José Reinaldo Carvalho: Aliança EUA-Israel é parceria estratégica para o genocídio contra o povo palestino em Gaza
Tempo de leitura: 4 minAliança EUA-Israel é parceria estratégica para o genocídio
Os Estados Unidos são o principal aliado de Israel e seus líderes, independentemente de qual partido esteja à frente da Casa Branca e do Capitólio, invariavelmente expressam apoio incondicional a Israel em fóruns internacionais, questões de política externa e todos os conflitos em que o Estado sionista se envolve, sempre como potência agressora. Isto acaba de ser reafirmado agora, durante o genocídio contra o povo palestino em Gaza, pelas próprias palavras do presidente estadunidense, Joe Biden, e do seu principal diplomata, o secretário de Estado Antony Blinken.
Por José Reinaldo Carvalho*, site do Cebrapaz
No cenário geopolítico atual, os EUA têm demonstrado quanto é duradoura e indissolúvel esta aliança.
O presidente Joe Biden fez dois pronunciamentos contundentes desde que, no dia 7 de outubro, o Movimento de Resistência Nacional Hamas desencadeou a operação militar contra a ocupação israelense.
Em termos enfáticos, o chefete da Casa Branca afirmou o engajamento dos Estados Unidos com a guerra de extermínio, com que Israel reagiu, o genocídio que o Estado sionista está perpetrando contra a população palestina na Faixa de Gaza, e respaldou todas as juras de fúria, catástrofe e extermínio proferidas pelo chefe do governo israelense.
Biden prometeu adicionar valores à assistência militar, enviou carregamentos de munições, ordenou o deslocamento de caças e do porta-aviões USS Gerald Ford ao Mediterrâneo Ocidental e disponibilizou outro porta-aviões, o USS Dwight D. Eisenhower.
Durante a visita a Israel, nesta quinta-feira (12), do secretário de Estado Antony Blinken, uma das máximas autoridades dos EUA, fez uma significativa declaração de aliança eterna.
Enfatizou que Israel tem total apoio dos EUA. “Minha mensagem é esta: enquanto a América existir, estaremos sempre ao seu lado”, disse ele.
Os EUA fornecem uma quantidade substancial de ajuda militar e financeira a Israel, em torno de quatro bilhões de dólares anuais, o que inclui financiamento para o desenvolvimento e aquisição de armas, sistemas de defesa, treinamento militar e cooperação em pesquisa científica com fins militares. O financiamento tem sido parte integral do compromisso estratégico entre os dois países.
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Os EUA e Israel colaboram em questões de segurança e defesa, compartilhando informações de inteligência e tecnologia.
Além disso, os EUA têm apoiado a segurança de Israel em várias ocasiões, particularmente em momentos de conflitos.
Os EUA e Israel compartilham preocupações sobre questões regionais e globais, atuando conjuntamente em todas as crises políticas e militares no Oriente Médio. Ambos os países empenham seu poderio na consecução dos seus interesses estratégicos.
Os Estados Unidos nunca abandonaram nem dão sinais de que vão abandonar seus apetites hegemônicos na região e para esse fim usam Israel como cabeça de ponte e base política e militar.
Na sua propaganda ideológica, os imperialistas estadunidenses alegam valores comuns, supostamente democráticos e civilizacionais.
Há uma forte base de apoio à relação EUA-Israel dentro da comunidade judaica nos Estados Unidos.
Grupos de pressão, organizações e indivíduos americanos defendem políticas que favoreçam a parceria e o apoio contínuo a Israel. A política sonista nos Estados Unidos é bipartidária.
O sistema político, o aparato militar e de segurança, a indústria cultural e a mídia, são peças de uma grande engrenagem que sustenta e impulsiona essa aliança.
Os Estados Unidos, que se jactam de ser a maior democracia do mundo e se vendem como o apanágio dos direitos humanos universais, associam-se a crimes de lesa-humanidade, a um genocídio, a ações de extermínio como as que se desenvolvem em Gaza.
Neste contexto, a aliança imperialismo-sionismo se caracteriza como um instrumento de dominação nacional e opressão de povos e nações.
A violência com que Israel arremete contra os palestinos é uma forma rematada de terrorismo. Ficará para sempre marcado na história do século 21 que os Estados Unidos estão mais uma vez também praticando terrorismo, como fizeram no Vietnã, Iraque, Afeganistão, Líbia e ex-Iugoslávia, estas duas últimas via Otan, para citar os exemplos recentes mais notórios.
Como se vê, o vínculo inextricável entre os EUA e Israel tem graves implicações, e é oportuno frisar: tal vínculo não é desinteressado nem exclusivamente voltado para a defesa dos “interesses comuns” das duas populações.
Os imperialistas estadunidenses deixaram claro que esta relação bilateral volta-se para agredir e aniquilar inimigos comuns que, no caso atual, não são apenas o Hamas e demais organizações político-militares da Resistência palestina.
A ulterior militarização promovida pelos EUA no Mediterrâneo, que pode evoluir para o aumento da presença de sua aviação militar, belonaves e armas nucleares para outros pontos estratégicos do Oriente Médio e da região Ásia-Pacífico, visa a combater a República Islâmica do Irã e, em perspectiva, é uma mensagem aos países que estão no alvo da estratégia imperialista dos Estados Unidos no âmbito do mundo multipolar.
Nessa medida, os EUA aumentam a instabilidade, a insegurança e as ameaças à paz mundial, comportam-se como inimigos da humanidade, ao lado de um parceiro perigoso, que desde o primeiro momento de sua existência como Estado nacional, opera contra a autodeterminação do povo palestino e os anseios à paz dos demais povos do mundo.
*Jornalista, editor do Resistência, secretário-geral do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (CEBRAPAZ)
Leia também:
Jeferson Miola: Limpeza étnica em Gaza
Ângela Carrato: Genocídio midiático dos palestinos
Jeferson Miola: Israel transforma Gaza na Guernica do século 21
Vídeo: Como vive o povo palestino? @ivan desenha para que alguns possam entender direito. Assista!
Francisco Carlos Teixeira: A guerra do Oriente Médio no Brasil
Comentários
Zé Maria
Não há Surpresa.
Os Estados Unidos da América (EUA) votou
a favor do Apartheid da África do Sul na ONU.
Resolução ONU 3068 (2185ª Sessão Plenária de 30/11/1973)
“Convenção Internacional sobre a Supressão
e Punição do Crime de Apartheid”
A Convenção Contra o Apartheid (RES 3068 (XXVIII)
foi aprovada pela Assembléia Geral da ONU em 1973,
com um grande número de abstenções por parte
dos países ocidentais e votos negativos da própria
África do Sul e de EUA, Inglaterra e Portugal (Franquista).
“Apartheid” é conceituado no artigo I dessa Conveção
como “Crime de Lesa-Humanidade”, Tipificação que foi
Ratificada mais tarde, no final de 1998, pelo Estatuto de
Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI).
https://www.oas.org/dil/port/1973%20Conven%C3%A7%C3%A3o%20Internacional%20sobre%20a%20Supress%C3%A3o%20e%20Puni%C3%A7%C3%A3o%20do%20Crime%20de%20Apartheid.pdf
https://documents-dds-ny.un.org/doc/RESOLUTION/GEN/NR0/285/93/PDF/NR028593.pdf?OpenElement
.
.
“Apartheid Israelense: Solução Final Sem Fim”
“Teologia, política, mídia: acumulam-se mentiras nos pretextos
para violência contra os palestinos.
É assustador: assemelham-se cada vez mais às do nazismo.
Centelha de esperança está nos boicotes, como o que pôs
fim ao regime racista sul-africano”
Por Boaventura de Sousa Santos, no Outras Palavras
Mais um depois de tantos outros, na ocupação colonial da Palestina por Israel;
mais uma estatística de mortes para os arquivos do esquecimento;
mais uma ocasião para pacificar a consciência da comunidade internacional, sobretudo norte-americana e europeia;
mais um período de banalização da humilhação diária dos que, por razões de trabalho, atravessam os check-points israelitas;
mais um processo de intensificação de provocações até aos próximos bombardeamentos;
mais um momento de limpeza étnica (*) por parte de uma potência colonial
e violenta.
[…]
A falsificação midiática.
A mídia mundial envergonhar-se-á um dia dos vieses com que noticiam o que se passa na Palestina. Dois exemplos.
[Primeiro exemplo:]
A opinião pública mundial fica a saber que o que desencadeou o mais recente ataque de Israel à Faixa de Gaza foram os mísseis lançados pelo Hamas.
Porque para além disso nada aconteceu.
Não aconteceu antes a invasão da mesquita Al Aqsa, em Jerusalém,
e os disparos contra crentes em oração, em pleno Ramadã (mês santo
para os muçulmanos), tal como não aconteceram os ataques, durante
meses, de bandos de fanáticos em Jerusalém Oriental contra casas
de habitação e de comércio palestinos.
A culpa é, pois, do Hamas e Israel apenas se defende.
Segundo exemplo:
durante os ataques israelitas, os palestinos simplesmente “morrem”,
enquanto os israelitas são “mortos pelo Hamas” ou “mortos por ataques de mísseis”.
O horror de impensável simetria.
O grande historiador judeu Illan Pappé foi talvez o primeiro a perguntar-se,
angustiadamente, como se poderia imaginar que, setenta anos depois do
Holocausto, os Israelitas usassem contra os palestinos as mesmas táticas
de destruição, humilhação e negação que os nazis tinham utilizado contra
os judeus.
Em 2002, José Saramago, de visita a Palestina, fez comparações polêmicas
entre o sofrimento dos palestinos sob a opressão israelita e o sofrimento dos
judeus sob a opressão nazi.
Em entrevista à BBC, esclareceu:
“foi evidentemente uma comparação forçada de propósito. Um protesto
formulado em termos habituais quiçá não provocasse a reacção que tem
provocado. Claro que não há câmaras de gás para exterminar os palestinos,
mas a situação na qual se encontra o povo palestino é uma situação
concentracionária…”
[e acrescentou premonitoriamente]
“isto não é um conflito.
Poderíamos chamá-lo de conflito se se tratasse de dois países, com uma fronteira, e dois Estados, cada um com o seu exército.
Trata-se de uma coisa completamente distinta:
Apartheid.”
Em 1933, a maioria dos judeus alemães não era sionista, isto é,
não defendia a criação de um Estado para os judeus.
De fato, a maior organização judaica intitulava-se “organização
central dos cidadãos alemães de fé judaica”.
Muito antes de ordenar o Holocausto, Hitler, obcecado por expulsar
os judeus da Alemanha (e, mais tarde, da Europa), negociou com
a organização sionista (a federação sionista da Alemanha) um acordo
(muito controverso entre os judeus) para transferir judeus para a Palestina
(então sob controle britânico), oferecendo-lhes “melhores” condições
(isto é, menos vergonhosas) das que vigoravam para a emigração para
outros países.
Segundo o Acordo Haavara de Transferência (1933), o Estado confiscava-
lhes todos os bens que possuíam, mas transferia 42.8 % desse capital
para a Agência Judaica da Palestina, 38.9% desse montante sob a forma
de bens industriais produzidos na Alemanha.
É patente a humilhação de obrigar os emigrantes forçados a utilizar os
produtos do Estado que os expulsava.
Calcula-se que entre 1933 e 1938 emigraram para a Palestina apenas
cerca de 40.000 alemães e 80.000 polacos.
Teriam sido ainda menos se os países europeus estivessem mais dispostos
a aceitar imigrantes judeus, mesmo que mais tarde se tornasse evidente
que o objetivo último era “uma Europa sem judeus”.
No nosso tempo, o Estado de Israel foi criado com base numa massiva
operação de limpeza étnica:
750.000 palestinos foram expulsos das suas casas e das suas terras,
a que se somaram mais de 300.000 depois da guerra de 1967.
Hoje crescem em Israel os grupos de extrema-direita que proclamam
a expulsão de todos os palestinos dos territórios ocupados para os países
árabes vizinhos.
E mesmo os “árabes israelitas” estão legalmente impedidos de residir
em certas cidades.
Em 2011, o Knesset promulgou uma lei que permite às cidades do Negev
e da Galileia, com uma população até 400.000 famílias, de criar comissões
de admissão que podem recusar a admissão a pessoas que “não sejam
adequadas à vida social da comunidade” ou que sejam incompatíveis
com “o perfil sócio-cultural”.
Ao longo de décadas, cidades inteiras têm sido destruídas, palestinos
feridos são deixados morrer devido ao bloqueio da passagem das
ambulâncias pelos militares israelitas.
Perante a suspeita de algum ato individual de resistência por parte
dos palestinos, as autoridades ocupantes prendem pais, familiares,
vizinhos, cortam-lhes a água e a luz.
Nada disto é novo e traz recordações horríveis.
Segundo o diário israelita Maariv, citado pelo prestigiado jornalista
norte-americano Robert Fisk, um destacado militar israelita aconselhava
as tropas, no caso de entrada em campos de refugiados densamente
povoados, a seguir as lições de batalhas passadas, incluindo as do exército
alemão no gueto de Varsóvia.
(*) Nota do Autor:
De fato, a limpeza étnica da Palestina começou no início
de Dezembro de 1947 com uma série de ataques às aldeias
palestinas por parte de milícias sionistas.
Antes que os soldados árabes chegassem à Palestina,
300.000 palestinos foram expulsos das suas terras e casas.
Por exemplo, Dir Yassin era uma pequena aldeia em Jerusalém Ocidental.
A aldeia tinha assinado um pacto de não-agressão com o Haganah,
uma organização paramilitar sionista que existiu entre 1920 e 1948.
Apesar disso, na noite de 8 de Abril de 1948, as forças sionistas atacaram
a aldeia e mataram mais de 100 palestinos inocentes (30 deles crianças).
As quatro aldeias próximas – Qalunya, Saris, Beit Surik e Biddu – foram
destruídas pela mesma milícia e os seus habitantes foram expulsos
(Ilan Pappe, The Ethnic Cleansing of Palestine, Oxford: Oneworld Publications, 2006, 90-91).
No início do livro Pappe cita uma declaração aterradora de Ben- Gurion,
em 1938, na A Jewish Agency Executive: “Sou a favor de transferência
compulsória da população; não vejo nada imoral nisso”.
Ben-Gurion viria a ser dez anos mais tarde o primeiro primeiro ministro
de Israel.
Boaventura de Sousa Santos é Doutor em Sociologia do Direito
pela Universidade de Yale (Connecticut/EUA) e Professor Catedrático
Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).
Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
e Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça
Portuguesa.
Íntegra:
https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/apartheid-israelense-solucao-final-sem-fim/
.
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