Ângela Carrato: Na Venezuela se joga o futuro de uma América Latina soberana

Tempo de leitura: 9 min
Imagens: Ricardo Stuckert/PR, reprodução de rede social e charge de Carlos Latuff

Na Venezuela se joga o futuro de uma América Latina soberana

Por Ângela Carrato*

Há mais de uma semana que o governo da Venezuela frequenta, como vilão, as manchetes da mídia corporativa brasileira e as da maioria do chamado Ocidente (EUA e aliados).

Antes mesmo da eleição presidencial, que deu vitória a Nicolás Maduro, para mais um mandato, a gritaria da oposição e da extrema-direita que a apoia, já era enorme.

Figuras como os presidentes da Argentina, Javier Milei, do Peru, Dina Boluarte, e do Equador, Daniel Noboa, estavam entre os primeiros a questionar o resultado dessa eleição.

Questionamentos logo encampados pelos bolsonaristas, por demais extremistas de direita e até por parte de setores da esquerda, que nunca simpatizaram com a Revolução Bolivariana e o seu Socialismo do Século XXI, preconizados por Hugo Chávez e continuado por Maduro.

A Venezuela conta com um sistema de votação dos mais seguros e o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), um poder autônomo, tem, em situações normais, 72 horas para proclamar o resultado.

No entanto, houve registro de queima de urnas em várias seções e o sistema foi alvo de ataque por hackers situados na Macedônia do Norte.

Mesmo assim, pouco antes da meia noite do próprio domingo, com 80% das urnas apuradas, era anunciada a vitória de Maduro.

Foi o que bastou para “democratas” nos Estados Unidos, em países europeus e na América Latina, inclusive no Brasil, engrossarem o coro de que “a eleição foi fraudada”.

Apoie o VIOMUNDO

É curioso observar que isso foi dito apenas por convicção, uma vez que esses setores não tinham acesso aos resultados.

Não faltou nem mesmo quem garantisse que o principal candidato de oposição, Edmundo González, havia vencido com 70% dos votos, um número no mínimo cabalístico, pois não se sabe de onde foi tirado.

De lá para cá, a história se desenrola diante dos nossos olhos.

Cabem muitas perguntas que precisam ser feitas e cujas respostas a mídia corporativa esconde de seu “respeitável público”.

A primeira delas – e talvez a mais óbvia – é que os candidatos de oposição a Maduro eram nove e não apenas Edmundo González Urrutia. Por que só o nome de Urrutia é mencionado?

Convenientemente só ele é mencionado, porque foi o único a não aceitar o resultado. Fato que já era previsto, uma vez que também foi o único a não assinar o acordo, estabelecido meses antes, de que o resultado das urnas seria acatado por todos.

Outra questão, igualmente fundamental, é sobre o próprio Urrutia. Quem é essa figura, que apareceu de repente no processo eleitoral?

A explicação rasa que a mídia corporativa deu é que se tratava de um embaixador aposentado e que contava com o apoio da oposicionista Maria Corina Machado.

Urrutia não é apenas um embaixador aposentado. É uma daquelas figuras que, há anos reside em Miami, e sempre se mostrou mais ligado aos Estados Unidos do que ao seu país natal.

Não por acaso foi o nome apoiado pelo Tio Sam para funcionar como fachada para a candidatura de Corina, inelegível por 15 anos pela legislação do seu país.

A mídia nunca explica por que Corina se tornou inelegível, apresentando-a como “vítima” de perseguição.

Corina não tem nada de vítima. Filha de uma das famílias mais ricas da Venezuela, cuja fortuna envolve obscuras transações com petróleo, ela é uma conhecida golpista desde 2002, quando a oposição tentou derrubar Hugo Chávez e foi derrotada.

Chávez havia sido eleito três anos antes e vinha se pautando pela defesa das riquezas da Venezuela, a começar pela estatização da PDVSA, a Petrobras de lá, até então a serviço dos interesses da elite local e dos Estados Unidos.

Chávez ficou fora do poder menos de 48 horas e ao reassumir o Palácio de Miraflores, escancarou o papel dessa turma que, com o auxílio da CIA e demais órgãos de espionagem dos Estados Unidos, tentou assumir o governo da Venezuela na mão grande.

Desde então, Corina é figurinha carimbada, presente em todas as tentativas de desestabilizar os governos chavistas.

Algumas de suas atuações foram fundamentais para que se tornasse inelegível: ter defendido publicamente, em eventos internacionais, que as sanções econômicas contra a Venezuela fossem ampliadas e que não se fornecessem vacinas contra o covid-19 ao seu país.

Some-se a isso que, como deputada, teve suas prestações de contas questionadas por não explicar uma série de gastos e utilização indevida de dinheiro público.

Longe de ser uma “brava mulher” que luta em defesa de seu país, Corina é uma golpista que, para melhor compreensão do público brasileiro, deveria ser apresentada como um misto de Aécio Neves e de Jair Bolsonaro, por questionar os resultados eleitorais, por defender uma plataforma neoliberal das mais radicais e pela subserviência aos interesses do Tio Sam.

Alguém viu a mídia corporativa divulgar, por exemplo, que a plataforma eleitoral de Urrutia, na realidade a de Corina, é pela privatização de tudo na Venezuela, a começar pelo petróleo?

Alguém viu a mídia corporativa fazer algum comentário sobre a plataforma de Urrutia ser mais à extrema-direita do que a de Milei?

Chegamos assim ao ponto central da questão. A gritaria contra os resultados da eleição na Venezuela é, na prática, a continuidade da tentativa de derrubar o governo bolivariano.

Como golpes de estado não deram certo, como as sanções econômicas também não conseguiram indispor a maioria da população contra o chavismo, a estratégia agora é tentar empossar uma oposição sem votos.

Todos os latino-americanos deveriam estrar atentos ao que se passa na Venezuela, pois o efeito Orloff (“eu sou você amanhã”) é bastante óbvio.

Com o visível declínio do poder dos Estados Unidos na cena internacional e o mundo multipolar nascendo, o Tio Sam volta seu interesse de forma mais acentuada ainda para a América Latina.

Desde que foi anunciada, em 1823, pelo Congresso dos Estados Unidos, a Doutrina Monroe, aquela da “América para os Americanos”, sinalizava o que viria depois.

Inicialmente saudada como a defesa da não ingerência dos países europeus nos países americanos e que nenhuma nação americana fosse recolonizada, transformou-se em nova recolonização.

Tem sido assim desde então.

São inúmeros os golpes que os ocupantes da Casa Branca (independente de serem democratas ou republicanos) desferiram contra governos democraticamente eleitos na América Latina.

No passado, os agentes destes golpes eram militares, treinados na antiga Escola das Américas, cuja sede localizava-se no Panamá. Instituição que treinou também forças militares e paramilitares na tortura a adversários do regime.

Os golpes militares na Bolívia, no Paraguai, na Argentina, no Chile e no Brasil, nas décadas de 1960 e 1970 são exemplos disso. As bárbaras mortes e torturas que se seguiram a eles, também.

Após a redemocratização nos anos 1980 e com esse tipo de golpe tendo ficado muito desgastado, o Tio Sam passou a aplicar aqui o que se conhece como “guerra híbrida”, um conjunto de ações para mudar governos que considerem adversários sem desgaste para a Casa Branca.

No lugar dos canhões, das tropas nas ruas ou mesmo dos bombardeios aéreos, entra em campo a atuação de políticos oposicionistas cooptados, de ONGs bancadas pelas grandes empresas estadunidenses, de juízes politizados e, especialmente, de uma mídia corporativa que se pauta pelos interesses de Washington.

Figuras como Bolsonaro, Milei e a própria Corina podem ser incluídos na categoria dos políticos cooptados ou alguém considera normal um presidente brasileiro beijar a bandeira dos Estados Unidos e jurar amor ao ocupante da Casa Branca, como fez Bolsonaro com Trump?

Da mesma forma, não é normal que um presidente da Argentina aceite que forças policiais dos Estados Unidos façam a patrulha do rio da Prata ou a dita oposicionista Corina defender sanções que tiveram como resultado a morte de milhares de venezuelanos, com o único objetivo de desgastar o governo Maduro.

Já as ONGs bancadas por empresas e instituições do Tio Sam estão em ação em toda a América Latina, financiando desde “inocentes” pregadores na Amazônia, que cristianizam índios e “defendem” o meio ambiente, até entidades que apoiam o identitarismo, inclusive em conceituadas universidades públicas da região.

Quem quiser se aprofundar sobre o assunto basta pesquisar sobre a atuação da Open Society, do bilionário George Soros, ou sobre o papel da Fundação Ford nos países abaixo do rio Grande.

Como a própria Casa Branca, essas ONGs adoram levar “democracia” à América Latina. Democracia que, na realidade, é sinônimo de impor conceitos, valores e, sobretudo, naturalizar a rapina das matérias-primas e riquezas da região.

Com que direito, por exemplo, a Casa Branca fala em democracia, quando em 2000, George W. Bush roubou a eleição vencida por Al Gore?

Com que direito um sistema plutocrático, controlado por 181 famílias, como o consagrado intelectual estadunidense Noam Chomsky define o poder em seu país, quer ensinar democracia para os outros?

O Haiti está apodrecendo nas barbas do Tio Sam, mas como lá não existe petróleo, ouro ou outra riqueza alvo de cobiça, a Casa Branca não se preocupa. A preocupação, de democratas e republicanos, se dirige, no entanto, para a Venezuela.

Quem tem boa memória deve se lembrar de que a década iniciada em 2000 foi marcada pela chamada “onda vermelha” na América Latina, quando países tão diversos quanto Honduras, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Equador, Argentina e Brasil elegeram governantes progressistas. A eleição de Chávez, em 1998, foi precursora.

Quase todos esses governantes conseguiram eleger seus sucessores, mas, exatamente por isso, a democracia nestes países passou a ser alvo de ataques.

O que aconteceu com a presidenta Dilma Rousseff, no Brasil, é o exemplo mais cabal e sintetiza como a guerra híbrida atua.

Sem crime de responsabilidade, Dilma foi alvo de um golpe travestido em impeachment, depois que a oposição questionou a sua vitória e a mídia corporativa destruiu a imagem dela e do seu governo que, diga-se, ia muito bem.

Essa mesma mídia foi essencial para que Lula fosse preso, sem qualquer prova de corrupção, e assim ficasse impedido de disputar a eleição vencida por Bolsonaro, em 2018.

Do nada, as ruas das principais capitais brasileira encheram-se de “manifestantes” contra o governo petista. Manifestantes saudados pela mídia e até por setores da esquerda que, no final das contas, se mostraram a serviço de entidades financiadas do exterior e pela direita local. O Movimento Brasil Livre (MBL) que o diga.

O que se passa na Venezuela nada mais é do que um repeteco dessas ações, com a diferença de que lá as forças armadas são leais ao governo e existe uma enorme organização popular. Razão pela qual os golpes não deram certo.

A mídia corporativa, claro, não mostra nada disso.

Não mostra, porque ela é parte do processo de guerra híbrida tanto lá quanto aqui. É parte do processo em marcha para manter e aprofundar a recolonizar da América Latina.

Da “onda vermelha” dos anos 2000 resta pouco. Além da Venezuela e de Cuba que, há décadas, resistem ao imperialismo dos Estados Unidos, às suas sanções e tentativas de golpes, praticamente apenas o Brasil, a Bolívia, o México e a Colômbia têm nos dias atuais governos comprometidos com o interesse da maioria de suas populações e que não se pautam pela cartilha neoliberal.

Não por acaso foram três desses governos os que se propuseram a mediar a crise instalada pelos Estados Unidos na Venezuela.

Se não fosse a permanente atuação dos Estados Unidos para tutelar a vida dos países latino-americanos, era para esta eleição ter transcorrido dentro da normalidade.

O que se vê, no entanto, é uma Venezuela mergulhada em tentativas de golpe, com milicianos e narcotraficantes recebendo entre US$ 150 e 200 por dia para tocar o terror, queimando escolas, postos de saúde, ferindo e matando quem apoia o governo.

As mortes confirmadas ultrapassam duas dezenas de pessoas.

Autoridades estadunidenses já sinalizam que o resultado das urnas não será reconhecido, o mesmo acontecendo com governos de extrema-direita latino-americanos e europeus.

Alguém pode considerar novidade os Estados Unidos não reconhecerem a vitória do chavismo? A eleição de Maduro, em 2016, também não foi reconhecida pela Casa Branca.

Alguém pode considerar novidade a Inglaterra não reconhecer a vitória de Maduro? Para quem não tem boa memória, lembro que a Inglaterra é o país cujo governo roubou as 31 toneladas de ouro do fundo soberano da Venezuela, que se encontravam depositadas em estabelecimento bancário daquele país.

A obviedade na ação dos governos de extrema-direita da América Latina é tamanha, que nem merece discussão.

Quais são as credenciais democráticas de figuras como Dina Boluarte ou Daniel Noboa, quando oprimem e implantam o terror em seus próprios países?

Neste quadro tão complexo, o papel dos governantes do México, da Colômbia e do Brasil se torna crucial.

Diferentemente do que pretendia a extrema-direita ou mesmo setores da esquerda, a participação desses países como mediadores se mostra essencial num momento em que a guerra híbrida tenta sufocar a democracia na Venezuela.

Daí a enorme relevância do Brasil e do presidente Lula, pelo que representa tanto externa quanto internamente.

Maior país da América Latina e um dos maiores do mundo, o Brasil de Lula é ouvido e respeitado. Motivo pelo qual Lula, quando pede prudência e paciência, tem sido tão atacado.

É que os ataques a Maduro, independente do relacionamento que ele e Lula possuam, já tem e terá consequências.

Não por acaso a mídia corporativa brasileira estampa em capas de suas revistas semanais que a eleição na Venezuela é “a maior fraude da história” ao mesmo tempo em que tenta empoderar o bolsonarismo para pressionar e emparedar Lula.

Alguma novidade em relação ao que foi feito, em anos recentes, por esta mídia, contra Lula e o PT?

Em outras palavras, independente de qual seja a posição do governo brasileiro – pessoalmente acredito que será a de reconhecer a legitimidade do resultado do pleito venezuelano – a oposição comandada por Washington vai tentar utilizá-la para atacar Lula.

Ele sabe disso, mas não há como escapar. Se não fizer o que a Constituição brasileira determina e ela é clara quanto à “não ingerência”, estará assinando o atestado de morte para a nossa democracia, especialmente para daqui a dois anos, quando haverá eleição presidencial.

Se contestar o resultado, como quer o Tio Sam, estará atestando a morte da nossa soberania, pouco importando que se continue a falar em política externa “ativa e altiva”.

A profusão de manchetes, de notícias no rádio e na TV, de postagens nas redes sociais contra o resultado das eleições na Venezuela deve ser vista dentro deste contexto.

Os verdadeiros democratas latino-americanos sabem disso, mas a turma da guerra híbrida quer convencer aos desinformados ou desavisados do contrário.

A sorte é que a América Latina de 2024 não é mais aquela terra cujo dono era o Tio Sam. Ela diversificou seus parceiros econômicos e suas alianças estratégicas, dentre os quais a China se destaca como principal.

Se ao Tio Sam interessa a divisão para continuar imperando na região, esse não parece ser o propósito da China, que já reconheceu e felicitou Maduro pela vitória.

Daí, as ameaças que os Estados Unidos, a extrema-direita europeia e a latino-americana fazem à Venezuela destinarem-se ao fracasso.

Com o apoio de aliados como China, Rússia e Irã, dificilmente um golpe contra Maduro prosperará.

O que não significa que o governo chavista deixe de enfrentar dificuldades e instabilidades.

Afinal, na Venezuela se joga o futuro de uma América Latina soberana.

*Ângela Carrato é jornalista. Professora da UFMG. Membro do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Leia também

Boaventura de Sousa Santos: Uma reflexão sobre a Venezuela

Pedro Carrano: Por que analistas ignoram o impacto do bloqueio econômico na Venezuela?

Oposição acusa fraude, mas não apresenta provas, diz especialista eleitoral da Venezuela; vídeo

Washington não pode proclamar González, alertam Manuel Domingos, Roberto Amaral e José Genoino

Movimentos populares brasileiros defendem a soberania e a paz na Venezuela

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

.

“Presidente Lula diz a jovens no Ceará que existe
‘a internet de Jesus’ e ‘a internet de Lúcifer’ e
defende Regulamentação das Redes [ANTI-]Sociais
para coibir Discursos de Ódio e Desinformação”

“Tem internet que trata de educação e tem internet
que trata de destruir;
Tem internet que fala a verdade e internet que fala mentira;
Tem internet que está preocupada com o aprendizado;
Tem internet que quer nos ensinar o caminho de Jesus e
tem internet que quer nos ensinar o caminho de Lúcifer.”

[ Reportagem: Wendal Carmo | CartaCapital ]

https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/lula-diz-a-jovens-no-ceara-que-existe-a-internet-de-jesus-e-a-internet-de-lucifer/

Zé Maria

UátizÁpi

“Estão usando esse APP para ameaçar jovens populares, lideranças de rua, lideranças comunitárias, a família dos militares, a polícia e toda a Venezuela.

O primeiro passo é o #RetiroVoluntario, progressivo e radical do WhatsApp. Diga a ele #NoAWhatsApp !

Existem outros APPs de mensagens [com funcionalidades semelhantes].

¡Vamos todos y todas!”

NICOLÁS MADURO MOROS
Presidente da Venezuela Reeleito
https://x.com/NicolasMaduro/status/1820613883721048450
.
.
Exemplo de País Soberano!
.
.

Zé Maria

https://t.co/L0cV5BidD6

Hablemos de eso | Solo para corresponsales extranjeros

Por Humberto González Silva [*], Vía @Ciudad_CCS

04/08/2024.- Por supuesto que, como ha denunciado reiteradamente
el presidente Maduro, existe un cartel comunicacional contra Venezuela.

Usted puede consultar Associated Press (AP), Reuters, Voz de América,
[Globo,] DW, BBC o France 24, CNN, El Comercio de Perú o El País de España,
por solo señalar algunos medios y agencias de noticias, y encontrará
las referencias a la dictadura, los “análisis” más parcializados hacia la
oposición extremista, la desaparición de los partidos de oposición que
no estén alineados con la señora Machado, la palabra “supuesta” como
adjetivo a toda denuncia de los factores bolivarianos… y así.

Algunos tratan de disimular y guardan las apariencias, aunque no muestren
nunca una de las masivas concentraciones en apoyo al presidente Nicolás
Maduro y tergiversen sus declaraciones; otros, como El País, se han vuelto
un pasquín sin vergüenza alguna.

No obstante, para un periodista europeo o estadounidense, al sesgo
editorial que les otorga la pertenencia a este cartel puede sumarse el
desconocimiento del sistema electoral venezolano, dadas las importantes
diferencias con los sistemas electorales de sus países.

Ahí les va una ayudadita al respecto:

Uno: en Venezuela, las elecciones son directas.

Esto es así por razones históricas.
Desde 1946, quedó abolido todo sistema electoral en que se elige a alguien
para que vote después en lugar de uno. Sistemas indirectos como el de
Estados Unidos, donde las personas eligen un colegio electoral que vota
por ellas, donde alguien como Trump, en 2016, o Bush, en el año 2000,
pueden ser electos habiendo sacado menos votos que sus contrincantes
se consideraría un exabrupto, “una violación a los estándares democráticos”.

Igualmente, se consideraría totalmente antidemocrático que el jefe de
gobierno fuera electo por el parlamento y no directamente por el pueblo,
como ocurre en los sistemas parlamentarios europeos.

Dos: en Venezuela, todos los partidos pueden postular candidatos
y no existe solamente un partido de oposición.

La negación de los derechos de otros partidos o grupos de electores,
como la que ocurre en Estados Unidos, donde los medios de comunicación
no dan cobertura alguna a nadie que no sea del Partido Demócrata o
del Republicano, se consideraría un atropello.

De hecho, en la Asamblea Nacional y los Consejos Legislativos de los
Estados, hay representantes electos de partidos minoritarios, como
no ocurre en Estados Unidos.

Tres: en Venezuela, no existe el “voto por correo”, que a Trump le parece
una de las múltiples fuentes de fraude electoral que existen en su país.

Cuatro: en Venezuela, existe un Poder Electoral, ejercido por el
Consejo Nacional Electoral, y el Tribunal Supremo de Justicia
cuenta con una Sala Electoral con competencia para tramitar
los recursos contenciosos que presente cualquiera de los
afectados por situaciones que se presenten alrededor de
cualquier proceso electoral.

Nos parecería fuera de toda regla razonable que las elecciones en cada
estado fueran organizadas por el gobernador o la gobernadora y que este
o esta fuera la autoridad electoral.
Esto pasa en Estados Unidos, donde, por ejemplo, en el año 2000,
las elecciones presidenciales las ganó George W. Bush gracias a una
victoria por un pequeño margen en el estado de Florida.
Estos resultados fueron públicamente cuestionados y el reconteo de votos
fue detenido por el gobernador Jeb Bush, hermano del candidato.

Cinco: por cierto, en Venezuela, el Polo Patriótico tiene una amplísima
mayoría en la Asamblea Nacional, producto de las elecciones regulares
celebradas en 2020, cuando los mismos partidos que protestan en estos
días decidieron llamar a la abstención y continuar ilegalmente con la
Asamblea Nacional electa en 2016.

A esta “asamblea”, abiertamente ilegal, porque venció hace tiempo
el período para el que fue electa, el gobierno de Estados Unidos la
reconoce como representante legal de la República Bolivariana de
Venezuela y le ha adjudicado arbitrariamente la administración de
los bienes nacionales en el exterior, secuestrados por el gobierno
estadounidense y la corona británica.
Estos señores siguen teniendo un presupuesto financiado por dinero
de la república, con autorización de la Oficina de Activos Extranjeros
(OFAC) del Departamento del Tesoro de los Estados Unidos.

Cabe aquí explicar, como sexto aspecto, que ha sido el propio presidente
Nicolás Maduro quien ha solicitado la intervención de la Sala Electoral del
Tribunal Supremo de Justicia para aclarar, por una parte, cualquier duda
sobre los resultados electorales y, por otra, para investigar la conspiración
puesta en marcha por el señor Edmundo González Urrutia y sus jefes contra
el proceso electoral.

Sobre los resultados, se ha solicitado que todos los candidatos presenten
las actas en su poder para compararlas con aquellas que están en manos
del CNE, y establecer el 100% de los resultados.

Como se sabe, el sistema automatizado ha estado bajo un masivo ataque
informático que ha dificultado la transmisión oportuna de los datos.

Por si los corresponsales extranjeros no lo saben, cada una de las máquinas
instaladas en las mesas electorales, al cerrar el proceso de votación, emite
varias actas con los resultados:

dos van al CNE, una para cada uno de los miembros de mesa y una para cada
testigo de los partidos políticos.

Todas deben haber sido firmadas por la o el presidente de cada mesa,
los demás miembros y testigos, una vez realizada la auditoría ciudadana.

No valdrán entonces falsificaciones.

Las “dudas” serán despejadas por las autoridades venezolanas,
como corresponde a una república soberana.

[*] Actualmente Presidente del Centro Internacional de Estudios
para la Descolonización. República Bolivariana de Venezuela.

#PatriaSoberanaYPlena
https://x.com/CentroDescovzla/status/1820530504053170527
https://ciudadccs.info/publicacion/20554-hablemos-de-eso-solo-para-corresponsales-extranjeros

.

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/GUOQXx8XUAAi_jj?format=jpg

Dia em que os Estados Unidos da América

se Ajoelhou para Reverenciar o Brasil.

.

Luciano Baía Meneghite

Parabéns Ângela Carrato e Viomundo. Texto perfeito e didático. Deveria ser transformado em um vídeo e divulgado massivamente em português e espanhol para atingir o máximo de pessoas hoje vítimas da má informação.

Deixe seu comentário

Leia também