por Luiz Carlos Azenha
Na edição da semana passada a revista conservadora britânica Economist repetiu uma série de chavões a respeito da América Latina, ao fazer uma comparação entre o lulismo e o chavismo. É uma comparação recorrente no PIG nacional e internacional.
Prova de que, quando se trata de fazer propaganda ideológica, a direitona não se importa em parecer ignorante ou incompetente.
Como já escrevi anteriormente, Chávez enfrenta na Venezuela uma crescente oposição à esquerda, inclusive dentro de seu governo. Os pedidos de “unidade” que ele tem feito, desde a cirurgia em Cuba, refletem isso. O tom dos discursos do presidente é ora reformista, ora revolucionário, para atender aos principais agrupamentos que se reúnem sob o chavismo.
Mas Chávez, na prática, é um reformista — exatamente como Lula. Como disse a respeito dele um ex-embaixador americano em Caracas, “prestem atenção nas ações, não na retórica”.
Basicamente, o programa econômico de Chávez se organiza (organiza!?) em torno da maior distribuição dos lucros do petróleo. Como? Através de programas sociais.
Estes são os limites da “revolução bolivariana”, como revela “Venezuela: La Revolución como espectáculo“, uma crítica anarquista a Chávez.
Em “La herencia de la tribu“, a escritora Ana Teresa Torres demonstra que não há nada de extraordinário no que é vendido como “autoritarismo militarista” de Chávez. Num país que teve uma verdadeira guerra de Independência — guerra, aliás, arrasadora — a exploração do mito fundador, com destaque para o heroismo dos militares, é uma realidade desde… bem, desde a Independência.
Concordem ou não com isso, gostem ou não disso, o fato é que Chávez representa continuidade histórica na Venezuela, assim como Lula tocou adiante a nossa “modernização conservadora” com uma plataforma trabalhista.
Lula e Chávez, obviamente, tem histórias e origens distintas. Mas são ambos reformistas. A diferença no sucesso dos programas sociais que ambos implantaram não tem relação com a questão ideológica, mas com a própria organização das sociedades em que se elegeram.
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Como sempre enfatiza o Gilberto Maringoni, autor de A Venezuela que se inventa, o Brasil tem uma indústria bastante desenvolvida e, portanto, as características que resultam de uma organização industrial, com os relógios de ponto, as metas e as hierarquias. A economia venezuelana é, basicamente, de um produto só: o petróleo. Que sempre teve como destino principal, antes e depois de Chávez, o mercado dos Estados Unidos.
Podemos argumentar, inclusive, que os programas sociais no Brasil tem maior possibilidade de êxito, uma vez que se assentam na ideia de uma ajuda temporária, um apoio para que as famílias eduquem seus filhos e se insiram economicamente numa sociedade industrial e de serviços. A Venezuela carece de um mercado de trabalho suficientemente grande. Há limites claros, portanto, para um crescimento sustentado no mercado interno, como aconteceu no Brasil. Faltam os empregos com carteira e os salários.
Uma verdadeira revolução socialista na Venezuela teria mexido com a propriedade dos meios de produção. Uma verdadeira revolução capitalista teria usado as rendas do petróleo para fomentar a indústria local ou acabar com a dependência dos importados agrícolas. Nenhuma delas aconteceu. Com tanto petróleo à vontade, que permite manter o preço da gasolina em valor equivalente a 2 centavos de real o litro, é até possível entender…
Se ganhar a eleição de 2012 — e o “risco” disso ocorrer é razoável –, Chávez deverá sua sobrevivência política muito mais a questões concretas do que a discursos ou práticas “revolucionárias”.
Questões que foram resolvidas graças a parcerias com empresas bem capitalistas, como a brasileira Odebrecht — o governo Chávez, diga-se, também tem parcerias com a Chevron e o Grupo Cisneros, entre outros. Foi a Odebrecht que começou a implantar o projeto de interligar todos os morros de Caracas ao Metrô e, portanto, ao mundo do consumo e do trabalho.
É isso o que definirá a eleição de 2012. O resto, como diria o outro, é mimimi.
PS do Viomundo: Chávez é devoto fervoroso da Virgen del Valle e dá para imaginar como a campanha eleitoral dele vai misturar a luta pela vida com a luta pela sobrevivência política.
Antes os moradores dos morros agora atendidos pelo teleférico subiam ou desciam de escada ou pagando passagem nos jipes-lotação; agora sobem e descem em 10 minutos, por enquanto de graça. Quem perdeu as moradias para a construção dos teleféricos foi reassentado nos prédios que aparecem na foto do meio.
Comentários
waldez
eu achei o poste adequado para fazer essa pergunta: o que raios é isso aqui? http://souagro.com.br/lula-usa-bone-do-movimento-…
Bonifa
As reformas, conforme a reação a elas, podem ser consideradas revoluções. E há muitas revoluções que não buscam mudanças de sistemas de governo. Há revoluções por autonomia. Há revoluções por comezinhas liberdades. O que aconteceu com Lula ao Brasil foi algo de tão extraordinário que até hoje me espanta diariamente. Foi uma revolução por tudo: Autonomia, liberdade, reconhecimento. Não há como encerrá-la em classificações acadêmicas desimportantes.
Mário SF Aives
E, só para completar. Tendo em conta que mesmo em face da complexidade política do Brasil, reacionária por natureza, Lula, o PT e seus aliados tornaram possível a emergência desse novo Brasil – desse algo de tão extraordinário – ao qual você se refere; bem como, a quase total superação da miséria no Brasil, e, se tudo isso pode ser traduzido como bem, logo, todos nós que acreditamos no PT como partido político e no Lula como dirigente podemos ter a certeza de que maus não somos.
Antonio Lisboa: Uma diferença fundamental entre Lula e Chávez | Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] por Antonio Lisboa, via Facebook, em resposta ao texto publicado aqui. […]
Gustavo Pamplona
"Como já escrevi anteriormente, Chávez enfrenta na Venezuela uma crescente oposição à esquerda, inclusive dentro de seu governo."
O que foi que eu tinha dito um bom tempo atrás… bem antes de você ter escrito isto aí… a partir do momento que um partido fica tempo demais no poder, logo, logo, vão surgir grupos de "esquerda" querendo a derrubada do governo.
O PT se ficar tempo demais no poder corre este risco também… não digo agora… mas provavelmente num 2° mandato da Dilma isto pode vir a acontecer.
Ninguém aguenta um partido (ou grupo politico) no poder por muito tempo, a história da humanidade já nos deu vários exemplos disto.
Outra coisa, o Brasil tem isto também… falo dos PSOL/PSTU/PCB, etc. da vida… mas eles não têm muito poder e considerando que o PIG não dá muita voz a eles…
—-
Gustavo Eduardo Paim Pamplona – Belo Horizonte – MG
Desde Jun/2007 dizendo um bom tempo atrás no "Vi o Mundo"! ;-)
A. Elcio
A Carta Capital desta semana mostra bem como Lula e seu projeto são apenas reformistas, ou será que se pode falar em revolução sem reforma agrária?? Será que se pode falar até mesmo em reforma capitalista sem reforma agrária??
Hans Bintje
Azenha:
Fico contente que você resolveu tirar a máquina fotográfica da bolsa e clicar os famosos "tres minutos con la realidad" (titulo de um tango de Astor Piazzolla).
Isso faz uma enorme diferença. Lembra o cinema russo dos bons, que jamais exagerava no dramalhão para contar histórias que já eram, por si sós, terríveis.
Eis um exemplo: "Vá e Veja", de Elem Klimov – http://www.imdb.com/title/tt0091251/ – comentado como "Jaw-droppingly powerful and truly disturbing Russian war drama."
Eu gostaria que você continuasse a fazer ensaios desse tipo, tratando de outro gênero de lutas – dessa vez, contra a miséria – que vale a pena participar.
operantelivre
Se ser reformista é fazer mudanças aos poucos tendo um horizonte claro e definido, então concordo que Lula é um reformista. Mas não creio que suas mudanças, ainda que limitadas às condições que a realidade impõem – e alguém conhece outro jeito de fazer mudança na atualidade que não seja partindo de onde se está? – sejam meras maquiagens para deixar tudo como está. Para mim, Lula é um revolucionário, um visionário que sabe onde está e onde quer chegar. Ele sabe que as conversões bruscas não vingam. Ele mesmo tardou muitos anos para ser convincentemente eleito.
Mudanças bruscas, só dentro das igrejas e costumam durar pouco tempo.
Há que se rever o conceito e a prática de revolução (mudança). Importa tanto o rumo para onde se está indo como onde se está agora. As ferramentas para revolução impõem novas práticas. As revoluções políticas são mais lentas que a urgência de nossas necessidades. Importante é que estão em movimento e no rumo que consigo ver. Claro é que esta é uma leitura pessoal, restrita ao que minha história e conhecimentos permitem entender. Talvez eu tenha idéias e práticas reformistas como Lula.
EUNAOSABIA
Mata Trolls…. velho… sou contra Chavez em muitas coisas, mas note que acho Chavez muito mais revolucionário e reformista do que Lula, boto muito mais fé em Chavez que em Lula…Lula é apenas um copiador e colador de obra alheia, reforma mesmo não fez nenhuma, nada mesmo, o que temos no Brasil são 16 anos de um ciclo de governo que foi iniciado por Fernando Henrique (ainda hoje, um mês de taxa de juros, só aquilo que se adiciona a dívida, daria para fazer 5 copas do mundo – malanismo ou não?? mudou o quê??))…
Mas vamos ao que interessa nobre amigo Mata Trolls… velho… como eu disse.. sou contra Chavez, mas fiquei sentido ontem quando o vi na TV, aquela imagem mostra o quanto somos frágeis perante Deus, até uns dois meses atrás Chavez era forte e todo poderoso… hoje está nesse estado, e sua doença é terrível… não desejo mal algum a ele, pelo contrário, quero que Chavez continue na Venezuela… espero que ele se recupere e continue… e não estou sendo irônico..
Saludo Mata Trolls…
Alan Patrick
Prezada EUNÃOSABIA, as reformas do governo Lula foi ter adotado uma política externa mais autonoma e independente em relação aos EUA(NO GOVERNO FHC O BRASIL ESTAVA AJOELHADO DIANTE DO FMI!), além da concentração de renda ter diminuido nos 8 anos do governo Lula devido as políticas de distribuição de renda do governo(no governo FHC a concentração de renda aumentou, vc lembra desse fato?). Posso citar outros exemplos, como a geração de 15 milhões de empregos com carteira assinada, melhora do poder aquisitivo da população, inflação controlada e outros fatos semelhantes a este que deram ao governo Lula 80% de aprovação popular, mas vou parar por aqui.
Abraço.
EUNAOSABIA
O maior porgrama de distribuição de renda dos últimos 45 anos no Brasil foi o Plano Real, não sou eu quem diz isso, são os livros de história econômica.
Qualquer programa de distribuição de renda não teria validade alguma se a economia não estivesse establizada e com todos os instrumentos dados nessa direção.
O que foi que Lula e o PT fizeram pelo êxito do Plano Real e todas as medidas subsequentes a ele??
Quando aos EUA, Lula é só retórica que engana muito bem certos tipos desavisados, Lula é só gogó, na prática nunca fez NADA para contrariar os EUA… Lula não condenou Guantamo.. Lula afinou diante de Busch,,… ou achas que estás lidando com desinformado??
Os empregos gerados foram graças a Lula ter feito o NADA e mantido tudo como estava.
Lula mudou quê mesmo?? sem bla bla bla… quero saber o que ele mudou na macro economia de FHC…
Vocês não passam é mesmo de grandes trolls repetidores de jargões….esse papo de mais popular é outra besteira… e daí??? mais popular do Marcos Coimbra???
""Inflação controlada"" graças a Lula e ao PT???qua qua qua… você é um brincalhão rapaz.
Alan Patrick
EUNÃOSABIA, o Plano Real apenas trocou inflação alta por juros e aumento da carga tributária. Em relação a diminuição da miséria no país, o Plano Real fez muito pouco, tanto que a desigualdade social aumentou durante o governo FHC(não sou eu quem diz isso, mas os dados do IBGE).
Na questão da política externa, o governo Lula adotou uma política externa soberana que inviabilizou a Alca e fortaleceu a relação do Brasil com o Mercosul, além do Brasil não ter apoiado a invasão dos EUA no Iraque e no Afeganistão.Continua…
Alan Patrick
continuando…Na geração de empregos, se o governo Lula não tivesse mudado "NADA" em relação ao governo anterior, era para o desemprego ter continuado a aumentar e não diminuido como aconteceu nos últimos 8 anos. Alias, o aumento do emprego formal no país foi devido a política econômica mais expansiva do governo Lula que, entre outras coisas, tornou o Estado Brasileiro o principal indutor do desenvolvimento econômico, tendo o Estado retomada a função de investir em infraestrura(algo que praticamente deixou de ser feito desde de o final da década de 70), o que consequentemente contribuiu para gerar milhões de empregos formais. Continua…
Alan Patrick
Na macroeconomia, infelizmente o governo Lula deu continuidade a política econômica do governo FHC de juros altos, o que é na minha ótica o aspecto mais negativo do governo Lula e agora o da Dilma, mas o desenvolvimento que o país teve nos últimos 8 anos não se deve a essa política econômica de benefício ao capital financeiro adotada no governo FHC e mantida no governo Lula, mas sim as mudanças que o governo Lula realizou em relação ao governo anterior: fortalecimento do Estado, aumento dos investimentos sociais, prioridade no fortalecimento do mercado interno, política externa independente e etc.
Virginia
Caro Alan Patrick, é incrível a sua retórica demagoga para se auto-enganar. Gostaria de dizer que descrevendo tais fatos, pelo seu ponto de vista, pode enganar um ou outro leitor anacéfalo deste blog, porém, lembre-se que alguns deles sabem analisar fatos e, principalmente, pensar! Não são todos que ficam apenas repetindo jargões sem saber a fundo a realidade dos acontecimentos. Dessa forma, analise melhor seus conceitos, formule mais apropriadamente suas ideias e não tente se auto-enganar apenas por opções político-partidárias. Na política não deve-se torcer como no futebol, e sim, lutar pela verdade.
EUNAOSABIA
Chavez está doente, espero que ele se recupere, ontem na TV falando sobre seu novo "luque" ele me pareceu nervoso e tenso, não desejo mal a ser humano algum, muito menos para Chavez… essa doença é terrível.
Fuerza bufão.
MataTrolls
Sei.
João PR
Concordo com o Azenha: Chavez e Lula são reformistas!
Delfim Neto, uma vez, afirmou que Lula salvou o capitalismo brasileiro. Os programas sociais auxiliaram na construção de um mercado consumidor interno que beneficiou por demais empresários. Os juros altos fizeram os bancos terem lucros nunca antes vistos. Porém, não houve a taxação de grandes fortunas, por exemplo. Não houve alterações nas alíquotas do Imposto de Renda (o que deixou a classe média mais taxada ainda). Não houve a atualização dos valores das casas e apartamentos (entre outros) nem via inflação, no IR. Logo, quando se vende um imóvel aparece um ganho de capital, que é tributado. Enfim, gostemos ou não, Lula foi um reformista sim!
Do Chavez tenho pouca informação para afirmar o mesmo (e acredito no que o Azenha escreveu).
Pedro Rogrio
O Povo brasileiro está as voltas com os grandes engarrafamentos nos banheiros dos nossos aeroportos. Isto significa, que nós descobrimos o jetio Brasil de viajar. A nova classe média brasileira está salvando as economias do Mercosul. Esta sim é uma revolução.
EUNAOSABIA
Bolha de crédito… o corte de gastos nos EUA pode por fim a essa mini farsa… vai por mim.
augusto
nao sabias …
"corte de gastos nos Eua (sic)
tu não conseguiste nem mesmo interpretar o conteudo do circo deles, made in washington
João PR
Vá ver para onde exportamos!!!
Os EUA, há muito tempo (desde o início do governo Lula, óbvio), não são mais os parceiros comerciais preferenciais do Basil.
O mundo hoje é multipolar. Só os EUA insistem em algo que já morreu (o dominio do mesmo sobre o mundo).
Viva os BRICS!!!! Viva Lula!!!
EUNAOSABIA
O Brasil e os emergentes só não estão em crise por causa da China que compra toda a matéria prima do mundo, o Brasil é o mesmo de 1534, um exportador de bens primários, Lula conseguiu o feito de fazer o Brasil perder posições no ranking mundial de industrialização…caimos nesse ranking graças aos 8 anos do palanqueiro.
E tem mais, a letra de B de BRICS…. foi inserdia por Fernando Henrique, Lula pegou o bonde andando.
operantelivre
Eu preciso acreditar que as mudanças que presencio no Brasil não são meras reformas, e sim caminhos necessários para consolidar uma revolução. Confesso que é uma fé que me guia.
Prefiro acreditar que para alguns países, isto é mais difícil, além de se dar por caminhos diferentes. Preciso acreditar nos discursos políticos que alimentam o que espero para o mundo. Ações são vazias de sentido; só os discursos políticos apaixonados as costuram às nossas necessidades; as ações políticas, penso eu, vão sendo reorganizadas e ressignificadas para manter nossas buscas sociais.
Talvez não sejam possíveis revoluções sem reformas.
Instituto FABRICA
Bom, mas tem gente no PSOL que jura que viu o Chavez (numa reunião secreta com organizações de vários países) afirmar claramente que só tem confiança no Equador e Bolívia, e que sua relação com o Brasil é superficial, para manter uma "conjuntura favorável na América Latina".
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