Jeferson Miola: Como previsto por Fiori em julho, Biden acelerou o relógio da guerra mundial
Tempo de leitura: 3 minComo previsto por Fiori em julho, Biden acelerou o relógio da guerra mundial
Por Jeferson Miola, em seu blog
Há exatos quatro meses, em 18 de julho passado, o professor da UFRJ José Luís Fiori, um dos maiores intelectuais brasileiros, alertou que “os ponteiros do ‘relógio da guerra mundial’ estão se movendo de forma cada vez mais acelerada”.
“Existe um sentimento generalizado de que o relógio da guerra está se acelerando, e é cada vez maior o número dos que falam da iminência de uma terceira guerra mundial, que seria [1] nuclear e [2] catastrófica para toda a humanidade”, escreveu no artigo Que horas são no relógio de guerra da OTAN? [aqui].
A decisão anunciada por Washington, de permitir que a Ucrânia use mísseis de longo alcance ATACMS para atingir o território da Rússia em profundidade, representa um passo perigoso para a detonação da terceira guerra mundial.
França e Reino Unido, na vanguarda da vassalagem dos EUA na Europa, embarcaram na insanidade de Biden e também autorizaram a Ucrânia a usar mísseis Storm Shadow/SCALP, que podem alcançar até 560 quilômetros.
Para Fiori, mesmo diante do cenário de derrota inevitável das tropas ucranianas, os EUA e seus aliados da OTAN ainda continuam obcecados em “impor uma derrota estratégica à Rússia no campo de batalha”.
Fiori descreveu que na “75ª Reunião Anual da OTAN, realizada em Washington, entre os dias 9 e 11 de julho de 2024 […], a OTAN dobrou sua aposta no enfrentamento, ao anunciar a futura incorporação da Ucrânia na Organização, sabendo que isto representa uma declaração de guerra aberta contra a Rússia”.
“E é por isso que todos olham neste momento [em julho passado] com ansiedade para alguns acontecimentos que podem precipitar este desfecho catastrófico”, escreveu.
Na previsão certeira que fez no seu artigo de 18 de julho, Fiori também previu que a eleição presidencial nos EUA, em 5 de novembro, seria um marco temporal na escalada anti-Rússia:
“Uma data que se transformou imediatamente num deadline extremamente perigoso para o alto comando militar dos Estados Unidos e da OTAN, e para todos os governantes da União Europeia que querem radicalizar seu enfrentamento com a Rússia e temem a volta de Donald Trump, com sua antiga antipatia pela OTAN e pela própria intervenção norte-americana na Ucrânia”.
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EUA e seus aliados da OTAN agiram deliberadamente antes da posse de Trump, a dois meses do fim do mandato de Biden, numa jogada que pode desembocar na guerra mundial – ou que, no mínimo, pretende dificultar ao máximo a negociação do fim do conflito, anunciada por Trump, e que consagraria a condição proposta pela Rússia e fortaleceria a “liderança militar e atômica [russa] dentro da hierarquia do poder mundial”.
A Rússia reagiu como esperado. Alertou que OTAN e EUA estão “brincando com fogo”, e declarou que os países fornecedores de armas à Ucrânia, inclusive os EUA, serão considerados alvos legítimos da sua resposta bélica.
A ofensiva da aliança do atlântico-norte deixa seus países expostos a riscos de proporções ainda imponderáveis, considerando o potencial tecnológico russo.
Fiori relembra discurso de Vladimir Putin no parlamento do país em 2018, no qual o presidente russo “comunicou ao mundo que a Rússia dispunha de um novo tipo de armamento que estabelecia um verdadeiro ‘abismo tecnológico’ entre a capacidade militar da Rússia e a dos Estados Unidos, e em particular entre seu poder nuclear e de seus vizinhos da OTAN”.
O mundo então tomou conhecimento do “novo míssil balístico RS-28 Sarmat, com alcance ilimitado e capacidade de mudar sua trajetória; o sistema de asas planadoras hipersônicas de velocidade Mach 20, chamado Avangard; os mísseis cruzadores e aerobalísticos; e o míssel aerobalístico Kinzhal […].
Um conjunto de armas, portanto, que segundo vários analistas militares, estabeleceu um novo paradigma e uma nova concepção de guerra […] que teria começado a derrubar a hegemonia militar global dos Estados Unidos”.
Para Fiori, “foi essa nova realidade militar que fez com que o ‘Ocidente’ apostasse inicialmente no seu poder econômico e sanções financeiras para derrotar a Rússia” – objetivo que fracassou.
A partir daí, ele observa, “a hipótese que vem sendo formulada com frequência cada vez maior, de que os EUA e a OTAN já têm planejado um first strike atômico contra as instalações nucleares russas. Uma hipótese que explicaria, por sua vez, as dimensões, profundidade e complexidade dos últimos exercícios militares russos com seus mísseis nucleares e táticas que serão utilizadas no caso de um eventual ataque da OTAN, que significaria o fim da Europa tal como a conhecemos”.
“Não há como verificar ou comprovar estas hipóteses de maneira segura, por razões óbvias, mas são elas que explicam por que os ponteiros do ‘relógio da guerra mundial’ estão se movendo de forma cada vez mais acelerada”, ele conclui.
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