Gilson Caroni Filho: Dilma tem de governar com a agenda que a elegeu

Tempo de leitura: 2 min

Dilma no Tuca 1

Perplexidade e hegemonia

por Gilson Caroni Filho

“O governo está inteiramente aberto ao diálogo e assume como postura central o diálogo com todas as forças sociais. E pouco importa se são forças sociais que apoiam o governo ou são forças sociais contra o governo.” (Ministro José Eduardo Cardozo). Depois de ver a bancada petista aplaudir o ajuste fiscal de Joaquim Levy, gostaria de saber se ouvirá o que pedem as forças sociais que apoiam o governo: defesa da Petrobrás, manutenção da Caixa Econômica Federal 100% pública,não à elevação da taxa de juros e às medidas de ajuste de caráter regressivo e recessivo, e o fim do fator previdenciário no cálculo para aposentadoria, sem elevação da idade

Este primeiro parágrafo pode levar alguns petistas a imaginar que ignoro as mediações políticas e a correlação de forças, enveredando  por uma lógica binária voluntarista, simplória e inconsequente.

Há certa perplexidade de alguns militantes do PT com o novo cenário político. O que estamos presenciando é a primeira ofensiva articulada e organizada da direita desde 1964. Tendo como intelectual orgânico o oligopólio midiático, não podemos subestimá-la com adjetivações fáceis do tipo “coxinha” e ignorar a organicidade do movimento dos nossos inimigos de classe.

O primeiro passo é reconhecer que se trata de uma batalha pela hegemonia, na acepção precisa de Gramsci, e que estamos perdendo feio. São inegáveis os avanços que conseguimos no que diz respeito a programas de inclusão, bem como é indiscutível que não logramos fazer nenhuma reforma estrutural. Muitos dirão que o impedimento é o caráter conservador do Congresso, o que não deixa de ser parcialmente correto, mas a questão central é que deixamos em segundo plano os novos movimentos sociais. Não criamos produção de sentido para nenhum deles. Além da fadiga natural de 12 anos de governo, não temos um discurso que seduza a juventude e outros setores da sociedade.

Não vejo outra saída que não seja o confronto de ideias, a retomada de algumas bandeiras que deixamos pelo caminho, abandonando o tom conciliatório e desfigurante da “governabilidade”, das alianças sem qualquer balizamento programático. Não nos esqueçamos de que foi com uma agenda de esquerda que vencemos uma eleição dada por muitos como perdida. E é com ela que devemos enfrentar o momento atual.

A outra opção é esperar pela conversão ética de parcela majoritária do PMDB, liderada por Eduardo Cunha. Acreditar que a mídia, já sabendo que sofrerá corte de verbas governamentais, se curvará e pedirá desculpas pelo posicionamento claramente golpista que assumiu desde a posse de Lula. Ou que o Congresso precisará de um fato jurídico comprovado para embarcar na aventura do impeachment, ignorando a natureza política daquela casa e o caráter partidarizado do STF. E, claro, orar por uma intervenção divina.

Os que viram as manifestações de sexta, 13/08, deveriam atentar para as palavras de ordem gritadas na Avenida Paulista. O mais importante de tudo foi o recado das centrais e dos movimentos sociais à presidente Dilma: ou governa com a  agenda com a qual se elegeu ou ficará refém do capital e das forças mais retrógradas. Irresponsabilidade política tem consequências de longo prazo.

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Comentários

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Nelson

Qual a agenda que a elegeu se era tudo mentira o programa apresentado na campanha? A foma como esse governo foi eleito, mentindo descaradamente a respeito do real estado das contas públicas não o torna legítimo para implementar políticas ditas de esquerda, até em função da falta de recursos que foram gastos para se manterem no poder. Isso só será feito, se e somente se, como sempre a conta vier para a classe média que paga sem receber nadinha em troca. Queria eu um socio assim que só é chamado na hora de pagar a conta.

abolicionista

Dilma já deu a receita: bala e cacetada nos de baixo, que têm pautas concretas, e aplausos para a coxinhada delirante e udenista, que veste camisa da CBF para reclamar da corrupção.

Sonhar é necessário, mas pra fazer papel de tonto eu costumo cobrar, e até agora não vi nenhum aceno na direção que me interessa.

Ou faz alguma coisa decente, ou renuncia, desculpe a sinceridade. Ficar ali só para sujar o nome da esquerda é literalmente uma cagada federal…

Lukas

Torço para que Dilma leia este artigo.

E siga-o.

Dedos cruzados.

    JC

    Estou com você, Lukas, rezando contrito para que a Presidente leia o magnífico artigo do Gilson e se convença das verdades que contém. Pois tudo fica muito claro nele e é muito lamentável que ela, amarrada em sua teimosia ou numa suposta auto-suficiência, tenha posto de lado suas obrigações maiores, traindo novamente e de forma ainda mais saliente, as promessas que a fizeram eleger-se. Cordial abraço,
    JC

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