Juliana Cardoso: Só se revoltar com a esterilização à força sofrida por Janaína não basta
Tempo de leitura: 3 minPor Juliana Cardoso
QUEM LEGISLA SOBRE NOSSOS CORPOS?
por Juliana Cardoso*
Indignação. Não há outra palavra que descreva o sentimento diante da notícia de que uma mulher foi esterilizada sem seu consentimento.
Janaína Aparecida Aquino, mulher preta e pobre da cidade de Mococa, interior de São Paulo, foi conduzida a sala de cirurgia de forma coercitiva para ser esterilizada!
Janaína foi mutilada pelo Estado brasileiro a mando de um juiz e um promotor. A justificativa para tanto é que Janaína é usuária de drogas, é pobre, moradora de rua e já tem outros filhos.
O argumento é tão assustadoramente eugenista que em nada fica a dever à posição de Jair Bolsonaro, cujo plano de governo traz o controle de natalidade dos pobres como uma ação de combate à pobreza e a criminalidade.
Para essa gente, a pobreza se combate exterminando pobre.
Daí tantas pessoas acreditarem na pena de morte, na redução da maioridade penal ou na legalização do porte de arma como forma de resolver o problema da criminalidade.
O caso também é emblemático da hipocrisia que assola o país quando se trata de saúde sexual e reprodutiva das mulheres.
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Se uma mulher deseja realizar um aborto, seja lá por qual motivo for, ela não pode, já que o aborto é crime no Brasil.
Ainda assim calcula-se que são realizados cerca de 850 mil abortos clandestinos por ano.
As complicações decorrentes de abortos malsucedidos são a quarta causa de morte materna, no Brasil. A cada 2 dias, uma mulher morre em decorrência de abortos malfeitos. Em alguns estados chega a ser a primeira.
E sabe quem são as mulheres que morrem no Brasil? As pobres, as pretas, as periféricas, porque no Brasil, as ricas podem pagar e realizar o procedimento com segurança.
Vira e mexe, no Congresso, algum homem inventa uma lei para legislar sobre nossos corpos.
Ano passado, tivemos que enfrentar a PEC do cavalo de troia. Na prática, impediria o aborto quando a gravidez decorre de estupro, é fator de risco de morte para a mulher ou o feto é anencéfalo.
O que o caso da Janaína revela é que nosso corpo e nossa sexualidade ainda não nos pertencem.
O Estado, por meio de seus poderes e instituições, tem poder sobre nosso corpo.
Ora somos obrigadas a parir, ora alguém nos diz “basta de filhos”.
E sempre tem alguém para dizer qual o melhor jeito de você parir.
E, no Brasil, o caso sempre é para cesárea, não é mesmo?
O nosso corpo é facilmente controlado pelo Estado, pelo mercado e pelos homens. Só nós não podemos viver de forma autônoma nossa sexualidade e a maternidade.
Se é errado o Estado ter realizado laqueadura numa mulher alegando a sua vulnerabilidade social como razão, é igualmente execrável o Estado condenar as mulheres negras e pobres do Brasil a serem as maiores vítimas da criminalização do aborto.
Não podemos falar da violência a que Janaína foi submetida sem falar da criminalização das mulheres que fazem aborto no Brasil. São faces do mesmo fenômeno.
Só se revoltar com a mutilação sofrida por Janaína não basta.
Temos que encará-la como questão de saúde pública.
Precisamos enfrentar o debate.
Mesmo contrariando nossas convicções íntimas, precisamos ter como diretriz a laicidade do Estado. E como tal, ele tem o dever de garantir a igualdade entre nós.
Caso contrário, nós, mulheres, ficaremos à mercê do Só se revoltar com a mutilação sofrida por Janaína não basta..
*Juliana Cardoso é vereadora (PT-SP).
Leia também:
Juliana Cardoso
Deputada Federal (PT) eleita para o mandato 2023/2026.
Comentários
Juliana Mendes
A postagem denota certo posicionamento com informações tendenciosas. Isso perde o respeito de nós mulheres julgarmos friamente a situação a qual Janaína em diversas provas dos autos se propôs e posteriormente se arrependeu alegando esquecimento do consentimento colhido por assinatura, prova oral e testemunhas. E nenhum momento foi dito que o motivo solicitado para tal procedimento era que ela era “pobre e preta” como informa.
Seria importante saber separar os posicionamentos usando informações que não condizem ou sejam tendenciosas de maneira errada!
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