Jair de Souza: Novos tempos, velhas lições; vídeo

Tempo de leitura: 4 min

Novos tempos, velhas lições

Por Jair de Souza*

A maior parte de nossa população só tem conhecimento dos horrores do nazismo através de leituras de textos acadêmicos ou de assistir a filmes a respeito deste tema. Por isso, não me parece muito fácil que as pessoas em tal situação possam ter em mente uma idéia nítida do real significado que as atrocidades do nazismo representaram para os milhões de pessoas que dele foram vítimas.

Contudo, eis que agora, em pleno século 21, surgiu uma oportunidade sem igual para que todos venhamos a entender a monstruosidade que essa doutrina política da extrema direita alemã da primeira metade do século passado representou em termos práticos.

E o fenômeno que nos oferece esta possibilidade real de desenvolver uma compreensão bem fundamentada de uma fase considerada uma das mais tenebrosas da história da humanidade é termos no dia de hoje outro processo político-social que está levando a grandes contingentes humanos a passarem por sofrimentos e aflições tão ou mais intensos do que aqueles impingidos a outros grupos de pessoas pelos nazistas durante o período em que os seguidores de Adolf Hitler estiveram no comando do Estado na Alemanha.

A ideologia que desempenha esse papel na atualidade já não é mais o nazismo, senão que o sionismo. E o país que reflete em sua plenitude os ideais e as aspirações do sionismo tem por nome Estado de Israel.

No entanto, diferentemente do que caracterizava o panorama na Europa e no mundo na primeira metade do século passado, quando a grande maioria dos cidadãos alemães e os dos demais países só vieram a ter ciência sobre o que de fato o regime nazista alemão andava praticando contra aqueles que eram vistos como seus desafetos depois de algum tempo, na situação atual, os cidadãos israelenses, assim como quase todo mundo, no mundo todo, têm acesso a inúmeros vídeos e fotos que expõem sem margem para dúvidas as atrocidades às quais as vítimas do sionismo estão sendo submetidas no mesmo momento em que elas estão acontecendo.

Por isso, agora, é muito difícil que haja muita gente que não tenha visto várias das imagens dos acontecimentos que vêm dando o tom em Gaza nos últimos 10 meses.

Cenas exibindo crianças despedaçadas pelas bombas lançadas pelos sionistas israelenses; fotos de mães arrasadas com seus filhos nos braços depois de um ataque sionista; centenas de imagens de desabrigados que foram executados pelas forças militares do sionismo israelense quando estavam em suas tendas armadas em plena rua; vídeos com multidões de seres famélicos sendo metralhados por soldados do sionista Estado de Israel quando se aproximavam de caminhões da ONU que deveriam lhes levar alimentos para sua sobrevivência; imagens de cidades transformadas em escombros com seus moradores que sobreviveram aos bombardeios espalhados pelo chão ao relento.

Por que nossas sensibilidades seriam menos afetadas ao tomar conhecimento das tantas perversidades que estão sendo cometidas pelos sionistas israelenses do que aquilo que sentimos ao ler sobre as maldades praticadas pelos nazistas de Hitler?

Apoie o jornalismo independente

Na busca de motivos para justificar uma não condenação dos crimes do sionismo israelense no mesmo nível em que o nazismo costuma ser condenado, alguns alegam que as vítimas civis do sionismo israelense seriam meramente efeitos colaterais não planejados de golpes desfechados contra os reais alvos das ações: os integrantes dos grupos armados, do tipo do Hamas ou de Hezbolá, por exemplo.

Logicamente, só alguém que esteja determinado de antemão a absolver os causadores de todos esses crimes horripilantes poderia propor-se a defender tal ponto de vista.

Em sã consciência e de boa fé, ninguém aceitaria como mera fatalidade o fato de que mais de setenta por cento das vítimas das ações armadas dos sionistas sejam mulheres e crianças.

Justamente os dois grupos que, com sua drástica redução existencial, poderiam impedir a continuidade do ritmo de crescimento da população palestina, que aponta para sua superação numérica em relação aos judeus em poucas décadas.

Além disso, também não é possível concordar que surtos de infecções contagiosas de grande potencia de mortalidade que já eram dadas como erradicadas no planeta estejam ressurgindo como frutos de uma maldade não deliberada.

É o caso, por exemplo, do rebrote da poliomielite que, conforme dizem muitos especialistas, está voltando a atingir a população palestina.

E isto se deveria não apenas ao baixíssimo nível de resistência e imunidade que tendem a surgir em razão das precaríssimas e calamitosas condições em que os palestinos estão sobrevivendo nesta fase de agressão intensa.

As evidências disponíveis indicam que as autoridades sionistas israelenses estão operando para que essas enfermidades exerçam um papel positivo em seu objetivo de limpar aquela região da presença do, para eles, indesejado povo palestino.

Quando o sionismo israelense é apresentado da maneira como está ocorrendo neste texto, os sionistas e seus apoiadores costumam arguir quase que automaticamente que se trata de mais uma manifestação de antissemitismo.

É que os sionistas vêm recorrendo há um bom tempo a esta alegação sempre que são confrontados com críticas demolidoras que deixam patente a imensa crueldade e perversidade entranhada no projeto sionista.

Mas, não podemos deixar de levar em conta que, assim como o nazismo nunca foi nada inerente ao povo alemão, o sionismo também não é nada que seja natural aos judeus como um todo. Nem todos os alemães eram ou são nazistas, assim como nem todos os judeus são sionistas.

Podemos dizer sem nenhuma hesitação que o sionismo é hoje em dia a ideologia política mais nefasta e perversa existente na humanidade.

Como costuma dizer o grande historiador Ilan Pappe (ele próprio, um judeu israelense), ser bom e ser sionista são qualidades que se contradizem.

Existem judeus de todos os tipos, da mesma maneira como ocorre com os pertencentes a todos os outros grupos étnicos ou religiosos do mundo.

O que decididamente não pode haver é um sionista bom, porque o sionismo é em essência uma ideologia de cunho colonialista e supremacista.

E é impossível ser bom, sendo também um adepto do colonialismo e do supremacismo racial.

Sobre o problema que a poliomielite e outras doenças contagiosas estão representando no momento, é recomendável assistir ao vídeo que está no topo vídeo (https://www.dailymotion.com/video/x95gt74) 

*Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Leia também

Genocídio dos palestinos em Gaza; crianças e mulheres, as mais atingidas

Salem Nasser: Permanecemos (Baqoum); vídeo

Cebes lança abaixo-assinado condenando ataques de Israel a profissionais de saúde na Palestina

Boris Vargaftig: Sionismo, movimento de libertação nacional ou ideologia próxima do fascismo?

Apoie o jornalismo independente


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Deixe seu comentário

Leia também