Por uma Comissão da Verdade da USP. Participe!

Tempo de leitura: 6 min

por Conceição Lemes

Com a divulgação do abaixo-assinado Por uma Comissão da Verdade da USP (íntegra, abaixo), foi lançada oficialmente dia 24 de maio, na Faculdade de Direito, Largo São Francisco, a campanha para a sua criação na Universidade.

Foi a primeira ação do Fórum Aberto pela Democratização da USP, se originou do Manifesto pela Democratização da USP. Ele congrega Adusp (Associação dos Docentes), Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores), DCE (Diretório Central dos Estudantes), além de dezenas de centros acadêmicos, coletivos e grupos políticos da Universidade que têm como objetivo central a sua efetiva democratização.

Participaram o atual diretor da Faculdade de Direito da USP, o professor Antônio Magalhães, além de juristas importantes, como Fábio Konder Comparato, Alaôr Caffé Alves, Jorge Luis Souto Maior, Deisy Ventura, Sérgio Salomão Schecaira, Gilberto Bercovici e José Damião Trindade, entre outros.

Na próxima terça-feira 12, às 17h30, a campanha e o abaixo-assinado serão lançados na Cidade Universitária, auditório da Faculdade de Economia e Administração (FEA).  Já confirmaram presença Marilena Chauí, Paul Singer, Roberto Schwarz, Edson Teles e Eduardo Gonzales Cueva, entre outros professores.

“O Fórum Aberto foi criado para articular a luta contra a repressão em curso na USP com ações positivas que garantam maior participação e democracia na Universidade”, explica Renan Quinalha. “Destaque especial para o abaixo-assinado pela Comissão da Verdade e uma estatuinte ampla e autônoma, que possa alterar as regras e instituições autoritárias ainda presentes na vida universitária.”

Renan Quinalha é formado em Direito, tem graduação em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e atualmente faz doutorado em Relações Internacionais na USP.

Viomundo — Por que uma Comissão da Verdade da USP?

Renan Quinalha — A USP foi alvo privilegiado da repressão política durante a ditadura civil-militar brasileira. Em se tratando da maior e mais importante universidade do país daquela época, é compreensível que tenha se tornado também palco de resistência.

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Isso é fácil comprovar pela lista de antigos professores e estudantes que integram a lista de mortos e desaparecidos políticos: Iara Iavelberg, Ana Rosa Kucinski, Heleny Guariba, Aurora Maria do Nascimento Furtado, Alexandre Vanucchi Leme, entre outros.

Além disso, em praticamente todas as unidades da USP, houve diversas cassações políticas e aposentadorias compulsórias indicadas pela própria Reitoria da época, como as de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Mario Schenberg e Paulo Singer.

Não se pode esquecer, ainda, que a USP também forneceu quadros importantes para os governos autoritários, como Luiz Antônio da Gama e Silva e Alfredo Buzaid, ambos ex-professores da Faculdade de Direito, ex-reitores e ministros da Justiça na época da ditadura.

Por esses acontecimentos e outros ainda desconhecidos, a USP precisa de uma Comissão da Verdade que se debruce especificamente sobre esses episódios. É preciso que se conheça em profundidade a dimensão que a repressão política assumiu dentro da Universidade.  Obviamente, essa comissão uspiana deve trabalhar em colaboração com as comissões da Verdade nacional, estadual e municipal, enviando os seus resultados a elas.

Viomundo — A USP vive um período nada democrático. Acredita mesmo que será possível ela ter a sua Comissão da Verdade?

Renan Quinalha – É o momento mais oportuno possível para a instalação de uma Comissão da Verdade na USP.

Primeiro, porque há um movimento geral na sociedade brasileira que tem pautado a importância do direito à verdade e à memória. Está cada vez mais claro que o discurso do esquecimento e da reconciliação não consegue curar as feridas ainda abertas pela violência autoritária em nosso País.

Segundo, pela primeira vez na história recente da Universidade emerge com força uma pauta do movimento universitário que não soa corporativista perante à sociedade e à mídia, que normalmente se alinham com o reitor João Grandino Rodas nos embates internos da USP.

O fato de o Rodas ter desencadeado medidas brutais de repressão e perseguição políticas, baseadas essencialmente em um Regimento Disciplinar de 1972, contribui para demonstrar a relevância e a pertinência de uma Comissão da Verdade da USP. É fundamental entender e elaborar esse passado de forma consciente para evitarmos a sua repetição, como está ocorrendo hoje.

Viomundo — De que forma a Comissão da Verdade da USP poderia contribuir para a Comissão Nacional da Verdade?

Renan Quinalha — A Comissão Nacional da Verdade tem tarefas muito grandes para os limites que possui — o período de apuração é de 1946 a 1988 – e são apenas sete membros, vários sem experiência com investigação e pesquisa histórica.

Portanto, ela terá dificuldades para traçar uma radiografia da repressão política em todo o território nacional e em todas as instâncias e esferas da sociedade, apesar da existência de importantes acervos documentais, como o da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e o da Comissão da Anistia.

Daí as comissões locais — em cada órgão público relevante, sindicatos, universidades, por exemplo — serem fundamentais. É para que a busca de informações seja a mais completa possível. Além disso, a repressão assumiu feições particulares em cada espaço e contexto.  A particularização da investigação histórica tem de considerar isso também.

Viomundo —  Em que pé está a Comissão da Verdade da USP?

Renan Quinalha – Lançamos o abaixo-assinado na Faculdade de Direito da USP, com renomados juristas. No dia 12 de junho, haverá um grande ato no auditório da Faculdade de Economia e Administração (FEA), no Auditório FEA 5,  na Cidade Universitária, às 17h30.

A ideia é chegarmos a 10 mil assinaturas até o segundo semestre, quando pressionaremos o Conselho Universitário para dar uma resposta institucional a essa demanda do conjunto da comunidade uspiana.

A nossa intenção é que o material compilado pela Comissão da Verdade da USP seja encaminhado à Comissão Nacional da Verdade e aos ministérios públicos  Federal e Estadual, para que tomem as providências cabíveis, inclusive processamento penal dos responsáveis pelos atos arbitrários de violência.

Viomundo — De que forma, nós, ex-alunos da USP, podemos contribuir para essa concretização?

Renan Quinalha — Além de assinar o abaixo-assinado (postos de coleta de assinaturas estão abaixo) e convencer colegas a fazê-lo, ajudando a dar ampla divulgação a esse movimento. Muitas pessoas foram diretamente atingidas, queremos que essas pessoas tenham oportunidade de falar. Em nosso site (verdadeusp.org),  há um campo para dar depoimentos. Pretendemos que realmente seja uma campanha que envolva toda a comunidade.

******************

ABAIXO-ASSINADO POR UMA COMISSÃO DA VERDADE DA USP

Há atualmente uma ampla mobilização na sociedade brasileira com o objetivo de tornar efetivo o direito à memória e à verdade histórica. As graves violações aos direitos humanos, sistematicamente cometidas pela ditadura civil-militar brasileira, também atingiram diretamente a comunidade acadêmica da Universidade de São Paulo (USP). De fato, a USP foi um palco privilegiado de repressão política, atestada, entre outras coisas, pela existência de vários ex-uspianos na lista dos desaparecidos políticos do país e pela demissão e aposentadoria compulsória de docentes. Por outro lado, não houve o devido empenho da universidade para o esclarecimento e a superação desse seu passado, tanto que o Regime Disciplinar ainda vigente na USP data de 1972, um dos piores períodos do regime autoritário, contendo proibições inadmissíveis em um contexto democrático; não obstante, esse mesmo regime continua sendo aplicado, em especial nos últimos tempos.

Dado esse contexto, os abaixo-assinados vêm requerer a constituição e instalação de uma Comissão da Verdade na USP, dotada de autonomia e independência, destinada a examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar, entre 31 de março de 1964 e 15 de março de 1985. Vários atos que feriram tais direitos foram, nesse período, praticados contra docentes, alunos e funcionários técnico-administrativos da USP, bem como contra outros indivíduos não vinculados formalmente a seus quadros.

Entendemos que, para garantir seu papel histórico, a Comissão da Verdade da USP deverá ser composta por membros eleitos democraticamente pelas três categorias da universidade e poderá receber testemunhos e informações, convocar pessoas a prestarem depoimento, além de requisitar documentos de todos os órgãos da Universidade, ainda que classificados como sigilosos. Os resultados do trabalho dessa Comissão serão compilados em um relatório que será publicado, amplamente divulgado e encaminhado às Comissões da Verdade já existentes (nacional, estadual e municipal), bem como aos Ministérios Públicos Federal e Estadual para as providências cabíveis.

São Paulo, 23 de maio de 2012

Pontos de coleta de assinatura:

  • Letras (CAELL)
  • Filosofia (CAF)
  • Ciências Sociais (CEUPES)
  • História (CAHIS)
  • Arquitetura (GFAU)
  • Faculdade de Educação (FEUSP)
  • Centro Acadêmico Engenharia de Produção (CAEP)
  • Grêmio Politécnico da USP (GPoli)
  • Centro Acadêmico de Engenharia Elétrica (CEE)
  • Centro Acadêmico de Engenharia Civil (CEC)
  • Centro Acadêmico de Engenharia Naval (CEN)
  • FEA (CAVC)
  • Relações Internacionais (Guima)
  • Instituto de Química (CEQHR)
  • Escola de Comunicação e Artes (CALC)
  • Escola de Comunicação e Artes (CALC)
  • Adusp
  • Sintusp

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Comentários

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Penha Rocha

Vamos colocar o dedo na ferida com integridade e diginidade.
Essa Comissão da Verdade da USP nos dá muita Esperança!
Abraços
Penha Rocha
Jornalista e Prof.Dra da Universidade Federal do Maranhão

abolicionista

A verdade é também que muitos professores apoiaram o golpe, mesmo sabendo das mortes e das torturas. Muitos gostavam de possuir um reitor “xerifão”, como se dizia (e hoje se diz do Rodas). Esses nomes precisam vir à tona, para que sejam devidamente esculachados os professores que colaboraram com a tortura e a barbárie, como ocorreu com Heidegger, para citar um exemplo ilustre. Mostrem sua cara, covardes!

Luc

Ótimas iniciativas SEMPRE do Viomundo!

abolicionista

Ode ao burguês

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o èxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
“–Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
–Um colar… –Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!”

Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burgês!…

De Paulicéia desvairada (1922)
Mário de Andrade

Dorrit Harazim: A maior notícia do século « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Por uma Comissão da Verdade da USP. Participe! […]

Rodrigo Leme

“Viomundo — A USP vive um período nada democrático. Acredita mesmo que será possível ela ter a sua Comissão da Verdade?”

É a típica pergunta editorializada que tanto criticam na “grande mídia”.

De qqer maneira, a pergunta acerta onde não mira: a USP não vive um período democrático. Meia-dúzia de alunos que não estudam querem mandar nos 98% que estudam. E ex-alunos que parecem tbm não ter estudado lá ajudam, claro.

    abolicionista

    Isso, Rodrigo, mostra o quanto você está informado. Aliás, você continua espalhando boatos falsos, como aquele sobre a mulher que incitava o povo a jogar pedras? Cara, aquilo foi uma patifaria incrível da sua parte…

    Márcio Gaspar

    Tu és um desinformado. Para começar a lhe informar, a USP fica no bairro do Butantan, zona oeste de São Paulo, é pública, e quem estuda lá tem entendimento disso. Ela é pública e os alunos defende que ela continue assim. O cara só aparece aqui para repetir aquele palavratório de butequim de quem assisti JN, lê a editoriais da VEJA e acha que está lendo artigos de grande reflexão intelectual, vem e repete: maconheiros, filhihos de papai, alunos que nao estudam, comunistas e outras cacas.

    abolicionista

    A propósito:Continuo esperando as fontes daquele boato, Rodrigão!

    Rodrigo Leme

    A fonte do “boato” é a polícia, que a viu fazendo isso e por isso foi abordá-la. é verdade? Não ponho minha mão no fogo por ninguém,l mas nem vc devia, pra comprar a versão dela, certo?

    Eu não tenho problema em equiparar a versão da ´polícia com a da mulher. Quem não acredita em polícia é vc, que deve chamar o Gramsci qdo assaltam tua casa.

    abolicionista

    “Equiparar a versão da polícia com a da mulher”? Você tem problemas de memória? Deixa eu postar seu comentário aqui, para refrescá-la:

    Rodrigo Leme: “Faltou só dizer que a detida estava gritando para as pessoas jogarem pedra nos ônibus, pedras que inclusive feriram um passageiro no rosto. Isso a valente não fala. Covardia no olho dos outros…
    Mas pra que? O importante é fazê-la musa da panfletagem eleitoral.”

    Você estaca “equiparando” as versões? Espera que eu realmente acredite nisso? Espera que alguém no mundo acredite? Você chama a mulher (que nenhum de nós conhece, pelo visto) de “valente” e a acusa de incitar a atirar pedras. Você não estava comparando versões, estava apenas disseminando boatos maledicentes. Tanto que você continua sem citar fontes. Que órgão da “polícia” disse isso? Por que você comprou a história? Isso é patifaria da grossa! Você deveria criar vergonha na cara, Rodrigo! Isso é falta de ombridade, rapazinho. Teus pais não te deram educação, não? Não sabia que é feio mentir e difamar? A propósito, nunca li nenhum livro do Gramsci, nem entendo o porquê dessa referência, provavelmente tentando desviar o assunto. Seu problema não é ideológico, Rodrigo, seu problema é falta de caráter.

    Rodrigo Leme

    O anônimo falando de falta de caráter. Fácil falar o que quer dos outros qdo ta seguro em casa, tomando o todinho, posando de valente.

    E ah, os policiais que deteram a valente cidadã que contaram essa versão. Citaria reportagens que citam isso, mas aí vc ia começar com a asneira de mídia golpista e sabemos onde isso termina: vc concordando com seu próprio umbigo.

    Fico no aguardo de mais pérolas anônimas de sabedoria sobre caráter. Espero a hora do capitulo que fala sobre como nao mostrar a cara ao debater e ofender os outros.

    abolicionista

    Não deveria, mas vou responder. O site me permite utilizar um “nickname”, você sabe o significado da palavra? Portanto, não sou obrigado a me identificar, o que considero bastante democrático, afinal, o que importa é a força dos argumentos e não o status do comentador.

    Quanto à outra questão. Percebo que você realmente “comprou” a versão que acusava a mulher sem conceder-lhe o benefício da dúvida. Você bem sabe que o ônus da prova cabe a quem acusa. Portanto, ao acusar alguém de vandalismo ou de incitação ao vandalismo, procure reunir provas nesse sentido ou, pelo menos, informar-se melhor a respeito do que aconteceu. Não é bonito espalhar boatos maledicentes sobre desconhecidos. É um crime contra a honra da pessoa e é, sob o ponto de vista ético, um tremendo desrespeito que só pode ser atribuído a uma falha de caráter. Pode tentar desviar o assunto à vontade. Provei que você mentiu e que tentou difamar alguém (até que se prove o contrário) inocente. Isso é mau-caratismo. Espero que a vida lhe ensine a respeitar a honra de desconhecidos e, principalmente, a diferenciar o certo do errado. Passar bem.

juliana bueno

Pessoal,

Quem quiser um cartaz envie um email para mim. É meu nome e sobrenome @gmail.com

Abs

Spadaccini

Conceição, onde podemos conseguir este cartaz para divulgarmos dentro da Universidade?

    Conceição Lemes

    Spadaccini, vou tentar saber. Responderei aqui. abs

abolicionista

Podecrer que vou divulgar.

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