Eduardo Diniz: Sobre a greve dos bancários

Tempo de leitura: 3 min

A negociação sempre é bem vinda

Banqueiros e Bancários revertam R$ 14 bilhões para a sociedade em 8 anos

por Eduardo Baltazar Diniz*

Em algumas culturas não existe compra e venda sem negociação. Nos países do oriente,  em algumas lojas, o cliente tem que passar alguns minutos no ritual salutar da negociação. Muitas vezes, o vendedor oferece um chá, e ao final, se despedem como grandes amigos.

Para banqueiros e bancários parece que a negociação coletiva tem o mesmo comportamento dos lojistas do oriente.

Já virou rotina: entra ano sai ano, em setembro é greve de bancário. A imprensa noticia o fato e aponta as dificuldades geradas à sociedade. Apesar dos facilitadores de atendimento, nem todo mundo tem facilidade em acessar terminal eletrônico e internet. Também existem operações que o cliente não consegue fazer nestes conhecidos canais de atendimento.

Mas o motivo deste breve relato sobre greve dos bancários é outro. O questionamento é: a greve trouxe benefício para a sociedade capixaba?  A resposta é sim e será demonstrado a seguir.

De 2003 até 2010 houveram oito negociações coletivas. A negociação é simples, os bancários solicitam um índice e os banqueiros oferecem outro. Depois de alguns dias chegam ao consenso e o Acordo Coletivo é fechado entre as partes.  Vamos ver agora como foi o comportamento destas negociações.

Em setembro de 2003 os bancos ofereceram na primeira rodada de negociação 9,00% e fechou o Acordo com 12,6% mais R$ 1.500 de abono. Em 2004 iniciou com 6,00% e fechou com 8,5% mais R$ 1.100 de abono. Em 2005 iniciou com 4,00% e fechou com 6,00% mais abono de R$ 1.700. Em 2006 foi 2,00% no início e assinou o Acordo com 3,5%; em 2007 iniciou com 4,82% e fechou com 6,00%; 2008 foi 7,50% no inicio e fechou com índices variados entre 8,15% e 10%, de acordo com a faixa salarial. Em 2009 os bancos ofereceram 4,5% e chegou a 6,00%; 2010 foi 4,29% no início e 7,50% na assinatura do acordo.  Agora em 2011, iniciou  com 7,8%, ofereceu 8,00% e os bancários estão em greve, mais uma vez.

Em uma leitura rápida o raciocínio mais lógico seria que a variação entre a primeira oferta e o Acordo fechado é muito  pequena, e que  não vale a pena o desgaste de uma greve aos empregados dos bancos e à sociedade.

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Acontece que índices pequenos aplicados em grandes montantes podem gerar grandes transformações.

Em agosto de 2003 o salário médio de um bancário era de R$ 1.714,00, segundo dados das demissões do CAGED. Reajustando este salário com 9,0% oferecido na primeira rodada de negociação, o salário subiria para R$ 1.868,26. Com o índice do acordo fechado subiu para R$ 1.929,96. A diferença foi de R$ 61,70, mais um único abono de R$ 1.500.  Mais uma vez parece que são pequenas diferenças para tanta discussão, greve e eventuais tumultos.

Ocorre que se for aplicado o índice de poupança de setembro de 2003 até setembro de 2011 às estas pequenas diferenças, chega-se ao valor de R$ 36.537,63 por empregado. Ou seja, se o funcionário tivesse aceito todas as primeiras ofertas, teria menos R$ 36 mil em 2011.

Agora o espanto. Neste período, em média, o número de bancários oscilou na faixa  de 7.000 empregados no Espírito Santo. Então agora multiplique 7.000 empregados por R$ 36.537,63. O resultado será de R$ 255.763.375,47 . É isso mesmo, R$ 255 milhões. No Brasil a média de bancários no período ficou na faixa de 400.000, que multiplicado por R$ 36.537,63 chega ao número enorme de R$ 14.615.050.026,85. Isto mesmo são 14,6 bilhões de reais.

E será que este valor está parado em aplicações financeiras? Certamente não. Considerando que o rendimento médio de um bancário em dezembro de 2010 era de R$ 2.187,86, segundo dados  do CAGED, os 255 milhões de reais no Espírito Santo, ou os 14 bilhões de reais no Brasil, foram devidamente distribuídos aos fornecedores de alimentos, saúde, educação, vestuário, serviços e todas outras necessidades de uma família de classe média/baixa.

E que aqui no Brasil, como na loja do oriente, banqueiros e bancários saiam abraçados para o decorrer da vida.

* Eduardo Baltazar Diniz, é bancário desde 1984, pós-graduado em Gestão de Pessoas pela UFES.

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Comentários

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marcio gaúcho

Como ninguém faz fortuna sozinho, sem ajuda de outras pessoas, assim também ocorre com os banqueiros, sejam privados ou estatais, que dependem dos seus empregados, fornecedores e, principalmente, clientes para o negócio dar certo. Os serviços bancários estão cada vez mais caros, reajustados muito acima da inflação e perdendo qualidade no atendimento. Os bancários são o agente intermediário entre os atores do negócio financeiro. Então, por quê os banqueiros insistem em nos levar à greve todo o santo ano, em prejuízo da clientela? Resposta: não estão nem aí para a clientela, mamada e superdependente dos " favores" bancários. Com greve ou sem greve, sempre clientes… Aproveitam as greves para forçar com que os clientes aprendam a se autoatender nas máquinas ou via internet – sai de graça e na marra. Aos bancários resta o vexame de ter de ir anualmente à greve para fazer um pouco de justiça salarial. E são vítimas do preconceito da população, assim como os funcionários dos correios, aeroviários e outras tantas categorias que também sofrem para fazer justiça na remuneração equitativa e justa pelo trabalho prestado.

    Carlos Cruz

    Não esquecer que o governo do PT, da administração petista do BB, CEF, BNB, trata seus empregados e clientes igual ou pior que os privados. Há uma política escancarada de expulsão dos pobres, verdadeiros donos das empresas, de dentro dos bancos públicos. Aos empregados são impostas metas inatingiveis, perseguições por lucro cada dia maiores. E no governo "do trabalhador" demagogia total! Mas na hora das eleições e votos TODOS aparecem de dentes escancarados, tapinhas nas costas. CUT, CONTRAF e seus sindicatos são culpados por terem se calados por tanto tempo. Agora aguenta!

Roberto Locatelli

É essa a verdade simples que as elites não aceitam: para existirem, essas elites dependem de que haja milhões e milhões de consumidores. Portanto, não é só uma questão de dar dignidade aos trabalhadores. É uma questão de crescimento econômico.

O deus-mercado, e seu representante na Terra, o FMI, querem resolver a crise na Europa cortando investimentos públicos, reduzindo salários do funcionalismo público e reduzindo impostos para os muito ricos. Com isso, jogam a população no desemprego, e o consumo se reduz drasticamente. Resultado: mais empresas fecham, mais desemprego, mais recessão, num círculo vicioso. Da última vez que o deus-mercado fez isso, tivemos duas guerras mundiais.

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