Equador: No último comício, Luisa conclama o povo a derrotar nas urnas o ‘Rambo’ imitador de Lasso

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Multidão saúda chegada de Luiza González ao palanque no bairro Cristo de Consuelo, em Guayaquil. Foto: Los Panas de Luisa&Andrés

Em Guayaquil, Luisa conclama povo a derrotar nas urnas o Rambo “imitador de Lasso”

“A insegurança será combatida com desenvolvimento e emprego digno”, afirmou a líder oposicionista, no comício final da campanha, condenando o clima de “terror e medo instalado pelos que destroçaram o Estado”

Caio Teixeira, Leonardo Wexell Severo e Monica Fonseca, direto de Guayaquil/Comunicasul 

“Eles querem nos encher de terror e medo, nos encher de tristeza e dor. Mas nós reagimos com mobilização e firmeza. Reagimos com força, dizendo não. O Equador se levanta com fé, esperança e dignidade, porque a Revolução Cidadã está chegando para trazer desenvolvimento e emprego digno”, afirmou Luisa González, candidata oposicionista que lidera todas as pesquisas de intenção de voto às eleições presidenciais do próximo domingo (20).

Com 2,7 milhões de habitantes, Guayaquil, maior cidade do país, é a capital da província de Guayas, 4,5 milhões de habitantes, e foi a escolhida para o encerramento da campanha do movimento Revolução Cidadã (RC).

Em fevereiro – após 30 anos de administrações reacionárias -, a cidade elegeu Aquiles Álvares à prefeitura. Marcela Aguiñaga, presidente do RC, foi eleita ao governo estadual (2023-2027).

De forma irônica, Luisa condenou o candidato Jan Topic, “por sair por aí falando de segurança, como um Rambo muito valente, atrás de um celular”. “Porém jamais esteve junto com o povo, com as pessoas, pois não se atreve. Que valentia é essa?”, questionou.

Na verdade, esclareceu a oposicionista, é que o sujeito “é dono de empresas de segurança, que vende armas e não paga impostos”.

“Uma imitação de Guillermo Lasso, o caprichoso que quis chegar ao palácio presidencial de Carondelet para fazer o que fez”, repudiou.

Andrés Arauz dançando com a governadora de Guayas, Marcela Aguiñaga. Foto: LWS/ComunicaSul

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Voltando a citar a folha corrida de Topic, que propõe utilizar os recursos das multas de trânsito para financiar a reestruturação da Polícia, Luisa lembrou que é dele a empresa proprietária e gerenciadora dos radares no país. “Agora quer ir à presidência para continuar fazendo negócios com o Estado e levar o dinheiro do povo equatoriano. Nos acusam de corruptos, mas sempre foram eles”, acrescentou.

A líder oposicionista disse que “somos um movimento de princípios e valores, que olha as pessoas nos olhos e faz o que promete, diferente dos demais partidos que são siglas de aluguel”.

“Partidos onde uma pessoa aparece com um talão de cheques e diz: bom, me falta este capricho e quero ser candidato. E passa a fazer parte da sigla a qual nunca pertenceu, na qual nunca militou, que ninguém conhece”, frisou.

Conforme apontou a candidata, esta é a cara destes senhores que aí estão.

“Quando os viram caminhando com vocês, com nossos irmãos agricultores, pescadores artesanais ou comerciantes? Contra os comerciantes sim, para reprimir quando queriam dar de comer a suas famílias e não tinham como. Mas nós, da Revolução Cidadã, fizemos uma Lei dos Comerciantes Autônomos, para protegê-los e evitar que continuem a ser maltratados”.

Defendendo uma ação presente do Estado, Luisa atacou os que deixaram o povo equatoriano morrer sem médico, em plena pandemia.

“Não víamos isso desde a Segunda Guerra Mundial. Valas comuns na querida Guayaquil. Hoje há pessoas que choram porque ainda não conseguiram encontrar ou sequer saber onde está o corpo de seus filhos, de seus pais, de seus irmãos, de seus entes queridos. Já sentimos dor pela perda, pelo menos queremos orar no túmulo. São governos que somente significaram morte. E todos os demais candidatos silenciaram quando preferiram o pagamento de dívidas”, protestou.

O que está em jogo nestas eleições é o futuro do Equador, reiterou Luisa, a continuidade de um processo de desenvolvimento “com fortalecimento da política pública, que se faz desde abaixo”, ou o desmantelamento dos serviços essenciais, com o “silêncio dos que querem tomar o Estado para fazer seus negócios e nos deixar sem nada”.

“NESSES DOIS ANOS QUEM LUCROU FORAM OS BANQUEIROS”

Candidato a vice-presidente, o economista Andrés Arauz deixou claro que o plano de Lasso era “destruir o nosso país, porque os únicos que lucraram nesses dois anos foram os banqueiros, enquanto o resto da nossa Pátria está falida. Temos nossos irmãos morrendo aos milhares e centenas de milhares de patriotas migrando”.

“Estamos a poucos dias de fazer História e de ganhar no primeiro turno”, afirmou Aquiles Álvarez, prefeito de Guayaquil Foto: LWS/ComunicaSul

Mais do que tudo, defendeu Arauz, “temos que lembrar ao falarmos com esses últimos vacilantes, com os que ainda estão confusos e mudando de orientação toda vez que assistem um videozinho”.

“Falem com eles para que votem com consciência, que recorram à sua memória. Porque para votar em Luisa não temos que oferecer fantasia, mas o trabalho que faremos, e já”, disse o ex-ministro de Rafael Correa.

Andrés salientou que é o compromisso com a melhoria das condições de vida da população “o que nos motiva a estar aqui e assumir estes enormes desafios e liderar a nossa bela Pátria”.

“E recordo sempre que o amor vencerá o ódio e nós estamos aqui por amor”, frisou.

“GUAYAQUIL, GUAYAS E TODO O EQUADOR QUER MUDANÇAS”

O prefeito Aquiles Álvarez agradeceu os manifestantes pela fraternal acolhida e asseverou que “Guayaquil, Guayas e todo o Equador quer a Revolução Cidadã, quer mudanças, é isso que assumimos e temos feito sem parar. Como disse Luisa, sabemos fazer, e já estamos fazendo”.

“Luisa não está só, estamos fazendo a diferença nas prefeituras mais importantes e agora vamos fazer pelo país. E faremos com todo o carinho do mundo, ao contrário daqueles que nos atacam com seu discurso de ódio pelas redes sociais. Eles não se dão conta que nas redes estão 3% e que o povo está conosco, nas ruas e nas urnas. Estamos a poucos dias de fazer História e de ganhar no primeiro turno”, encerrou o prefeito, saudado pelos manifestantes com a palavra de ordem: “una sola vuelta”.

A governadora Marcela Aguiñaga, ex-ministra do Meio Ambiente (2007-2012) de Rafael Correa e presidenta do Movimento Revolução Cidadã, enumerou os retrocessos trazidos pelos governos neoliberais.

“Perdemos tudo companheiros, perdemos saúde, educação, segurança e em todas as áreas. E nossa candidata está absolutamente preparada, nada de improvisação. Luisa sabe o que fazer, é uma pessoa íntegra, leal, que sabe de onde veio e o que deve à sua gente, reconhecendo quais os princípios que devem conduzir nosso trabalho. Nestes tempos duros, temos que retomar a esperança, voltar a sonhar e pensar que o Equador pode ser diferente”, frisou.

Juventude marcou presença no ato. Foto: MFS/ComunicaSul

Marcela propõe que o Equador deixe de ser “o país do sangue e da desolação, do abandono e da miséria, que não merecemos”.

Por isso, convocou os presentes para que, “no próximo domingo, todos se levantem cedo, chamem sua família, conversem com o vizinho e votem com consciência e profundo carinho por sua terra”. “Uma mulher vai nos devolver o Equador da dignidade, da soberania, do emprego, onde não haja vontade de migrar, para que a dor e a desolação se acabe”.

Aclamado entusiasticamente pelo público presente, o ex-presidente Rafael Correa, perseguido político e exilado na Bélgica, via internet, apontou que a vitória está próxima, mas que depende muito de cada um nestes dias.

“Vamos trabalhar até o último momento, como se não tivéssemos um único voto. O seu trabalho como militantes, como apoiadores, é convencer uma pessoa indecisa ou enganada para que vote com certeza”, declarou Correa, recordando: “Nós já fizemos isso antes!”.

MÍDIA MANIPULA OU SILENCIA SOBRE LUISA GONZÁLEZ

Sob um silêncio sepulcral em relação à candidatura do Revolução Cidadã, a mídia informou que Christian Zurita, substituto de Fernando Villavicencio, o candidato recentemente assassinado, “ofereceu-se para cumprir os planos e objetivos ‘sem vingança, mas com determinação”, enquanto destacou também o show de encerramento de campanha de Otto Sonnenholzner, defensor do neocolonialismo e representante da Associação Equatoriana de Radiodifusão.

No mesma quarta-feira, na cidade de Duram, Estado de Guayas, ocorreu uma troca de tiros próxima à caravana da campanha de Daniel Noboa, filho do megaempresário do setor bananeiro Álvaro Noboa – que foi cinco vezes candidato à presidência.

Daniel usava colete à prova de balas, como em todas as suas atividades, inclusive no debate presidencial exibido pela Equador TV em que se portou como um almofadinha a serviço de Topic.

Em nota oficial, a Polícia Nacional e o Ministério do Interior descartaram que o tiroteio estivesse vinculado à atividade de campanha de Daniel Noboa. Não há registro de feridos.

A partir desta sexta-feira está proibida a campanha eleitoral pelos candidatos. Agora, só fala a grande mídia.

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A Agência ComunicaSul está cobrindo as eleições presidenciais e à Assembleia Nacional do Equador graças ao apoio das seguintes entidades: jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR); Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (AASPTJ-SP), Federação dos/as Trabalhadores/as em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-PR), Sindicatos dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema-SP) e de Santa Catarina (Sintaema-SC), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Estado do Paraná (Sintrapav-PR), Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste-Centro), Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc-SC); Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (Sinjusc-SC), Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal em Pernambuco (Sintrajuf-PE), mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS) e dezenas de contribuições individuais.

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Comentários

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Antonio Sergio Neves de Azevedo

Não é só no Equador que os ventos do neoliberalismo retrógrado querem varrer diretos fundamentais da população, no Brasil atual o cenário é de desmonte e privatização das empresas públicas praticado por governos entreguistas como é o caso da Corsan no Rio Grande do Sul, da Copel e da Sanepar no Paraná, da CEDAE no Rio de Janeiro, da Sabesp em São Paulo, da CEMIG e da COPASA em Minas Gerais e da Eletrobras com a intenção clara nonsense de colocar em prática o neoliberalismo jurássico que enxerga no rentismo predatório o suporte necessário e ideológico para rezar a cartilha do estado mínimo em prejuízo grosseiro, econômico e social que infelizmente prejudicará milhões de brasileiros com aumento tarifário e péssimas condições de serviços ofertados para a população, vide o recente caso de apagão em todo o território nacional com prejuízos incalculáveis para os municípios, estados e para a própria administração federal, é uma sandice. Ora, no caso da água e esgotamento sanitário é sabido que faltam soluções para os graves conflitos e indefinições que circundam o setor brasileiro, como o manejo dos resíduos sólidos urbanos; a conservação dos mananciais; das águas pluviais urbanas; dos serviços de saneamento nas caóticas regiões metropolitanas; da ampliação dos sistemas de tratamento de água e coleta de esgoto sanitário, etc. Detalhe: todas essas questões não serão resolvidas exterminando as companhias estaduais de saneamento elas atendem mais de 70% da população em substituição à simples privatização do setor. No caso das empresas públicas de eletricidade, não há argumento que resista, todas elas superavitárias e no caso da Copel do Paraná era uma das melhores do Brasil. Somados a isso, atualmente em vários países como França, Portugal e Alemanha os serviços antes privatizados de água e eletricidade foram reestatizados. Dessa forma, mais uma vez os governos jogam contra os interesses da população que terá que arcar com os prejuízos do desmonte e nefastos apagões que serão cada vez mais frequentes e sucessivos. Assim, é um direito da opinião pública se mobilizar e exigir que os seus interesses sejam resguardados, já que partindo de governos entreguistas, companheiros do rentismo neoliberal chucro e insano que aí está, não dá pra esperar coisa boa. De outra forma, corremos o risco de entrar para a história não como o país do apagão, mas como povo apagado ou no entreveiro das redes sociais: um povo cancelado.

ANTÔNIO SÉRGIO NEVES DE AZEVEDO (estudante) – Curitiba

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