As imagens do bombardeio no centro de São Paulo

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Imagens e fotos de Caio Castor

Moradia

Centro de São Paulo é palco de conflitos após reintegração de posse

Descumprimento de acordo entre movimentos sociais e a PM prejudica desocupação de hotel abandonado; ao menos seis pessoas ficaram feridas, além de crianças e idosos que passaram mal

por Miguel Martins — publicado 16/09/2014 19:39, última modificação 16/09/2014 20:54, na CartaCapital

Se cruzasse a Ipiranga com a avenida São João na manhã desta terça-feira, 16, Caetano Veloso sentiria algo bem menos inspirador acontecer em seu coração. Localizado na esquina das vias eternizadas na canção Sampa, um prédio pertencente à empresa Aquarius Hotel Limitada, ocupado por mais de 200 famílias sem-teto há cerca de seis meses, foi alvo, a partir das 7 horas da manhã, de uma violenta operação de reintegração de posse, autorizada pela Justiça paulista. Seis pessoas ficaram feridas, segundo a Polícia Militar.

Projetado para ser um hotel, o edifício jamais foi concluído. A obra foi abandonada há cerca de uma década. Nesse interim, os 221 apartamentos do edifício tornaram-se um antro de baratas, ratos e pulgas. Em 3 de março deste ano, a Frente de Luta por Moradia, o Movimento Sem-Teto do Centro e o grupo Viver no Centro decidiram ocupar o local. A empresa proprietária passou a reivindicar a reintegração de posse na Justiça, suspensa por problemas logísticos em outras duas oportunidades.

Confirmada para a terça-feira, 16, a operação era de conhecimento dos moradores. A presença de um efetivo da PM inferior ao acordado irritou, porém, os ocupantes, que não aceitaram deixar o prédio sem as condições ideais. As famílias aguardavam a chegada de 40 caminhões, que seriam responsáveis por transportar os móveis, eletrodomésticos e pertences dos habitantes. Segundo integrantes dos movimentos de moradia, apenas 13 veículos e 40 policiais foram destacados para a operação.

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Segundo moradores e lideranças dos movimentos ouvidos por CartaCapital, a Tropa de Choque da PM lançou uma bomba de gás no interior do edifício após tentativas frustradas de diálogo. Em resposta, os ocupantes passaram a jogar objetos de suas janelas, entre eles pedaços de eletrodomésticos, latas de tinta e cocos retirados de uma palmeira próxima ao prédio. Algumas crianças e idosos que passaram mal com os efeitos do gás foram deslocados para os andares mais altos.

O restante dos moradores formou um cordão de isolamento na entrada e avançou em direção à polícia, o que resultou em um confronto generalizado pelas ruas do centro. Confusões foram registrados na parte da manhã e da tarde nas ruas Barão de Itapetinga, Ipiranga, 24 de Maio e nas proximidades da Praça da República. Por volta das 10 horas da manhã, um ônibus foi incendiado perto do Theatro Municipal, a poucos metros do prédio invadido. Pessoas com os rostos cobertos com máscaras ou com a própria camisa teriam ajudado a incendiar o ônibus, segundo relatos. Houve ainda saques a lojas, o que levou o comércio a fechar as portas.

Moradora há seis meses do prédio, a estudante Tatiana Oliveira estava no trabalho quando a operação foi iniciada. Seu primo foi um dos 70 detidos pela polícia, encaminhados ao 3.º DP para averiguação. Ao saber da confusão, Tatiana dirigiu-se ao portão do prédio. “Havia crianças desmaiadas, presas em um quarto. A sorte é que havia socorristas e enfermeiros entre os moradores.”

Integrante do grupo Viver no Centro, Tatiane afirma que os moradores passaram a lançar os objetos na polícia apenas após a primeira bomba de gás ser disparada. Os ocupantes, diz, mantiveram a tranquilidade, enquanto indivíduos infiltrados foram responsáveis pelos saques e pelo incêndio ao ônibus. “Foi um caso isolado, Morador que é morador, como eu, estava revoltado na porta do prédio, tentando entender o que esses caras querem para o País. É para todo mundo estar na cadeia? É só nisso que se investe.”

Silmara Congo, uma das coordenadoras da FLM, afirma que foi discutida com a polícia a falta de condições logísticas para a realização da operação, mas não houve diálogo. “O capitão afirmou que, com ou sem os meios, ele iria entrar.” Silmara diz que a polícia retirou a coordenação do FLM da frente do prédio para então derrubar o portão com o auxílio de uma viatura. A ativista afirma ainda que o grupo mantém contato com a Secretaria de Habitação, mas até o momento não foi realizado o cadastramento das 132 famílias que ainda moravam no prédio.

O plano agora, diz Silmara, é montar um acampamento em frente ao edifício para abrigar os sem-teto. “A polícia vai continuar aqui, e nós também vamos. Se eles não se mexerem, nós não nos mexemos.”

Clique sobre a foto abaixo para ver o álbum. O trabalho de Caio Castor é financiado pelos assinantes do Viomundo:

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Comentários

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abolicionista

Acabo de saber que a polícia de Geraldo Alckmin matou um trabalhador com um tiro na cabeça. Tentaram inventar a história de que a arma do policial tinha sido roubada, mas alguém filmou a cena, que foi parar na televisão.

Dá pra confiar numa polícia assim?

http://noticias.r7.com/jornal-da-record/exclusivo-video-mostra-momento-em-que-pm-mata-camelo-com-tiro-na-cabeca-em-sp-19092014

abolicionista

“A função social, assim, passou a ser parte integrante do conteúdo da propriedade, imprimindo-lhe um complexo de condições para o seu exercício voltado ao interesse coletivo e impondo ao proprietário não somente vedações, mas também prestações positivas.
Como princípio constitucional que é, a função social ocupa espaço na hermenêutica jurídica – desempenhando funções de interpretação, integração, direção, limitação e prescrição – não só nos casos em que a propriedade está diretamente vinculada à causa – devendo esta ser resolvida em favor da situação que melhor atenda à função social –, mas naquelas demandas em que o interesse social deve prevalecer, como em se tratando de habitação, urbanismo e preservação do meio ambiente.
Contudo, a concretização dessa nova visão jurídica sobre a propriedade é sempre dificultada pelas constantes controvérsias entre o anseio pelo uso (tantas vezes nocivo ou abusivo) da propriedade e a função social. Concretizá-la efetivamente é, ainda, tarefa em construção.
http://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/arquivos/rochelle.pdf

abolicionista

19h – O telefone toca umas quinze vezes, até que Ricardo Pedreiro, o próprio, atende.
Eu: “Oi. Eu queria falar com o Ricardo Pedreiro? É Mariana, estou fazendo um trabalho de faculdade sobre alguns prédios de São Paulo, um deles está na São João…..”
Ricardo: “É ele. Olha, conversei com os sócios do Hotel e eles não me autorizaram a falar com você.”
Eu: “Mas, é uma conversa rápida, o senhor não precisa responder o que não quiser. Queria saber sobre a história do prédio…”
Ricardo: “É, mas não vai dar. Ali não tem história, não. A gente construiu pra fazer um hotel e não deu certo. Agora estamos tentando vender o edifício.”
Eu: “Então nunca chegou a ser hotel?”
Ricardo: “Não. Já disse, não deu certo.”
Eu: “O senhor tinha dito que tinha um processo de desapropriação…”
Ricardo: “Olha, você está tentando fazer essa entrevista por telefone. Não vai dar. Já disse que não tenho autorização para falar com você.”

http://www.edificiosabandonados.com.br/?paged=16

abolicionista

O pior é que esse show pirotécnico realizado por essa trupe incompetente de picaretas e charlatões é paga com dinheiro público. O senhor que é preso diz algo muito verdadeiro, quem paga essa merda toda somos nós. Alckmin torra o dinheiro público em ações infantis e inúteis para o bem público. Nós que vivemos no estado de São Paulo assinamos um atestado de burrice e estupidez quando entregamos o controle do estado a essa corja, a essa súcia perdulária (sim, é preciso dizer, perdulária), dinheiro público pra massacrar gente que não tem onde morar? Qual a utilidade disso? Que estupidez é essa? Paulistas, meus parabéns, somos todos uns jumentos masoquistas e merecíamos todos levar uma bala de borracha na cabeça para ver se ela começa a funcionar.

Rafael Oliveria

Por onde andavam os nobres políticos petistas, sempre atentos ás demandas sociais!

Lucinda G Mariano

A imprensa paulistana usando vídeos e comentaristas aliciados e aliados do governo paulista vai convencer a população que o responsável pelos problemas de moradia da cidade é o Haddad, e o “famigerado” partido dele, que só tem bandidos e corruptos. É lamentável o quão vil se tornou o entendimento do paulista sobre os problemas sociais da cidade de São Paulo e até mesmo do estado.

FrancoAtirador

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Desde a Ditadura Militar não se construíam

tantos Conjuntos Habitacionais para Pobres

como nestes Governos do PSDB em São Paulo.

(http://politica.estadao.com.br/blogs/roldao-arruda/ato-ecumenico-em-cemiterio-lembra-desaparecidos-politicos)

(http://abre.ai/conjunto_habitacional_tucano)
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    abolicionista

    Tipo, uma ditadura superando a outra.

Leandro

Para o Marcelo. desde que o governo indenize ou pague pelo uso de uma propriedade privada. Obedecendo o plano diretor e não simplesmente tomar.
““É garantido o direito de propriedade” (art. 5º, XXII da CF). O direito de propriedade é um direito individual e como todo direito individual, uma cláusula pétrea.”

Função social da propriedade urbana: “A propriedade urbana cumpre a função social quando obedece às diretrizes fundamentais de ordenação da cidade fixadas no plano diretor” (art. 182, §2º da CF). O plano diretor estabelecerá quais áreas são residências, comerciais e industriais; quais são as zonas de tombamento e etc.

Rodrigo

Não seria mais vantajoso para a dona do prédio cobrar aluguel desse pessoal do que deixar o prédio as traças?

Urbano

Na única obra de choque digestão do dito governo de São Paulo, só quem trabalha pra valer mesmo é a puliça…

Daniel

Engraçado… O prédio ficou literalmente jogado às traças por quase dez anos como diz o artigo. E a proprietária só aparece quando os sem-teto tomam conta? O que a proprietária fez durante estes dez anos que não deu uma destinação para o imóvel?

    leandro

    Meu Zeus…se o imóvel é meu eu uso ele como quiser. Se ficar fechado é problema meu. Se a prefeitura quer usar como moradia que me compre o imóvel.

    Marcelo

    O direito de propriedade não é um direito absoluto, assim o proprietário tem que dar uma função social à propriedade. “A propriedade atenderá a sua função social” (art. 5º, XXIII da CF).

    Podia ter dormido sem essa.

    Rafael Oliveria

    Pois é, se o imóvel não atende á função social, que o PT, com os bilhões roubados em 12 anos, compre o imóvel e coloque lá os desabrigados.Há outra saída, o PT poderia, nesses dez anos, ter entrado na justiça alegando que o imóvel não atendia á sua função social. Não fez porque não quis!

    abolicionista

    Vinte anos sem pagar imposto. E quem você acha que pagou a desapropriação. Eu desconfio inclusive que seria mais barato comprar o imóvel, mas aí fascistas como você não podem gozar com o massacre de gente pobre que não tem onde morar.

Léo

Alckimin, motrando sua garras (contra pessoas indefesas) em epoca das eleições. Porque eu ele não usa esta artilharia para combater os roubos nas estradas de São Paulo?

    leandro

    Engraçado. O prefeito apoiou a atitude da polícia.

    A avaliação do prefeito se aproxima da do comandante da PM na capital, Glauco Silva de Carvalho, que afirmou nesta terça ter identificado a atuação de integrantes da tática “black bloc”, que prega a depredação do patrimônio como forma de protesto

    A avaliação do prefeito se aproxima da do comandante da PM na capital, Glauco Silva de Carvalho, que afirmou nesta terça ter identificado a atuação de integrantes da tática “black bloc”, que prega a depredação do patrimônio como forma de protesto

    Julio Silveira

    No Brasil a falta de cultura do interesse social é tão arraigada, a cultura da propriedade privada sem qualquer responsabilidade com o interesse publico e tão forte, que até muitos com uma visão mais arrojada em determinadas situações nessa se tornam conservadores. Até órgãos públicos, pela cultura de seus dirigigentes deixam de cumprir obrigações que poderiam virar soluções para muitos problemas em nossa sociedade.

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