do professor Caio N. Toledo, um dos editores do blog marxismo21, via e-mail
“O blog marxismo21, criado por docentes de várias universidades brasileiras, é um banco de dados e informações sobre a produção marxista disponível na web. Sob uma perspectiva pluralista, não-dogmática e democrática, o blog divulga artigos, livros, trabalhos acadêmicos (dissertações e teses), eventos, sites etc. de todas as correntes de esquerda existentes no país.
Paralelamente, a este projeto editorial, marxismo21 organiza periodicamente dossiês sobre o pensamento de autores clássicos do pensamento socialista brasileiro e debates sobre questões relevantes da teoria marxista. Exemplos disso são os dossiês sobre Astrojildo Pereira, Caio Prado Jr., Nelson Werneck Sodré, Florestan Fernandes etc. além de debates sobre a teoria do imperialismo, das classes sociais, marxismo & direito, marxismo& feminismo etc.
Nesta última direção é que o blog publica um extenso e qualificado dossiê sobre os “50 anos do golpe de 1964” e a ditadura militar. Constam dessa edição, artigos, livros, trabalhos acadêmicos, filmes & vídeos, notícias sobre eventos etc. que debatem um evento chave na história do Brasil recente. Nas palavras do organizador, o golpe de 1964 “foi um marco não só para o início de uma ditadura que durou mais de duas décadas. Foi também a condensação de uma relação de forças que produziu estruturas ainda presentes na sociedade brasileira em 2014”.
Abaixo, a apresentação do dossiê 50 anos do golpe de 1964, organizado pelo professor Demian Bezerra de Melo.
A compilação que compõe este dossiê envolve trabalhos acadêmicos, artigos, uma lista de filmes e vídeos, portais, dicas de eventos acadêmicos, exposições e outros materiais importantes para um aprofundamento da reflexão crítica sobre os 50 anos do golpe de 1964. Evento chave na história do Brasil recente, o golpe de 1964 foi um marco não só para o início de uma ditadura que durou mais de duas décadas. Foi também a condensação de uma relação de forças que produziu estruturas ainda presentes na sociedade brasileira em 2014. Uma análise crítica daquele período não pode perder de vista que a ditadura militar produziu o aprofundamento de certo padrão de acumulação capitalista e, em termos gramscianos, promoveu um processo de ocidentalização do país, o que certamente não pode ser apreendido adequadamente a partir de uma leitura apologética. Impérios econômicos foram forjados nas mais de duas décadas de regime ditatorial, sob a base de uma brutal exploração dos trabalhadores brasileiros.
Como será possível perceber, neste dossiê não selecionamos apenas materiais tributários da tradição marxista, mas também oriundos de outros registros teóricos e incluindo algo que podemos (sem preconceito) caracterizar como anti-marxista. Sobre isso destacamos a primeira sessão “Balanços e controvérsias historiográficas” que oferece um panorama do estado da arte sobre as principais temáticas relacionadas ao golpe e a ditadura, adentrando na controvérsia em torno da qual os marxistas têm caracterizado criticamente certa historiografia como revisionista. Nesse ponto cabe um breve esclarecimento.
Em primeiro lugar, cabe lembrar que, no âmbito da história do próprio marxismo como tradição teórica ligada ao movimento operário, o termo revisionismo tem uma acepção negativa. Contudo, na historiografia, nem sempre esteve associado a um sentido pejorativo, tendo sido os próprios marxistas que produziram proposições revisionistas em várias temáticas contemporâneas, renovando a leitura estabelecida sobre o passado. O debate sobre a Revolução Inglesa, como se sabe, teve num marxista como Christopher Hill um importante renovador, assim como a nova história social do trabalho de Eric Hobsbawm e Edward P. Thompson operou um notável enriquecimento das pesquisas e do conhecimento sobre o mundo do trabalho. Entre os anos 1950 e 1970 eram estes ingleses a quem se poderia referir como revisionistas, e nesse caso não existe qualquer conotação negativa no termo. Todavia, evidentemente, não são positivas revisões baseadas em premissas frágeis, visões apologéticas ou eticamente insustentáveis, como é o caso notório dos Negacionistasdo Holocausto.
O questionamento de visões estabelecidas é uma operação imanente ao estudo sobre o passado, pois à medida que o próprio processo histórico se desenvolve, homens e mulheres levantam novas questões e problemáticas, e não poderia ser diferente no caso da historiografia meio século depois do golpe de 1964. Os críticos de tal historiografia revisionista sobre o golpe e da ditadura – entre os quais o organizador deste dossiê – consideram que tal operação tem caminhado no sentido da normalização daquele passado. Nesse sentido, como forma de permitir ao leitor verificar a pertinência desta crítica, uma parte significativa das abordagens revisionistas, pelo menos uma boa amostragem delas, também estão presentes neste dossiê.
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Para além dessa controvérsia, o volume das pesquisas que tem se desenvolvido nos últimos anos está bem representado nas partes subsequentes do dossiê. Militares, empresários, trabalhadores, IPES, ingerência estadunidense, Doutrina de Segurança Nacional, participação da ditadura brasileira em outras ditaduras do Cone Sul, luta armada e resistência, a produção artística, a censura (ou censuras, política e de costumes), tortura etc. são uns tantos temas que têm sido visitados por diversos campos do conhecimento nas últimas décadas, e nesse sentido o dossiê apensa também contribuições que transcendem formalmente as fronteiras disciplinares da História. Além disso, uma série de produções cinematográficas tem marcado o processo de construção de uma memória social sobre o golpe e a ditadura, e nesse sentido nossa seleção pôde dispor de boa parte da produção recente disponível na Internet. Existe também uma seleção sumária de obras clássicas e documentos emblemáticos da história de parte das organizações marxistas que atuaram naquele contexto, fontes já conhecidas, mas pouco visitadas nos últimos anos. Boa leitura!
Para acessar o dossiê, clique aqui.
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Comentários
Marcio Ramos
… teorias são outras realidades, eu curto, obrigado pelo trabalho!
Mauro Assis
O marxismo é legal, só que onde ele é implantado morre muita gente.
marco
A sensação que me passa esse blog,é que esta no ar,por puro diletantismo.Os internautas que tentam acessa-lo,ao diabo com eles,afinal,somos auto suficientes.Infelizmente sempre que tento comentar as matérias,simplesmente não as publicam,e vejam que não estou procurando notoriedade e sim,comentar suas publicações.Este comentário,o último que faço,destina-se aos internautas anônimos,como eu,e que querem continuar anônimos,senão teriam seu próprio blog,para que examinem meus arrazoados.Desejo contudo,sucesso aos seus PROPRIETÁRIOS.
Conceição Lemes
Marco, os comentários não aprovados imediatamente, pois nós temos de dormir também. sds
marco
Não entendi o por que de não publicarem meu comentário!
Conceição Lemes
O seu comentário foi liberado agora cedo, junto com os demais.Aqui, a publicação não é automática. Nós os lemos. sds
marco
Quero expressar ao professor Caio,autor da matéria,minha preocupação leiga ao respeito do marxismo,que consiste na reiterada confusão que se faz,quase que sem exceções,ao que o cientista Karl Marx e seus mais próximos seguidores,expuseram ao longo de suas vidas,e que serve para a exploração dos que se opõe às suas teses,que consiste na confusão que se faz,seguidamente com o intuito de confundir,na diferença que existe entre REGIME e SISTEMA.Não é incomum constatarmos amiúde a utilização por parte dos ideólogos de direita,em tentar confundir à compreensão das teses expostas por aqueles pensadores,de que somente o SOCIALISMO,regime de poder,poderá levar os homens à sua libertação e desaguar,ai sim,no comunismo.Então,não é incomum ouvirmos e lermos nas teses dos defensores da sociedade de classes,o argumento de que o regime comunista fracassou na URSS,quando na realidade que ocorreu,foi tão somente teses economicistas de traidores da revolução,os REVISIONISTAS,que malograram os intentos da revolução de l917.Até por que,o socialismo não passa e não passará,de uma sociedade de classes,onde somente a propriedade privada é extinta.Sei que o professor sabe bem do que estou expondo,contudo a confusão permanece no seio da sociedade em geral,em virtude da capacidade dos doutrinadores habituais,e na ausência do contraditório.Para concluir,sempre que defendo tais teses,e contradizem-na,como utópicas,defendo que maior utopia,é acreditar-se que após a morte,todos iremos para o céu!Saudações…
Mário SF Alves
Excelente iniciativa. Bravo! Mas não nos esqueçamos: na prática a teoria é outra.
É inegável a importância da teoria no modo de fazer e no direcionamento da ação. No entanto nenhum teórico anteviu o esfacelamento da ex-U.R.S.S., e menos ainda, que um dos maiores eventos políticos do planeta, ocorreria sem uma única morte, sem um único disparo de arma de fogo. Nenhum teórico previu que Gandhi, que jamais se afastou ou manipulou o povo, libertaria, de forma não violenta, a Índia do poderoso Império Britânico. E ele, decerto, jamais ignorou as conclusões de Marx.
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