Jeferson Miola: Demora de Gonet deixou país vulnerável ao bolsonarismo radicalizado

Tempo de leitura: 2 min
Ilustração: Renato Aroeira (@arocartum)

Demora de Gonet deixou país vulnerável ao bolsonarismo radicalizado

Por Jeferson Miola, em seu blog

O procurador-geral da República Paulo Gonet precisa ser cobrado pela demora em relação aos inquéritos envolvendo Bolsonaro.

Há vários meses Bolsonaro já poderia estar respondendo a ações penais devido à participação em vários crimes, o mais grave deles a tentativa de abolição do Estado de Direito.

Mas isso não aconteceu, no entanto, por escolha direta e pessoal do PGR Paulo Gonet, que decidiu adiar seu pronunciamento sobre os inquéritos da Polícia Federal para depois da eleição.

Atuando no tempo da política e não no tempo da justiça, ele alegou “cautela” para “não contaminar o período eleitoral”.

Gonet agiu politicamente, apesar da robustez e da consistência das provas colecionadas nos inquéritos.

Esta demora do PGR deixou o país ainda mais exposto aos riscos da violência política e das práticas terroristas promovidas pelo bolsonarismo radicalizado.

Deixado livre, leve e solto por Gonet, Bolsonaro percorreu mais de uma centena de cidades do país entre março e outubro fazendo campanha eleitoral, incitando violência política e espraiando ataques violentos contra o Supremo Tribunal Federal e seus ministros, especialmente Alexandre de Moraes.

Francisco Wanderley Luiz é um bolsonarista radicalizado. Este terrorista que se auto-explodiu no atentado ao STF é um arquétipo exemplar do bolsonarista radicalizado: participou dos acampamentos criminosos nos quartéis do Exército, sabia manusear explosivos, armas e munições, tinha familiaridade com CACs e incorporava a gramática messiânica do bolsonarismo e do fundamentalismo religioso.

Apoie o VIOMUNDO

Bolsonaro conclama seus seguidores fanatizados a darem a vida pela liberdade. E foi o que fez o terrorista bolsonarista Francisco Wanderley Luiz: “entrego minha vida para que as crianças cresçam com liberdade”, testamentou na sua rede social.

Bolsonaro só se pronunciou sobre o ataque terrorista quase 14 horas depois. Mas, ao invés de condenar categoricamente o crime e o criminoso, caracterizou o episódio como “um fato isolado, e, ao que tudo indica, causado por perturbações na saúde mental da pessoa que, infelizmente, acabou falecendo”.

Isolar o atentado como ação de um “lobo solitário” e psicologizar o comportamento do terrorista é estratégia do Bolsonaro para afastar a responsabilidade direta dele –subjetiva e política– na escalada terrorista promovida por bolsonaristas radicalizados.

Francisco Wanderley pertencia ao partido do Bolsonaro, o PL, e agiu com fanatismo e auto-martírio inflamado pela retórica odiosa e salvacionista propagada por Bolsonaro de norte a sul do Brasil.

A tolerância de Gonet com a radicalização bolsonarista naturaliza e encoraja atitudes graves, como este ataque ao STF. Ele chegou a classificar o atentado terrorista singelamente como um “desatino”.

Esta postura leniente com os atentados permanentes desferidos pelo extremismo contra a democracia e as instituições marca a trajetória do procurador-geral.

Em setembro passado, por exemplo, Gonet não autorizou que a PF efetuasse a prisão de blogueiros bolsonaristas e do senador Marcos do Val por ameaças feitas a delegados que investigam Bolsonaro e seus comparsas.

A demora de Gonet em relação aos inquéritos de Bolsonaro e de bolsonaristas civis e militares implicados em crimes estimula a ação de bolsonaristas radicalizados e deixa a democracia brasileira se equilibrando perigosamente na beira do abismo fascista.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Leia também

Ricardo Mello: Explosão no STF é sintoma de doença social grave. VÍDEO

Jeferson Miola: Gonet, os processos contra Bolsonaro e a eleição

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

“Argentina do ‘Fascínora’ Milei
foi o Único País da ONU
a Não Apoiar Resolução que condena
Violência Contra Mulheres”

O texto pedia a “intensificação dos esforços para prevenir
e eliminar todas as formas de violência
contra mulheres e meninas”

No dia 30 de outubro, o presidente argentino de Extrema-Direita Javier Milei demitiu a ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, após a Embaixada do país na ONU se posicionar a favor de Cuba em uma votação das Nações Unidas contra o Embargo Econômico imposto pelos EUA
à Ilha Caribenha.

Na segunda-feira (11), a Argentina já havia sido o único país a votar contra uma resolução da ONU sobre os direitos dos povos indígenas.

[Com informações de PoA 24h]

Deixe seu comentário

Leia também