Jeferson Miola: Cúpulas fardadas são responsáveis pela bandalheira sistêmica
Tempo de leitura: 3 minCúpulas fardadas são responsáveis pela bandalheira sistêmica
Por Jeferson Miola, em seu blog
Julgar, condenar e prender Bolsonaro e seus comparsas operacionais não é só um ato de justiça, mas também uma demanda da democracia.
A condenação do bando criminoso flagrado no roubo, interceptação ilegal e venda de joias, relógios e objetos de ouro pertencentes ao Estado brasileiro é uma providência essencial.
Mas esta será apenas uma medida parcial e incompleta enquanto o foco não for posicionado nos reais responsáveis por esta bandalheira sistêmica, que são as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas.
Afinal, como justificou o Comando do Exército ao mandar o tenente-coronel apresentar-se fardado na CPMI dos atos golpistas, os delinquentes fardados “cumpriam missão militar”.
Numa notável síntese, o jornalista Otávio Guedes disse: “hoje a gente vai ver uma notícia interessante: uma joia trazida por um almirante, transportada por um avião da FAB e negociada por um general. Ou seja, almirante, general e FAB. Provavelmente a maior operação militar desde a guerra cisplatina”.
A essas alturas, com tudo o que vem sendo revelado sobre o envolvimento central de altos oficiais em crimes de distintas naturezas – de corrupção, genocídio a tentativas de golpe de Estado –, é inaceitável se restringir a responsabilidade criminal a Bolsonaro e seu entorno.
O omisso ministro da Defesa José Múcio Monteiro, representante das cúpulas partidarizadas perante o poder civil, mais uma vez confirma a máxima do Barão do Itararé – de onde menos se espera, é daí que não sai nada mesmo.
Até hoje Múcio não cobrou dos comandantes sequer a abertura de investigação dos oficiais flagrados nos ataques às instituições no 8 de janeiro. Pior: por lobby dele, o governo contemplou as Forças Armadas com 52,8 bilhões no PAC.
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Contando com a camaradagem de Múcio, o comando do Exército mais uma vez prevarica para proteger os seus. Em nota, diz que “vem acompanhando as diligências”. Acompanhando …
E cinicamente afirma que “A Força não se manifesta sobre processos apuratórios conduzidos por outros órgãos”.
Considerando-se como um Poder de Estado autônomo, justifica que “esse é o procedimento que tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais instituições da República”.
O comando afirma ainda que “não compactua com eventuais desvios de conduta de quaisquer de seus integrantes”, mas na vida real nada faz em relação ao tenente-coronel, ao coronel, ao almirante e ao general implicados no esquema de roubo e venda de joias da União.
A solidariedade no crime não se restringe aos comandos militares da ativa. É também consignada aos bandidos fardados tanto pela família militar como por dirigentes do partido dos generais já na reserva.
O general conspirador Sérgio Etchegoyen, por exemplo, saiu em defesa de Lourena Cid, pai do multidelinquente Mauro Cid.
A despeito da imagem do colega de farda refletida na fotografia de uma escultura roubada, Etchegoyen declarou: “acredito e confio no general Cid. Conheço-o há muitos anos”.
Nunca antes como atualmente estas Forças Armadas que mais uma vez jogaram o país no precipício estiveram tão desmoralizadas e desacreditadas.
E nunca antes a sociedade civil, as instituições da República e o poder político [Executivo e Legislativo] tiveram uma oportunidade tão favorável para enfrentar decididamente a questão militar no Brasil.
O desaproveitamento desta oportunidade histórica poderá cobrar um preço altíssimo, e não só do governo do presidente Lula, mas da democracia, pois as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas continuam acalentando seu projeto próprio de poder militar.
Leia também:
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Comentários
abelardo
Tomara que eu não esteja errado, mas entendo que a cumplicidade do alto comando das FFAA, com o lado delinquente do governo Bolsonaro, já vinha acontecendo desde os primeiros meses de governo.
Então imagino que: havendo nos quadros do novo governo muitos militares comandados por um seleto grupo de oficiais de alta patente, também poderia haver a esperança de que o retorno dos militares ao poder estaria mais próximo, já que a esquerda estava terrivelmente enfraquecida pela Lava Jato.
Talvez o deslumbramento pela volta ao poder dos militares colocados em postos estratégicos no governo, somados aos postos de alguns oficiais do alto comando, poderia ser uma armadilha criada como espécie de vingança, pela expulsão do capitão pela justiça militar.
Bronco e trapalhão, como se porta, é difícil acreditar que ele tivesse essa competência de criação, mas sem dúvida deve ter sido visto como o aloprado ideal para seguir a estratégia golpista dos demais e muito mais interessados.
Enquanto davam corda ao governo e o alto escalão sonhava alto, as denúncias de abusos, de crimes, de desvios de conduta, entre outros, pipocavam incomodamente nos brios dos oficiais críticos, ainda que indecisos .
E essa indecisão poderia ter dividido mais ainda o comando, como também poderia ter aberto mais os olhos dele e de parte das tropas, que teriam mais razões para suas criticas internas.
Então, eu penso ao perceberem a gravidade de irem de encontro a uma escolha limpa e transparente feita pela população através do voto, e também o reconhecimento de que estariam rasgando a constituição com suas mãos dadas a um terrorismo e a uma subversão fascista e totalitária, resolveram manifestar a sua intolerância e a condenação ao gravíssimo cenário que se desenhava na Praça dos Três Poderes, em 08 de Janeiro de 2023.
A decisão não irá livra-los da omissão e do incentivo vergonhoso que a própria omissão lhes confere.
Também não os livrarão das demais culpas de que estão sendo investigados como manda a lei.
Porém, eu avalio que conseguiram resgatar em tempo hábil, a compreensão de que o golpe só teria sucesso com a presença oficial das FFAA, com a existência de alguma consistência na razão para o fato, com a representação oficial da autoridade militar e a presença de suas suas tropas no ato de vandalismo e terror de 08 de janeiro.
Daí picaram a mula. bateram em retirada e deixaram que prosseguissem por conta e risco, já sabendo que dariam com os burros n’água.
Julgo que eles possivelmente possam receber o reconhecimento da importante contribuição no final de todo esse processo ilegal de subversão e terrorismo.
Mas devem saber que contribuíram para alimentar e acomodar a monstruosidade e a covardia constitucional que cometeram, seja pela omissão e pela ambição do poder.
Agora a decisão da justiça não pode dar mão a complacência e muito menos a falta de coragem em cumprir o seu papel de punir e queimar de vez todas as sementes dessa peste maligna que ainda possa existir em nossa república democrática e em todos os espaços do estado de direito, no Brasil.
Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1690181430943363072
“PHA avisou. PHA disse tudo.
Pena que PHA não esteja mais entre nós.”
https://twitter.com/Hilde_Angel/status/1690742243550769153
Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1690407803083493377
É Vexatório para o Brasil e @s Brasileir@s!
Graças a Deus que não sou nem nunca fui Militar
e jamais apoiei essa Gentalha Fascista Corrupta.
.
Alexandre de Melo
Não que o pig estivesse disposto a negar o golpe mas desta vez havia outros meios ainda mais fortes que o pig e não foi possível acobertar os crimes dos milicos . Mas que o golpe iria acontecer iria tanto que o Bozo fez tantos ilícitos contando com ele , mas DEU RUIM.
Zé Maria
Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a quebra do sigilo da operação da Polícia Federal realizada na manhã da sexta-feira (11/8), que tem como alvo militares aliados do ex-presidente da República Jair Bolsonaro e o próprio.
Integra da Decisão do Ministro Alexandre na PET 11645 do STF, inclusive com Detalhes dos emails e esquemas gráficos contidos no Inquérito da Polícia Federal:
https://congressoemfoco.uol.com.br/wp-content/uploads/2023/08/Pet-11645-Merito.pdf
https://congressoemfoco.uol.com.br/area/governo/alexandre-de-moraes-quebra-sigilo-de-operacao-da-pf-leia-a-integra/
Zé Maria
Vídeo: https://twitter.com/i/status/1690186667640991744
“Desmantelaron el sistema de justicia,
desmantelaron el sistema de seguridad,
desmantelaron el sistema de inteligencia,
todo por el odio político, y ahora se
‘sorprenden’ del desastre causado”
https://twitter.com/MashiRafael/status/1690290643833180160
.
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O Governo de Guillermo Lasso é tão ou Mais Delinqüente quanto
foi o do Capitão Bolsonaro e Generais do Exército que o apoiaram [*]
e fizeram parte integrante do Governo da Máfia de Ladrões de Jóias.
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[*] (https://bit.ly/3KEeH8W):
Augusto Heleno (GSI);
Azevedo e Silva;
Braga Netto;
De Arruda;
De Jesus Ferreira;
Dutra de Menezes;
Etchegoyen;
Freire Gomes;
Leal Pujol;
Lourena Cid;
Menandro de Freitas;
Mourão;
Neiva Barcellos;
Nogueira de Oliveira;
Pazuello;
Ramos;
Rêgo Barros;
Santa Rosa;
Santos Cruz;
Viana Rocha;
Villas Bôas.
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https://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2022/09/photo_5023887396218972945_w-1-1024×683.jpg
“Tendo em vista que ninguém se manifestou contra
o Ritual de Bolsonaro sendo Lançado Candidato
a Presidente da República na AMAN em 2014 (*),
toda a Cadeia de Comando teria se Comprometido.”
“Uma vez que o Comando permitiu, abriu-se a Porteira”.
PIERO LEINER
Doutor em Antropologia (USP).
Professor Titular do Departamento de Ciências Sociais e
do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (UFSCar).
Autor de:
“O Brasil no Espectro de uma Guerra Híbrida:
Militares, Operações Psicológicas e Política
em uma Perspectiva Etnográfica”:
(https://books.google.com.br/books/about/O_Brasil_no_espectro_de_uma_guerra_h%C3%ADbr.html?id=-vb6DwAAQBAJ)
“Há ‘n’ vetores por onde isso foi sendo produzido,
mas acho que o mais importante deles foi a extensa
imbricação entre a caserna e a política que se tornou
pública com o ritual de Bolsonaro sendo lançado
candidato à Presidente na Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN) em 2014”, explica o professor
da Universidade Federal de São Carlos, Piero Leiner.
*(https://youtu.be/tljUc8ckKZ8)
Em sua opinião, quando a candidatura de Bolsonaro
foi lançada na Academia Militar das Agulhas Negras
(AMAN), toda a cadeia de Comando – tendo em vista
que ninguém se manifestou contra – teria se
comprometido.
“Uma vez que o comando permitiu, abriu-se a porteira”.
A ‘porteira’ continuou aberta para sempre. Já na largada,
entraram pelo portão principal do Centro Cultural do
Banco do Brasil, onde se instalou a equipe de transição,
os Generais da reserva que puseram suas carreiras
de prestígio a serviço do projeto bolsonarista.
“É uma dinâmica que voltou a ser o que era na época da ditadura,
quando eles estavam governando o país.
Agora eles não estão governando o país, mas as possibilidades
de emprego que eles têm é similar à que eles tinham na época
da ditadura”, observa a professora, doutora em ciência política,
Adriana Marques.
A dinâmica à qual Marques se refere é a que
ocorreu após o golpe militar de 1964.
Naquele momento, assim como passou a acontecer
no Governo de Bolsonaro, do Alto Comando saíram
os presidentes da República, muitos dos seus auxiliares,
presidentes de estatais e outros cargos espalhados
pelo país.
[Fonte: APublica/Outras Palavras]
Zé Maria
O Exército é uma Caverna de Víboras Altamente Peçonhentas à Democracia.
marcio gaúcho
Agora é a hora! Ou se põe esses militares no seu devido lugar, ou eles tomarão os assentos da República em breve. Como em todas as repúblicas de bananas.
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