Grupo Tortura Nunca Mais/RJ homenageia Gonzaguinha, Brizola e movimento BDS com Medalha Chico Mendes de Resistência
Tempo de leitura: 3 minPor Conceição Lemes
Em 31 de março de 1989, o Exército concedeu a sua mais alta comenda, a Medalha do Pacificador, a militares e civis que participaram ativamente dos órgãos de repressão na ditadura, inclusive torturadores.
A cerimônia foi realizada em conhecido centro de torturas na cidade do Rio de Janeiro: o antigo prédio do 1º Batalhão da Polícia do Exército, na rua Barão de Mesquita, 425, no bairro da Tijuca.
Indignado com tamanho acinte, em resposta, o Grupo Tortura Nunca Mais/Rio de Janeiro (GTNM/RJ) decidiu criar a sua própria medalha, para homenagear pessoas e entidades que tenham se destacado nas lutas de resistência, na defesa dos direitos humanos e no combate a qualquer tipo de ditadura, violência e tortura.
Chico Mendes — trabalhador do campo e conhecido ativista das lutas populares pela floresta Amazônica –, havia sido assassinado poucos meses antes, em 22 de dezembro de 1988.
Para homenageá-lo, o Grupo Tortura Nunca Mais/RJ decidiu, então, dar o nome dele à medalha.
Desde 1989, todo ano, 10 pessoas ou entidades, de diferentes categorias, são homenageadas com a Medalha de Resistência Chico Mendes.
Hoje, 1º de abril, acontece no Rio a entrega da 36ª Medalha Chico Mendes de Resistência.
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A solenidade será às 18h no auditório da Faculdade Nacional de Direito/UFRJ, rua Moncorvo, Centro, conhecido como Largo do CACO, local de memória da resistência nas primeiras horas do golpe.
Os homenageados de 2024 foram escolhidos pelo GTNM/RJ e mais 12 entidades parceiras (veja quais no card abaixo).
São estes:
Boycott, Desinvestment, Sanction (BDS) & Stop te Wall (Boicote, Desenvestimento, Sanções & Pare o Muro) — Movimentos internacionais de apoio à resistência palestina
Gonzaguinha (in memoriam) — Cantor e compositor, importante voz uma importante voz da resistência à ditadura no Brasil
Histórias Desobedientes — Coletivo composto por filhos e familiares de genocidas argentinos e críticos da última ditadura cívico-militar da Argentina.
Leonel Brizola (in memoriam) —Histórico político trabalhista, único governador de dois estados (Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro) e fundador do PDT.
Maria Criseide da Silva e Wellington Marcelino Romana — Lutadores por moradia, terra e direitos humanos em Minas Gerais.
Norberto Nehring (in memoriam) — Economista, militante da ALN, preso, torturado e assassinado no Dops/SP, em 1970.
Pastor Mozart Noronha — Resistente e solidário desde os tempos da ditadura, foi forçado a se exilar.
Quilombolas do Sapê do Norte — 32 quilombos no Espírito Santo ainda hoje ameaçados pelas Forças Armadas e o Grupo Suzano/SA.
Ranúsia Alves Rodrigues (in memorian) — Militante do PCBR assassinada pela ditadura militar, em 1973.
O Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, de BH/MG, é uma das entidades parceiras do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ nessa homenagem em 2024, quando o golpe que instaurou a ditadura militar no Brasil completa 60 anos.
“Vemos persistir e avançar os genocídios, o racismo, a violência de gênero, a exploração, a destruição da natureza e as mais diversas formas de opressão que estruturam o capitalismo e nossas histórias desde o processo colonial”, afirma Heloisa Greco, a Bizoka, que é como todo mundo conhece a filha da histórica militante de defesa dos direitos humanos, Helena Greco.
”Nossas homenagens são denúncias e comemorações das vidas de resistência e re-existências que não deixam a pesada borracha do Estado apagar as tradições vivas e as memórias do que somos apesar e à despeito das violência”, completa Bizoca.
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Comentários
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/GKFziIqWEAAFn3Y?format=jpg
DOM PAULO EVARISTO ARNS E O CULTO ECUMÊNICO
EM MEMÓRIA DO JORNALISTA VLADIMIR HERZOG
TORTURADO POR AGENTES DA DITADURA MILITAR
E ASSASSINADO NA PRISÃO DO DOI-CODI EM SP
A ‘versão’ apresentada à época pela Ditadura Militar
foi a de que Herzog teria se enforcado com um cinto,
mas o cardeal não acreditou na farsa do suicídio.
Em vídeo, o cardeal da resistência à ditadura
conta como se deu a primeira manifestação
pública de repúdio ao golpe militar.
https://jornalggn.com.br/wp-content/uploads/2024/04/WhatsApp-Video-2024-04-01-at-07.28.28.mp4
[ Reportagem: Ana Gabriela Sales | Jornal GGN: (https://t.co/yQJeobqJ4d) ]
Em um vídeo (*) que passou a circular nas redes sociais nos 60 anos
do golpe militar de 1964, o arcebispo emérito de São Paulo e símbolo
de resistência, cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, revela os bastidores
do culto ecumênico em memória do jornalista Vladimir Herzog.
A celebração, que se tornara a primeira manifestação pública de repúdio
à ditadura militar, reuniu oito mil pessoas na Praça da Sé, região central
de São Paulo, em 31 de outubro de 1975.
Vladimir Herzog é uma das centenas de vítimas dos anos de chumbo.
Natural da Croácia, o jornalista naturalizou-se brasileiro.
No dia 25 de outubro daquele ano, ele foi preso nas instalações
do DOI-CODI, departamento de repressão aos opositores do regime militar, onde foi torturado e morto.
A versão dos militares apresentada à época foi a de que Herzog teria se enforcado com um cinto, mas o cardeal não acreditou na teoria do suicídio.
Segundo Dom Paulo, ao saberem do ato, cinco rabinos foram à sua casa. “Eles disseram: nós viemos aqui para que o senhor não fizesse culto ao jornalista, porque ele não foi assassinado, ele se suicidou. Aí eu disse: os senhores são rabinos e nós devemos dizer a verdade. Aquele que lavou o corpo dele, no momento em que ele descobriu os ferimentos e a tortura, avisou aos senhores e até foi ameaçado de morte pelos soldados“, contou. “Aí então eles disseram: o senhor sabe tudo. [E eu disse]: sei”, acrescentou o cardeal.
A partir disso, os rabinos teriam percebido que Dom Paulo não desistiria do ato e o mais jovem deles, o rabino Sobel, se levantou e afirmou que estaria presente na celebração e faria uma alocução ao povo se o cardeal confirmasse que iria presidir a sessão, como ocorreu.
Ainda, segundo o cardeal, cerca de 500 policiais estariam em torno da praça, sob a promessa de que se houvesse protesto “metralhariam a população”. Os rabinos manifestaram preocupação sobre isso, mas foram tranquilizados.
“Nós temos em cada janela um jornalista, dois ou três fotógrafos, que estão ali para fotografar de onde sai o tiro. Então, os rabinos não sabiam mais o que responder (…) Eu nunca ia pedir [que a população] gritasse qualquer coisa [contra os militares], mas sim que rezassem comigo”, disse.
“Quando eu entrei na Catedral e vi que não havia lugar nem para um fósforo, tanta gente e gente comovida, chorando, a frente de uma pessoa tão querida na cidade, estimada na cidade, quando eu vi isso eu me enchi de esperança em favor do povo brasileiro”, completou Dom Paulo.
https://twitter.com/JornalGGN/status/1774826761122992630
https://jornalggn.com.br/ditadura/dom-paulo-evaristo-arns-e-o-culto-ecumenico-em-memoria-de-herzog/
Zé Maria
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Autocrítica Histórica de Esquerda
(A Única Razoável e Oportuna):
“BRIZOLA TINHA RAZÃO!”
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