por Luiz Carlos Azenha
O governador de São Paulo, José Serra, pretende se eleger presidente como uma espécie de “candidato acidental”. Ele não fala, ele não opina, ele não debate, ele não tem compromisso.
O compromisso de Serra é com o resultado dos “focus group”. E, obviamente, com sua própria carreira política. “Focus group” são aqueles grupos de eleitores que se reúnem em torno de uma mesa para debater a campanha, sob discreta observação dos marqueteiros.
Li, em algum lugar, que o escândalo do mensalão do DEM, em Brasília, tinha sido bom para a candidatura de Serra. Concordo parcialmente. O escândalo livrou Serra de mais um compromisso: o de respeitar a coalizão partidária e indicar um vice do DEM. O DEM assim, desmilinguido, fica refém do projeto político de Serra.
Mas, voltando à campanha, adiar o início oficial dela interessa a Serra. Quanto menos debate houver, melhor. Quanto menos ele opinar, melhor. Opiniões e debates forçam o candidato a assumir compromissos. E compromissos assumidos hoje restringem o escopo da atuação dos marqueteiros. Aos marqueteiros interessa ter a latitude máxima para inventar um candidato ao gosto do eleitorado.
A vantagem do tucano está no reconhecimento do nome dele, na longa carreira política, na experiência administrativa e no fato de que já disputou e perdeu uma eleição. Ainda assim, ninguém sabe direito o que pensa ou o que representa Serra. No governo de FHC, ele era o representante do “estatismo”, da esquerda do tucanato. Hoje já não pode sê-lo: Dilma Rousseff ocupou este espaço.
Mas isso não é essencial em uma campanha do século 21. Importa o modelo de marketing. Que funcionará mais ou menos assim: aos aliados de Serra e, principalmente, aos aliados na mídia, caberá tensionar a campanha eleitoral com o PT e com a candidata Dilma Rousseff.
Enquanto isso, como não quer nada, Serra pretende pairar sobre o debate, como se fosse capaz de andar sobre o rio Tietê, tirando proveito de sua “capacidade gerencial”, demonstrada definitivamente na ampliação das marginais que, em conjunto com a ampliação do Rodoanel, serão vendidas ao público como “estradas rumo ao paraíso”.
As obras vão representar um desafogo no trânsito de São Paulo na hora agá da campanha eleitoral, que é o que interessa. Não importa se há pedágios onde não deveria haver no Rodoanel, se a ampliação das marginais tem data de validade e não resolverá os problemas de longo prazo. Afinal, estamos no século da despolitização, do “déficit de atenção”, das manchetes nervosas, inócuas, descontextualizadas.
Até você tentar explicar ao eleitor qual é o DNA político de Serra, ele, o eleitor, já terá mudado de canal em busca da próxima atração. Estamos completando 10 anos de Big Brother no Brasil. Não desprezem o efeito disso na “cidadania” brasileira.
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A campanha de Serra deverá obedecer à mesma lógica de infantilização do eleitorado aplicada por Gilberto Kassab e seus bonecos. Ele também se elegeu assim, como uma massa ideológica disforme moldada por marqueteiros. Por trás de Kassab, no entanto, estava a mesma coalizão que governa São Paulo já faz tempo: empreiteiras + especuladores imobiliários. A política partidária, hoje, se resume muitas vezes a isso: quem consegue esconder melhor quem são seus “patrocinadores”.
O próprio comportamento do PT, nos dois mandatos do governo Lula, acaba facilitando uma campanha como a que Serra pretende fazer. O partido contribuiu para despolitizar a política, talvez tomado pelas tarefas importantes de governar o país, vários estados e centenas de prefeituras. A despolitização se deu pelo afastamento do partido dos movimentos sociais e pela desconexão entre obras do governo e a apresentação delas ao público como resultado de um projeto político e ideológico. Cabe à candidata Dilma articular esse discurso agora, ainda que com atraso.
Há de se considerar também que o tipo de ascensão social que milhões de brasileiros experimentaram graças ao governo Lula não reverte, necessariamente, em votos. Especialmente se quem ascende precisa de validação da classe média, o que em geral faz adotando as preferências estéticas, intelectuais e o discurso político da classe média.
Não se esqueçam que o nome de Lula não estará na cédula eleitoral em 2010. Talvez, em alguns blogs da internet, a gente vá ver um debate eleitoral como aquele dos velhos tempos, prenhe de discursos ideológicos e do bom combate entre a esquerda e a direita — um confronto importante para a democracia.
Suspeito, no entanto, que a eleição de 2010 será decidida muito mais pelo trabalho dos marqueteiros. Sendo assim, José Serra, nesse momento uma espécie de barriga de aluguel para os interesses anti-populares da política brasileira, poderá se apresentar como alguém “de esquerda” (nas palavras do presidente do PSDB, Sergio Guerra), como a sequencia natural de Lula (nas palavras de Juan Arias, o correspondente do El Pais), como uma espécie de candidato “acidental”, ” gerente”, acima do debate ideológico “antigo”, o homem que colocou São Paulo para andar.
Na tradição do rodoviarismo de Maluf (rodovia dos Trabalhadores=Rodoanel) e do exibicionismo de Collor (este carregava os livros sob o braço, como atestado de modernidade, da mesma forma que o governador paulista hoje usa o Twitter para desinformar), Serra pretende se eleger como o candidato acidental, muito embora a gente saiba muito bem quem acaba se dando mal nesses “acidentes”.
Comentários
Samuel
Azenha, descobri que pesquisando a expressão "Vendedor da Pátria" aparece nada mais nada menos que o farol de alexandria! E parabens pelo novo visual.
Roberto Locatelli
Realmente, Azenha, por trás dos demo-tucanos está o consórcio empreiteiras-especuladores imobiliários.
Há uma absurda bolha imobiliária na capital, mantida por essa especulação. Um apartamento nos baixos do Ipiranga, às margens do aprazível rio Tamanduateí, chega a custar R$ 1 milhão!! Isso em locais nos quais é perigoso sair de casa depois das 21 h. É um absurdo!! Essa bolha é mantida pelos especuladores.
A parte que cabe às empreiteiras e cimentar São Paulo até que o solo não absorva nenhuma gota d'água. Isso vem de longa data, mas agora piorou drasticamente. Qualquer chuvinha, daqui para a frente, já provocará enchentes (que a mídia serrista chama de "pontos de alagamento") e caos.
Votar em Dilma não é questão ideológica. É quase questão de sobrevivência.
Lourdes
Vc traduziu meus medos!
O Brasileiro
Bem, eis que agora, já perto da renúncia de Serra ao governo de São Paulo (mais uma do oportunista, que só usa os cargos como trampolim político), muitas coisas já podem ser ditas, entre elas:
Serra parece um amador em política, no que diz respeito literal a esta, já que jogo de escroque é área na qual tem grande habilidade. Nesses mais de 3 anos em que Serra esteve hospedado no Palácio dos Bandeirantes a espera da presidência, não procurou apoio nos outros estados visando às eleições de 2010. Lula o fez, antes de 2002, com a Caravana da Cidadania, quando articulou alianças em vários estados. O mesmo fez com Dilma em 2009, para torná-la conhecida dos políticos regionais, daqueles que estão perto dos eleitores, fazendo alianças por todo o Brasil. O que Serra e seu partido fizeram foi exatamente o oposto. Confiando em demasia na aliança espúria que têm com a mídia golpista, passaram o último ano confabulando que campanhas difamatórias iriam “apresentar” com o PiG, bem ao estilo José Serra.
francisco.latorre
sou da opinião do marcos coimbra.
pela primeira vez temos uma eleição partidária.
pt democrático-social x psdb liberal-entreguista.
o tal plebiscito.
e é bom que seja assim… apesar de muitos tentarem nos convencer do contrário.
disputam duas visões de mundo radicalmente opostas.
sempre reclamaram que as disputas eram entre personagens.
não mais. lula encaminhou pra disputa partidária.
e assim será.
é claro que os prejudicados vão negar chorar e espernear.
mas a disputa será sim partidária.e ideológica.
lula e o pt têm o que mostrar.
vai mostrar o que fez e faz o governo do pt hoje… e o que fizeram os opositores quando foram poder ontem.
…
Williams/bauru
kkkkkk, em outubro esse Zé Alagão vai levar uma tamancanda nos ouvidos que vai errar até o caminho de casa.
Pau neles Dilma!
setepalmos
Os defensores dos tucanos (ou tucanos), argüirão se tratar de postura de homem sério, que espera o prazo para a descompatibilização para iniciar o trato político de campanha eleitoral. Ocorre que, esta tese é mais uma fantasia (entre tantas de altas plumagens).
Não há unidade tucana, enquanto se cancelem e se criem reuniões por jornais, enquanto os palanques de cada estado se irritam pela falta de chance de preparar as alianças para o pleito.
Por fim, ainda mais quando se tem espelho cristalino refletindo promessas em cartórios na prefeitura paulista, e brochadas nacionais na eleição nacional com a cabeça de Alckmin.
Mirabeau Bainy Leal
MARKETING ELEITORAL DO PSDB
O marqueteiro do PSDB está recomendando aos candidatos do partido QUE DEIXEM CRESCER A BARBA.
Se o marketing não surtir efeito diante dos eleitores, o PRÓXIMO PASSO do especialista em propaganda eleitoral será o de FAZER COM QUE TODOS OS CANDIDATOS DO PSDB AMPUTEM UM DOS DEDOS DA MÃO.
Palanque da segunda triste (15/03) « Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Parece que vem uma pesquisa do Ibope por aí mostrando vantagem da ministra Dilma sobre o governador Serra. E essa história de Serra defender o ativismo do estado, em entrevista ao Estadão? Acho que tenho razão: o Serra vai tentar se vender como clone do Lula. Escrevi sobre isso aqui. […]
Carla
Me engana que eu gosto! Existe slogan melhor para entender os paulistas?
BRUNO
Não consigo entender o que leva a polulação do Estado de São Paulo em votar para governador jose serra. Jose serra não tem coragem em assumir tal candidatura a presidencia se esconde dos problemas existentes em seu estado que encotra se sem escolas para seus alunos baixo salarios para o funcionalismo,sem contar que São Paulo esta em crise de saude e segurança,não entendo porque a polulação do Estado de São Paulo não quer enxegar o problemas que o Excelentissimo governador esta largando São Paulo . CUIDADO SÃO PAULO VOTEM NA DILMA !
Melchíades A. Prado
Aproveito para manifestar meu repúdio a qualquer engraçadinho que vier aqui dizer que o dr. José Chirico (que desrespeitosamente chamam de Zé alagão, pedágio, tilápia, bueiro, burranha, vote-em-um-e-leve-dois, etc.) é pé frio. Vejam que hoje o Palmeiras ganhou do Santos (a bem da verdade ele não estava lá, mas ganhou). O fato de apesar de tantos brasucas na fórmula indy os gringos levaram a melhor (com a presença de dr. Chirico) deve ser atribuído a pilotos petralhas e traidores, que perderam de propósito, pagos com dinheiro da Venezuela, Bolívia, Haiti ou Cuba, para prejudicar nosso futuro presidente.
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