Nelice Pompeu: Mulherar a política vai além da conquista do direito de votar
Tempo de leitura: 2 minPor Nelice Pompeu
92 ANOS DA CONQUISTA DO DIREITO AO VOTO FEMININO
Por Nelice Pompeu*
Em 1932, as mulheres brasileiras acima de 21 anos conquistaram o direito ao voto e dois anos depois foi consagrado na constituição federal.
Em uma época que consideravam que as mulheres não tinham intelecto para votar e deveriam ficar restrita ao lar, o voto das mulheres foi um passo importante para que outros avanços fossem possíveis.
Esta conquista é fruto das lutas feministas pelo direito ao voto, destacando-se a advogada, jornalista , sindicalista e tradutora alagoana Almerinda Farias Gama (1899-1999), infelizmente pouco lembrada.
Ela foi uma das primeiras mulheres negras a atuar na política do início do século 20.
Ainda precisamos avançar e ocupar mais os espaços de poder e decisão.
O legado de Almerinda Gama na luta pela igualdade de gênero deve ser inspiração para todas as mulheres que lutam por seus direitos.
Hoje as mulheres representam 52,5% do eleitorado, mas apenas 15% dos eleitos nas últimas eleições. Um retrato da sociedade machista, misógina e patriarcal em que vivemos.
Neste ano, através do voto, temos a chance de ampliar nossas bancadas de mulheres e Salvar São Paulo daqueles que se alinharam a políticas de retrocessos.
Apoie o VIOMUNDO
Não deixe de votar. Lembre-se que o seu voto traz consequências. Basta ver o desastre que foi o desgoverno do inelegível Bolsonaro, principalmente para nós mulheres.
Em outubro, temos eleições municipais em todo o Brasil.
Vote para superar as desigualdades entre homens e mulheres, para que o machismo e o assédio não sejam mais naturalizados em nossa sociedade.
Jamais se esqueça que seu voto carrega a luta de várias gerações de mulheres que deram sua vida para que você tivesse este direito.
Vamos MULHERAR a política, pois lugar de mulher é onde ela quiser!
#Almerinda, presente!
Leia também:
Valter Pomar: O papel das ruas (e da personalidade) na política
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Nelice Pompeu
Professora da rede pública municipal da cidade de São Paulo. Integra o Movimento Escolas em Luta.
Comentários
Zé Maria
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“Emancipação dos Corpos Femininos:
a Superação do Feminismo Burguês”
A partir das ferramentas analíticas da interseccionalidade,
para além da lógica essencialista do feminino
à serviço do patriarcado burguês, é preciso que haja
uma transformação radical que rompa a estrutura
levando em conta tanto de que também é o ódio
estruturante dos sujeitos e que nesse ódio há racismo
e misoginia ainda a serem desconstruídos, quanto
e principalmente que “não há hierarquia de opressão”.
Por Ana Carolina Bartolamei Ramos (*), na CartaCapital (09/12/2019)
Ao traçar o percurso histórico do feminismo, e suas três ondas,
o que se percebe, em larga escala, é que as diversas transições
que sofre uma cultura, especialmente quanto às exigências
das renúncias pulsionais necessárias à pretensão civilizatória,
ainda que inserida na mesma lógica discursiva patriarcal,
não cessa de produzir novas (ou rearticuladas) demandas.
Veja-se que não se pretende afirmar aqui que as questões do feminismo
foram surgindo ao longo do tempo, o que seria simplista e inclusive
equivocado, mas sim que as possibilidades de rupturas discursivas
acabam por se entrelaçar com determinados acontecimentos históricos
que de alguma forma conseguiram perfurar a hegemonia racional
estruturante da sociedade moderna.
Dentro desta perspectiva, já que se está tratando de fatos que conseguem
provocar furos na estrutura patriarcal a partir da qual fomos forjados
socialmente, é possível identificar que os sujeitos femininos e seus corpos,
mesmo fantasmagoricamente, não são produtos, mas sim partes
integrantes desses movimentos de ruptura.
Foi Eva quem tirou Adão do paraíso, foram as bruxas que precisaram
ser queimadas para evitar qualquer forma de subversão ao sistema
de poder, foram as histéricas e seus corpos paralisados que abalaram
as estruturas patriarcais das famílias burguesas e é a caminhada de
Ruby Bridges à escola um marco (e registro) histórico da resistência
ao racismo estrutural estadunidense.
Para a psicanálise, não à toa, os corpos femininos se apresentam
como questão desde a origem, porquanto são os sintomas dos
corpos das histéricas que dão início às investigações freudianas.
Aliás, neste sentido, dentro de uma lógica emancipatória, é possível
se pensar que, justamente por se tratar da parte que escapa do discurso
dominante, somente os corpos falantes das mulheres diagnosticadas
como histéricas que seriam capazes de produzir a subversão que
representa o discurso psicanalítico.
“Talvez alguns estudiosos digam que a delicadeza ou a sensibilidade
de Freud permitiu que as histéricas projetassem a sua voz, exercessem
seu direito à fala, e que ele, um homem à frente de seu tempo, escutou
as dores das histéricas. Mas podemos também contar uma outra história,
na qual uma mulher, Anna O. – cujo nome verdadeiro era Bertha Pappenheim,
feminista e pioneira no campo do Serviço Social -, teve a desfaçatez de dizer
a um homem da ciência que ele devia ficar em silencio para que ela pudesse,
então, falar. E que, surpreendentemente, esse homem tenha se calado e,
mais espantosamente ainda, a tenha escutado. Em parte, ao menos”
(AIRES, Suely. Corpos e sujeitos. Revista Cult: 2018:
https://revistacult.uol.com.br/home/psicanalise-corpos-e-sujeitos/).
Deve-se também a psicanálise, assim, a advertência acerca da necessidade
de se ultrapassar a delimitação meramente biológica para definir um corpo
feminino, uma vez que é o recorte produzido por Freud, de que a perspectiva
sociológica não pode prescindir de uma análise das disposições individuais,
que aponta a necessária relação entre o investimento libidinal dos sujeitos
nos sistemas sociais e a forma com que os sujeitos se organizam socialmente na modernidade.
E esse recorte é o fruto do encontro de Freud justamente com o corpo
das mulheres histéricas.
https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Sigmund-Freud0-1-1024×683.jpg
(Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise. Seus escritos fundantes desse campo foram questionados ao longo da história por estudiosas de gênero, como Simone de Beauvoir em sua obra “O Segundo Sexo”, de 1949.)
O que pode parecer incompreensível, no entanto, dentro deste panorama,
é a ineficiência com que as resistências e as atuações, muitas vezes
perfurantes, dos sujeitos femininos e seus corpos na história da civilização
moderna em romper de forma efetiva com o sistema patriarcal, o que
me parece ser uma das questões centrais do feminismo na atualidade.
É importante fazer uma ressalva, neste ponto, sobre o sentido da utilização
dos termos sujeitos e corpos femininos, porque a presente pretensão,
já que emancipatória, quer evitar uma determinação que possa vir a ser
interpretada de forma restrita ao fator biológico.
Retomando a questão, ao entender o patriarcado “como pertencendo
ao extrato simbólico e, em linguagem psicanalítica, como a estrutura
inconsciente que conduz os afetos e distribui valores entre os personagens
do cenário social”, como afirma Tânia Mara Campos de Almeida, é possível
perceber que a armadilha que enreda os sujeitos da racionalidade moderna
é justamente esse discurso que forjou o pacto civilizatório, porquanto
fundamentalmente excludente e violento.
Nesse sentido:
Por esta razão, o patriarcado é, ao mesmo tempo, norma e projeto de
auto-reprodução, o que o leva a censurar e controlar a fluidez,
as circulações, as ambivalências e as formas de vivências de gênero
que resistem a ser enquadradas em sua matriz heterossexual
e hegemônica. (ALMEIDA, Tânia Mara Campos de. As raízes da violência
na sociedade patriarcal. Sociedade e Estado, v. 19, n. 1, p. 238, 2004).
A potência de um discurso que normatiza e se auto-reproduz não pode,
como a história já deixou claro, ser relativizada, e tampouco parece ser
possível que novas formas de articulações dentro desse sistema forjado
produzam efeitos suficientes aptos a alterar a lógica da opressão
com que o patriarcado se sustenta.
É ilusório perpetuar a rearticulação de um feminismo dentro do sistema
burguês, atuante dentro da lógica liberal, como afirma Angela Davis,
“sem levar em consideração que a diversidade por ela mesma pode
simplesmente significar que os indivíduos previamente marginalizados
foram recrutados para garantir uma mais eficiente operação de sistemas
opressores” .
Não é tão difícil compreender a facilidade com que a luta feminista
foi cooptada “para servir aos interesses das feministas liberais
e conservadoras”, como afirma bell hooks, tendo em vista que é este
próprio discurso que se articula para nos manter enredadas nos avanços
individuais para as mulheres, até mesmo as mulheres negras, e nesta
medida somente serve à manutenção do patriarcado.
Até porque, o lugar que é dado às mulheres, quando não integradas
e submetidas a esse discurso, não é outro que à margem e a mercê
das constantes tentativas (e consumações) de destruição de seus
corpos e das suas vozes.
Como afirma hooks:
“A ideologia do ‘individualismo liberal… competitivo e atomístico’
tem permeado o pensamento feminista a ponto de prejudicar
o radicalismo potencial da luta feminista. A usurpação do feminismo
pelos burgueses para apoiar seus interesses de classe tem sido justificada,
em nível bastante grave, pela teoria do feminismo como esta foi concebida
até agora (por exemplo, a ideologia da “opressão comum”).
Qualquer movimento para resistir à cooptação da luta feminista deve
começar pela introdução de uma perspectiva feminista diferente
– uma nova teoria – que não seja informada pela ideologia do individualismo
liberal”
(HOOKS, Bell. Mulheres negras: moldando a teoria feminista. Revista
Brasileira de Ciência Política, v. 16).
É preciso que haja uma transformação radical, a partir da interseccionalidade, para além da lógica essencialista
do feminino à serviço do patriarcado burguês, que rompa
a estrutura, levando em conta tanto de que também é o ódio
estruturante dos sujeitos e que nesse ódio há racismo e
misoginia ainda a serem descontruídos, quanto e principalmente
que “não há hierarquia de opressão”, como afirma a feminista negra
Audre Lorde em artigo desenvolvido por Djamila Ribeiro.
A emancipação dos corpos que rompa a estrutura, portanto,
somente será possível pelo reencontro dos corpos femininos
e suas diferenças, o que, como nos adverte Djamila Ribeiro,
significa dizer que raça, classe e gênero somente podem
ser pensadas de forma indissociável.
Referências:
AIRES, Suely. Corpos e sujeitos. Revista Cult n. 238, pp. 39-43, 2018:
(https://pt.scribd.com/document/617453529/Cult-238-A-psicanalise-entre-feminismos-e-femininos-by-Autores-Varios-z-lib-org)
ALMEIDA, Tânia Mara Campos de. As raízes da violência na sociedade patriarcal. Sociedade e Estado, v. 19, n. 1, 2004.
DAVIS, Angela. A liberdade é uma luta constante. Seminário Internacional “Democracia em colapso?” Boitempo: 2019.
HOOKS, Bell. Mulheres negras: moldando a teoria feminista. Revista Brasileira de Ciência Política, v. 16, p. 201, 2015.
RIBEIRO, Djamila. Feminismo negro para um novo marco civilizatório. Revista Internacional De Direitos Humanos, v. 13, n. 24, 2016.
(*) Ana Carolina Bartolamei Ramos é Juíza de Direito
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,
Mestra em Direitos Humanos e Políticas Públicas pela
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
Especialista em Direito Público pela Escola Superior
da Magistratura do Estado de Santa Catarina (ESMEC-SC).
Professora na Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento
de Magistrados (ENFAM).
https://www.cartacapital.com.br/blogs/sororidade-em-pauta/emancipacao-dos-corpos-femininos-a-superacao-do-feminismo-burgues/
.
Zé Maria
https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2018/08/o-discurso-que-legitima-o-feminicidio.jpg
Esta ‘Pesquisa’ Não é ‘de Opinião’:
“O Papel da Arma de Fogo na Violência Contra a Mulher”
“7 em Cada 10 Mulheres Assassinadas
Com Armas de Fogo no País São Negras”
“Entre 2012 e 2022, a Cada 4 Horas
Uma Mulher foi Assassinada no Brasil.”
“A Residência é o Local de Maior Risco”
[Reportagem: Ana Luiza Basilio | CartaCapital]: (https://t.co/c5CrSWoQfu)
As Mulheres Negras são as Principais Vítimas de Morte por Arma de Fogo
no País, segundo pesquisa do Instituto Sou da Paz, utilizando Dados do
Ministério da Saúde de 2022,
O Levantamento “O Papel da Arma de Fogo na Violência Contra a Mulher”
mostra que as Mulheres Negras representam 68,3% dos Casos de Homicídio Feminino por Arma Registrados no País, seguidas pelas
mulheres brancas (29,5%), indígenas (0,5%) e amarelas (0,3%).
https://twitter.com/CartaCapital/status/1767314557490303223
Íntegra da Reportagem em:
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/7-em-cada-10-mulheres-assassinadas-com-armas-de-fogo-no-pais-sao-negras-aponta-pesquisa
Zé Maria
5ª JORNADA FEMINISTA PLURISSINDICAL
“Pela Vida das Mulheres, Contra Todas as Violências!
Basta de Feminicídios! Basta de Privatizações!”
Manifesto faz a Denúncia da Misoginia, dos Feminicídios, Lesbocídios
e Transfeminicídios, do Assédio e da Violência Sexual.
Também ressalta a Luta por Outras Formas de Viver,
um Outro Modelo Econômico sem nenhuma forma
de exploração e opressão, bem como sublinha a
defesa do acesso democrático à terra, da reforma
agrária, da agroecologia e do fim da violência
no campo e na cidade.
Afirma que são “necessários investimentos em políticas de cuidados,
creches, moradias destinadas às mulheres e pessoas idosas, estrutura
pública de serviços de assistência e saúde, e combate ao machismo
estrutural” e que “basta de privatizações da água, da energia, do transporte,
serviços e do espaço urbano!”.
O Manifesto também exige “o Cessar-Fogo Imediato, o Fim do Apartheid
e do Genocídio na Palestina, que vitima principalmente mulheres e crianças”.
E reforça: “Vidas Negras importam! Vidas indígenas importam!
Vidas quilombolas importam! Vidas de mulheres com deficiência importam! Vidas lésbicas, bissexuais e transexuais importam! Somos todas Mulheres!
Basta de Capacitismo e de Etarismo!
São formas de invisibilizar e nos silenciar!”.
Por fim, relembra os ataques do governo Bolsonaro à população
e soma-se ao grito por “Anistia Jamais!”.
E o Manifesto conclui:
“Nós, Mulheres, na nossa Diversidade,
reafirmamos nossa Unidade na Luta
para Transformar o Mundo”.
https://sintrajufe.org.br/wp-content/uploads/2024/03/5-jornada-768×1087.jpg
Zé Maria
Debate
Dia: 14/03/2024
Quinta-Feira
Hora: 19:30
“Ocupação dos Espaços de Poder e Violência Política de Gênero – Desafios”
https://youtu.be/7NSwLHo9S0c
.
Zé Maria
Debate
CRIMES DE ÓDIO DE GÊNERO:
Feminicídio, Lesbocídio e Transfeminicídio
https://youtu.be/nA9l7uis5GI
.
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/GHXPcoBXsAAMeZR?format=jpg
“Projeto da Deputada Federal Fernanda Melchionna (RS)
amplia Deduções no I.R. para Incapacitados e Idosos.”
Para Parlamentar do PSOL, medida promove ‘Dignidade ao envelhecimento’
Leia na Revista Em Movimento: https://t.co/N6p0qoAnhu
https://twitter.com/revmovimento/status/1762542943548649837
https://movimentorevista.com.br/2024/02/projeto-de-melchionna-amplia-deducoes-no-ir-para-incapacitados-e-idosos/
.
Cicero
Mulherar a política é uma opção para correção de rumos? Depende. 1) Quantas vagas seriam conquistadas pela direita feminina e quantas pela esquerda? 2) Que aporte em novidade de visão de mundo está sendo trazido pelas mulheres em geral? Seria legítimo examinar o que as mulheres têm agregado de benefício social coletivo, como militância que destoa da política masculina, machista e misógina?. Apreciaria um artigo nesse sentido. Mulherar para transformar! Para os lados, para a frente e para o alto!
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