Ex-procurador que revelou preferência da Lava Jato por Bolsonaro foi “traído” por vazamento do Intercept
Tempo de leitura: 4 minRedação
O ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima é hoje consultor de compliance.
Ganha para supostamente “ensinar” as grandes empresas a seguir as regras.
O mercado de compliance explodiu no Brasil depois da Operação Lava Jato, da qual Santos Lima foi destacado integrante — na Força Tarefa de Curitiba.
A contratação de Santos Lima não significa que a empresa será poupada pela Lava Jato.
Mensagens reveladas pela Vaza Jato sugerem que isso aconteceu com o setor dos bancos e com alguns políticos “amigos” da Operação, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro Onyx Lorenzoni, o senador Álvaro Dias e o ministro pilar central do governo Bolsonaro, Paulo Guedes
Santos Lima, ao se afastar da Lava Jato, tinha como objetivo “ganhar dinheiro”, de acordo com o que escreveu a jornalista Amanda Audi no Poder 360.
Outra jornalista, Monica Bergamo, revelou que Santos Lima recebeu R$ 286 mil em diárias, pois era lotado na Procuradoria em São Paulo mas servia em Curitiba.
Santos Lima fez uma recente aparição no programa Painel, da GloboNews.
Ele polemizou com o advogado Walfrido Warde, que vê abusos na atuação da Lava Jato, se confirmados os vazamentos do Intercept Brasil.
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Santos Lima afirma que, se fosse Moro, não teria aceitado cargo no governo Bolsonaro.
Para ele, a Lava Jato é de “centro”, esmagada de um lado por Bolsonaro e de outra pelo Centrão e a esquerda no Congresso.
O ex-procurador critica o Supremo Tribunal Federal, cujos ministros teriam criado para si próprios “um superforo privilegiado”.
Santos Lima defende a investigação dos negócios do ministro Gilmar Mendes, por exemplo.
Ele afirma que o Congresso, através de Rodrigo Maia, está pressionando Bolsonaro a desmontar a Lava Jato — e os choques públicos entre o presidente e Sérgio Moro seriam resultado disso.
“Todo respeito a ele, mas o mesmo não esteve comigo durante a campanha, até que, como juiz, não poderia”, escreveu recentemente Bolsonaro numa rede social, em resposta a um apoiador que pediu a ele que cuidasse bem do ministro da Justiça.
Para Santos Lima, Moro é “refém do filho” de Bolsonaro, sob investigação. Ele se refere ao senador Flávio Bolsonaro.
A Operação Lava Jato depende de integração entre os distintos órgãos de investigação, como a Receita Federal, o Coaf e outros.
Para Santos Lima, ao fazer o desmanche desta estrutura, Bolsonaro está matando a Lava Jato.
O discurso do ex-procurador é de que Moro foi “tragado” pelo sistema.
De fato, nas redes de extrema-direita, Deltan Dallagnol vem sendo taxado como alguém de “centro-esquerda”, que pretende usar dinheiro do Fundo da Petrobrás para financiar ONGs abortistas, que defendem Marielle Franco ou são associadas a George Soros.
A acusação foi feita por um vlogueiro pró-Bolsonaro.
Olavo de Carvalho gravou um vídeo concordando com a tese acima. Citou de passagem Moro e Dallagnol.
No vídeo, o guru dos Bolsonaro diz que é comum um grupo corrupto tentar se apropriar do poder usando o discurso contra a corrupção — segundo ele, o PT fez isso no passado.
Para Olavo, Bolsonaro não seria parte deste grupo, mas Moro e Dallagnol supostamente sim.
Os dois vídeos — do vlogueiro e de Olavo — foram compartilhados por Eduardo Bolsonaro, o deputado federal que quer ser embaixador do Brasil em Washington.
Confirmam que o grupo mais íntimo de Bolsonaro está tocando fogo na fervura sob Moro e Dallagnol.
Durante o programa da GloboNews, Santos Lima foi contestado várias vezes pelo advogado Walfrido Warde.
Por exemplo, sob consultas informais da Lava Jato à Receita Federal, reveladas pela Vaza Jato.
Nada no papel, que depois poderia ser revelado ou legalmente questionado.
Warde quis saber quem imporia limites à Lava Jato.
Para Santos Lima, milhares de advogados e as instâncias da Justiça já o fazem.
Na entrevista, que foi ao ar em 23 de agosto, Santos Lima não menciona as corregedorias*.
Infelizmente para Santos Lima, o timing da entrevista foi péssimo.
No vazamento publicado pelo Intercept nesta segunda-feira, 26 de agosto, ficou claro que a corregedoria do CNMP engavetou crime cometido por integrante da Lava Jato.
O corregedor soube do crime cometido pelo procurador Diogo Castor de Mattos e simplesmente abafou.
Dallagnol e os amigos procuradores, que também souberam do crime, prevaricaram ao não botar a boca no trombone?
No mínimo, o órgão mais diretamente encarregado de monitorar a Lava Jato falhou miseravelmente.
Fez política.
A outra revelação de Santos Lima, publicada pelo jornalista Reinaldo Azevedo, veio no fim do programa.
Ele acreditava que Fernando Haddad ia acabar com a Lava Jato, embora no decorrer do programa tenha admitido que Lula, Dilma e Temer não tentaram fazê-lo.
Ironicamente — e Santos Lima admite isso — o candidato escolhido pela Lava Jato é quem vai acabar com a Operação.
Carlos Fernando dos Santos Lima: Infelizmente, no Brasil, nós vivemos um maniqueísmo, né? Então nós chegamos… Inclusive, no sistema de dois turnos, faz com que as coisas aconteçam dessa forma. É evidente que, dentro da Lava Jato, dentro desses órgãos públicos, de centenas de pessoas, existem lavajatistas que são a favor do Bolsonaro. Muito difícil seria ser a favor de um candidato que vinha de um partido que tinha o objetivo claro de destruir a Lava Jato. Seria muito difícil acreditar que…
Renata Lo Prete: Você está se referindo a Fernando Haddad?
Carlos Fernando dos Santos Lima: A Fernando Haddad, obviamente. Então nós vivemos este dilema: entre a cruz e a caldeirinha; entre o diabo e o coisa ruim, como diria o velho Brizola. Nós precisamos parar com isso. Nós realmente temos que ter opções. Infelizmente, um lado escolheu o outro. E, naturalmente, na Lava Jato, muitos entenderam que o mal menor era Bolsonaro. Eu creio que essa era uma decisão até óbvia, pelas circunstâncias que Fernando Haddad representava justamente tudo aquilo que nós estávamos tentando evitar, que era o fim da operação. Agora, infelizmente, o Bolsonaro está conseguindo fazer.
PS do Viomundo: Nosso leitor Zé Maria esclarece que
*Para não fazer confusão, na cúpula do MPF, existe uma Corregedoria-Geral atuando na Fiscalização interna, controlando regularmente as atividades. E no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), a Corregedoria Nacional do CNMP, que atua externamente – ainda que presidido pela PGR – em Processos Administrativos Disciplinares (PADs) originadas de Sindicâncias instauradas geralmente por representação de qualquer cidadão brasileiro. Até agora, o Intercept já revelou que 2 Corregedores-Gerais, dentro do MPF, articularam com Deltan Dallagnol, para evitar Processos Disciplinares de Procuradores da FTLJ. Primeiro foi o ex-Corregedor Geral, Hindemburgo Chateaubriand Filho, e agora o atual Corregedor-Geral do MPF, Oswaldo Barbosa.
Comentários
GILDOMAR ROCHA DE SOUZA
Tu tens moral para falar de Lula, depois do que essa Lava Jato aprontou.
Zé Maria
Jair Messias Bolsonaro, que a Força-Tarefa Eleitoral
da Operação Lava-Jato de Curitiba ajudou a eleger,
“decretou sigilo de 5 anos das visitas ao Alvorada
e ao Jaburu.
Assim, haverá encontros secretos em prédios públicos.
A ordem é do coronel Laranja, fruta com a qual
a família Bolsonaro tem muita intimidade.”
https://twitter.com/senadorhumberto/status/1166704589548269570
Nelson
Os órgãos da mídia hegemônica têm um larguíssimo histórico de divulgação de meias-verdades ou mesmo mentiras. Têm larguíssimo histórico também na arte de dar sumiço , de apagar da memória popular – ou de, pelo menos, tentar fazê-lo – fatos e personagens que fizeram a história do nosso Brasil ou de outros povos.
–
Os motivos nós sabemos de sobra. Os fatos e personagens que são deliberadamente escondidos não contribuem ou contribuíram para a manutenção do status quo dominante.
–
Daí que a trajetória, em muitos casos épica, de personagens como o Almirante Negro, o “Cavaleiro da Esperança”, Getúlio Vargas, Paulo Freire, Darcy Ribeiro e tantos outros que dedicaram toda ou quase toda sua vida à construção do nosso Brasil não dá Ibope nessa mídia.
–
Assim, amigo, quando a mesma mídia hegemônica passa a incensar, a elogiar, a homenagear, de forma contumaz, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Carlos Fernandes S Lima, a Lava Jato, temos a obrigação de colocar o desconfiômetro em alerta.
–
Então, baseado no histórico da grande mídia, eu digo que não havia como essa patota aí estivesse realmente a trabalhar pelo nosso país. Se estivessem realmente fazendo isso, essa mídia não daria o menor espaço a eles.
Zé do rolo
Esses procuradores da quadrilha a jato de Curitiba são desumanos pois esculacharam a já saudosa primeira dama Marisa Letícia, o Lula com suas irreparáveis perdas e ainda chamaram o Lula de safado é que só queria passear quando o Lula solicitou ir ao velório do seu irmão.
Ou seja armaram e debocharam do Lula até no momento de perdas familiares irreparáveis essa turma da quadrilha a jato de Curitiba vão prestar conta a Deus por tamanha perversidade e as instâncias superiores do judiciário tem que zelar pela constituição e corrigir essa armadilha que a turma da quadrilha a jato de Curitiba fizeram para com o Lula.
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/DUQJowXWkAEFiux.jpg
https://pbs.twimg.com/media/C3qizOxWMAAFcvg.jpg
“A Degradação Ética e Moral da Lava Jato”
O Proto-Fascismo Revelado:
A Desumanização do Outro;
A Execração Estampada …
https://t.co/1x6U2YdqNw
https://pbs.twimg.com/media/EC-NJ6bXUAAYmvz.jpg
Luto é “mimimi”. Ir a um Velório é “passeio” …
https://pbs.twimg.com/media/EC-AWHbXoAA96Tu.jpg
https://twitter.com/DeputadoFederal/status/1166284458103902208
ana s.
O nome do “consultor” é Carlos FERNANDO, e não Carlos Alberto, como aparece no primeiro parágrafo da postagem. No Telegram, Deltan sempre se referia a ele como CF.
Zé Maria
Esse Santos Lima tá sempre mordendo a Língua.
Era [ou é ainda] uma das principais cabeças da
Força-Tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba.
Zé Maria
Para não fazer confusão, na cúpula do MPF, existe
uma Corregedoria-Geral atuando na Fiscalização interna, controlando regularmente as atividades.
E no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)
há a Corregedoria Nacional do CNMP, que atua externamente – ainda que presidido pela PGR –
em Processos Administrativos Disciplinares (PADs)
originadas de Sindicâncias instauradas geralmente
por representação de qualquer cidadão brasileiro.
Até agora, o Intercept já revelou que
2 Corregedores-Gerais, dentro do MPF,
articularam com Deltan Dallagnol,
para evitar Processos Disciplinares
de Procuradores da FTLJ.
Primeiro foi o ex-Corregedor_Geral,
Hindemburgo Chateaubriand Filho,
e agora o atual Corregedor-Geral
do MPF, Oswaldo Barbosa.
https://theintercept.com/2019/08/26/lava-jato-procurador-audios-outdoor/
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/08/corregedor-da-procuradoria-viu-conduta-grave-de-deltan-mas-nao-abriu-apuracao.shtml
https://www.redebrasilatual.com.br/destaques/2019/08/corregedor-do-mpf-deu-bronca-mas-perdoou-conduta-grave-de-dallagnol/
Zé Maria
Concluindo
Como visto, a Corregedoria Nacional do CNMP
é mais abrangente que a Corregedoria-Geral do MPF,
pois realiza correições e inspeções no âmbito dos Ministérios Públicos da União (MPF, MPT, MPM e MPDFT) e às 26 (vinte e seis) unidades dos Ministérios Públicos Estaduais.
http://www.cnmp.mp.br/portal/institucional/corregedoria/a-corregedoria-nacional/apresentacao
O Atual Corregedor Nacional do Conselho Nacional
do Ministério Público (CNMP) é o Promotor de Justiça
Orlando Rochadel Moreira, que, aliás, chegou a
determinar monocraticamente [no Canetaço]
o arquivamento da Representação contra Deltan Dallagnol, no caso das conversas via Telegram
reveladas pelo Intercept , porém o Pleno do CNMP atendeu pedido de revisão da decisão monocrática, formulado pelos Conselheiros Erick Venâncio e Leonardo Accioly, e a Reclamação Disciplinar (RD nº 422/2019-93) finalmente teve prosseguimento.
http://www.cnmp.mp.br/portal/images/noticias/2019/agosto/pedido_conselheiros.pdf
http://www.cnmp.mp.br/portal/todas-as-noticias/12384-conselheiros-apresentam-pedido-de-revisao-de-decisao-monocratica-que-arquivou-reclamacao-disciplinar-sobre-mensagens-no-telegram
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