José Martins: Desta vez o tombo pode levar a uma crise catastrófica

Tempo de leitura: 4 min

Pior que 2008?

Wall Street Urgente: Fortes Quedas Nas Ações Em Nova York

José Martins, na Crítica da Economia

As principais ações negociadas na bolsa de valores de Nova York estão caindo pesadamente pelo segundo dia seguido. Só no dia de hoje, no final desta tarde de segunda-feira (05/fevereiro), o índice S&P 500 estava caindo robustos 2.75%.

Os homens do mercado estão um pouco assustado com o sellof [liquidação] que está ocorrendo desde o dia 26 de janeiro último, quando o valor das ações tinha batido estrondosamente o recorde de todos os tempos.

Os homens do mercado acreditam que o que está acontecendo é um “pequeno ajuste do mercado”, não mais que 10%. Todos procuram recomendar muita calma nesta hora.

Eles não acreditam que pode ser o início de uma pesadíssima desvalorização, um hard landing [pouso forçado] que levaria de roldão todas as bolsas de valores do mundo. E junto com elas a produção, o comércio e o emprego em todos os cantos do mundo.

É bom fazer uma pequena retrospectiva dos fatos. Ver o que, desta vez, tem de diferente, com relação a outras crises de bolsas de valores ocorridas nos últimos setenta anos.

O mais incrível que se observa, logo de cara, é que poucas vezes na história econômica mundial assistiu-se a uma expansão dos preços das ações tão exuberante quanto neste atual ciclo periódico de superprodução de capital, iniciado há quase dez anos (2009). Nem nos anos 1920 houve uma pletora desta magnitude.

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Não esquecer que o preço das ações reflete o valor das propriedades (empresas) capitalistas como um todo; e, neste sentido exprime o próprio capital em função, medido em termos de valor. Há certa autonomia na evolução destes preços mas uma autonomia apenas relativa.

É claro, também, que o distanciamento (ou descolamento) do preço de mercado das ações das empresas capitalistas do fundamental valor do capital destas mesmas empresas ocorre em todos os ciclos periódicos. E sempre sofrem fortes “correções” no final do ciclo. É quando age com maior severidade a lei do valor trabalho (a leis da gravidade da economia). Inicia-se aqui a crise.

O que há de especial no presente ciclo, entretanto, é que pode estar ocorrendo um distanciamento fatal de preços de mercado e valores da produção que pode levar a uma fantástica “correção” de consequências catastróficas também jamais vistas.

Veja na curva de longo prazo abaixo onde se localiza esta incrível explosão de capital dos últimos dez anos. É uma curva da evolução, desde os anos 1990, da média dos preços das ações das 500 maiores empresas dos EUA, listadas naquele índice S&P 500 da bolsa de Nova York.

Observe-se, inicialmente, alguns pontos especiais de auge de valorização (pico) e fundo de poço (buraco) nesta evolução nos últimos três ciclos periódicos de superprodução e crise do capital.

Em 1/1/2000 o índice S&P 500 atingia o pico de 1500 pontos. A crise aberta naquele ano derruba o índice para o buraco de 815 pontos em 01/07/2002.

A superação do ciclo e recuperação da acumulação em novo período de expansão eleva de novo o índice para o pico de 1526 pontos em 01/07/2007. A queda consecutiva do índice até o buraco de 797 pontos em 01/01/2009, coincide exatamente, mais uma vez, como uma regra geral, com a trajetória da maior e mais potente crise (embora parcial) dos últimos setenta anos.

Note-se que os 1526 pontos do pico daquele ciclo 2002/2008, ocorrido em 01/07/2007, praticamente coincide com os 1500 pontos do pico do ciclo anterior, ocorrido em 01/01/2000. E que os 815 pontos do buraco de 01/07/2002 também ficaram muito próximos dos 797 pontos do mais recente buraco cíclico que temos notícia, em 01/01/2009.

Mas a recuperação atual, iniciada em 2009, obedece a uma trajetória absolutamente inédita. Historicamente inédita. Comparando-se com os dois ciclos anteriores, há uma explosão dos preços das ações que eleva e corresponde a uma também inédita superprodução de capital.

O pico deste ciclo, que agora começa a agonizar, foi alcançado precisamente em 26/Janeiro/2018, em fulgurantes 2872 pontos. O recorde de todos os tempos. Mas não apenas em termos absolutos. Também (e principalmente) em termos relativos aos picos dos ciclos anteriores.

Isso é o mais importante. Se nos ciclos anteriores aconteciam, nos picos, meras recuperações dos preços das ações, como se observou acima, no ciclo atual os preços quase dobraram (1526 pontos superiores) sobre o pico do ciclo anterior.

Isso representa uma pletora de capital, cuja “correção” cobrará dos capitalistas de todo o mundo um preço político e social que eles terão muita dificuldade de administrar. Bem mais difícil do que eles tiveram nas últimas décadas.

O mais importante, neste momento, não é saber se esse ajuste ocorrerá nesta semana (possivelmente ainda não) ou ainda no primeiro semestre deste ano (bastante provável).

O mais importante é afirmar que esse ajuste ocorrerá. E criativamente muito severo. Ocorrerá com uma magnitude absoluta e relativa muitas vezes superior aos ajustes ocorridos nos dois últimos ciclos. Os números acima indicam exatamente essa perspectiva.

Isso, na perspectiva crítica da economia, representaria a impossibilidade dos capitalistas conseguirem evitar, pela primeira vez nos últimos setenta anos, a eclosão de uma crise econômica geral (não apenas parcial, como até agora) em todos os poros do globo terrestre.

Desta vez, o tamanho do tombo pode perfeitamente levar à eclosão de uma tão esperada crise catastrófica, no exato tamanho e figurino preconizado por Marx, Engels, Rosa, Bordiga e outros grandes teóricos da revolução proletária internacional.

Isso é o que de mais importante se anuncia com as criativas turbulências que estão a ocorrer nossa últimos dias nos mercados de capital em todo o mundo.

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Comentários

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RONALD

Isto será somente uma grande oportunidade de concentrar renda e poder, somente isto !!!!

william

A principal arma dos conservadores é o chamado “bode expiatório”.
Bode expiatório, na tradição religiosa, é um objeto, pessoa ou animal que concentra em si todo o pecado ou maldade presente em determinada sociedade.
Esse objeto é então sacrificado para que tudo o que poderia colocar em perigo a existência de tal sociedade sumisse com ele ou ao menos fosse controlado por um tempo.
Ele mesmo não precisa ser pecador ou malvado, mas no momento de sua morte, ele passava a encarnar todo o mal da sociedade.
Jesus é um exemplo, pois, com sua morte, em tese, levou consigo todo o pecado da humanidade.
Aproveitando-se dessa tradição religiosa, os conservadores vendem a mesma ideia sempre que sentem que os privilégios da elite está ameaçado.
Hitler usou os judeus, ciganos e comunistas como bode expiatório.
Os norte americanos sempre se utilizaram da figura do comunista para manter a ordem interna. Mas com o fim da URSS, passou a ser o terrorista (árabe de preferência). Negros, latinos e outras minorias também sempre foram bodes expiatórios na sociedade norte americana.
No Brasil, o bode expiatório favorito é a figura do corrupto. Como somos um povo miscigenado, não dá para usar minorias raciais. Como não somos ameaçados por terroristas por nossa insignificância política, não dá para usar o terrorista. Então resta o corrupto. Sempre que a classe média alta ou a elite sentem que o povo está ganhando algum tipo de poder, a figura mágica do corrupto é colocada sobre a mesa. Essa figura geralmente vem amalgamada com a figura do comunista destruidor da moral e dos bons costumes.
A ideia é: basta matar ou destruir o bode expiatório, que vai tudo ficar bem.
Uma ideia simplória e estúpida, mas usada e abusada pela nossa classe média alta ignorante.
Segundo a classe média alta udenista, Vargas era corrupto, Jango era corrupto, Juscelino era corrupto, Lula e Dilma os exemplos mais recentes. E não apenas corruptos, mas corruptos num nível muito acima do tolerável. O bode expiatório bananeiro aproveita-se do moralismo hipócrita da nossa sociedade, onde até o final do século XIX havia religião oficial de Estado. Os que bradam contra a corrupção são os mais corruptos.
E todos os brasileiros sabem que nosso moralismo é hipócrita.
Mas é que nossa sociedade é uma sociedade barroca da aparência.
Não importa o que se pensa e o que se faz de verdade. Importa o que aparece aos olhos dos outros. E não importa se esses outros saibam que é tudo jogo de cena hipócrita.
Basta lembrar da coroação de D. Pedro 2, feita a partir de um golpe, mas cheia de fausto barroco….
É uma ideia que faz com que determinados grupos sociais sejam atacados pela turba ensandecida.

https://voyager1.net/sociedade/a-elite-brasileira/

https://voyager1.net/politica/o-mito-do-brasileiro-bestial/

https://voyager1.net/politica/brasil/por-que-o-brasil-nao-se-desenvolve/

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