José Serra, o presidente “acidental”

Tempo de leitura: 3 min

José Serra, o presidente acidental

Atualizado em 22 de fevereiro de 2010 às 23:12 | Publicado em 22 de fevereiro de 2010 às 13:32

por Luiz Carlos Azenha, no Viomundo antigo

O governador de São Paulo, José Serra, pretende se eleger presidente como uma espécie de “candidato acidental”. Ele não fala, ele não opina, ele não debate, ele não tem compromisso.

O compromisso de Serra é com o resultado dos “focus group”.  E, obviamente, com sua própria carreira política. “Focus group” são aqueles grupos de eleitores que se reúnem em torno de uma mesa para debater a campanha, sob discreta observação dos marqueteiros.

Li, em algum lugar, que o escândalo do mensalão do DEM, em Brasília, tinha sido bom para a candidatura de Serra.  Concordo parcialmente. O escândalo livrou Serra de mais um compromisso: o de respeitar a coalizão partidária e indicar um vice do DEM. O DEM assim, desmilinguido, fica refém do projeto político de Serra.

Mas, voltando à campanha, adiar o início oficial dela interessa a Serra. Quanto menos debate houver, melhor. Quanto menos ele opinar, melhor. Opiniões e debates forçam o candidato a assumir compromissos. E compromissos assumidos hoje restringem o escopo da atuação dos marqueteiros. Aos marqueteiros interessa ter a latitude máxima para inventar um candidato ao gosto do eleitorado.

A vantagem do tucano está no reconhecimento do nome dele, na longa carreira política, na experiência administrativa e no fato de que já disputou e perdeu uma eleição. Ainda assim, ninguém sabe direito o que pensa ou o que representa Serra. No governo de FHC, ele era o representante do “estatismo”, da esquerda do tucanato. Hoje já não pode sê-lo: Dilma Rousseff ocupou este espaço.

Mas isso não é essencial em uma campanha do século 21. Importa o modelo de marketing. Que funcionará mais ou menos assim: aos aliados de Serra e, principalmente, aos aliados na mídia, caberá tensionar a campanha eleitoral com o PT e com a candidata Dilma Rousseff.

Enquanto isso, como não quer nada, Serra pretende pairar sobre o debate, como se fosse capaz de andar sobre o rio Tietê, tirando proveito de sua “capacidade gerencial”, demonstrada definitivamente na ampliação das marginais que, em conjunto com a ampliação do Rodoanel, serão vendidas ao público como “estradas rumo ao paraíso”.

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As obras vão representar um desafogo no trânsito de São Paulo na hora agá da campanha eleitoral, que é o que interessa. Não importa se há pedágios onde não deveria haver no Rodoanel, se a ampliação das marginais tem data de validade e não resolverá os problemas de longo prazo. Afinal, estamos no século da despolitização, do “déficit de atenção”, das manchetes nervosas, inócuas, descontextualizadas.

Até você tentar explicar ao eleitor qual é o DNA político de Serra, ele, o eleitor, já terá mudado de canal em busca da próxima atração. Estamos completando 10 anos de Big Brother no Brasil. Não desprezem o efeito disso na “cidadania” brasileira.

A campanha de Serra deverá obedecer à mesma lógica de infantilização do eleitorado aplicada por Gilberto Kassab e seus bonecos. Ele também se elegeu assim, como uma massa ideológica disforme moldada por marqueteiros. Por trás de Kassab, no entanto, estava a mesma coalizão que governa São Paulo já faz tempo: empreiteiras + especuladores imobiliários. A política partidária, hoje, se resume muitas vezes a isso: quem consegue esconder melhor quem são seus “patrocinadores”.

O próprio comportamento do PT, nos dois mandatos do governo Lula, acaba facilitando uma campanha como a que Serra pretende fazer. O partido contribuiu para despolitizar a política, talvez tomado pelas tarefas importantes de governar o país, vários estados e centenas de prefeituras. A despolitização se deu pelo afastamento do partido dos movimentos sociais e pela desconexão entre obras do governo e a apresentação delas ao público como resultado de um projeto político e ideológico. Cabe à candidata Dilma articular esse discurso agora, ainda que com atraso.

Há de se considerar também que o tipo de ascensão social que milhões de brasileiros experimentaram graças ao governo Lula não reverte, necessariamente, em votos.  Especialmente se quem ascende precisa de validação da classe média, o que em geral faz adotando as preferências estéticas, intelectuais e o discurso político da classe média.

Não se esqueçam que o nome de Lula não estará na cédula eleitoral em 2010. Talvez, em alguns blogs da internet, a gente vá ver um debate eleitoral como aquele dos velhos tempos, prenhe de discursos ideológicos e do bom combate entre a esquerda e a direita — um confronto importante para a democracia.

Suspeito, no entanto, que a eleição de 2010 será decidida muito mais pelo trabalho dos marqueteiros. Sendo assim, José Serra, nesse momento uma espécie de barriga de aluguel para os interesses anti-populares da política brasileira, poderá se apresentar como alguém “de esquerda” (nas palavras do presidente do PSDB, Sergio Guerra), como a sequencia natural de Lula (nas palavras de Juan Arias, o correspondente do El Pais), como uma espécie de candidato “acidental”, ” gerente”, acima do debate ideológico “antigo”, o homem que colocou São Paulo para andar.

Na tradição do rodoviarismo de Maluf (rodovia dos Trabalhadores=Rodoanel) e do exibicionismo de Collor (este carregava os livros sob o braço, como atestado de modernidade, da mesma forma que o governador paulista hoje usa o Twitter para desinformar), Serra pretende se eleger como o candidato acidental, muito embora a gente saiba muito bem quem acaba se dando mal nesses “acidentes”.

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Comentários

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Ed.

José Serra, presidente, seria um grave "acidente" com o país, de nefastas consequências…

    Mari

    Serra é um candidato preparado .
    È inteligente o Brasil precisa de gente .capacitada .
    E o Serra é . A Dilma não tem capacidade .
    Eu acho incrivel para ser ligeiro tem que ter o segundo grau .
    Para Presidente só precisa saber enganar o povo

Rafael

Serra era prefeito em SP e não concluiu o mandato, candidatando-se a governador e foi eleito, agora a cena se repete, não concluiu de novo o mandato de governador e agora candidata-se a presidente, é complicado isso, é evidente a ganância pelo poder e a 'reciprocidade' esperada pelo eleitor, ora, dane-se o eleitorado…
Se for pra correr o risco de bagunçar o que esta aí, voto na DILMA, pelo menos deixa do jeito que esta… (sic)
Ah! e outro detalhe, o Serra, tá mais para 'seria' , logo, logo vai pro beleleu e com vocês: "Indio' presidente, não dá né, ninguém conhece essa figura… ahhhhhhhhhhhhhhh

    Maria Campos

    Acalme-se, Amigo, José Serra se preparou desde muito tempo para ser o Presidente do Brasil. Aguarde! Maria Campois

Leider_Lincoln

Por um pouco mais do que o José Serra Chirico falou, o Lulu Santos foi persona non grata por 10 anos em Goiás.

Rafael

Acho que não se ganha uma eleição somente com propaganda se fosse assim Lula não teria ganho em 2002 e muito menos em 2006.É fundamental, mas não mantém por mais que um mandato. Suponhamos uma vitória de serra, se ele fizer o que ele representa via haver desemprego, retração da economia, como o serra já disse o BNDES no seu governo não vai ter a função que tem hoje , que é fundamental para geração de emprego e renda. serra representa um projeto de conquista de poder, não tem projeto para desenvolvimento do país e isso cedo ou tarde é percebido pelo povo.Lula representa um governo gerador de emprego e com propaganda não se desfaz um governo bem avaliado.Isso de serra candidato "acidental" não faz sentido, já disputou uma eleição e os 35% que serra mantém é justamente pela exposição que teve na disputa anterior e campanha feita pela mídia.

    Werner_Piana

    o problema da malta de direita capitaneada por J C Serra vencer as eleições é que o pouco que se avançou SOCIALMENTE no governo LULA, será perdido. As políticas educacionais, idem. Os últimos baluartes de grandes e lucrativas empresas e bancos Estatais, doados aos dantas da vida… e o povo, na merda, o país certamente quebrará mais algumas vezes e pedirá penici no FMI.

    É muito duro SEQUER pensar em permitir que esta história de fracassos se repita.
    É inadmissível!

    Dilma 2010!

Rafael

Azenha falta combinar com os russos!!!

Elias São Paulo SP

Serra foi um dos primeiros a se mandar do país nos anos de chumbo. Ele não foi exilado, exilou-se por conta própria. “Não fugi. Ia ser preso. Todo mundo que foi exilado saiu porque seria preso. Precisaria ser masoquista de ficar [no Brasil] para ser preso." (TV Record). Este foi o Serra dos anos 1960, um líder estudantil acanhado, sem retórica e sem definição ideológica. Assim como hoje. Seu vice-governador é um ex-comunista. Ele nem isso é. Nem ex-comunista, nem ex-socialista e nem ex-social-democrata. É um híbrido de nada com coisa alguma a serviço do capitalismo imperial. (Continua)

Elias São Paulo SP

Um dos primeiros a sair do país e dos primeiros a voltar. Por quê? Porque os militares não estavam nem aí com ele. Era muito medíocre para mobilizar os tiras dos Dops. Voltou em 1977, vejam vocês, pouco depois das mortes de Wladimir Herzog e Manuel Fiel Filho, e dois anos antes da morte de Santo Dias da Silva. Nesse período a esquerda ainda era avidamente perseguida pelo "Estado". Enquanto isso, Serra e FHC posavam como ex-exilados. Qual! Não passavam de dois oportunistas que se preparavam para vender boa parte do que era patrimônio do povo brasileiro. Ao contrário do medo de Regina Duarte, eu tenho medo é dessa gente.

Mª vivamandela

O mal desenhado do Serra se fia nas Instituições que o defendem e tentam desqualificar a candidata Dilma, mas o tiro pode sair pela a culatra, perderam duas eleições usando de artifícios rasteiros, mas ainda não aprenderam.

Não vemos nada de propostas plausíveis do candidato da oposição para governar o Brasil, até agora tem sido um chinfrim. Para mim nem marqueteiros nem o PIG decidem eleição, fosse assim os Tucanalhas tinham sido eleitos.

“Tem um poste no meio do caminho, no meio do caminho tem um poste”. Zé Pedágio não percebeu que quem vota e decide é o eleitor, que muitas vezes se engana, mas acerta também.

dextervicente

Repito aqui uma piada que fiz no twitter, se o Eneas estivesse vivo e se candidatasse esse ano à presidência seria o candidato mais carismático de todos. O problema não é carisma, carisma marqueteiro inventa, ou então pode ser inventado na hora, o problema no caso é esse esvaziamento da política que vivemos em todos os lugares do mundo (não que a política seja a melhor coisa criada pela humanidade nessa longa evolução) mas já que o caminho para supera-lá é difícil e longo tentemos construir coisas melhores através dele, eu tenho medo desse governo Dilma pq com o PMDB tão fortalecido "como nunca na história desse país" o PT vá se afastar ainda mais dos movimentos sociais achando que só com bolsa família melhora a situação do país, quando o caminho é muito mais longo e difícil, claro não se muda as coisas no susto sem revolução e mesmo num país com eleitorado conservador como o Brasil, mas em algum momento precisa começar, e o melhor jeito via institucional é dialogando mais com os movimentos sociais, e não com essas siglas de aluguel. Eu sei que na política ideologia não é nada, mas ao mesmo tempo ela é mais bonita que esse pragmatismo raso o melhor seria juntar os dois de alguma forma.

monge scéptico

O eleitorado brasileiro(nóis) não é la mesmo confiàvel, se pensarmos que todo " ascendido"
a um padrão superior, se deslumbra e, em geral esquece suas origens. Mesmo assim nem
os marqueteiros mais brilhantes conseguirão fazer com que o eleitorado se volte para ele,
visivelmente falso em palavras e atos.

    Jairo_Beraldo

    Por mais que tentem, o Zé vai perder mesmo. E a tchurma DEMo/tucanos vão ter que amargar a desintegração do "partidão". O DEMo, porque não vai eleger ninguém significativo já que tem todos os quadros queimados, por isso escolheram um obscuro para a vaga de vice, e porque a esperteza do Zé foi a responsável por colocar o partido na berlinda, depois do caldo que o bonitão das gengivas levou do Aécio Neves.

    ze reis

    então para que vota, se voce ja sabe quem vai ganha.

Zarkus Bittencourt

Antes chamavam de candidato "Caveirão", mas agora ele está mais para o candidato "Fantasma".

dukrai

vale o alerta pra quem tem certeza de que Dilma está eleita no primeiro turno. Os marqueteiros do Serra tem uma massa amorfa para trabalhar ao gosto do consumidor, resta saber se vai funcionar com menos tempo na tv e rádio e com o Lulinha de general da banda.

Gerson Carneiro

José Serra, o presidente “acidental”.
Acidental ???
Então em uma dessa, no mínimo, no mínimo, o astrólogo Queroga perderá o emprego. Será o início da bancarrota do emprego formal.
Sendo assim, é melhor que não votem no Serra.

    Jairo_Beraldo

    Ele ter nascido foi um acidente, cumpadi…o Zé é um aborto da natureza!

    Rafael

    Serra era prefeito em SP e não concluiu o mandato, candidatando-se a governador e foi eleito, agora a cena se repete, não concluiu de novo o mandato de governador e agora candidata-se a presidente, é complicado isso, é evidente a ganância pelo poder e a 'reciprocidade' esperada pelo eleitor, ora, dane-se o eleitorado…
    Se for pra correr o risco de bagunçar o que esta aí, voto na DILMA, pelo menos deixa do jeito que esta… (sic)
    Ah! e outro detalhe, o Serra, tá mais para 'seria' , logo, logo vai pro beleleu e com vocês: "Indio' presidente, não dá né, ninguém conhece essa figura… ahhhhhhhhhhhhhhh

Guilherme Souto

Não fala, não opina, não nada. Também pudera, ele é oco. É só verificar quando ele tenda ir em uma dessas direções, não sai nada de nada.

Depois Dilma é que é um poste. É muita mutreta e falta de dicernimento de certas pessoas para possibilitar a ele chegar onde chegou.

Acorda gente!

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