Jeferson Miola: Ato na Paulista organizou estratégia de luta da extrema-direita

Tempo de leitura: 3 min

Ato na Paulista organizou estratégia de luta da extrema-direita

Por Jeferson Miola, em seu blog

Nesse contexto de polarização política permanente, a esquerda está desafiada a buscar formas de mobilização multitudinária pelo menos no nível que a extrema-direita fascista consegue mobilizar.

O ato bolsonarista na avenida Paulista é um alerta disso. Independentemente da estimativa exata de presentes, a fotografia de vários quarteirões da avenida ocupados já é, por si, impactante. Foi uma demonstração de força convocatória, de estrutura material e capacidade de mobilização.

Governadores de SP, MG, Goiás e SC e mais de uma centena de políticos e parlamentares participaram, inclusive de partidos que integram o ministério do governo Lula.

Seria necessária uma pesquisa para caracterizar o perfil dos participantes, mas ali foram vistos charlatães religiosos, comerciantes, militares, policiais, “donas de casa”, funcionários públicos, aposentados, trabalhadores formais e uberizados, “empreendedores”, empresários e pessoas humildes.

O ato serviu para o bolsonarismo instalar a agenda da anistia, que interessa tanto aos presos pelas depredações no 8 de janeiro, como aos investigados –dentre eles Bolsonaro e oficiais generais– que também serão condenados e presos com base nas robustas provas existentes.

O general-senador Hamilton Mourão já protocolou no Senado Projeto de Lei anistiando os golpistas, proposta que antagoniza diretamente com iniciativas em curso contra a anistia.

A bandeira da anistia conecta a extrema-direita brasileira com a agenda central do trumpismo nos Estados Unidos. Assim como o bolsonarismo, Trump repete o delírio da inocência e da “perseguição do sistema” ao seu líder máximo para retirá-lo do certame eleitoral.

No discurso, Bolsonaro defendeu cinicamente a anistia como fator de pacificação do país – “o que eu busco é a pacificação, passar uma borracha no passado, uma maneira de vivermos em paz”, disse.

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De modo esperto, Bolsonaro colocou a responsabilidade pela paz sobre as instituições –sobretudo o Congresso– “para que seja feito justiça no nosso Brasil”. Esta posição implicitamente questiona a legitimidade das acusações e reforça o foco dos ataques ao STF, que tem a titularidade dos julgamentos e condenações.

A bandeira da anistia será a “grife” da extrema-direita na eleição municipal. É uma medida que une e articula politicamente o bloco oposicionista num simulacro de luta democrática.

A luta pela anistia terá centralidade política ainda maior para a ultradireita depois da prisão do Bolsonaro, e o bolsonarismo já se posicionou estrategicamente na conjuntura pós-prisão.

A anistia não serve para livrar Bolsonaro, porque muitos empresários, políticos, parlamentares, milicianos e agentes públicos também seriam beneficiados com ela. Mas os militares, mais que outros segmentos, são grandemente interessados na aprovação da medida.

As cúpulas militares não hesitarão em integrar o “movimento pró-anistia” para pressionar o Congresso. De modo sorrateiro e até abertamente ameaçador.

Ainda durante a transição de governo o hoje ministro da Defesa José Múcio Monteiro já defendia a “pacificação”. E, nos mesmos termos proferidos por Bolsonaro na Paulista, Múcio dizia que o perdão a golpistas seria a maneira de se pacificar a sociedade brasileira.

O governador bolsonarista de SP Tarcísio Gomes de Freitas resumiu bem o estado de ânimo do extremismo: “Bolsonaro não é uma pessoa ou um CPF, porque ele é um movimento”.

Isso é um dado da realidade. A presença multitudinária do bolsonarismo na Paulista, mesmo no atual momento de reveses políticos e judiciais evidencia que o fascismo é uma força-movimento poderosa, com enorme alcance popular, e que se organiza para atuar mais além da persona Jair Bolsonaro, que em breve poderá estar preso.

A extrema-direita tem uma mística que toca os sentimentos e as emoções de multidões ressentidas; tem uma utopia.

Mesmo que seja uma utopia destrutiva, mas ainda assim é uma utopia: a utopia de retrocessos a uma ordem reacionária, ultra-individualista e autoritária.

Os bolsonaristas são fanáticos, é certo. Mas seria equivocado desprezar que eles se entregam militantemente, com devoção revolucionária, à crença de estarem edificando esta nova ordem, porque se consideram artífices da contrarrevolução fascista e reacionária.

Em entrevista à Folha, Vladimir Safatle disse que “a extrema-direita é hoje a única força política real do país, porque é a força que tem capacidade de ruptura, tem estrutura e coesão”.

Safatle entende que a esquerda apenas ganhou tempo com a eleição do Lula em 30 de outubro de 2022.

E isso é real. A derrota da chapa militar Bolsonaro/Braga Netto não desmobilizou e tampouco arrefeceu o encanto popular pela extrema-direita.

Importante destacar, neste sentido, a capacidade de mobilização fascista mesmo depois da derrota eleitoral e já sem a estrutura de governo.

Os atentados do 8 de janeiro de 2023 e o ato deste 25 de fevereiro na avenida Paulista são evidências disso.

Leia também:

Valter Pomar: O papel das ruas (e da personalidade) na política

Jeferson Miola: Com bandeira da anistia, extrema-direita se posiciona uma conjuntura à frente

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Comentários

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Zé Maria

https://t.co/84DUKiE9qy

Bolsonarista redundantemente Fascista
na Paulista ameaça matar Ministro do STF.
Déficit Cognitivo: Não Aprenderam Nada.

Sorridente e usando uma camisa com o rosto
do ex-presidente de extrema direita, radical
diz que “vai achar o ministro e matá-lo”.

Assista e denuncie se você o conhece:

https://twitter.com/i/status/1762065247504937435
https://twitter.com/RevistaForum/status/1762205152390361213

Zé Maria

https://twitter.com/i/broadcasts/1PlKQDeWOzkxE

O Último Mugido do Desespero:
Discurso de Jair Bolsonaro Ontem (25)
quiçá seja o Último Ato Antes da Prisão.

https://twitter.com/RevistaForum/status/1762205783989924344

Zé Maria

Entrevista: Professor MÁRCIO MORETTO
Coordenador do Monitor do Debate Político Meio Digital.

“Uma Coisa é Colocar Gente na Rua,
Outra é Ganhar Eleição”

A manifestação encabeçada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
em São Paulo no domingo 25 foi a maior dos últimos anos e reforça
a audácia da direita autoritária.

Mobilizar as ruas entretanto, não garante necessariamente uma
vantagem eleitoral sobre os oponentes.

A avaliação é de Márcio Moretto, professor da Escola de Artes, Ciências
e Humanidade da USP e coordenador do Monitor do Debate Político
no Meio Digital.

O Monitor, também coordenado pelo professor Pablo Ortellado,
estimou em 185 mil pessoas o público do ato bolsonarista em seu pico,
às 15h, a partir de uma metodologia de análise matemática de fotos aéreas.

À CartaCapital, Márcio Moretto, do Monitor do Debate Político,
indica a tendência de ‘saturação do hiper-engajamento’
que favoreceu o bolsonarismo nos últimos anos.

https://www.cartacapital.com.br/politica/uma-coisa-e-colocar-gente-na-rua-outra-e-ganhar-eleicao/

Raul Mass

Acho mais fácil fazer a classe média entender, pois lhes dói no bolso.

Raul Mass

E tenho muito claro que esses caras servem a um único propósito, cujo algum antídoto pode lhes desarticular: possibilitar a quem lhes dão retaguarda ir se abocanhando de nossas riquezas
Fazer a classe média (ou a esquerda mesmo?) entender isso é um passo e tanto!

Raul Mass

É, Miola, aí eu me lembrei de uma frase do Mauro Santayana, dita em 2015: “Perdeu a comunicação, perdeu o poder”.
E continua tudo na mesma, não é?

marcio gaúcho

A direita brasileira tem recursos financeiros inesgotáveis, instrumentos de mídia e grande capacidade de mobilização. São os “Flautistas de Hamelin”, com milhares de seguidores descerebrados a trilhar um caminho escuro e duvidoso, sem volta.
O esquerda não tem nenhum desses recursos. Para mobilizar simpatizantes, depende de algumas lideranças abnegadas a gritar ao campo. Não tem dinheiro e nem mídia a seu favor. Muito menos as Forças Armadas para meter medo.
Futuro nebuloso nos aguarda, Brasil!

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