Jeferson Miola: Deportação de família palestina atende FBI e ofende soberania nacional

Tempo de leitura: 3 min
Foto: Reprodução de redes sociais

Deportação de família palestina atende FBI e ofende soberania nacional

Por Jeferson Miola, em seu blog

A deportação do cidadão palestino Muslim Abuumar, sua esposa grávida de sete meses, mais seu filho de seis anos e a sogra de 69 anos está repleta de ilegalidades.

A deportação contraria a Lei de Migração, nº 13.445/2017, que define que “ninguém será impedido de ingressar no País por motivo de raça, religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política” [art. 45, parágrafo único].

Não foram observados os procedimentos judiciais, os prazos legais e o direito à ampla defesa e ao devido processo legal [artigo 48].

O parágrafo 1º do artigo 50 da Lei estabelece que “a deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da qual constem, expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 60 (sessenta) dias”.

Durante este prazo, é garantida “a livre circulação em território nacional, devendo o deportando informar seu domicílio e suas atividades” [art. 50, § 2º].

“Os procedimentos conducentes à deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo” [art.51], e “a Defensoria Pública da União deverá ser notificada, preferencialmente por meio eletrônico, para prestação de assistência ao deportando em todos os procedimentos administrativos de deportação” [§ 1º].

No entanto, não foi respeitado o contraditório e assegurado o amplo direito de defesa. E a Defensoria Pública tampouco foi notificada.

Na realidade, nenhum direito de migração da família Muslim foi respeitado, que foi deportada sumária e arbitrariamente, depois de permanecer dois dias presa no aeroporto de Guarulhos.

Apoie o jornalismo independente

A Polícia Federal requereu a deportação para atender pedido/ordem do FBI, o departamento de inteligência e segurança dos EUA, que alegou que Muslim Abuumar integra uma lista elaborada pelos EUA de pessoas supostamente suspeitas de ligação com grupos terroristas.

Segundo o Instituto Brasil-Palestina, Muslim Abuumar é professor universitário e ativista da solidariedade com a causa palestina.

O Brasil, assim como todas nações do mundo, são obrigadas a reconhecer a lista de terroristas elaborada pelo Conselho de Segurança da ONU, não aquela que os EUA definem como de seus inimigos.

Além disso, a ONU considera legítimas e legais as organizações de resistência e solidariedade palestinas, que não são consideradas terroristas, nem mesmo o Hamas.

A deportação da família palestina fere gravemente a soberania brasileira. A PF e a Justiça Federal capitularam diante de interferência estrangeira.

A decisão representa uma enorme ameaça para as pessoas de nacionalidade palestina e brasileira-palestina.

E também revela riscos para as organizações e movimentos de solidariedade ao povo palestino, que poderão ser alvos de arbítrio pelo simples fato de serem palestinos ou simpatizantes e ativistas da causa palestina.

A família Muslim Abuumar jamais deveria ter sido deportada pelo Estado brasileiro. A PF, portanto, exorbitou sua missão institucional. Os palestinos foram deportados porque forças poderosas se empenharam para este final absurdo, intragável.

O governo brasileiro precisa apurar isso e responsabilizar os funcionários públicos que feriram a soberania nacional ao atender ordens de organismo estrangeiro. No caso, do FBI.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Leia também

‘Continuaremos a busca legal para anular a decisão injusta e exigir desculpas’, diz palestino extraditado em nota à imprensa

Carta aberta de Muslim Abuumar a Lula, ao povo brasileiro e apoiadores da causa palestina

‘Brasil não pode virar quintal dos EUA e lsraeI e seus interesses genocidas’, diz Soraya Misleh. ‘Apuração de todas as ilegalidades contra o professor palestino’, pede Tânia Mandarino

Ibraspal pede ao governo que garanta os direitos do palestino preso pela PF a mando do Mossad e do FBI: ‘O Brasil é um país soberano’; íntegra da nota

Apoie o jornalismo independente


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

.
.
CNJ quer fazer ‘Termo de Ajustamento de Conduta (TAC)’
com Desembargador Corrupto da Operação Lava-Jato?
A ‘Pena’ de ‘Aposentadoria Compulsória’ é Demais?
.
.
https://www.cartacapital.com.br/politica/lava-jato-corregedor-vota-por-abrir-apuracao-contra-juiz-do-trf-4-no-caso-tacla-duran/

https://www.cartacapital.com.br/politica/cnj-retira-de-julgamento-apuracao-contra-juiz-do-trf-4-no-caso-tacla-duran/
.
.

Zé Maria

“Deportação Sumária” a Cargo de um Delegado
ratificada por uma Juíza Substituta de 1ª Instância?
Cadê o Ministério da Justiça? E Cadê a Suprema Corte?
Tá de Brincadeira braZil? Sarcástico, Muito Sarcástico!
É nisso que dá adotar os EUA e isRéu como Paradigmas.

Zé Maria

Quer dizer que a Polícia Federal, Administrativamente Subordinada,
em tese, ao Ministério da Justiça braZileiro, responde à Ordem Direta
de País Estrangeiro – os Estados Unidos da América – e antes de tudo
Emanada de um Estado Acusado de Genocídio – isRéu – perante a
Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas?

Zé Maria

A Quadrilha da Lava Jato continua em Ação?

Deixe seu comentário

Leia também