Fernando Safatle: A política do Banco Central está em contradição total com o programa do governo Lula
Tempo de leitura: 3 minA autonomia do Banco Central
A política do Banco Central está em conflito aberto com os objetivos pelos quais Lula foi eleito
Por Fernando Netto Safatle*, em A Terra é Redonda
Desde quando surgiu, anos atrás, uma onda avassaladora neoliberal varrendo o mundo, ocorreu uma cantilena sistemática nos principais órgãos de comunicação no país defendendo as teses sacrossantas da Faria Lima.
Temas como autonomia do Banco Central recebiam um tratamento privilegiado, mas sem o contraditório convocado para discutir e explanar, somente economistas ligados aos bancos e instituições financeiras.
Sempre foi assim. Ninguém era chamado para contra-argumentar.
Afinal, era preciso deixar a impressão para a opinião pública de que sobre temas como esse não existissem divergências, tinha quase unanimidade.
Para eles não existe pensamentos econômicos diferentes sobre temas diversos. Existe uma visão única, como se fosse uma estrada de mão única. Ou seja, a visão do mercado tinha que prevalecer.
E assim tem sido feito quando se trata de temas de interesse do mercado, como o da autonomia do Banco Central.
Aprovado em 2019, durante o governo Bolsonaro, na calada da noite, sem muita discussão, dando a entender como se tivesse obtido aprovação geral.
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Contribuiu para isso, é claro, uma desmobilização das centrais sindicais e dos movimentos sociais e dos partidos de oposição. Mesmo porque uma boa parte da chamada esquerda sofre forte influência das teses neoliberais. Assim vai passando a boiada.
Comeram mosca, quando acordaram já era governo do Lula sofrendo todos os constrangimentos e sortilégios do entulho neoliberal deixado por Jair Bolsonaro.
Mesmo assim, ainda não aprenderam a lição.
Nessa discussão sobre a taxa de juros, 13,25% da Selic, por incrível que pareça, quem dá o tom é o Roberto Campos Neto. Diz com todas as letras que a sua decisão de manutenção das taxas de juros é essencialmente técnica.
Ou seja, não tem discussão. Ninguém questiona!
Ora, não tem nada de técnica e sim puramente política. Seria técnica se não tivesse visões distintas sobre as causas da inflação e de soluções alternativas para combatê-la. O que, evidentemente, não é o caso.
Há quase um consenso de que a inflação não é de demanda, mas sim de custos. Portanto, não cabe usar indevidamente a elevação das taxas de juros para conter o consumo com medidas restritivas ao crédito.
São medidas que vão na contramão e agravam ainda mais a retomada do crescimento. Além de achatar a demanda por bens e produtos inibe os investimentos ao elevar os custos financeiros.
A política do Banco Central está em conflito aberto com os objetivos pelos quais Lula foi eleito, quais sejam, sair da recessão e gerar empregos e rendas.
Ainda, com as taxas de juros elevadas conflita também com a política de austeridade fiscal, tão apregoada pela Faria Lima. Cada 1% de aumento nos juros acresce R$ 38 bilhões na dívida pública. É como enxugar gelo.
Não pode haver essa desarmonia entre a política fiscal e a política monetária.
Essa autonomia do Banco Central provocou isso, é um contrassenso.
É uma contradição antagônica. Não se pode contemporizar com isso, sob o risco de naufragar e ficar permanentemente a reboque do Banco Central.
Mesmo com todas as dificuldades dessa armadilha é necessário tomar a iniciativa política e mobilizar a população para ir para rua e mudar não só o presidente do Banco Central, mas tirar a sua autonomia.
É difícil politicamente, sim, especialmente com esse Congresso. Mesmo o Arthur Lira dizendo que a quebra da autonomia não passa é importante pôr isso na pauta e convocar a população para ir para rua.
Se ficar dependendo somente de negociações de bastidores, para cada projeto que precisa ser aprovado ceder ministérios e emendas, não se muda a correlação de forças e o governo vai ter que ir cedendo cada vez mais, pois o apetite do Centrão é insaciável.
Em momentos como esse, quando há quase unanimidade em torno da queda da taxa de juros é importante mobilizar a população e mudar a correlação de forças.
Para isso precisa politizar essa discussão e retirá-la do círculo de giz tecnocrático no qual foi colocada por Roberto Campos Neto.
*Fernando Netto Safatle é economista. Foi secretário do Planejamento de Goiás, no governo de Henrique Santillo (1986-1990). Autor, entre outros livros, de A economia política do etanol (Alameda).
Leia também:
Roberto Amaral: Lula e o poder dos derrotados
Vídeo: Bem-vinda a meta contínua de inflação a partir de 2025, afirma Paulo Nogueira Batista Jr
Comentários
Zé Maria
Observe-se que a Inflação (IPCA) acumulada
no Primeiro Semestre de 2023 foi de 2,87%
e está caindo, isto é, está havendo Deflação.
Em Junho/2023 o Índice foi Negativo (-0,08%).
https://www.ibge.gov.br/indicadores.html?view=default
Zé Maria
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Se em Agosto o Banco Central baixar os Juros de 13,75% para 12%,
ainda assim o braZil ficaria com a Taxa Real mais Alta do Mundo.
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https://br.investing.com/central-banks/
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Zé Maria
“Ciclo de cortes dos juros vai começar
e espaço para isso é considerável”,
diz Fernando Haddad
“Em entrevista exclusiva ao Jornalista Luis Nassif na TV GGN,
Ministro da Fazenda afirma que quadro permite harmonizar
política monetária e fiscal para crescimento sustentável”
[ Reportagem: Tatiane Correia | Jornal GGN | 30/7/2023 ]
Haddad cita um exercício feito em entrevista recente onde explicou que,
se o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) cortasse
os juros em 0,5% a cada reunião, ao final da décima [reunião] o país
ainda estaria acima do juro neutro.
“(Esse exercício foi feito) Para demonstrar para a sociedade
o espaço que nós temos de corte porque, sempre que você
estiver acima do juro neutro, você vai estar em uma posição
de restrição da economia”, explica o ministro.
“Então, imagine agora:
se (a taxa Selic) cair de 13,75% para 13,25%, [redução de somente 0,5%,]
o que isso vai significar, em termos de atividade econômica, é uma
sinalização apenas, mas na prática é muito pouco”, diz Haddad.
“Penso que o ciclo de cortes vai começar e que o espaço que existe
é bastante considerável, uma vez que a inflação desse ano está afetada
pela reoneração dos combustíveis que o próprio BC reconheceu como
um fator que distorcia a inflação do ano passado, reduzida artificialmente
e eleitoralmente para reverter o quadro desfavorável que o Bolsonaro
enfrentava contra o Lula”, lembra o ministro.
Por isso, Haddad diz que a situação atual permite que se tenha condições
de harmonizar a política monetária com a política fiscal de uma maneira
“muito interessante para abrir o ciclo de crescimento sustentável do país”.
Impacto nos Investimentos
Haddad lembra que o corte da taxa básica de juros dialoga diretamente
com a chamada curva de juros futuros, o que começa a afetar os investimentos
de forma mais rápida do que a taxa usada no crediário para concessão
de crédito.
Segundo o ministro, normalmente quem planeja investimentos capta
recursos para gastar no futuro.
“Ele faz uma contratação que leva em consideração o juro futuro –
então quando você começa um ciclo de corte você começa a ter
impacto no investimento”.
Eventualmente, as grandes empresas podem ter acesso a um mercado
de crédito mais barato, e vir a repassar isso para o seu crediário embora
o impacto no consumo seja menor.
“Você tem toda uma cadeia de transmissão que (o corte dos juros) começa
a surtir efeito”, fiz Haddad.
“Não é uma coisa nem imediata, e nem é uma coisa que em um mês
com 0,25%, 0,75% vai ser muito relevante, mas essa sinalização
é muito importante para que os agentes econômicos comecem
a se reposicionar em relação ao mercado interno”.
Saiba mais a respeito do assunto na íntegra da entrevista de Luis Nassif
com o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que pode ser acompanhada no vídeo a seguir: (https://youtu.be/cxpuTq4L_3c).
https://jornalggn.com.br/economia/ciclo-de-cortes-vai-comecar-diz-haddad-sobre-juros/
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