Julian Rodrigues: Podemos derrotar essa desgraceira; não se irrite com Lira, STF e grande mídia, nem se iluda com a direita
Tempo de leitura: 3 minPor Julian Rodrigues*
Nunca se tratou de um governo normal.
Nossa frágil e jovem democracia foi rompida em 2016.
Desde lá, o que rola é golpe em processo. Um case mundial, aliás. Obra inacabada. Derrubaram Dilma, histeria lavajatista, prenderam Lula, tiraram o cara mais popular da urna – elegeram Bolsonaro.
Neofascismo, milicos, milicianos mais propostas neoliberais radicais (viva o santo Paulo Guedes!).
Reforma da previdência, reforma trabalhista, desmonte Petrobrás, privatização Eletrobrás e, agora da instituição mais enraizada entre nós, os Correios!
O cara xingado como doido criou uma base militante de extrema direita e também uma base eleitoral sólida – não cai do patamar de 25%.
Se ajeitou com a centro-direita no Congresso. A coluna vertebral do governo são os milicos, todos. Num tem ala boazinha nas Forças Armadas, golpistas desde sempre.
O sujeito irrita alguns setores da alta burguesia que preferiria tocar os negócios sem essa tosquice, sem tanta gritaria. Mas, realizaram. Ninguém apoia o impixo do sujeito.
Não adianta Mirian Leitão gritar, Estadão publicar editorialzinho ou a mais escrotinha, a dona Folha de São Paulo, fake de progressista, agora vir brincar de puxar a orelha do Lira, meio que simulando indignação na primeira página, reverberando velhos tempos. Nem mesmo o bigodudo Merval (porta-voz da família Marinho) fazer muxoxos.
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Só tem Bolsonaro porque há neoliberalismo, tem Guedes. Não se separam as duas coisas.
O imperialismo, claro, segue apoiando toda bagaça. A política externa de Biden é pior do que a de Trump.
Andar de cima saliva e goza a cada privatização. O “centrão” – representação parlamentar da direita tradicional – está com mais espaço do que nunca para sugar a máquina estatal.
Me diverte a porradaria à qual o presidente submete figuras como Barroso, um neoliberal golpista, lavajatista e anti-esquerda. Apoia todo programa do Guedes. Humilhado por Bolsonaro, finge-se de morto.
Já imaginaram se alguém do PT ousasse fazer algo minimamente parecido com as diatribes de bozo contra alguém assim?
Galera, para tentar entender tudo isso só com o velho método. Sim, aquele do barbudo alemão e dos seus demais discípulos. Economia no comando, classes sociais, situação internacional, imperialismo, interesses materiais. O resto importa, of course, mas não determina.
Ou seja, não se irritem com Lira, STF. Não se apeguem às baboseiras da grande mídia. Não considerem tais instituições.
O que vale é a bruta luta de classes, situação econômica e social, conjuntura internacional, mobilização do povo, a disputa de ideias na sociedade.
Resumindo: Bolsonaro segue com muita força, embora tenha perdido base eleitoral. Inclusive por conta disso é que radicaliza.
O bolsonarismo é um fenômeno político-cultural de tipo fascista. Enraizou-se no país, é autoritário e golpista.
Não pode ser tratado como uma “direita normal”. Quer desde sempre fechar o regime. Não esconde isso de ninguém.
Tem apoio integral das Forças Armadas, que estão com milhares de cargos e benesses no governo, embora não sejam capazes de encarar nem uma guerra contra o Paraguai (Pazzuello, gorila limítrofe, é a cara deles – de conjunto).
É possível derrotar essa desgraceira?
Sim, primeiramente entendendo direito o cenário — sem subestimar o cara e sua tropa. Bolsonaro é líder de massas.
A grande burguesia sabe que falta voto a Doria ou Leite. Ciro é uma piada – nem é de lá nem de cá.
Eleger Lula, nossa meta, mas só ganhando na política e na ideologia do bolsonarismo. E, ao mesmo tempo, dos neoliberais.
Não adianta Lula bonzinho, querer ser centrista. Porque os caras são golpistas, odeiam o PT, derrubaram Dilma – prenderam o próprio Lula, não topam nada.
Se acharem que a vitória eleitoral do PT é inevitável vão tentar, sim, influenciar seu governo, engessando, neutralizando, indicando ministros, ditando regras.
Depois, vão tentar derrubar o velhinho, assim que for possível. Não duvidem.
Tudo indica que vai ter eleição no ano que vem. Bolsonaro vai crescer. Com “centrão” operando o dia a dia, mobilização da base neofascista e concessões ao povo – nova Bolsa Família, por exemplo.
Quando as elites ricas e finas não emplacarem a terceira via, uma parte grande delas seguirá com Bozo, mesmo constrangida.
Moral da história: estamos na mierda demais. Mas, reagindo e levantando a cabeça.
Lula é nossa âncora, que só terá resultado de fato com muito povo na rua e plataformas de mudança.
Ganhar eleição do Bolsonaro não é o mesmo que derrotar o bolsonarismo.
Preste atenção. Não vai haver estabilidade ou “normalidade”. É tiro, porrada e bomba.
Nossas chances passam por guerrear, o tempo todo. Nas ruas, nas urnas, na cultura, na política, nas redes, na ideologia, em cada espaço.
Sem ilusões com a direita brasileira (não tem setor democrático lá, meu povo!).
Absorvendo a ideia de que a vida é dura, a luta, longa.
Porém, estamos destinados a vencer, porque nossa luta é pelo belo, bom, justo e melhor do mundo. Pelo povo, pelos debaixo.
Lula presidente, viva o socialismo!
*Julian Rodrigues é jornalista
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