Desvendando o papel dos EUA na escalada do conflito e no genocídio em Gaza

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A fumaça se espalha após ataques aéreos israelenses na cidade de Adaisseh, no Líbano, 5 de outubro de 2024. Foto: Taher Abu Hamdan/Xinhua

Desvendando o papel dos EUA no genocídio em Gaza

Desde o início do conflito, os Estados Unidos exerceram seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU quatro vezes, rejeitando um cessar-fogo imediato

Por Xinhua News, Cairo, no site da Federação Árabe Palestina do Brasil (negritos são da Fepal)

Os Estados Unidos frequentemente empregam manobras políticas para ganhar crédito por seu papel no cenário geopolítico do Oriente Médio.

Em julho de 2022, antes de uma visita à região, o presidente dos EUA, Joe Biden, orgulhosamente afirmou em um artigo de opinião do Washington Post que “o Oriente Médio que visitarei é mais estável e seguro do que aquele que meu governo herdou há 18 meses”, atribuindo um Oriente Médio mais estável a “um papel de liderança vital” desempenhado pelos Estados Unidos.

Em outubro de 2023, apenas uma semana antes do último surto de conflito entre o Hamas e Israel, o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, declarou, em um artigo intitulado “The Sources of American Power” na revista Foreign Affairs, que o Oriente Médio “está mais silencioso do que esteve por décadas”.

No entanto, com as reivindicações de crédito também vem o fardo da responsabilidade.

Em face do conflito em curso em Gaza, que ultrapassou um ano e está empurrando o Oriente Médio para a beira de uma guerra em larga escala, é crucial examinar o papel e as responsabilidades que os Estados Unidos têm na deterioração desta situação.

Analistas argumentam que os Estados Unidos desempenharam um papel significativo e insubstituível na continuação e escalada das hostilidades.

Isso é evidenciado pelo uso repetido de seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para bloquear resoluções pedindo cessar-fogo em Gaza.

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Além disso, o fornecimento contínuo de armas a Israel pelos Estados Unidos contribuiu ainda mais para a intensificação do conflito.

Palestinos são vistos em uma rua entre prédios destruídos por ataques israelenses na cidade de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, em 6 de outubro de 2024. Foto: Mahmoud Zaki/Xinhua

Escalando o conflito

Ao longo do ano do conflito prolongado em Gaza, os Estados Unidos expressaram consistentemente sua determinação em impedir a escalada do conflito em todo o Oriente Médio.

Apenas quatro dias após o início das hostilidades entre o Hamas e Israel em 7 de outubro de 2023, o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, embarcou em uma viagem urgente ao Oriente Médio com o propósito declarado de “ajudar a impedir que o conflito se espalhe”.

Nos meses seguintes, Blinken fez nove visitas adicionais à região.

Além disso, o presidente dos EUA, juntamente com outros altos funcionários, como o Secretário de Defesa e o Diretor da CIA, também fizeram visitas frequentes à região ao longo do ano, todos com intenções e objetivos semelhantes.

Apesar das visitas frequentes de autoridades dos EUA e sua determinação declarada de conter o conflito, o conflito de Gaza persiste, com o número de mortos superando constantemente o de guerras anteriores no Oriente Médio.

Isso ressalta uma crise cada vez mais profunda que se tornou uma das revoltas mais significativas na região nas últimas décadas.

O conflito de Gaza já resultou na perda trágica de mais de 41.800 vidas palestinas, e o número de feridos chegou a impressionantes 96.000.

As Nações Unidas relatam que aproximadamente 90% da população, ou 1,9 milhão de pessoas, na Faixa de Gaza são deslocadas internamente.

Perturbadoramente, muitos indivíduos sofreram deslocamentos repetidos, alguns tendo sido deslocados 10 vezes ou até mais.

Em meio ao sofrimento duradouro enfrentado pela população palestina, as chamas da discórdia também se espalharam por todo o Oriente Médio.

No Líbano, ocorrem confrontos entre tropas israelenses e o Hezbollah, aumentando as tensões na região.

Além disso, Irã e Israel se encontram presos em um perigoso ciclo de vingança.

Além disso, os Houthis no Iêmen, assim como várias facções militantes no Iraque e na Síria, também se envolveram nas crescentes hostilidades com Israel.

“À medida que a violência se intensifica no Oriente Médio, a região está à beira de um conflito armado regional”, disse o Comitê Internacional da Cruz Vermelha no X, alertando sobre uma crise humanitária iminente.

Aparentemente, a determinação dos EUA não reduziu efetivamente a escalada do conflito.

A administração dos EUA está praticando “mentira” quando fala persistentemente sobre a possibilidade de resolver a situação e impedir que o conflito se intensifique, de acordo com Ashraf al-Ajrami, um especialista palestino baseado em Ramallah.

Pessoas lamentam as vítimas mortas em um ataque aéreo israelense durante funeral no campo de refugiados de Tulkarm, no norte da Cisjordânia, 4 de outubro de 2024. Foto: Nidal Eshtayeh/Xinhua

Promessas Vazias

Se alguém confiasse nas declarações da administração dos EUA, pareceria que um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas já seria iminente.

Os Estados Unidos têm defendido ativamente o fim das hostilidades em Gaza desde maio, alegando descaradamente que as partes relevantes estão “mais perto do que nunca” de chegar a um acordo.

No entanto, apesar do compromisso público de mediar um cessar-fogo, as ações tomadas pelos Estados Unidos indicam uma história diferente.

Desde o início do conflito, os Estados Unidos exerceram seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU quatro vezes, rejeitando resoluções relacionadas ao conflito de Gaza e ignorando os apelos da comunidade internacional por um cessar-fogo imediato.

Além disso, os Estados Unidos têm apoiado abertamente as ações militares de Israel contra o Irã e o Líbano.

Osama Hamdan, um porta-voz do Hamas, acusou os Estados Unidos de “simplesmente ganhar tempo para Israel continuar seu genocídio” ao fazer promessas vazias sobre um acordo de cessar-fogo.

Para amenizar o descontentamento internacional em relação à sua suposta conivência com Israel, os Estados Unidos não ignoraram completamente a catástrofe humanitária que se desenrola em Gaza.

Desde que o conflito começou, Washington canalizou centenas de milhões de dólares em ajuda humanitária para a região.

No entanto, essa assistência ainda empalidece em comparação aos impressionantes 8,7 bilhões de dólares em sua ajuda militar fornecida a Israel.

Em meio à implacável barragem de bombas fabricadas pelos EUA, os palestinos deslocados em Gaza são forçados a lutar por escassos pedaços de pão.

O apoio incondicional dos EUA, juntamente com o fracasso de Washington em garantir um cessar-fogo em Gaza, encorajou Israel a declarar uma guerra total aparente e empurrou a região para a beira do abismo, disse Elgindy, um membro sênior do Middle East Institute, um think tank sediado nos EUA.

Imagem dos  EUA destruída

A resposta desanimadora dos Estados Unidos ao conflito entre o Hamas e Israel manchou significativamente sua posição internacional no Oriente Médio.

Uma pesquisa realizada no início deste ano pelo Arab Center Washington D.C. em 16 países do Oriente Médio revelou que 76% dos entrevistados agora veem o papel dos Estados Unidos no mundo árabe de forma mais negativa.

A resolução genuína de conflitos regionais exige que os países, incluindo a Palestina, “gozem de direitos iguais de estado, soberania e segurança”, disse Rami G Khouri, um membro distinto da American University of Beirut, em um artigo no site da Al Jazeera.

“Os Estados Unidos e Israel falam palavras vagas nesse sentido, mas agem de maneiras que impedem a criação de paz séria e promovem conflitos militares eternos“, destacou Khouri.

Khouri foi ecoado por Juan Cole, professor de história na Universidade de Michigan, que disse que a administração dos EUA deixou o governo israelense “desconsiderar completamente o direito internacional quando se trata do tratamento dos palestinos”.

“Para resumir, os ligamentos da influência americana no Oriente Médio estão se dissolvendo diante de nossos olhos”, acrescentou Cole em um artigo de opinião na revista The Nation.

O New York Times foi ainda mais direto em sua avaliação do papel de Washington no conflito de Gaza, afirmando sem rodeios que o impacto dos EUA na resolução da crise foi “zero”.

O artigo criticou ainda mais a política de Biden para o Oriente Médio, afirmando que “um ano após os ataques terroristas de 7 de outubro, a política de Biden para o Oriente Médio parece ser um fracasso prático e moral”.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Leia também

Jair de Souza: Quem dá as cartas na política externa dos Estados Unidos?; vídeo

Marcelo Zero: A indignação totalmente vazia e um tanto cínica de Biden sobre Gaza

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Zé Maria

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“Refutação Teológica da Falácia Denominada Teologia do Domínio”

“Todo submetimento de um povo pela violência e pela guerra
deixa neste um rastro de amargura, de ódio e de desejo de
vingança, que dará origem a reações violentas, a atentados
e a novos conflitos”. (https://www.ihu.unisinos.br/633459)

“Essa compreensão que coloca todos os seres tirados
da mesma origem, do pó da terra, e confiando ao casal
humano a missão de cultivar e guardar, forneceria outro
tipo de fundamento para a convivência entre todos os
seres humanos junto com os demais seres da natureza.
Aqui não existe base nenhuma para o domínio, ao contrário,
o nega em favor de uma convivência harmoniosa entre todos”.

A opinião é de Leonardo Boff, teólogo e escritor, professor
de teologia sistemática com acento em teologia bíblica,
autor de “Virtudes Para Outro Mundo Possível, vol. III”,
“Beber e Comer Juntos e Viver em Paz” (Vozes 2006);
“Oração de São Francisco: Uma Mensagem de Paz
Para o Mundo Atual”(Vozes, 2014), entre outros livros,

Está sendo discutido entre analistas políticos a passagem, no seio de grupos
neopentecostais, em grande parte bolsonaristas, da teologia da prosperidade
para a teologia do domínio.

Estimo que o atual conflito entre o Estado sionista de Israel e a Faixa de Gaza
com características de carnificina e até de genocídio de palestinos tenha
reforçado no Brasil esta passagem.

Sabe-se já há muito tempo que Benjamin Netanyahu é um sionista radical
de extrema-direita que expressou seu projeto de restaurar Israel nas
dimensões que possuía, no seu auge, no tempo de Davi e de Salomão.
Daí seu apoio irrestrito de expulsão e colonização de territórios da
Cisjordânia, de população árabe muçulmana.

A teologia do domínio ou o dominionismo nasceu nos EUA por volta
dos anos 70 num contexto do reconstrucionismo cristão calvinista.

Como é sabido, Calvino no século XVI instaurara em Genebra um governo
religioso [uma Teocracia] extremamente rigoroso e violento até com pena
de morte. Seria um modelo para o mundo todo.

O dominionismo agrupa várias tendências cristãs fundamentalistas, inclusive
integralistas católicos que postulam uma política exclusivamente religiosa,
de base bíblica, a ser aplicada em toda a humanidade com a exclusão de
qualquer outra expressão, tida como falsa e, por isso, sem direito de existir.

É a ideologia totalizadora central para a direita cristã no campo da política
e dos costumes.

Vejamos qual é a base bíblica fundamental que sustenta esta teologia.

Baseia-se no capítulo primeiro do Gênesis.
Na verdade, há duas versões no Gênesis da criação.

Mas é aproveitada apenas a primeira que se refere diretamente ao domínio.

Eis o texto [do Pentateuco Bíblico (Torá Judaica)]:

“Deus disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança para que
domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos
e todos os animais selvagens e todos os répteis que se arrastam sobre
a terra.
Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus os criou, macho
e fêmea os criou.
E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos e multiplicai-vos,
enchei a subjugai a terra, sobre as aves do céu e sobre tudo que vive
se move sobre a terra” (Gênesis 1,26-29).

Esse texto, assim como está, legitima todo tipo de dominação e serviu
aos desenvolvimentistas [capitalistas] de argumento para o seu projeto
de crescimento ilimitado.

Entretanto, ele foi lido de forma fundamentalista e literalista, sem tomar em
conta que entre nós, hoje, e o relato bíblico distam pelo menos 3-4 mil anos.

O sentido das palavras mudam.
Esses grupos não consideram o que elas significavam na época em que foram
escritas há milhares de anos.

Desvendamos seu significado em hebraico.
Veremos que o texto, interpretado hermeneuticamente como deve ser, mostra
a falácia da teologia do domínio.
Ela representa um delírio paranoico, irrealizável na fase do mundo plural e
globalizado no qual nos encontramos.

O texto deve ser interpretado na ótica da afirmação do ser humano criado
“à imagem e semelhança de Deus”.

Com esta expressão, não se quer em hebraico definir o que é o ser humano
(sua natureza); ao contrário, se quer determinar o que ele, operativamente,
deve fazer. Assim como Deus extraiu tudo do nada, deve o ser humano, criado
criador, levar avante o que Deus criou com benevolência:
”Deus viu que tudo era bom” (Gênesis 1,25).
O significado original em hebraico de “imagem e semelhança” (selem e demût)
faz com que o ser humano seja o representante e o lugar tenente do Criador.

As expressões “subjugar” e “dominar” devem ser entendidas, simplesmente,
como ”cultivar e cuidar”.

Mas vamos aos detalhes.

Para “dominar”, usa a palavra hebraica “radash” (Gênesis 1,26) que significa
governar bem como o Criador governa sua criação.
Para ‘subjugar’ emprega em hebraico o termo “kabash” (Gênesis 1,28), que
significa ‘agir como um rei bom’, não dominador, que sabiamente olha para
os seus súditos.
Por isso, o salmo 8 louva a Deus por ter criado o ser humano como rei:

‘Tu o fizeste um pouco inferir a um ser divino, tu o coroaste de glória e honra,
deste-lhe o domínio (kabash)sobre as obras de tuas mãos, tudo submeteste
(radah) a seus pés; as ovelhas e todos os bois e até os animais selvagens, as
aves do céu e os peixes do mar, tudo o que abre caminho pelo mar (Salmo 8,6-9).

Aqui, como no Gênesis 1, não há nada de violência e dominação: há que se agir
como o Criador que age com amor a ponto de Ele dizer no livro de Sabedoria
que “criou todos os seres com amor e nenhum com ódio senão não os haveria
criado… porque Ele é o apaixonado amante da vida” (Sabedoria 1,24.26).
Aqui se esvai a base para qualquer teologia do domínio.

Há a segunda versão do Gênesis (2,4-25) que diverge da primeira, nunca
referida pelos representantes da teologia do domínio.

Nesta segunda, Deus tira todos os seres do pó da terra, também o ser
humano, estabelecendo com isso um laço de profunda irmandade
entre todos.
Criou o homem que vivia em solidão. Deu-lhe, então, uma mulher,
não para procriar, mas para ser sua companheira (Gênesis 2,23).
Colocou-os no Jardim do Éden, não para dominá-lo mas para “cultivá-lo
e guardá-lo” (2,15),usando as palavras hebraicas ‘abad’ para arar-cultivar
e ‘shamar’ para guardar ou cuidar.

Essa compreensão que coloca todos os seres tirados da mesma origem,
do pó da terra, e confiando ao casal humano a missão de cultivar e guardar,
forneceria outro tipo de fundamento para a convivência entre todos os seres
humanos junto com os demais seres da natureza.
Aqui não existe base nenhuma para o domínio, ao contrário, o nega em favor
de uma convivência harmoniosa entre todos.

Essa análise, à base do hebraico, é decisiva para tirar o tapete de uma
interpretação, fora do tempo, fundamentalista, a serviço de um sentido
político, totalitário e excludente de domínio sobre os povos e a Terra, como
sendo o projeto de Deus.
Nada mais distorcido e falso.
Por mais que o fundamentalismo e a orientação de extrema direita em política
esteja crescendo no mundo, esta tendência não oferece as condições
objetivas reais para prevalecer e constituir uma única forma religiosa de
organizar a política da humanidade una e diversa.

Nota
Veja algumas fontes entre tantas:

Aubrey Rose (org.). Judaism and Ecology. N. York, 1992.

Ronald A. Simkins. Criador e criação: a natureza da mundividência do Antigo Israel. Petrópolis: Vozes, 1994 p. 158-160.

James B. Martin-Schramm; Robert L. Stivers. Christian environmental Ethics. N. York, 2003, p. 102-104.

Von Rad. Das erste Buch Mose, Genesis, Göttingen 1967.

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/637315-a-teologia-do-dominio-refutacao-de-uma-falacia-artigo-de-leonardo-boff
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Leia também:

Para Entender a Perigosa “Teologia da Dominação”.

Entrevista com o Historiador João Cezar de Castro Rocha, Professor de Literatura Comparada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Na Agência Pública, via IHU On Line

Reportagem: Andrea DiP, Clarissa Levy & Ricardo Terto.

Segundo Castro Rocha, a teologia do domínio usada nos discursos de Michelle Bolsonaro e Nikolas Ferreira foi desenvolvida nos Estados Unidos
e, recentemente, adotada no Brasil.
Ela é a base da doutrina de várias igrejas [neopentecostais], como a
da Lagoinha.

“Eles não estão brincando, os evangélicos estão de fato partindo para
o momento em que a teologia do domínio tentará chegar ao poder político”, afirma.

Para ele, a democracia corre o risco de se transformar numa distopia teonomista, ou seja, que pretende subordinar toda a vida à religião.

Íntegra:
https://www.ihu.unisinos.br/categorias/637315-a-teologia-do-dominio-refutacao-de-uma-falacia-artigo-de-leonardo-boff
Ouça em:
https://open.spotify.com/episode/7JBYdLB6glJWez6ZwT4MmK?si=j2XVOCRKRk6L_uDhaPCpFQ
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Assista, ainda, no Canal do Jornalista Bob Fernandes:

“Nunes ataca radicalismo e seu vice [bolsonarista
assassino] não sabe dizer quantas pessoas matou”

https://youtu.be/k1SrwV7RU_w
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