29 de novembro: De data do início do extermínio do povo palestino (em 1947) a dia de solidariedade

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À esquerda, reunião da Assembleia da ONU, que, em 29 de novembro de 1947, aprovou a Resolução 181, recomendando a partilha ilegal, imoral e injusta da Palestina. Esta resolução abriu as portas para o que viria a ser a limpeza étnica da Palestina. À direita, palestinos expulsos durante a Nakba. Fotomontagem: Reprodução da Fepal

29 de novembro: de início do genocídio a dia de solidariedade ao povo palestino

Nota pública da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal)

Por Federação Árabe Palestina do Brasil – Fepal

Instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 29 de novembro de 1977, por meio da Resolução 32/40-B, o DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO precisa passar por uma metamorfose para, também, ser data de reflexão crítica da Comunidade Internacional acerca das responsabilidades da ONU no início do extermínio do povo palestino, bem como quanto a sua inação frente ao genocídio em curso em Gaza.

É que a data foi instituída no exato dia em que a mesma ONU aprovava a Resolução 181, porém 30 anos antes, recomendando a partilha da Palestina, em termos ilegais e injustos, além de imorais.

Esta resolução é que abriu as portas para o que viria a ser a limpeza étnica da Palestina, iniciada pelos sionistas em 17 de dezembro de 1947, ou seja, apenas 18 dias depois.

Foram seis meses ininterruptos de limpeza étnica, até 14 de maio de 1948, quando o sionismo se autoproclama estado na Palestina e se autodenomina “israel”, sem que a ONU impedisse a ação de extermínio do povo palestino.

O mesmo se deu após 15 de maio de 1948, quando a guerra de conquista e extermínio prosseguiu até final de 1951, culminando com o roubo de 78% da Palestina e desta porção a limpeza étnica de 88% dos palestinos.

Neste intervalo, em 11 de dezembro de 1948, a ONU aprova a Resolução 194, que determina o retorno dos refugiados palestinos, mas sem fazê-la cumprir, o que leva a que os 6,2 milhões de refugiados e seus descendentes sigam nesta condição, a maioria em países vizinhos à Palestina.

Em 11 de maio de 1949, sem os direitos nacionais, civis e humanitários do povo palestino restabelecidos, a ONU novamente beneficia os sionistas, admitindo “israel” como mais um de seus estados membros.

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Isso se deu por meio da Resolução 273/III, que tinha como cláusulas condicionantes as implementações das Resoluções 181 e 194, portanto, restabelecimentos territorial e demográfico da Palestina.

Ambas ainda não foram cumpridas. Ao contrário, o restante da Palestina foi ocupado em 1967 e mais limpeza étnica promovida.

E somente depois de realizada a maior limpeza étnica da história, a tomada integral da Palestina e a normalização de “israel” com todos os seus crimes é que a ONU institui um dia, este de solidariedade ao povo palestino, como mea culpa de suas responsabilidades pela tragédia do povo palestino, agora agudizada com o genocídio em Gaza, televisionado e novamente a organização incapaz de parar nova busca de solução final pelos sionistas.

“israel”, que jamais deveria estar na ONU porque nasce ilegalmente e sob genocídio, ou porque até hoje não cumpriu a resolução que o tornou estado membro, lá segue, sem ter cumprido, ademais, uma só das centenas de resoluções da Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança respeitantes à Palestina, como a do cessar-fogo, de março deste ano, ou as determinações liminares da Corte Internacional de Justiça pela cessação dos atos genocidas, de janeiro deste ano.

Ao mesmo tempo, a Palestina, que deveria ser estado ao menos nos termos da Resolução 181, somente em 2012 é admitida da ONU e, ainda assim, apenas como estado observador.

Diante do genocídio em Gaza, a ONU se torna ainda mais questionável no que diz respeito à Palestina.

Já temos 419 dias de solução final ao vivo, com 55.045 palestinos exterminados, considerando os desaparecidos sob escombros, ou seja, 2,47% da demografia de Gaza, equivalente a 5,1 milhões no Brasil e 18,6 milhões na Europa da 2ª Guerra Mundial por sua demografia atual, matança que chegaria a 100 milhões nos mesmos seis anos daquela guerra europeia.

As crianças exterminadas são quase 22 mil, com as 4 mil sob escombros, ou 9.730 por milhão de habitantes em Gaza, 3,5 vezes mais que as 2.813 por milhão nos seis anos da 2ª GM.

Tudo que diz respeito aos genocídios conhecidos foi atualmente superado em Gaza e a ONU e a chamada Comunidade Internacional seguem incapazes de parar este holocausto televisionado.

Portanto, em mais este 29 de Novembro, mais que expressar-se a solidariedade, devemos refletir criticamente quanto às responsabilidades da ONU, pois foi a irresponsabilidade de suas decisões ilegais e imorais para a Palestina que levaram à maior limpeza étnica da história e ao maior extermínio de civis, mulheres e crianças de todos os tempos.

Se esta data não tivesse dado início ao extermínio do povo palestino, também não teria sido necessário instituí-la como um dia de solidariedade.

Como a roda da história não gira para trás, que se cumpram todas as resoluções da ONU para a Palestina, bem como seja “israel” excluído das Nações Unidas por não cumprir a resolução 273/III, de sua admissão na organização.

Palestina Livre a partir do Brasil, 29 de novembro de 2024, 77º ano da Nakba.

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