Brito: Jornal da Globo faz “malabarismo estatístico” para frear Haddad

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Datafolha vira “malabarismo estatístico” no Jornal da Globo

POR FERNANDO BRITO, no Tijolaço

A pesquisa Datafolha — cujo horário de divulgação na Globo, de madrugada, foi, digamos, “original” — teve seus dados seguidos de uma “explicação” estatística também muito original, lida por Renata Lo Prete.

O vídeo está lá, mas vou transcrever a fala, para você entender bem como se torce as coisas com palavras.

Disse ela que “a principal diferença entre este Datafolha e o Ibope que nós mostramos ontem é a distância entre Haddad e Ciro, mais estreita na pesquisa de hoje” , seguida de uma penca de ressalvas sobre data do “campo” e metodologia. Mas, afirma ela, “vale a pena observar”.

“Na de ontem, Haddad, já aparecia isolado em segundo lugar; na de hoje, Ciro Gomes aparece em empate com ele”.

Vejam que maravilha: usando-se a diferença de um dia entre pesquisas, sugere-se que o candidato que cresceu – segundo o próprio levantamento, 0,5% ao dia em seis dias e saiu de um empate numérico com outro (que não cresceu absolutamente nada) para uma vantagem de 3 pontos foi, pela narrativa, “alcançado” em 24 horas pelo que ficou parado ao longo de três pesquisas!

Quem gosta de matemática pode aproveitar para ler a história de um dos paradoxos de Zenão de Eléia, que “demonstrava” que Aquiles, o mais rápido corredor da Grécia, por mais que corresse não ultrapassava uma tartaruga.

Para quem andava com saudades de manipulação política usando pesquisas, foi um prato cheio.

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Nenhum texto poderia ser mais adequado a quem estivesse interessado em apregoar o “voto útil” como discurso para desestimular o voto em Fernando Haddad do que as frases finais: “Com um dado adicional, animador para o Ciro. Ele está aparecendo à frente de Jair Bolsonaro na simulação de 2° turno, fora da margem de erro; ele é o único que está nesta situação no momento”…

Uau! Que inveja eu tenho dos tempos em que estava no PDT e a gente não ganhava um texto tão carinhoso assim com o Brizola…

Exceto por migalhas — e como as margens de erro se prestam a ser isso — o resultado da pesquisa não tem nenhuma diferença com o Ibope.

Os 16 pontos do Datafolha e os 19 do Ibope, com as respectivas margens, são iguais. Os pontos de Bolsonaro são iguais. Os de Ciro – 11% no Ibope e 13% no Datafolha – idem, idem.

O fato estatístico é que Haddad tem uma tendência forte de alta (lembre-se, são seis dias de intervalo entre pesquisas iguais) e Ciro mostram há três rodadas, uma completa estagnação.

No mesmo período, o candidato do PT avançou 10 pontos, mesmo na pesquisa que lhe é mais avara.

As duas outras pesquisas presenciais (não-telefônicas), MDA e Ibope, colocam Haddad já descolado, estatisticamente, de Ciro.

Sugere-se, para a Globo, a eliminação dos gráficos, para que os espectadores não vejam que um sobe e o outro fica parado.

E aos eleitores, que fiquem alerta com a estatística verbal que a emissora apresenta. Para não acreditar na “subida do que está parado” e na “queda do que subiu”.

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