Jeferson Miola: Derrotar Bolsonaro para deter o fascismo é o maior desafio da atual geração de brasileiros em toda a sua existência
Tempo de leitura: 4 minA contrarrevolução fascista do bolsonarismo
Por Jeferson Miola, em seu blog
Medieval, reacionário, genocida, anticivilizacional, fascista, extremista etc – são alguns dos adjetivos comumente empregados para definir o significado do governo Bolsonaro e do “movimento bolsonarista”.
Todos esses adjetivos servem sob medida para caracterizar a natureza deste fenômeno radical que está subvertendo completamente a ordem política e social deste ciclo pós-ditadura que durou pouco mais de 30 anos.
Mais além de adjetivar Bolsonaro e o bolsonarismo, no entanto, é preciso identificar o significado substantivo do processo que está em curso, de uma genuína contrarrevolução fascista. Nesta perspectiva, o bolsonarismo tem de ser considerado como um movimento de caráter revolucionário, ainda que de sentido regressivo, do ponto de vista civilizatório.
O professor Francisco Carlos Teixeira/UFRJ [em comunicação pessoal] entende que o processo de mobilização das massas bolsonaristas é fator chave da construção do que ele considera a modernidade reacionária fascista.
Sob este ângulo, portanto, a contrarrevolução fascista do bolsonarismo também assume um caráter renascentista.
Uma espécie, porém, de Renascentismo de seta invertida, com retrocessos medievais e anticivilizacionais e, do ponto de vista democrático, gravemente ameaçador à pluralidade e à diversidade.
Neste renascentismo bolsonarista, do mesmo modo como aconteceu no nazismo, a sociedade tem de ser depurada; é preciso purificá-la, livrar-se dos inimigos internos.
Como anotou o professor Juarez Guimarães/UFMG em resenha a respeito da obra do historiador inglês Roger Griffin sobre o fascismo, “Auschwitz, símbolo maior do extermínio de seis milhões de judeus pelo nazismo, seria o ‘ânus da Europa’, na linguagem hitleriana documentada” [aqui e aqui].
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As ideias absurdas e horrorosas, assim como a escatologia político-ideológica do Bolsonaro e da matilha fascista encontram, entretanto, espantosa ressonância em amplos setores da sociedade brasileira. E não somente junto às classes ricas e médias, mas também nas camadas pobres e populares.
Bolsonaro matreiramente se vende como antissistema. Mas, na realidade, ele é a resposta mais funcional do próprio sistema para a atual crise estrutural do capitalismo num país periférico como o Brasil.
A funcionalidade dele à reestruturação ultraliberal e reacionária é fartamente evidenciada nas políticas destrutivas desenvolvidas em tão curto período de tempo.
Não é nada trivial que a despeito de toda barbárie, descalabro econômico, corrupção descarada, devastação nacional e desprestígio internacional, Bolsonaro ainda siga sendo a opção mais competitiva das classes dominantes para enfrentar Lula nas urnas.
O motivo para isso é que a contrarrevolução fascista do bolsonarismo conta com enorme adesão social de massas. Na órbita do bolsonarismo gravitam movimentos de massas hiperativos, engajados e, inclusive, armados.
Isso explica a relativa estabilidade do Bolsonaro nas pesquisas, entre 25% e 30% das intenções de votos. Este desempenho também está relacionado, em grande medida, à capacidade que ele tem de encarnar o “espírito dos tempos” e de ser uma solução orgânica do sistema.
Contraditoriamente, Bolsonaro [i] consegue conter e canalizar para dentro da própria ordem capitalista e neoliberal a revolta e o mal-estar da população com o fracasso de décadas do neoliberalismo e, ainda assim, [ii] ele ainda consegue se apresentar como antissistema, num processo que bloqueia a viabilização de alternativas antineoliberais e aprofunda a ditadura do capital financeiro.
A receita para isso, segundo o próprio Bolsonaro, é a destruição. “Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão”, ele declarou no início do mandato [18/3/2019].
Nesta cruzada ultraliberal de destruição, Bolsonaro explora com sucesso a subjetividade da cidadania abduzida por valores neoliberais, como o anti-Estado, o individualismo empreendedor, a meritocracia, a desregulamentação total e o libertarianismo, por exemplo.
Para que, afinal, estabelecer limite de velocidade nas rodovias, ou a obrigatoriedade de vacinação ou o uso obrigatório de cadeirinhas para crianças nos veículos se, no fim, cada pessoa é responsável pelo risco que decide correr?
De acordo com a versão laissez-faire bolsonarista, as normas ambientais que impediriam saqueadores, garimpeiros, grileiros, produtores rurais e crime organizado de devastarem a Amazônia e as áreas indígenas, servem apenas para abastecer a indústria da multa e da arrecadação.
Qual o problema em permitir que toda “pessoa de bem” tenha direito a possuir armas e munições à vontade para defender a si mesmo, à sua família e à sua propriedade?
Por outro lado, quem se opõe a esta “liberdade fundamental” de fazer justiça com as próprias mãos, é defensor de direitos humanos para bandidos.
Reivindicar direitos sociais, trabalhistas e previdenciários é coisa de vagabundo que não quer trabalhar porque não sabe viver sem o Estado, raciocinam até mesmo muitos trabalhadores precarizados e uberizados obrigados a trabalhar entre 12 e 16 horas por dia e que, mesmo assim, mal conseguem sobreviver, mas se consideram empreendedores.
A propaganda ideológica do Ifood para combater a organização sindical dos entregadores de aplicativos associa o trabalho até a morte como um martírio natural, como uma realidade inerente à existência humana: “Não pare quando estiver cansado. Pare quando estiver tudo feito” – “Breque dos APP é só pra quem já tá com a vida ganha” .
A contrarrevolução bolsonarista promove com grande eficácia a associação simbólica do martírio do trabalhador de mentalidade colonizada e sujeitado a formas de trabalho que remontam à escravidão, com o martírio do “Messias”, o “Mito”, que sofreu a suposta facada e se ergueu para continuar a caminhada para livrar o povo brasileiro da ameaça comunista [sic].
Menos de um mês depois da eleição do Bolsonaro, o professor Paulo Arantes/USP fez um prognóstico sombrio, mas que o tempo se encarregou de confirmar o quão certo estava. Em entrevista ao Brasil de Fato [13/11/2018], Arantes disse:
“A encrenca brasileira é essa: abriu-se a porteira da absoluta ingovernabilidade no Brasil. O que nós temos agora é um comportamento destrutivo da classe dominante brasileira que está apostando todas as fichas em tirar sua castanha do fogo com o braço da delinquência fascista. Ferre-se o resto. E isso é realmente o inacreditável. Houve várias chances de acordo desde que se instaurou a crise na Era Lulista. Mas eles resolveram puxar o tapete, fazer o impeachment e abrir a porteira do inferno. Um caos político e social”.
A eventual continuidade do governo Bolsonaro, longe de representar a normalidade da rotina democrática e eleitoral, significará o aprofundamento da contrarrevolução fascista e o encaminhamento do país para um precipício ainda mais inimaginável e seguramente mais tenebroso.
Derrotar Bolsonaro para deter o fascismo é, certamente, o maior e mais complexo desafio que a atual geração de brasileiros e brasileiras terá em toda sua existência.
* Foto: Alass Derivas, de manifestação antifascista em Porto Alegre, 24/5/2020.
Comentários
Zé Maria
“Datafolha aponta Governo Bolsonaro
como Mais Corrupto da História do País”
Blog do Esmael
Os eleitores mais ricos, que ganham mais de dez salários mínimos,
relativizam a corrupção no governo Bolsonaro. Apenas 38% veem
possibilidade no aumento da corrupção nos próximos meses.
59% dos que ganham até dois salários mínimos
veem Bolsonaro como governo corrupto.
Na Média, a Enquete apontou que os entrevistados
responderam o seguinte sobre o Governo Bolsonaro:
Corrupção vai aumentar = 53%
Corrupção vai ficar como está = 26%
Corrupção vai diminuir = 17%
Não sabem: 4%
58% das Mulheres atribuem Corrupção
ao [des]governo de Jair Bolsonaro.
https://www.esmaelmorais.com.br/datafolha-aponta-governo-bolsonaro-como-mais-corrupto-da-historia-do-pais/
Zé Maria
TEMAS ECONÔMICOS AVANÇAM NA PAUTA DE PRINCIPAL PROBLEMA DO PAÍS
Isoladamente, a área da saúde continua sendo o principal problema do país
dentre aqueles de responsabilidade do Governo Federal, com 22%
das menções espontâneas.
Na sequência, no atual ranking de problemas do país, aparecem as pautas econômicas, com economia em geral e aumento de combustíveis (15%), desemprego (12%) e inflação de forma geral (10%).
Juntos, esses problemas representam 37% das citações.
A educação vem a seguir, com 10%, seguida por fome/miséria (6%),
corrupção (5%), violência/segurança (3%) e desigualdade social (2%),
entre outros menos citados.
Entre os mais pobres, 39% citam um desses temas econômicos,
índice que oscila para 37% entre quem tem renda familiar
de 2 a 5 salários, cai para 25% na faixa de 5 a 10 salários,
e fica em 28% entre os mais ricos, com renda superior a 10 salários.
Na parcela de brasileiros que pretendem votar em Lula
no 1º turno da eleição presidencial, 42% apontam as pautas
econômicas como principal problema nacional,
ante 31% na fatia de potenciais eleitores de Bolsonaro.
No segmento de menor renda da população,
com renda de até 2 salários, 54% enfrentaram
piora na situação econômica.
[Datafolha, 22-23/03/2022]
Zé Maria
Pesquisa IPESPE (Por Telefone)
02-05/04/2022
Rejeição
61% NÃO VOTA EM BOLSONARO DE JEITO NENHUM
https://pbs.twimg.com/media/FPqcADRWQAE_VJp?format=jpg
https://twitter.com/eixopolitico/status/1511692152056823810
Zé Maria
Podemos, Partido do Lavajatista Sergio Moro, o Suspeito,
gastou R$ 3 Milhões com Projeto Político Eleitoral do ex-juiz.
Integrantes da Legenda dizem ter custeado o Salário
de Moro, de quase R$ 22.000,00 por mês, além de
carros, seguranças, viagens, hotéis onde ele se
hospedou, e até pesquisas eleitorais [SIC]*.
Lideranças do Podemos também ficaram irritadas
depois que receberam a notícia de que Moro teria usado
o carro e a equipe de segurança pagos pela legenda para
se dirigir ao local onde teve a reunião com líderes do União
Brasil, novo partido ao qual se filiou.
O encontro ocorreu no restaurante Tarsila, localizado dentro
do Hotel Intercontinental, em São Paulo.
O Podemos aventa até a possibilidade de entrar com
uma ação judicial de ressarcimento para reaver o dinheiro
do partido gasto por Sergio Moro. [Ricardo Chapola / Veja].
*(https://www.viomundo.com.br/voce-escreve/jeferson-miola-curiosidades-da-estranha-pesquisa-que-turbina-votacao-do-moro.html)
Zé Maria
Pesquisa Genial/Quaest [Presencial]
Abril/2022 (10ª Rodada)
EM TODOS OS CENÁRIOS,
com Moro ou Sem Moro,
com Dória ou Sem Dória,
LULA VENCE NO 1º TURNO.
https://pbs.twimg.com/media/FPu9myKX0AwfXt9?format=jpg
“No detalhe das intenções de voto,
continuamos vendo um cenário
Muito Mais Positivo para Lula
entre as Mulheres.”
https://pbs.twimg.com/media/FPu9pXFXoAgVbx9?format=jpg
“No cenário mais provável hoje (cenário II),
Lula aparece com 45, Bolsonaro tem 31%,
Ciro 6%, Janones e Dória tem 2%, Tebet
e Vera Lucia tem 1%.
Brancos e Nulos somam 6% e indecisos
mais 6%.”
Professor Felipe Nunes (UFMG)
Diretor da Quaest Pesquisa
https://twitter.com/felipnunes/status/1512011161272832005
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