Lelê Teles: O inferno em festa, Bolsonaro é hell

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Por Lelê Teles

Por Lelê Teles*

as criaturas numinosas, vivendo na luz ou na escuridão das trevas, têm o dom das premonições.

veja o que eu vi e ouvi na minha última visita, em sonhos, aos quintos dos infernos.

“bolsonaro é réu”, gritou, às portas da casa de satanás, o mudo-falante, pelado como veio ao mundo, montado no lombo de um lamborguínico centaurominion: patas de nióbio e crinas de grafeno.

ali, do lado de fora do palácio incandescente, sátiros saltitavam salientes e libações de vinho eram servidas em retorcidos chifres de bode.

as belas bacantes, sensuais e seminuas, banqueteavam-se num bacanal.

no largo do mundo abismal, no centro da praça tridente, uma cabeleireira descabelada passava batom na estátua da justiça.

em volta, maníacos malucos marchavam, uma velhinha circulava com uma bíblia na mão e bilu, o etê, entretinha um rebanho de garrotes…

o pneu perfilava de pé, como um soldado ou um padre de festa junina.

o inferno, infestado, estava em festa, como em festa esteve no dia da chegada de olavo de carvalho.

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eram nove e meia da manhã, horário de brasília quando, no salão oval das trevas, um gárgula engravatado fez soar sua trombeta trovejante, anunciando o início do julgamento no ésse teéfe.

capiroto, que estava sentado em seu trono em chamas, chamou um dos seus auxiliares alados, movendo mecanicamente o indicador, que exibia uma longa, rubra e aguda unha de piriguete.

o funcionário da caverna escura, usando o sinal do satélite da starlink, sintonizou a tevê do capeta no canal de edir macedo, que transmitia, no culto, a sessão histórica.

satã, o incréu, não creu no que viu.

sentado numa poltrona de couro, de design modernista, na mesmíssima sala do palacete que outrora fora cagada e depredada por uma furiosa legião de fanáticos delinquentes, estava o chefe da horda bárbara, bolsonaro, sentado na primeira fila, fumando e comendo pipoca, frio como um psicopata, um patife frente ao patíbulo.

gonet, o procurador, procurou dar logo o tom da cerimônia: “bolsonaro liderou organização criminosa para se manter no poder”.

moraes, com um brilho incomum na careca, foi ainda mais longe.

ao ler o relatório, o piroca afirmou que o nosso minguante minotauro – corpo de homem e cabeça de gado – fez parte do “núcleo crucial” da trama golpista.

senhor das trevas, alegre como só um demônio sabe ser, deu uma cambalhota e foi à churrasqueira, mandou pra dentro um bife flambado ao maçarico e deu uma golada no drink vermelho e flamejante.

“com mil diabos”, disse o diabo, “é de cair o cu da bunda”, falou isso e jogou o toco do charuto no chão.

a cobra fumou.

mefistófeles, alto funcionário infernal, sinistro ministro das relações exteriores do mundo obscuro, cochichou no ouvido do chefe que já havia mandado cobrar a alma do futuro condenado: “nosso fausto infausto cairá em desgraça, é o preço a se pagar; ele pediu riqueza e poder, teve; agora o teremos”.

o sete-peles meneou a cabeça anuindo, e pediu silêncio para ouvir os advogados de defesa do minotauro.

os pobres-diabos ricos estavam numa flagrante enrascada: esgarçavam gravatas, tartamudeavam, resfolegavam tensos, soavam bicas, passavam a mão na testa… ofegantes, gaguejavam como se o réu fosse eles.

“nunca se viu uma defesa tão fraca, desde o 7×1 no mineirão”, gracejou o tinhoso, macabramente.

aproveitando a metáfora futebolística, o espírito zombeteiro de kevin lomax, usando a alma de keanu reeves como cavalo, cantou para o chefe um trecho de uma balada do bigodudo belchior: “estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol…”

advogado do diabo explicou: “fixa-te nesta imagem, repugnante besta-fera, o goleiro vê roberto carlos, com suas grossíssimas coxas, botar a bola na marca do penalty e se afastar lentamente até a entrada da área. naquele momento, o goleiro e todo o estádio sabem que dali virá um canhão da space x, ou seja, o guarda-metas tentará defender o indefensável”.

diabo riu tanto que abriu uma fenda no solo do palácio mostrando, ao fundo, as lavas incandescentes de um vulcão vivo e vúlvico.

o pai da mentira, veja que satanagem, jogou uma moeda pro alto, na boca do abismo.

o advogado, numa gana gananciosa, atirou-se no ar, agarrando o cobiçado níquel e mergulhando, com moeda e tudo, dentro do fogo infernal.

“e se ele fugir da condenação, horrenda criatura chifruda?”, pergunta uma de suas assistentes.

“um homem não pode fugir de si mesmo”, respondeu com voz metálica o pai de todo o mal, “esse sujeito estará preso eternamente dentro desse personagem: um cagão covarde, fujão e derrotado”.

palavra da salvação.

*Lelê Teles é jornalista, publicitário, roteirista e mestre em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

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Lelê Teles é jornalista, roteirista e mestre em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).


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