Carlos Ocké: Sanitaristas e sociedade civil juntos pelas reformas estruturais na saúde

Tempo de leitura: 5 min
Lula discursa no 1º de Maio de 2022. Fotos: Ricardo Stuckert e Roberto Parizotti/CUT

Carlos Ocké sobre as diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil

Por Carlos Ocké-Reis*, no site Cebes

Em 2022, o Partido dos Trabalhadores disputará as eleições presidenciais contra a extrema direita. Será decisivo elegermos Lula, convocando as forças populares para fortalecer a frente democrática, capitaneada pela oposição de esquerda.

Neste contexto, foram lançadas essa semana em São Paulo as diretrizes para se construir o programa de governo dos sete partidos que compõem a aliança JUNTOS PELO BRASIL (PT, PSB, PCdoB, Partido Verde, PSOL, Rede e Solidariedade).

Em meio ao agravamento da crise econômica, tais diretrizes representam um ponto de partida fundamental para arquitetura das ações e políticas que serão implementadas nos próximos quatro anos.

No entanto, caberá às frentes populares, centrais sindicais, movimentos sociais, bem como à juventude, intelectuais e artistas abrir diálogo com o povo, visando, a um só tempo, contribuir com sua elaboração e ampliar a base social de apoio ao programa de reconstrução e transformação do Brasil.

Dada a acirrada polarização, que vem ameaçando a democracia brasileira, a criação de comitês populares será determinante nesse processo, permitindo a militância combinar o debate programático com a organização e mobilização das trabalhadoras e trabalhadores, uma vez que precisamos acumular força política e ideológica para ganhar as eleições e para responder nas ruas e nas redes sociais a futura reação conservadora.

Na mesma linha, devemos consolidar a unidade política e o consenso programático entre os partidos que compõem tal aliança, para que, caso ganhando e tomando posse, consigamos implementar um programa lastreado no plano institucional, que aponte soluções claras para os problemas da fome, do desemprego, do desmonte do Estado e da soberania nacional, com alternativas que sejam viáveis política e tecnicamente, garantindo que o país volte a crescer com inclusão social e sustentabilidade ambiental.

Desse modo, temos que construir pontes com todas e todos interessados em superar o neoliberalismo e derrotar o bolsonarismo, priorizando as demandas das classes populares e médias.

A luta entre democratas e fascistas só pode ser resolvida com a vitória de um ou de outro: se o golpismo de Bolsonaro não é um blefe, seu poder só perderá espaço com a pressão internacional, o alargamento da resistência democrática, o enquadramento das milícias e a garantia da atuação do exército e das polícias dentro dos marcos constitucionais, das suas atribuições legais e dos direitos humanos.

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Os fundamentos das diretrizes estão organizados em 4 grandes temas e 121 itens. Seus compromissos gerais estão claros, mas a parte que trata da saúde mereceu apenas dois destaques, que podem ser aprofundados por meio de uma plataforma virtual participativa, quais sejam:

A saúde, o direito à vida e o Sistema Único de Saúde (SUS) têm sido tratados com descaso pelo atual governo. Faltam investimentos, ações preventivas, profissionais de saúde, consultas, exames e medicamentos.

É urgente dar condições ao SUS para retomar o atendimento às demandas que foram represadas durante a pandemia, atender as pessoas com sequelas da covid-19 e retomar o reconhecido programa nacional de vacinação.

Não fossem o SUS e os corajosos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, a irresponsabilidade do atual governo na pandemia teria custado ainda mais vidas.

Nos governos Lula e Dilma, a saúde foi tratada como uma política pública central, como um direito de todos os brasileiros e brasileiras e como um investimento estratégico para um Brasil soberano.

Reafirmamos o nosso compromisso com o fortalecimento do SUS público e universal, o aprimoramento da sua gestão, a valorização e formação de profissionais de saúde, a retomada de políticas como o Mais Médicos e o Farmácia Popular, bem como a reconstrução e fomento ao Complexo Econômico e Industrial da Saúde.

Dado esse primeiro passo – que materialmente não é pouca coisa diante do caráter destruidor e genocida do atual “governo neoliberal fascista” – seria importante avançarmos em direção às reformas estruturais, fortalecendo o Estado e o padrão de financiamento público contra a privatização do sistema e a mercantilização do SUS, para refrear a financeirização do setor saúde, seguindo da nossa maneira o exemplo chinês¹.

De modo que, além de aumentar os recursos – admitindo o ajuste automático da trajetória de longo prazo dos gastos públicos em saúde pelos fatores socioeconômicos que os condicionam – é necessário regular de forma substantiva o conjunto do mercado de serviços de saúde, assim como vivificar a participação social.

Afinal de contas, como Lula diz, saúde é investimento, e sem meios financeiros não há como melhorar a gestão do SUS, muito menos sua eficiência – no sentido da eficácia (melhorando os indicadores e desfechos) e da efetividade (atendendo de fato as necessidades de saúde das famílias).

Do ponto de vista da tática eleitoral, sobretudo depois da pandemia, como os problemas de saúde perpassam a estrutura de classes, é admissível priorizar o eixo em defesa da vida e do SUS, caso inclusive queiramos consolidar o resultado de ontem do Datafolha, engrossando a orientação pelo voto útil no Lula no primeiro turno das eleições.

Ademais, da ótica da governabilidade, será também importante dar novo sentido à política de saúde, seja porque ela tem o potencial de legitimar e impulsionar outras reformas (p.ex. a superação da austeridade fiscal e da estrutura tributária regressiva), seja porque, lidando com a morte e a dor, a saúde, antes mesmo da covid-19, já era considerada o principal problema da população, segundo as pesquisas de opinião.

Cabe lembrar ainda que, além de melhorar as condições de saúde da população, com externalidades positivas sobre a produtividade do trabalho, a política de saúde pode, a um só tempo, combater o desemprego (uma vez que é intensiva em força de trabalho) e a desigualdade (uma vez que é desconcentradora de renda), contribuindo para o crescimento econômico (efeito multiplicador keynesiano) e para a soberania sanitária (reduzindo a vulnerabilidade externa com a produção no mercado interno de insumos, vacinas e medicamentos).

Desta forma, é preciso que o programa de governo vá além da representação da saúde como política setorial, inserindo-a no centro de um novo modelo de desenvolvimento, a partir de dois objetivos.

De um lado, respondendo concretamente às demandas emergenciais dos setores populares, o que se tornou fator chave na luta pela democracia, como lembra André Singer.

De outro, prevendo um programa de recuperação da economia e retomada do crescimento com mudanças produtivas, sociais, sanitárias e ambientais estruturantes, tendo na saúde um de seus motores, já que ela corresponde a quase 10% do PIB.

A Conferência Livre, Democrática e Popular, que será realizada pela Frente pela Vida no próximo dia 5 de agosto, terá a oportunidade de enraizar em amplos setores da sociedade suas propostas, se valendo ainda da experiência concreta da 16ª Conferência Nacional de Saúde e de toda energia dos conselhos nacional, estaduais e municipais de saúde, e dos próprios comitês populares em defesa da vida, da democracia e do SUS.

Neste cenário, o bloco histórico sanitarista poderá colaborar objetivamente com a aliança JUNTOS PELO BRASIL, destacando no nosso Programa a centralidade da defesa do SUS, do Orçamento da Seguridade Social e da Constituição de 1988 nesse grave momento político que o país atravessa.

Referências:

“Nenhuma outra grande economia do mundo exerce controle de capitais tão intensos como a China o faz. Nenhum outro grande país além da China é sede de tantas empresas estatais. Nenhuma outra economia mantém o sistema financeiro majoritariamente estatal e com enorme centralidade para seus três bancos de desenvolvimento Nenhum outro grande país dá tanta importância aos planos quinquenais e a diversos outros planos setoriais de desenvolvimento. Nenhuma outra economia do mundo cresceu tanto nos últimos 40 anos quanto a China.” (NOGUEIRA, I. O Estado na China. Oikos, v. 20, n. 1, p. 6-16, 2021).

Carlos Ocké-Reis é economista e ex-presidente da Associação Brasileira de Economia da Saúde – ABrES

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Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/FW9BklUWQAEVt2Z?format=jpg

https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4474687&ts=1630448512545

https://www.camara.leg.br/noticias/144265-projeto-facilita-aposentadoria-em-caso-de-lupus-e-epilepsia/

Ontem, 5, em Sessão do Congresso Nacional,
foi mantido o Veto Total de Jair Bolsonaro
ao Projeto de Lei do Senado (PLS) 293/2009,
(nº 7.797/2010, na Câmara dos Deputados),
que “Altera a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991,
para incluir o LÚPUS e a EPILEPSIA na lista de
doenças que acarretam Dispensa do Prazo
de Carência para Concessão dos Benefícios de
Auxílio-Doença e Aposentadoria por Invalidez”.

A Votação resultou em 64×1 no Senado Federal
pela Manutenção do Veto Presidencial 33/2021
ao PLS 293 apresentado em 2009 pelo Senador
Paulo Paim (PT=RS) que se manifestou contrário
ao acordo, até porque nem sequer havia sido
comunicado do acerto das Lideranças.

Os Deputados não precisaram votar, porque
o PL iniciou no Senado e o Veto foi mantido.
Se o Senador Federal votasse pela Derrubada
haveria necessidade de Votação pela Câmara.
(https://www.congressonacional.leg.br/materias/vetos/entenda-a-tramitacao-do-veto)

https://www25.senado.leg.br/en_US/web/congresso/materias/pesquisa/-/materia/148879/pdf
https://www.congressonacional.leg.br/materias/vetos/-/veto/detalhe/14367
https://www.congressonacional.leg.br/materias/vetos/-/veto/detalhe/14367/0/por-uf
.
.
https://pbs.twimg.com/media/FW3xTzWWYAI3w_F?format=jpg

Os Portadores de “Lúpus Eritematoso e Epilepsia”
aguardavam há 13 Anos a Promulgação da Lei
oriunda do Projeto de autoria do Senador Paulo
Paim (PT/RS).

https://twitter.com/Michelly_brand/status/1544150839077601281
https://twitter.com/ricoolivetti/status/1544059934790324224
.
.
O que ninguém consegue entender é por que, depois de o Projeto de Lei
ser regularmente Aprovado pela Maioria das 2 (Duas) Casas Legislativas,
a Câmara dos Deputados e o Senado Federal aceitam manter um Veto
Autocrático de um Presidente da República que não dá a mínima para
a Saúde da População Brasileira.

    Zé Maria

    .
    .
    As Políticas Públicas, principalmente de Saúde,
    não podem e não devem excluir as Minorias.
    .
    .

Zé Maria

Excerto [e Adendos]

“A Luta entre Democratas e Fascistas só pode ser Resolvida
com a Vitória de um [LULA] ou de outro [Bolsonaro]:
se o Golpismo de Bolsonaro não é um Blefe [quiçá seja],
seu Poder só perderá Espaço com a Pressão Internacional,
o Alargamento da Resistência Democrática [Popular],
o Enquadramento das Milícias e a Garantia da Atuação
do Exército e das Polícias dentro dos Marcos Constitucionais,
das suas Atribuições Legais e dos Direitos Humanos.”

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