dos escritórios mesmo e então os culpados seriam expulsos.

E, sem querer aqui contar uma história já conhecida em parte, entra em cena o comandante du Paty de Clam, quando as primeiras suspeitas começam a recair sobre Dreyfus.
Foi então que ele inventou um Dreyfus, o caso tornou-se o seu caso, ele se esforçou para confundir o traidor e fazê-lo confessar tudo.

Há ainda o ministro da Guerra, general Mercier, cuja inteligência parece medíocre;
ao chefe do Estado-Maior, general Boisdeffre, que apresenta ter cedido à paixão clerical, e o subchefe do Estado-Maior, o general Gonse, cuja consciência se acomoda a quase tudo.
Mas, no fundo, não se trata de ninguém além do comandante du Paty de Clam, que os guia a todos, que os hipnotiza, pois ele também se ocupa do espiritismo, do ocultismo: ele conversa com os espíritos.

É impossível conceber as situações às quais ele submeteu o infeliz Dreyfus, as armadilhas nas quais ele quis apanhá-lo, as investigações delirantes, as invenções monstruosas, uma enorme demência torturante.

Ah! Esse primeiro fato é um pesadelo para quem o conhece nos seus verdadeiros detalhes!

O comandante du Paty de Clam prende Dreyfus e o coloca na solitária.
Vai até a casa da senhora Dreyfus, amedronta-a, e diz que se ela contar alguma coisa para alguém seu marido estará perdido.
Durante esse tempo, o infeliz se desespera, clamando inocência.

E a instrução foi feita dessa forma, como se fosse uma crônica do século XV, misteriosa, com expedientes cruéis e todo baseado exclusivamente em uma evidência infantil, esse documento imbecil, que não passa de uma traição vulgar, a patifaria mais grosseira, pois os maiores segredos transmitidos se revelaram todos sem nenhum valor.

Eu insisto porque é aqui que está a semente de onde surgirá o verdadeiro crime, a espantosa recusa de justiça que torna a França um lugar doente.

Eu gostaria de entender como esse erro judicial pôde ser possível, como ele surgiu das maquinações do comandante du Paty de Clam; como o general Mercier e os generais de Boisdeffre e Gonse puderam se deixar levar e tornar-se pouco a pouco cúmplices desse erro, que mais tarde acreditaram dever impor como uma verdade santa, uma verdade indiscutível.

A priori, só houve da parte deles falta de cuidado e burrice.

De mais a mais, sentimos que eles cederam às paixões religiosas da comunidade e ao preconceito corporativista.

Permitiram que a estupidez acontecesse.

Mas então Dreyfus se submete ao Conselho de Guerra.
Exige-se o mais absoluto sigilo.
Mesmo que um traidor houvesse aberto a fronteira ao inimigo para permitir que o imperador alemão tomasse Notre Dame, não seriam tomadas precauções de sigilo e mistério tão severas.

A nação treme de espanto, um diz-que-diz de ocorrências terríveis, dessas traições monstruosas que indignam a História; e naturalmente o país se dobra. Não há punição que chegue, ele apoiará a degradação pública, desejará que o culpado se enterre em um solo imutável de infâmia, devorado pelo remorso.
E, por isso, os fatos indizíveis, as coisas perigosas capazes de incendiar a Europa e que por isso tiveram de ser em sigilo soterrados serão verdadeiros?

Não!

Tudo não passou de fruto da imaginação romanesca e desvairada do comandante du Paty de Clam.
Tudo foi feito apenas para esconder o mais estapafúrdio dos folhetins.

Para que isso fique claro, basta que o ato de acusação, lido diante do conselho de guerra, seja analisado com um pouco de cuidado.

Ah! A inutilidade desse ato de acusação!
É um prodígio de iniqüidade que um homem tenha condenado por meio desse ato.

Desafio todos os homens corretos a lê-lo sem que seu coração se encha de indignação e não grite de revolta, vendo o exagero da pena da distante Ilha do Diabo [na Guiana Francesa].

Dreyfus domina vários idiomas: crime;
não há um papel sequer em sua casa que o comprometa: crime;
de vez em quando ele retorna à sua pátria: crime;
trabalha muito, tem o cuidado de se informar sobre tudo: crime;
não perde a calma: crime;
perde a calma: crime.

E as platitudes de redação, as assertivas formais do vazio!
Falou-se em 14 itens de acusação: no final das contas, não encontramos mais do que um, o tal documento; e já sabemos que nem com relação a ele os especialistas estão de acordo; e que um deles, o Sr. Gobert, foi militarmente constrangido porque ousou chegar a uma conclusão diversa daquela que se desejava.

Falou-se ainda em 23 oficiais que teriam arrasado Dreyfus em seus testemunhos.

Nada sabemos do que falaram, mas é fato que parte deles não o acusou;
é obrigatório observar, ainda, que todos pertenciam ao Ministério da Guerra.

É um processo interno, feito entre pares, e não se deve esquecer:
o Estado-Maior queria o processo, levou a cabo o julgamento e termina de fazer outro.
Portanto, nada mais que o documento, a respeito do qual os especialistas não se entendem.
Conta-se que, dentro da sala do conselho, os juízes estavam na iminência de absolvê-lo.
E, então, para justificar a obstinação desesperada pela condenação, afirma-se hoje que há um documento secreto, incontornável, um documento que não se pode mostrar, que legitima tudo, diante do qual devemos nos inclinar, o bom Deus invisível e incognoscível!

Eu o recuso, recuso esse documento, recuso-o como todas as minhas forças!

Um documento ridículo, sim, deve ser o documentos em que se trata de umas mulherzinhas e se fala de um tal ‘D…’ que se transforma em figura muito exigente:
algum marido sem dúvida decepcionado porque não lhe pagaram um bom preço por sua esposa.

Mas esse documento, que interessa tanto à defesa nacional, não poderia ser exibido sem que uma guerra fosse declarada amanhã, não, não! É mentira!
E é de tal maneira odiosa e cínica que essas pessoas mentem impunemente, sem que nada os convença.
Elas amotinam a França, esconde-se atrás da legítima emoção, fazem calar as bocas confundindo os corações, pervertendo os espíritos.

Não conheço crime cívico maior.

Aqui, está, portanto, senhor Presidente, os fatos que explicam como um erro judiciário pôde ser cometido; e as provas morais, a situação do destino de Dreyfus, a ausência de motivos, contínuo clamor de inocência, exigem que eu o apresente como uma vítima da extraordinária imaginação do comandante du Paty de Clam, do meio clerical em que ele está, da perseguição aos “judeus sujos”, que desonram a nossa época.

E aqui chegamos ao caso Esterhazy. Três anos se passaram, muitas consciências permanecem profundamente confusas, inquietam-se, questionam e terminam se convencendo da inocência de Dreyfus.

Não farei o histórico da dúvida e da posterior certeza do sr. M. ScheurerKestner.
Mas, enquanto ele investigava por conta própria, passavam-se fatos graves no próprio Estado-Maior.

O coronel Sandherr morre, e o tenente-coronel Picquart lhe sucede na chefia do serviço de inteligência.
E, por sua vez, no exercício de suas funções foi que chegou às mãos desse último um telegrama, endereçado ao comandante Esterhazy, remetido por um agente a serviço no exterior.
Seu estrito dever era o de abrir uma sindicância.
Fato é que ele nunca deixou de obedecer a seus superiores.
Ele apresentou, pois, suas suspeitas aos seus superiores hierárquicos, o general Gonse, e depois o general Boisdeffre e, por fim, o general Billot, que ocupou o lugar do general Mercier no Ministério da Guerra.

O famoso dossiê Picquart, de que tanto se fala, nunca foi além do que o dossiê Billot, um dossiê feito por um subordinado para o seu ministro, dossiê que deve
estar ainda no Ministério da Guerra. As investigações duraram de maio a setembro de 1896, e o que é preciso, dizer em alto e bom som é que o general Gonse estava convencido da culpabilidade de Esterhazy e que o general Boisdeffre e o general Billot não tinham nenhuma dúvida de que o autor do documento era Esterhazy.

A investigação do tenente-coronel Picquart tinha conduzido a essa constatação certeira.
Mas o constrangimento era grande, pois a condenação de Esterhazy acarretaria necessariamente a revisão do processo Dreyfus; e isso é que o Estado-Maior queria evitar a qualquer custo.

Deve ter havido um instante cheio de angústia psicológica.
É fato que o general Billot não estava comprometido com nada, ele tinha acabado de saber de tudo, podia, portanto, dizer a verdade.
Ele não ousou, temendo sem dúvida a opinião pública, certamente também acreditando que livraria todo o Estado-Maior, o general Boisdeffre e o general Gonse, sem falar dos inferiores. Depois, houve apenas um minuto de combate entre a sua consciência e o que ele acreditava ser um interesse militar.
Quando esse minuto passou, já era muito tarde.
Ele estava engajado, já estava comprometido.
E, desde então, sua responsabilidade não pára de crescer.
Ele tomou para si o crime de outrem, é tão culpado quanto os outros, é mais culpado que os outros, pois tinha a oportunidade de fazer justiça, e não a fez.

Veja isso!
Faz um ano que o general Billot, os generais Boisdeffre e Gonse sabem
que Dreyfus é inocente, e guardam para si essa verdade aterradora!

E dormem tranqüilos em casa, com suas esposas e filhos que os amam!

O tenente-coronel Picquart estava cumprindo suas obrigações de homem honesto. Insistia com seus superiores, em nome da justiça.
Respondia, dizia quanto suas decisões eram apolíticas, diante da terrível tempestade que se construía, que se daria quando a verdade fosse conhecida.

Essa foi, mais tarde, a argumentação que M. Scheurer-Kestner dirige igualmente ao general Billot, conclamando-o, por patriotismo, a pegar o caso com as mãos, não deixá-lo mais se agravar para evitar um desastre público.
Não!
O crime estava cometido, o Estado-Maior não poderia mais evitar seu crime.
E o tenente-coronel Picquart foi enviado para o exterior, cada vez mais distante, até a Tunísia, onde se quis até mesmo certa vez honrar sua bravura, encarregando-o de uma missão que o teria seguramente massacrado, em lugares em que o marquês de Mores encontrou a morte.

Ele não caiu em desgraça, o general Gonse manteve com ele uma correspondência amigável.
Apenas não era muito conveniente divulgar alguns segredos.

Em Paris, a verdade começava irresistivelmente a aparecer e sabia-se que em algum momento a tempestade explodiria.

M. Mathieu Dreyfus denuncia o comandante Esterhazy como verdadeiro autor do documento, no mesmo momento em que M. Scheurer-Kestner colocava, nas mãos do Ministério da Justiça, um pedido de revisão do processo.
E aqui aparece o comandante Esterhazy.

Testemunhas o descrevem de início descontrolado, disposto a se suicidar ou fugir.

Depois, de repente, cria coragem e assusta Paris pela violência de sua atitude.
É que tinha chegado ajuda, ele havia recebido uma carta anônima advertindo-o das manobras de seus inimigos, uma dama misteriosa chegou mesmo a se abalar durante a noite para roubar do Estado-Maior um documento que o salvaria.
E aqui eu não posso deixar de lembrar a imaginação fértil do comandante du Paty de Clam.
Sua obra, a culpabilidade de Dreyfus, estava em perigo, e ele quis seguramente defender a própria criação.

A revisão do processo, seria esse o desfecho do extravagante e trágico folhetim, cujo abominável desenlace realizou-se na Ilha do Diabo! Isso ele não podia permitir.

Então, o duelo ocorrerá entre o tenente-coronel Picquart e o comandante du Paty de Clam, um de cara aberta, o outro mascarado. Nós os reencontraremos em breve, diante da justiça civil.

No fundo, é sempre o Estado-Maior que se defende, que não quer admitir seu crime, cuja abominação cresce a cada hora.

Com espanto, perguntou-se quem eram os protetores do comandante Esterhazy.

Em primeiro lugar, na surdina, o comandante du Paty Clam, que maquinou e coordenou a coisa toda.
Ele foi traído pelos seus próprios métodos bizarros.
Depois, é o general de Boisdeffre, o general de Gonse, e o próprio general Billot, que são obrigados a absolver o comandante, já que não podem deixar que a inocência de Dreyfus seja reconhecida sem que o Ministério da Guerra caia em descrédito.

E o fantástico resultado dessa prodigiosa situação é que o honesto tenente-coronel Picquart, que apenas cumpriu seu dever, será ele a vítima, o ridicularizado e o punido.

Ah!, justiça, que terrível desespero rasga o coração!

Chega-se ao cúmulo de dizer que ele é o falsificador, que fabricou o telegrama para incriminar Esterhazy.
Mas, ó Deus! Por quê? Com que razão?
Dai-me um motivo.
Ele também foi pago pelos Judeus?
O mais engraçado é que ele é justamente [tido como] o anti-semita!

Sim! Assistimos a esse espetáculo infame, homens perdidos em divida e crimes que se proclamam inocentes, enquanto se mancha a honra de um homem de vida irresponsável.

Quando uma sociedade chega a esse ponto, está desintegrada.

Eis, portanto, senhor Presidente, o caso Esterhazy:
um culpado que era preciso inocentar.

Retroagindo dois meses, podemos acompanhar hora por hora esse admirável serviço.

Vou abreviar, pois aqui não trago nada mais que um resumo da história, cujas páginas vibrantes serão um dia escritas na íntegra.

E, então, vimos o general de Pellieux, depois o comandante Ravary, conduzir uma investigação criminosa em que os canalhas foram purificados, e os honestos, manchados.
Logo depois, o Conselho de Guerra foi convocado.
Como se pode esperar que um Conselho de Guerra corrija o erro de outro Conselho de Guerra?

E nem estou me referindo aqui à escolha dos juízes.

A idéia superior de disciplina, que ocorre no sangue desses soldados, não bastaria por si só invalidar sua capacidade de julgar imparcialmente?

Quem fala disciplina, fala obediência.

Quando o ministro de Guerra, a principal autoridade, estabeleceu publicamente, sob os aplausos da representação nacional, a autoridade do julgamento, não se pode esperar que um Conselho de Guerra o desminta.
Hierarquicamente, é impossível.

O general Billot influenciou os juízes com a sua declaração, e eles a julgaram como se devessem partir para o ataque, sem refletir.

A opinião preconcebida, que levaram para julgamento, é evidentemente essa:

“Dreyfus foi condenado por traição por um Conselho de Guerra, é, portanto, culpado; e nós, O Conselho de Guerra, não podemos declará-lo inocente, pois sabemos que reconhecer a culpa de Esterhazy é proclamar a inocência de Dreyfus”.

Nada os demoveria dessa idéia.

Proclamaram uma sentença iníqua, que pesará para sempre sobre os nossos conselhos de guerra e que manchará a suspeita daqui em diante todas as decisões.

O primeiro Conselho de Guerra não foi inteligente; mas o segundo é forçosamente criminoso.

Sua desculpa, repito, é que a autoridade principal já tinha decidido, declarando inatacável o julgamento anterior, santo e superior aos homens, de modo que os inferiores não podiam dizer o contrário.

Falam-nos da honra do exército, querem que nós o amemos e o respeitemos.

Há!, claro, o exército que se erguerá diante da primeira ameaça, que defenderá o território francês, ele é o povo, e não sentimos por ele nada além de ternura e respeito.
Mas não se trata dele, quem, em nossa necessidade de justiça, desejamos justamente a dignidade.
Trata-se aqui do sabre, o senhor que, quem sabe, nos dará amanhã.
Mas beijar com devoção seu punho, ó deus, isso não!

Já o demonstrei: o caso Dreyfus foi o caso do Ministério da Guerra; um oficial de Estado-Maior, denunciado por seus colegas do Estado–Maior, condenado sob pressão dos chefes do Estado-Maior.

E mais uma vez: ele não pode ser inocentado sem que todo o Estado-Maior seja culpado.

Também os ministérios, por todos os meios imagináveis, com campanhas nos jornais, com comunicados e tráfico de influência, só cobriram Esterhazy para culpar Dreyfus uma segunda vez.

Ah! o governo republicano deveria pôr no olho da rua esse bando de jesuítas, como o próprio general Billot os chama!

Onde está o ministério verdadeiramente forte, de um patriotismo sábio, que terá a coragem de tudo renovar e recriar?

Quanta gente não conheço que, diante de uma possível guerra, treme de angústia sabendo em que mãos está a defesa nacional?

E a que ninho de baixarias, fofocas e esbanjamentos está entregue esse lugar sagrado, onde se decide o futuro da pátria?

Assusta o que o caso Dreyfus acabou revelando, esse sacrifício humano de um infeliz, de um “Judeu porco”!

Ah!, que agitação de demência e imbecilidade, de imaginações estúpidas, de práticas de políticas mesquinhas, de costumes inquisitoriais e tirânicos, a satisfação de alguns oficiais agaloados esmagando a nação com suas botas, enfiando goela abaixo seu grito de verdade e justiça, sob o pretexto mentiroso e sacrílego da razão de estado!

E é um crime ainda terem se apoiado na imprensa imunda, terem se deixado defender por toda a canalha de Paris, de modo que é essa canalha que triunfa insolentemente, diante da derrota do direito e da simples probidade.

É um crime terem acusado de perturbar a França aqueles que a querem generosa, na vanguarda das nações livres e justas, quando tramaram eles próprios a impudente conspiração para impor o erro ao mundo inteiro.

É um crime confundir a opinião pública, utilizar para uma sentença fatal essa opinião pública que foi corrompida até o delírio.

É um crime envenenar os pequenos e humildes, exasperar as paixões de reação e de intolerância, abrigando-se atrás de um odioso anti-semitismo, de que a grande França liberal dos direitos do homem sucumbirá, se não for curada.

É um crime explorar o patriotismo para as obras do ódio; é um crime, por fim, fazer do sabre o deus moderno, quando toda a ciência humana está a serviço da obra iminente da verdade e da justiça.

Essa verdade, essa justiça, que tão apaixonadamente desejamos, que aflição vê-las assim esbofeteadas, mais desprezadas e mais obscurecidas!

Desconfio do desmoronamento que deu na de Scheurer-Kestner, e acredito que ele acabará sentido remorsos, o de não ter agido revolucionariamente no dia da interpelação no Senado, revelando o que sabia, para pôr tudo abaixo.
Foi o grande homem de bem da história, o homem de vida leal, acreditou que a verdade se bastaria a si própria, sobretudo quando ela lhe aparecia clara como a luz do dia.
De que valeria todo o transtorno, se logo o sol a tudo esclareceria?
E foi por essa serenidade confiante que foi tão cruelmente punido.

O mesmo para o tenente-coronel Picquart, que, por um sentimento de grande dignidade, não quis publicar as cartas do general Gonse.
Esses escrúpulos o tornam ainda mais honrado quando sabemos que, enquanto ele se mantinha respeitoso na disciplina, seus superiores o faziam cobrir-se de lama, instruindo eles mesmos o processo, da maneira mais inesperada e ultrajante.

Há duas vítimas, dois homens corajosos, dois corações simples, que se entregaram a Deus, enquanto o Diabo se movimentava.

E até mesmo se viu, da parte do tenente-coronel Picquart, essa ignomínia:
um tribunal francês, depois de ter permitido que o promotor atacasse publicamente uma testemunha, acusando-a de todos os crimes, apesar à audiência secreta justamente quando a testemunha começou a se explicar e a se defender.
Afirmo ser este mais um crime, um crime que provocará a indignação da consciência universal.

Decididamente, nossos tribunais militares têm uma idéia muito particular de justiça.

Essa é, pois, a simples verdade, senhor Presidente, e ela é assustadora, e marcará sua presidência como uma mancha.
Desconfio que o senhor não pode fazer nada esse respeito, que é prisioneiro da Constituição e de seus assessores.
Mas tem ainda assim um dever como homem, no qual pensa, e que cumprirá.
Não que eu duvide, aliás, nem um pouco, que a verdade triunfará.

Repito-o, e com uma certeza ainda mais veemente: a verdade está apenas a caminho e ninguém a deterá.

As coisas estão apenas começando, pois apenas agora os fatos estão claros:
de um lado, os culpados que não querem que a justiça se faça; de outro, os honestos que darão sua vida para que ela se faça.

Já o disse antes, e vou repeti-lo aqui: quando a verdade fica soterrada, ela toma corpo, e ganha tal força explosiva que, quando explode, leva tudo consigo.

Veremos se o que acaba de ser preparado não será mais tarde o mais retumbante dos desastres.

Mas essa carta já vai longe, senhor Presidente, e é hora de concluí-la.

EU ACUSO o comandante du Paty de Clam de ter sido o criador diabólico do erro judicial, inconscientemente, quero crer, e ter saído em defesa de sua obra nefasta, durante três anos, por maquinações as mais estapafúrdias e as mais culposas.

EU ACUSO o general Mercier de ter se tornado cúmplice, ainda que por franqueza de caráter, de uma das maiores iniqüidades do século.

EU ACUSO o general Billot de ter tido entre as mãos as provas indubitáveis da inocência de Dreyfus e de tê-las ocultado, tornando-se, pois, culpado de crime de lesa-humanidade e lesa–justiça, por motivos políticos e para livrar um Estado-Maior comprometido.

EU ACUSO o general de Boisdeffre e o general Gonse de tornarem-se cúmplices do mesmo crime, um sem dúvida por paixão clerical, o outro por esse corporativismo que faz do Ministério da Guerra uma arca santa inatacável.

EU ACUSO o general de Pellieux e o comandante Ravary de terem feito uma investigação criminosa, um inquérito da mais monstruosa parcialidade e do qual temos, no relatório do segundo, um monumento perene da mais ingênua audácia.

EU ACUSO os três especialistas sem grafologia, os senhores Belhomme, Varinard e Couard de terem emitido pareceres mentirosos e fraudulentos, a menos que um laudo médico os declare tomados por alguma patologia da vista e do juízo.

EU ACUSO o Ministério da Guerra de ter promovido na imprensa, particularmente no L’éclair e no L’Écho de Paris, uma campanha abominável, para manipular a opinião pública e acobertar sua falha.

EU ACUSO por fim o primeiro Conselho de Guerra de ter violado o direito, condenando um acusado com base em um documento secreto, e acuso o segundo Conselho de Guerra de ter encoberto essa ilegalidade, por ter recebido ordens, cometendo por sua vez o crime jurídico de absolver conscientemente um culpado.

Fazendo essas acusações, não ignoro enquadrar-me nos artigos 30 e 31 da lei de imprensa de 29 de julho de 1881, que pune os delitos de difamação.
E é voluntariamente que eu me exponho.

Quanto às pessoas que eu acuso, não as conheço, nunca as vi, não nutro por elas nem rancor nem ódio.
Não passam para mim de entidades, de espíritos da malevolência social.

O ato que aqui realizo não é nada além de uma ação revolucionária para apressar a explosão de verdade e justiça.

Não tenho mais que uma paixão, uma paixão pela verdade, em nome da humanidade que tanto sofreu e que tem direito à felicidade.

Meu protesto inflamado nada mais é que o grito da minha alma.
Que ousem, portanto levar–me perante ao tribunal do júri e que o inquérito se dê à luz do dia!

É o que espero.

Receba, senhor Presidente, minhas manifestações de mais profundo respeito.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/49/J%E2%80%99accuse.jpg/600px-J%E2%80%99accuse.jpg

http://www.omarrare.uerj.br/numero12/pdfs/emile.pdf

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ZOLA, Émile (1840-1902). Zola /Rui Barbosa Eu acuso! O Processo do
Capitão Dreyfus. Org. e trad. Ricardo Lísias. São Paulo: Hedra, 2007. p. 35 a 53
https://periodicos.uninove.br/prisma/article/view/1014/1067

Zé Maria

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“EU ACUSO!”

“:Meu dever é de falar, não quero ser cúmplice.

Minhas noites seriam atormentadas pelo espectro

do inocente que paga, na mais horrível das torturas,

POR UM CRIME QUE ELE NÃO COMETEU.”

(Émile Zola)

.
Excerto

“EU ACUSO o tenente-coronel du Paty de Clam de ter sido o artífice diabólico do erro judiciário, inconscientemente, quero crer, e de ter em seguida defendido sua obra nefasta, durante três anos, através de tramas absurdas e culpáveis.
Eu acuso o general Billot de ter tido nas suas mãos as provas certas da inocência de Dreyfus e de tê-las abafado, de se tornar culpado deste crime de lesa-humanidade com um objetivo político e para salvar o Estado-Maior comprometido.

EU ACUSO o general de Boisdeffre e o general Gonse de serem cúmplices do mesmo crime, um sem dúvida por razão clerical, o outro talvez devido a esse espírito corporativista que torna os gabinetes de guerra em arcas santas, inatacáveis.

EU ACUSO o general de Pellieux e o comandante Ravary de terem feito uma sindicância rápida, e quero com isso dizer uma sindicância da mais monstruosa parcialidade, onde temos, no relatório do segundo, um monumento indestrutível de audácia ingênua.

EU ACUSO os três especialistas em grafologia, os senhores Belhomme, Varinard e Couard, de terem redigido relatórios mentirosos e fraudulentos, a menos que um exame médico os declare doentes de algum mal da vista e de julgamento.
Eu acuso os gabinetes de guerra de terem liderado na imprensa, particularmente no L’Éclair e no L’Écho de Paris, uma campanha abominável para distrair a opinião e cobrir seu erro.

EU ACUSO enfim o primeiro Conselho de Guerra de ter violado a lei ao condenar um acusado apoiado em uma peça de acusação mantida secreta, e acuso o segundo Conselho de Guerra de ter encoberto esta ilegalidade, sob ordem, cometendo também o crime jurídico de inocentar sabidamente um culpado [o real culpado]”.

Trecho do Original

“J’ACCUSE”
(Émile Zola)

“J’accuse le lieutenant-colonel du Paty de Clam d’avoir été l’ouvrier diabolique de l’erreur judiciaire, en inconscient, je veux le croire, et d’avoir ensuite défendu son œuvre néfaste, depuis trois ans, par les machinations les plus saugrenues et les plus coupables.

J’accuse le général Mercier de s’être rendu complice, tout au moins par faiblesse d’esprit, d’une des plus grandes iniquités du siècle.
Eu acuso o general Mercier de ter-se mostrado cúmplice, ao menos por fraqueza de espírito, de uma das maiores injustiças do século.

J’accuse le général Billot d’avoir eu entre les mains les preuves certaines de l’innocence de Dreyfus et de les avoir étouffées, de s’être rendu coupable de ce crime de lèse-humanité et de lèse-justice, dans un but politique et pour sauver l’état-major compromis.

J’accuse le général de Boisdeffre et le général Gonse de s’être rendus complices du même crime, l’un sans doute par passion cléricale, l’autre peut-être par cet esprit de corps qui fait des bureaux de la guerre l’arche sainte, inattaquable.

J’accuse le général de Pellieux et le commandant Ravary d’avoir fait une enquête scélérate, j’entends par là une enquête de la plus monstrueuse partialité, dont nous avons, dans le rapport du second, un impérissable monument de naïve audace.

J’accuse les trois experts en écritures, les sieurs Belhomme, Varinard et Couard, d’avoir fait des rapports mensongers et frauduleux, à moins qu’un examen médical ne les déclare atteints d’une maladie de la vue et du jugement.

J’accuse les bureaux de la guerre d’avoir mené dans la presse, particulièrement dans L’Éclair et dans L’Écho de Paris, une campagne abominable, pour égarer l’opinion et couvrir leur faute.

J’accuse enfin le premier conseil de guerre d’avoir violé le droit, en condamnant un accusé sur une pièce restée secrète, et j’accuse le second conseil de guerre d’avoir couvert cette illégalité, par ordre, en commettant à son tour le crime juridique d’acquitter sciemment un coupable.”

.http://www.omarrare.uerj.br/numero12/pdfs/emile.pdf

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