Apelo dramático de Bolsonaro a Moro mostra um presidente preocupado com impeachment

Tempo de leitura: 4 min
Reprodução de anúncio da Belina

Da Redação

O presidente Jair Bolsonaro, assim como não quer nada, revelou publicamente o acordo que fez com o ex-juiz federal Sérgio Moro para levá-lo a aceitar um “superministério” da Justiça: a primeira vaga que se abrir no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em primeiro de novembro de 2020, o ministro Celso de Mello atinge o limite da aposentadoria compulsória.

Como revelou o vice-presidente Hamilton Mourão, a primeira conversa entre Bolsonaro e Moro aconteceu ainda durante a campanha.

Foi DEPOIS disso que Moro prestou serviço eleitoral a Bolsonaro de forma contundente.

Como descreveu a revista Época:

Às 11h45 da segunda-feira 1º, a seis dias da realização do primeiro turno da eleição presidencial, o juiz federal Sergio Moro assinou eletronicamente uma curta decisão, de apenas três páginas. Poucas horas depois, ela ganharia as manchetes da imprensa. Na canetada, proferida em uma das ações penais contra o ex-presidente Lula em tramitação na 13ª Vara Federal de Curitiba, Moro retirava o sigilo do primeiro anexo da esperada delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci, nome forte do PT durante os governos de Lula e Dilma Rousseff. Incorporou o documento à ação e o tornou público.

O colunista Elio Gaspari resumiu: “Foi uma ofensa à neutralidade da Justiça, porque o juiz Sergio Moro deu o tiro a seis dias do primeiro turno da eleição presidencial”.

A delação de Palocci ainda nem havia sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.

Na sexta-feira passada, em Foz do Iguaçu, Bolsonaro previu que seu governo provavelmente enfrentaria um tsunami na semana corrente.

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O porta-voz do Planalto disse que ele teria de ser “vidente” se estivesse se referindo à quebra de sigilo de 90 pessoas no caso Queiroz, inclusive do agora senador Flávio Bolsonaro.

O desmentido tornou-se necessário: caso não houvesse, ficaria explícito que Bolsonaro mais uma vez foi beneficiado por vazamento de informações da Justiça.

O pedido de quebra de sigilo, feito pelo Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro, foi acatado pela Justiça no dia 24 de abril.

Bolsonaro falou em tsunami no dia 10 de maio.

No domingo, 12 de maio, Flávio Bolsonaro deu entrevista ao Estadão dizendo que a investigação sobre ele deveria ser anulada:

Para que esse pedido, se meu extrato já apareceu na televisão? Eles querem requentar uma informação que conseguiram de forma ilegal. Não tem outro caminho para a investigação a não ser ela ser arquivada — e eles sabem disso.

Mentira. Nenhum extrato de transações bancárias de Flávio foi exposto na TV até agora.

Na segunda-feira, 13, o diário conservador carioca O Globo noticiou a quebra de sigilo.

Ou seja, tudo indica que as declarações de Jair e Flávio Bolsonaro tenham sido uma espécie de aviso, de vacina contra as revelações.

O senador já tentou por duas vezes suspender as investigações, alegando ter sido vítima de quebra de sigilo bancário junto ao Tribunal de Justiça do Rio e ao Supremo Tribunal Federal.

Na verdade, o que foi exposto na TV foi o relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que menciona duas movimentações atípicas na conta do ex-deputado estadual do Rio.

Segundo a revista Época, o patrimônio de Flávio cresceu 397% em 12 anos.

Ele diz ter acumulado ganhos em transações imobiliárias.

A Folha de S. Paulo levantou ao menos um negócio suspeito feito pelo senador:

Em novembro de 2012, Flávio adquiriu dois imóveis em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Localizados em ruas pouco valorizadas do bairro, pagou um total de R$ 310 mil pelas duas quitinetes e as revendeu, um ano e três meses depois, por mais que o triplo do preço. Os dois imóveis haviam sido adquiridos em 2011 pelos proprietários anteriores por um total de R$ 440 mil. Em pleno boom imobiliário na cidade, eles tiveram um prejuízo de 30% ao revendê-los ao senador eleito, segundo dados do 5º RGI (Registro Geral de Imóveis) da capital do estado.

Já Fabrício Queiroz, o ex-assessor de Flávio, justificou em entrevista ao SBT as altas quantias que circularam por sua conta bancária — incompatíveis com o salário –, alegando ser um ótimo vendedor de automóveis:

Eu sou um cara de negócios, eu faço dinheiro, compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro, sempre fui assim, gosto muito de comprar carro de seguradora, na minha época lá atrás, compra um carrinho, mandava arrumar, revendia, tenho uma segurança.

De acordo com o Intercept, Queiroz tem apenas dois carros em seu nome: um Voyage 1.0 ano 2010 e uma Belina GL ano 1986. Somados, valem R$ 25 mil.

A família Bolsonaro sabe do potencial explosivo da quebra de sigilo bancário de Flávio, Queiroz e outros 88 ex-assessores do então deputado estadual.

Será possível responder a várias questões importantes:

  • Quem depositou dinheiro na conta do atual senador e por qual motivo?
  • Houve outras transferências de Queiroz à primeira dama Michelle, além dos R$ 40 mil já admitidos pelo presidente da República?
  • Houve o abastecimento de contas ligadas ao ex-deputado estadual, direta ou indiretamente, por parte de milicianos?

Dentro deste contexto, é possível entender melhor as revelações de Bolsonaro sobre o acordo que fez com o ex-juiz federal Sérgio Moro — aliás, desmentidas pelo ministro da Justiça! — no domingo, 12 de maio.

A colunista Vera Magalhães, do Estadão, analisou:

Jair Bolsonaro parece ter pretendido acalmar Sérgio Moro ao dizer em entrevista que vai nomeá-lo para a primeira vaga que aparecer no Supremo Tribunal Federal. O presidente pareceu querer dar uma satisfação à opinião pública de que seu ministro mais popular tem seu aval e, ao mesmo tempo, dizer ao auxiliar para aguentar o tranco do desgaste político porque, ao fim e ao cabo, o tão esperado prêmio da Mega Sena virá. Será que o presidente é tão ingênuo assim politicamente? Porque ao tornar pública uma promessa que, agora revela, fez em público a Moro quando do convite para que ele aceitasse ser seu ministro da Justiça, Bolsonaro acaba por desgastá-lo ainda mais.

Bolsonaro não é politicamente ingênuo. É um presidente ignorante e despreparado, mas que sobreviveu no baixo clero com expedientes típicos do baixo clero — como a rachadinha dos salários de subordinados e funcionários fantasmas — durante 18 anos.

Bolsonaro só pensa na própria sobrevivência política.

Ao prometer publicamente a Moro a vaga no STF, indica que pretende contar com seu superministro da Justiça para abafar as investigações contra o filho, Flávio.

Por isso, a reação desesperada dos robôs de Bolsonaro, nas redes sociais, à decisão da Câmara que indica a transferência do controle do Coaf do Ministério da Justiça de volta ao Ministério da Economia, onde sempre esteve.

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Comentários

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Rogério Ferra Alencar

Acho que os sites progressistas deveriam divulgar esse vídeo, da época da eleição, em que alvaro dias detona bolsonaro. https://www.youtube.com/watch?v=UBjwyK7lEHc

Antônio

Quem viu a volúpia de Moro para vazar grampo, acelerar processos, acusar sem provas, interferir na decisão do Desembargador Favreto mesmo estando de férias, ligar para o diretor da Polícia Federal para que não cumprisse a ordem de Favreto para a soltura soltura de Lula … agora vê-lo quietinho!
Não é possível que não caiu a ficha!

Zé Maria

As Laranjas, se não consumidas maduras, apodrecem …

Mesmo que a investigação das contas de Nathália Queiroz,
a Personal Nat, já indique movimentação suspeita em BSB,

e as contas de Danielle Nóbrega e Raimunda Magalhães
prováveis conexões financeiras com as Milícias no Rio,

deveriam quebrar o sigilo bancário da Suzi Neopentecostal,
pois a Primeira Dama não possui Foro Privilegiado e há, ao menos,
R$ 24 Mil, em cheques, de origem oculta na conta dela.

https://congressoemfoco.uol.com.br/corrupcao/gabinete-de-bolsonaro-atestou-frequencia-de-filha-de-queiroz-que-era-personal-trainer-no-rj/

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