Datafolha: Ao contrário do que dizia o próprio Datafolha, prisão não enfraquece Lula, que cresceu 8 pontos desde abril
Tempo de leitura: 2 minDa Redação
Em 5 de abril deste ano, baseada numa pesquisa Datafolha, o diário conservador paulistano decretava: “Prisão enfraquece Lula”.
Era puro wishful thinking. A base? No melhor cenário da pesquisa anterior, de janeiro, o ex-presidente aparecia com 37%. Já em abril, no melhor cenário, tinha 31%.
Não há indício de que a pesquisa tinha a intenção de fazer Lula desistir de registrar sua candidatura ou causar fratura interna no PT.
O fato é que, em 4 meses, o ex-presidente recuperou tudo o que supostamente tinha “perdido” no Datafolha e agora registra 39%, 20 pontos a mais que Jair Bolsonaro.
No cenário sem Lula, Fernando Haddad tem 4%, mas é conhecido por apenas 59% dos eleitores.
A Folha noticia que 48% dos entrevistados não votariam em um candidato indicado pelo ex-presidente, contra 49% que sim ou talvez.
Este número é menor que o de uma recente pesquisa Ibope, que falou em rejeição de 60% ao indicado por Lula.
O PT calcula que com 50% de transferência dos votos hoje garantidos pelo ex-presidente, Fernando Haddad alcançaria o segundo turno.
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No cenário sem Lula, Marina Silva dobra seu percentual e está a seis pontos de Jair Bolsonaro (22% a 16%). Ciro Gomes salta de 5% para 10% e fica na terceira posição.
As primeiras peças de propaganda da campanha do PT trabalham literalmente com a fusão da imagem de Lula e Haddad, que está em campanha no Nordeste.
Comentários
Julio Silveira
E o Haddad só não aparece melhor nas pesquisas por que o PT parece ter uma preferencia doentia pelos tipos mais coxinhas de seu partido, os tipos Dilma.
ADRIANO
A ESQUERDA JÁ PERDEU, INFELIZMENTE
No xadrez das eleições presidenciais, parece que a banca tem jogado com muito mais argúcia que o campo progressista: no debate eleitoral, conseguiram, com uma só tacada, calar tanto Manuela D’Ávila (que vinha demonstrando excelente desenvoltura, a exemplo da entrevista no Roda Viva), quanto o (vice) candidato do PT, impedido de participar. Conseguiram também desidratar o tempo de TV de Ciro Gomes, além de reciclarem com sucesso a velha estratégia do racha na esquerda.
Em outra frente, obliteraram também Paulo Rabello de Castro, personagem, aliás, que merece um capítulo à parte: foi colocado na presidência do BNDES pelo governo Temer, como resposta à grita empresarial à atuação de Maria Silvia Mãos-de-tesoura. Foi um golpe no núcleo duro do austericídio (Henrique Meirelles Bank Boston, Ian Goldfajn Itaú Unibanco e Maria Silvia Goldman Sachs), que a banca não perdoou. Por dessas coincidências que somente o Cabo Daciolo sabe explicar, a delação do Joesley veio antes mesmo de Paulo Rabello tomar posse, afinal de contas, vingança é um prato que se come quente.
Paulo Rabello, tido como ‘liberal’ (talvez confundido com ‘neoliberal’), surpreendeu a todos: já chegou criticando a TLP, defendendo magistralmente o BNDES na entrevista da Jovem Pan e declarando que os juros no Brasil são uma pornografia econômica. Levou um pito presidencial e foi obrigado a desdizer parte do que disse. Logo em seguida, foi inesperadamente picado pela mosca azul e se lançou à corrida presidencial, sem chegar a esquentar a cadeira da presidência do BNDES por um ano. Por conta de articulações que merecem novamente a atenção do Cabo Daciolo, Rabello perdeu o assento no debate presidencial para o candidato Lexotan-‘Moro-é-meu-ministro’.
Em resumo, o debate perdeu três vozes de peso, que poderiam fazer pender definitivamente a atenção dos telespectadores para temas centrais, com viés progressista / desenvolvimentista. Enquanto isso, grande parte da militância petista e da própria imprensa independente permanece em transe com o mantra do ‘Lula livre’. Em que pesem as arbitrariedades flagrantes da Justiça neste caso, o fato é que a atenção dedicada ao tema, neste momento, esvazia a pauta econômica, e a estratégia da banca obviamente é estender esse imbróglio ao máximo. Imagine por um momento que a imprensa independente direcionasse à pauta econômica toda a atenção dada ao caso Lula: a dívida pública, os juros escorchantes, as operações compromissadas, a criação das estatais não-dependentes, a perda de direitos, a PEC 241, a reforma trabalhista, a desnacionalização das indústrias, o saque à nação, a ameaça à soberania… A polarização ideológica seria bem menor e o debate eleitoral teria outro rumo. Já não bastasse a fragmentação da esquerda com as pautas identitárias, que já vem de longa data, a candidatura Lula produziu um novo polo de discórdia, não só entre os segmentos de esquerda, mas catalisando também a extrema direita.
O controle sobre a admissibilidade da candidatura Lula, sob controle do braço jurídico da banca, será também utilizado estrategicamente conforme melhor lhe convier. Se Ciro Gomes ameaçar vir para o segundo turno, não seria impensável que a candidatura de Lula seja aceita. Seria o último recurso para tirar Ciro do páreo, já que até Temer inadvertidamente declarou que “qualquer um, menos Ciro Gomes”.
Ante a ameaça pedetista, o último recurso seria autorizar a candidatura da ‘esquerda que a direita gosta’. De acordo com Nildo Ouriques, Gustavo Castanon, e os próprios Boulos e Ciro, o PT nunca contrariou os interesses do grande capital, nunca implementou nenhuma alteração institucional a não ser a tomada de 3 pinos. Não fez mais que distribuir migalhas do capital numa era em que a demanda chinesa fez explodir os preços das commodities exportadas pelo Brasil. E mesmo essas migalhas fizeram grande diferença na vida de milhões de brasileiros.
A bem da verdade, houve um momento no governo Dilma onde o capital foi contrariado: a Presidente declarara guerra aos juros, forçando a SELIC à menor taxa real da história e realizou histórico pronunciamento em 1º de maio de 2012. Foi o estopim para o início da guerra híbrida (magistralmente analisada pelo blog Cinegnose), que mergulharia o país no transe, produziria no ano seguinte a ‘primavera brasileira’, em 2016, o golpe e, desde então, o caos.
Darcy Brasil Rodrigues da Silva
A transferência de votos para Haddad é uma projeção mediada ainda por uma condicional (“SE Lula transferir 50% para o que indicar como seu substituto, o PT ACREDITA QUE deve ser, talvez, o suficiente para que Haddad se credencie para o 2° turno).Oxalá isso ocorra, já que não temos nenhuma outra opção. Mas, perguntaríamos, contra quem? Os estrategas do PT imaginam que seja Bolsonaro. Alguns consideram ainda uma recuperação de Alckmin. Entretanto, a própria pesquisa sugere uma alternativa para a direita, que seria viabilizada com facilidade se os estrategistas eleitorais do mercado assumirem lançar mão dela: refiro-me à Marina Silva. Bastaria uma injeção de ânimo na campanha de Marina na Internet, uma multiplicação de entrevistas na grande mídia, para que a candidata da Rede, bastante conhecida dos eleitores, que esteve a um passo de ir ao 2° turno em 2014, superasse Bolsonaro, que teria que ser,por sua vez, na mesma proporção, desconstruído pela grande mídia e pelos militantes virtuais da direita nas redes sociais (a superação de Alckmin é a minha pré-condição para o apoio à Marina pela plutocracia financeira, visando livrar-se de Bolsonaro, para derrotar Haddad). Muita àgua vai rolar embaixo dessa ponte em um processo eleitoral atípico, realizado sob um regime de exceção, antes que os fatos nos dêem a última palavra, confirmando, ou não, a correção do esforço do PT para impôr à sua estratégia eleitoral aos que defendiam um caminho diferente, que somasse todas as forças políticas e sociais em uma Frente Ampla, tendo como objetivo número 1 derrotar o golpe (o que pressupunha que o nome do candidato dessa Frente não teria que ser necessariamente alguém do PT). Eu me sinto mais como um torcedor que, da arquibancada, embora discordadando da escalação do time, grita a todos os pulmões, pelo nome de seu time.
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