Artur Scavone: Eva Blay, tire o véu dos olhos

Tempo de leitura: 3 min
Em 7 de dezembro de 2017, o jovem palestino Fawzi al-Junaidi, foi preso em Hebron, na Cisjordânia, um dia após Trump declarar Jerusalém capital de Israel. O rapaz franzino foi acusado de lançar pedras e levado de olhos vendados por 20 soldados. Alessia Pelonzia, designer italiana, a partir da foto mostrando a brutalidade dos soldados israelenses contra o jovem, fez este desenho que publicou no Twitter. Em entrevista à agência Anadolu, da Turquia, Alessia disse que a imagem a impressionou muito: “Eu decidi quase imediatamente desenhar algo. Você pode ver a bandeira palestina no desenho de qualquer maneira. É algo que não pode ser silenciado. Não se pode varrer a identidade de um povo debaixo do tapete. A liberdade é um dos princípios básicos da arte. Nós, artistas, não podemos nem devemos permanecer indiferentes à questão palestina. A solidariedade é a coisa mais importante nestes tempos obscuros, e acredito que uma das armas mais poderosas contra a injustiça’’. Fonte: Esquerdaonline

Tirando o véu dos olhos

O artigo de Eva Alterman Blay não é honesto ao afirmar que parte da esquerda se alinha ao Hamas

Por Artur Scavone*, em A Terra é Redonda

Eva Alterman Blay escreveu um artigo – postado no Jornal da USP e republicado no site A Terra é Redonda – afirmando que parte da esquerda odeia os judeus e que “ao se alinhar ao grupo terrorista Hamas, a esquerda abdicou de seus valores morais e intelectuais”.

Convenhamos, não é exatamente uma argumentação honesta acusar a esquerda de ter se alinhado ao Hamas. Falar em “parte da esquerda” é um recurso para evitar conflitos com alguns setores da esquerda.

Mas a acusação é genérica, cabe para qualquer um que condene o governo de Israel de genocida.

Tecendo um conjunto de citações diversas de fatos e declarações que mostram o profundo conflito que envolve o Oriente Médio e repercutem mundo afora, Blay considera que as declarações de ministros do governo de Israel chamando os palestinos de animais e algumas propondo a limpeza de Gaza são “frases infelizes de um membro do Gabinete israelense”.

No entanto, aponta o dedo para políticos de esquerda de fazerem acusações e propostas “com frases que lembram a Inquisição e o nazismo”.

Ou seja, as frases dos ministros de Israel são infelizes; a dos políticos de esquerda lembram o nazismo. Quantos pesos e quantas medidas estão nesse texto?

É preciso tirar a venda dos olhos.

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A Torá e o Holocausto não passam de um véu posto pelos atuais governantes de Israel.

São usados através de uma leitura desonesta e instrumental para encobrir sua verdadeira razão de ser na contemporaneidade: Israel é uma base avançada militar atômica – não declarada – no Oriente Médio do império financeiro, industrial e militar norte-americano para preservar o acesso dos EUA ao petróleo e gás, elementos decisivos para manter o dólar como moeda universal e poderio econômico dos EUA.

Sem meias palavras, num arroubo de sinceridade, Robert Kennedy Jr., candidato independente a presidente dos EUA, declarou que “Israel é a nossa fortaleza. É quase como ter um porta-aviões no Oriente Médio. (…) Se Israel desaparecer, os BRICS vão controlar 90% do petróleo do mundo e isso seria uma catástrofe para nossos interesses”.

A Torá e o Alcorão também são instrumentalizados pelos sucessivos governos israelenses.

Os pedidos de paz vindos de sionistas, mesmo daqueles que se pretendem bem intencionados, têm se mostrado tão somente mecanismos para ganhar tempo na implantação de mais colônias ilegais, mais violência contra o povo palestino, que há 75 anos ouve falar de paz vivendo sob um inferno.

Não há santos na região. Nem o Hamas é santo, nem o governo de Israel é santo.

Santos são os homens, mulheres e crianças palestinos e judeus vítimas dos seguidos massacres decorrentes de o Estado sionista querer dominar a região na sua totalidade.

Tanto é verdade que essas são as reais causas do conflito que alguns dos países de tradição islâmica não se alinham necessariamente e de fato ao Hamas ou à causa palestina.

Ao contrário, em 2020, Israel normalizou as suas relações com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, e reforçou os laços com o Marrocos e o Sudão.

De outro lado, a Arábia Saudita estava em vias de se alinhar a Israel para estabelecer cooperação em matéria de segurança e obter apoio para o seu programa nuclear. Estes é um dos possíveis motivos que levaram o Hamas à ação terrorista do 7 de outubro, entre outros como as décadas de infâmia contra os palestinos.

Seguidores oportunistas do Alcorão e da Torá estão juntos quando está em questão o poderio econômico global.

Têm razão os judeus que acusam Benjamin Netanyahu de usar a Torá para seus fins políticos.

O governo de Israel está conduzindo os judeus de Israel para um caldeirão de ódio cego com o objetivo nítido de expandir sua base territorial e ter uma força militar altamente treinada e permanentemente mobilizada à disposição do império para garantir seu poderio na região.

Fora o governo genocida de Benjamin Netanyahu!

*Artur Scavone é jornalista e mestre em filosofia pela USP.

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Comentários

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Nelson

Eu nunca tinha ouvido falar dela. Então, fui pesquisar sobre a professora Blay e descobri que ela já conta com 86 anos na cacunda. Sempre ouvi dizerem que a velhice é a idade da razão, da experiência, da prudência e da sabedoria. Parece que essa quase-receita não se aplica a ela.

A bem da verdade, e para ser justo, lamentavelmente, essa falha não se restringe à professora. Há muita gente boa por aí que já chegou à velhice, mas está bem longe da tal sabedoria.

A professora se utiliza da esquerda – ah, como é fácil bater na esquerda; é como empurrar bêbado em ladeira – como escapismo, para se desviar do cerne da questão e assim poder seguir dando vazão às mentiras que a avassaladora propaganda tem contado e repetido ao longo de décadas sobre a questão Israel x Palestina.

O Hamas foi fundado em 1987. Ou seja, 39 anos após a leviana, para dizer o menos, medida tomada pela ONU, que entregou a maior parte de uma terra em que os palestinos viviam por milênios a uma minoria de judeus.

Se formos mais a fundo, vamos constatar que o Hamas foi criado 80 anos depois da Declaração de Balfour. Declaração da qual se utilizaram os sionistas, já naqueles dias, para iniciarem seus ataques assassinos contra o povo palestino.

A medida tomada pela ONU, de criação somente do Estado de Israel por de ser considerada mais leviana ainda porque, ao mesmo tempo em que legalizou, se é que podemos afirmar assim, o território para os judeus, a ONU legou às calendas a decisão acerca do Estado palestino, deixando a porta aberta para que os sionistas passassem a “se espichar” cada vez mais sobre as terras palestinas.

Os fatos são irretorquíveis, mas, como há um gigantesco domínio da propaganda sionista por todo o mundo, uma enorme quantidade de pessoas não tem conhecimento deles. E, lamentavelmente, uma professora, já na idade da sabedoria, se utiliza de truques para fazer com que as pessoas sigam os desconhecendo.

Ibsen

Convenhamos, desde que os sionistas iniciaram seu projeto de invasão e dominação da Palestina iniciou-se o sofrimento desse povo. Eles perderam inicialmente 52% do seu território porque assim decidiu a ONU e depois esse território foi se reduzindo evento a evento até a construção do grande campo de concentração a céu aberto chamado Gaza. Eu duvido muito da possibilidade de construção dois Estados na região, ainda mais sendo parte de um deles completamente separada da outra parte. Esse é um delírio ocidental para lhes permitir o sono tranquilo de cada noite. Só haverá paz quando houver um único estado, como aconteceu na África do Sul.

Zé Maria

“Corte do TIJ ouvirá 52 Países antes de tomar uma Decisão sobre
a Acusação de que Israel Implantou um Sistema de “Apartheid” no
Território Palestino.”

Em janeiro, o mesmo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ),
em resposta a outra demanda da África do Sul igualmente
chancelada por Brasília, rejeitou a ordem de cessar-fogo,
mas admitiu serem “plausíveis” os riscos de “genocídio em
Gaza”.

Tipificar o “Crime de Genocídio” sempre foi tarefa complexa e depende
de uma série de atos e ordens diretas inquestionáveis, documentadas,
difíceis de ser reunidas, mas vários ativistas de direitos humanos
acreditam na existência de indícios suficientes para, ao menos,
aprofundar as investigações.

Organizações civis como a Human Rights Watch emitem alertas
constantes sobre os métodos do governo Netanyahu desde o início
da ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza.

Em um deles, acusa o governo de Netanyahu
de usar a fome como arma de guerra.

“As forças israelenses bloqueiam deliberadamente o fornecimento de água,
alimentos e combustível”, denuncia a ONG, “ao mesmo tempo que impedem
a assistência humanitária, aparentemente arrasando áreas agrícolas
e privando a população de bens indispensáveis à sobrevivência.”

Um dos entrevistados pela revista norte-americana Time sobre o tema,
Raz Segal, diretor do programa de estudos de Genocídio na Universidade
de Stockton, na Califórnia, não tem dúvida e vê um “caso clássico [de Genocídio”.

Israel, declarou Segal, pratica três atos relacionados:
“matar, causar lesões corporais graves e adotar medidas
calculadas para provocar a destruição de um grupo”.

O Massacre em Gaza foi um Tema recorrente na viagem de Lula à África
e ele, provavelmente, escolheu a hora e o lugar que considerou adequados.

No Egito, primeira escala da visita, o presidente brasileiro havia tangenciado
o ponto central da declaração mais contundente na Etiópia:

“Não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel.
A pretexto de derrotar o Hamas, está matando mulheres e crianças,
coisa jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento”.

De acordo com Celso Amorim, ex-chanceler e ­atual assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, a declaração “sacudiu o mundo,
moveu emoções e pode ajudar a resolver o conflito em Gaza”.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital (n° 1299 )
de 28 de fevereiro de 2024, sob o título “Crise Fabricada”

https://www.cartacapital.com.br/mundo/crise-fabricada/

Zé Maria

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“Crise Fabricada”

“A Mídia e o Bolsonarismo Unem-se

na Defesa de Netanyahu Contra Lula

Mas Atacar Lula Não Muda a Realidade:

Netanyahu Promove Limpeza Étnica”

Na terça-feira 20, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia,
voltou a analisar um pedido da África do Sul, com apoio veemente do Brasil,
desta vez a respeito do regime de segregação [Apartheid] imposto por Israel
nos territórios palestinos.

A Corte do TPI ouvirá 52 países antes de tomar uma decisão sobre
a acusação de que Israel implantou um sistema de “Apartheid” no
território palestino.

“Nós, como sul-africanos, vemos, ouvimos e sentimos profundamente
as políticas e práticas discriminatórias desumanas do regime israelita
como uma forma ainda mais extrema do apartheid institucionalizado
contra os negros do meu país”,
afirmou ­Vusimuzi Madonsela, representante africano.

“É claro que a ocupação ilegal de Israel também tem sido administrada
em violação do crime do ‘Apartheid’.
É indistinguível do colonialismo.
O ‘Apartheid’ de Israel deve acabar.”

Em janeiro, o mesmo tribunal, em resposta a outra demanda da África do Sul
igualmente chancelada por Brasília, rejeitou a ordem de cessar-fogo, mas
admitiu serem “plausíveis” os riscos de genocídio em Gaza.

As forças israelenses preparam uma incursão mortífera em Rafah,
onde estão confinados centenas de milhares de palestinos.

A mídia brasileira invocará o ‘legítimo direito de defesa’?

Leia a Íntegra do Texto na Edição Impressa n° 1299 de CartaCapital,
Publicado em 28 de fevereiro de 2024, sob o título “Crise Fabricada”:

https://www.cartacapital.com.br/mundo/crise-fabricada/
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