por Antônio David
A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), foi divulgada nesta quinta-feira, 5, pelo Banco Central.
Destaco este trecho:
O Copom destaca a estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho e pondera que, em tais circunstâncias, um risco significativo reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade.
Para manter o emprego, o governo até agora tem sido “tolerante” tanto com a inflação um pouco acima da meta como com o aumento dos juros.
No fundo, quando a direita dá ênfase para a necessidade de conter a inflação (como se houvesse risco de hiperinflação!), defende o aumento dos juros e ataca a “gastança” do governo. Na prática, essa ênfase, essa defesa e esse ataque são meios para forçar o aumento de desemprego.
As consequências seriam duas: na economia, inibição das greves e, consequentemente, maior porção da renda para o empresariado e menor porção da renda para o trabalhador; eleitoralmente, criar uma janela para a derrota de Dilma.
Além de críticas sutis ao governo — como na expressão “O Comitê considera oportunas iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios” — há vários trechos do documento que não deixam dúvida: a política de aumentos dos juros vai continuar.
Resta saber se o governo vai continuar elevando os gastos, oferecendo subsídios, valorizando o salário mínimo etc., a fim de preservar o emprego e, p or conseguinte, o processo aberto em 2003 de distribuição (lenta) da renda e redução (lenta) da desigualdade.
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Eis a disputa real.
Antônio David é estudante de pós-graduação pelo Departamento de Filosofia da FFLCH/USP
Leia também:
República dos banqueiros: R$ 2 trilhões de dívida e os juros nas alturas
Comentários
ricardo
Palpiteiro, vai estudar crematística!
Matheus
Esse texto é um ótimo exemplo da lógica governista. Ele parte de uma premissa correta, a de que a política de aumento de juros e contenção de gastos públicos favorece o desemprego e prejudica o aumento dos salários. Disso, ao invés de recorrer ao realismo crítico marxista, que observaria nesse fato um processo de luta de classes, o governista “deduz” que na verdade é uma conspiração da “oposição” e da “direita” (como se a maior parte da direita não estivesse neste governo neoliberal). Ora, se é tudo um truque da “oposição” e da “direita”, por que a Dilma não intervêm para impedir o aumento da taxa de juros e arrocho fiscal? Por que a Dilma incentiva a criminalização de ações diretas (greves, ocupações, protestos, etc)? Ora, pelo próprio raciocínio do Antonio David, é a própria Dilma que trabalha para a direita e para forçar o lucro do empresariado, mesmo que Às custas do aumento do desemprego. Ele confunde causa e consequência: o objetivo é aumentar os lucros empresariais, às custas de salários e empregos, o que induz ao arrocho salarial. Não é só a oposição de direita que seria prejudicada pelo aumento do desemprego, é a própria estabilidade da hegemonia social-liberal no país.
Antônio
Meu caro,
Por si só, a política de aumento de juros não eleva o desemprego. Basta ver que os juros aumentaram nos últimos meses, e o emprego continua estável.
O que elevaria o desemprego seria: 1) ou o não aumento dos juros, o que teria como consequência um aumento maior da inflação e, por conseguinte, contenção da demanda – como você quer; 2) ou o aumento dos juros SEM QUE o governo elevasse o gasto público e adotasse políticas de subsídios para manter a demanda e, por conseguinte, o nível de emprego – como quer o PSDB.
No cenário 1, a direita sai ganhando pelo discurso contra a inflação. Foi o que Aécio esboçou no primeiro semestre: “tolerância zero para com a inflação”. No cenário número 2, a direita também tem a ganhar, mas menos: limitam-se a reclamar da “gastança” e o “intervencionismo” do governo e, com isso, estão conseguindo afastar o grande empresariado da candidatura Dilma.
De um modo ou de outro, o fato é que a política monetária deste Banco Central está a serviço do governo, porque o sentido é de evitar o desemprego, e esse é o ponto do qual o governo não abre mão.
No mais, ao contrário do que você diz, a maior parte da direita não está no governo. Está fora, na oposição. São representados pelas candidaturas Alckmin (2006), Serra (2010) e Aécio (2014). Enquanto a “oposição de esquerda” falava para as paredes, as duas primeiras candidaturas polarizaram o país. Veremos como será em 2014.
AD
ZePovinho
A gente tem que lutar para esse empresariado vagabundo,que vive de rendas da dívida pública,sair fora do Estado.
Chega de iniciativa privada que mama na teta do governo.Aposto que,se formos olhar bem,até o liberal Instituto Von Mises deve auferir renda pública como a PUC/Rio que tem isenção fiscal sobre a folha dos funcionários na Previdência Social,mas não usa isso para cobrar mensalidades menores dos alunos.
A PUC/Rio é uma das mecas dos pseudo-liberais no Brasil.No Chile de Allende os Chicago Boys também se mocozaram em uma instituição com laços com a igreja católica.
Rodrigo
Alerta Vermelho!!! Risco significativo de aumento de Salários!!! Alerta Vermelho!!!
hahahaha
é rir para não chorar
Dinho
A direita quer que o Brasil seja administrado como se fosse uma empresa privada cujos beneficios revertam sempre a eles.
renato
Eles querem o desemprego para poderem, de outra forma inventar
algo que substitua O BOLSA FAMíLIA.
Para quem estava acostumado a dar esmola e receber um DEUS que ajude!
na saída da missa.
Esqueceram de dizer a eles que o Bolsa já é quase um direito.
Leandro
Temos que culpar alguém. A culpa nunca será da administração petista. A direita é mais racional e menos demagógica pelo menos.
André LB
Ah, a direita é menos demagógica… qual direita, a de Marte? A culpa muitas vezes é sim da adm. petista (vide SECOM), mas a mídia E a direita berram HÁ TEMPOS em prol da “autonomia” do BC, e quando fazem isso não é pra baixar os juros não.
Agora, se você prefere acreditar que “direita é mais racional e menos demagógica”, então você acredita em qualquer coisa.
Luiz (o outro)
Tá chegando o Natal, tenho certeza que ele já escreveu a cartinha pro Papai Noel…
Jorge
Direita menos demagógica? Em qual galáxia? Como é aquela ladainha do “ensinar a pescar em vez de oferecer o peixe?” Referindo-se, obviamente, aos programas sociais, quando a direita, esta do peixe, deixou como herança em 2002 um país com quase 80 milhões de pessoas entre pobres e miseráveis. Gente sem saúde, boa parte sem escola para os filhos, e, sobretudo, gente sem qualquer qualificação por falta de oportunidade. E para esta fatia de quase duas Argentinas devemos “ensinar a pescar”. Como? Um megaconcurso público com 50 milhões de vagas, ou convencer o empresariado a contratarem um excedente de mão de obra de 50.000 trabalhadores por empresa. Como é a história, a direita não é demagógica? Poderíamos começar a rir, novamente, com a historinha do “crescer o bolo para depois repartir”, mas aí, chegaríamos novamente aos 80 milhões do peixe, esses que ainda aguardam o bolo, e que por isso, não devem comer, por enquanto. Eita forno lento…
Ivan da Costa
Ser “suspeito” de crimes contra o Poder Público estando arrolados em diversas investigações e processos judiciais, inclusive com a Receita Federal(globo de sonegação) e se colocar a frente dos meios de comunicação como anjos que nada fazem, distorcendo ou tentando distorcer fatos, já em investigação, ou concluídos, pelo Ministério Público e também pela Polícia Federal e você vem nos aplicar esse papo furado de demagogia? Pior que ser demagogo e ser demagogo pego com as mãos sujas nos cofres públicos! Defende os teus indefensáveis não demagogos que eu fico com os “demagogos” da esquerda
FrancoAtirador
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A Direita está (também) no COPOM.
E o Banco Central dá o ‘Cupom’
aos Especuladores Direitistas.
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Urbano
No âmago mesmo, o aspirador está parado há dez anos… É que a festa sem os trabalhadores é um banquete diário no condomínio dos glutões.
Igitur
O erro de raciocínio aqui está em supor a soma zero. Que a economia cresce de qualquer jeito e a questão é como se distribui.
Por um lado, o desajuste entre demanda e oferta engasga, sim, a economia. Uma imagem útil é a de um carro que está na quinta marcha (demanda aquecida) para ir a 80 por hora, mas não atinge essa velocidade. Os casos patológicos resultantes de ignorar essa realidade a gente vê pelas venezuelas.
Por outra, pelo menos parte dos marxistas sabe que o crescimento depende de uma determinada distribuição da renda. (Falo da interpretação sraffiana). Não dá pra imaginar que essas coisas são independentes.
Essas coisas são complicadas. Existem comitês de especialistas arrancando os cabelos no Banco Central pra chegar a uma conclusão sobre o que fazer.
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