Lalo Leal: Omissão da imprensa é histórica e agora se explica pela busca desesperada de uma terceira via

Tempo de leitura: 2 min

Da Redação

Jornalista, escritor, sociólogo e apresentador de TV, o professor Laurindo Leal Filho é um dos maiores especialistas brasileiros em análise de mídia.

Autor de vários livros, ele também fez relatos jornalísticos importantes. Pessoalmente, em visita à TV Globo, testemunhou quando o apresentador William Bonner se referiu aos telespectadores do Jornal Nacional como Homer Simpsons.

No sábado, o JN dedicou o que no meio é chamado de “lapada” sobre as vigorosas manifestações que pediram o impeachment de Jair Bolsonaro, mais vacinas e aumento do auxílio emergencial para R$ 600.

Não teve entrada ao vivo de repórter.

No domingo, o diário direitista carioca O Globo não noticiou as manifestações na capa, enquanto seu congênere paulista Estadão deu uma pequena chamada destacando “aglomerações”.

Laurindo não desdenha do poder dos barões midiáticos brasileiros, pois acredita que apesar da decadência relativa dos impressos eles ainda tem poder de influenciar outras mídias, especialmente emissoras de rádio que simplesmente reproduzem o que sai na imprensa escrita.

O professor diz que só estranham tal comportamento dos donos de jornais aqueles que desconhecem a História.

No dia primeiro de abril de 1964, quando tanques estavam nas ruas para implantar uma ditadura militar que durou 21 anos, a manchete principal de O Globo foi “Ressurge a Democracia”.

Para Laurindo, os jornalões nativos, todos de direita, representam e falam para 30 milhões de pessoas. São a elite.

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E esta elite, diz Lalo, ainda está apostando em uma terceira via nas eleições de 2022 e promovendo a falsa simetria entre Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula.

Um apoiador da tortura, que ameaça a democracia diariamente, lembra Laurindo, e outro que exerceu dois mandatos respeitando a República.

Por isso, mesmo as emissoras de notícias 24 horas por dia, como a Globonews e a CNN, não dedicaram à cobertura das manifestações do #M29 o mesmo tempo que dedicariam a outros eventos políticos da mesma envergadura, se fossem alinhados às pautas do empresariado de direita.

Laurindo diz que este comportamento da mídia não é bom sinal para o ano eleitoral de 2022. Sustenta que certamente a Globo e seus satélites continuam apostando suas fichas na política econômica de Paulo Guedes.

Se houver recuperação da economia, mesmo que lenta, como se prevê para o início de 2022, Laurindo não descarta que o papel crítico da mídia em relação ao governo Bolsonaro será amenizado, se isso for necessário para tirar do páreo o que ela considera a grande ameaça: a volta do ex-presidente Lula ao Planalto.

Assista à elucidativa entrevista do professor Laurindo, no topo desta postagem.

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Comentários

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Darcy Brasil

A tendência em limitar a análise da realidade política, social e econômica ao quadro da luta institucional, tomando como referência as eleições de 2022, sempre levará a esse tipo de conclusão apenas parcialmente verdadeira. É certo que existe a busca da chamada “terceira via” eleitoral, sendo errado, entretanto, afirmar que exista grande dificuldades para encontrá-la, pois o processo político de construção desta alternativa a Lula e a Bolsonaro somente começará a poder ser avaliado em sua força a partir de março de 2022. Por outro lado, a mídia de direita estaria equivocada se boicotasse a divulgação das manifestações do 29M por conta de seu interesse em defender uma “terceira via”, pois a viabilidade dessa terceira opção depende da inviabilidade de, pelo menos, uma das duas outras, sendo conveniente escolher como alvo principal, entre essas duas opções, a mais vulnerável. Portanto, do ponto de vista da luta institucional, o desgaste político de Bolsonaro interessa mais aos defensores da “terceira via” que aos arautos da candidatura de Lula. Assim, o que explica o boicote da divulgação das manifestações do 29M por parte da grande mídia que veicula o pensamento dos intelectuais orgânicos da plutocracia financeira internacional e nacional, não foi a sua estratégia em relação à luta institucional, não foram as eleições de 2022, não foi o ponto de vista dos reformistas social-democratas dos partidos institucionais da esquerda, mas sim o ponto de vista da luta não institucional, a dinâmica inerente aos movimentos populares, que não obedece a calendários eleitorais de democracias de fachada burguesa, mas ao nivel de consciência, organização, mobilização, revolta e disposição de luta dos atores sociais envolvidos, das organizações da juventude, das mulheres, dos negros, dos trabalhadores e do povo. Portanto, a mídia da direita tradicional boicotou a divulgação das manifestações 29M porque teme uma outra alternativa, uma outra “terceira via”, representada pela luta de massas que pode produzir uma rebelião popular no Brasil, no mínimo, semelhante à que se processou no Chile. Minha conclusão é que a mídia tradicional parece acreditar na possibilidade de rebeliões populares e em revoluções sociais muito mais – muito mais mesmo- que aqueles indivíduos que se assumem de esquerda que perderam a capacidade de considerar os trabalhadores e o povo como protagonistas conscientes da história, que tendem somente a considerá-los como homens comuns disponíveis apenas para votar em fulanos e beltranos de partidos institucionais de esquerda integrantes da ordem representada por uma democracia liberal burguesa de fachada.

Zé Maria

Apesar de muitos esforços de parte da mídia tradicional de minimizar ―ou mesmo esconder― o tamanho e a importância das manifestações deste sábado, o 29M foi um sucesso por muitas razões.
Os protestos embaralham a reação dos bolsonaristas e foi possível gerar imagens que mostraram grande adesão, o que é decisivo para produzir encorajamento para que mais pessoas se juntem a futuras manifestações.
O 29M não podia ser menor do que o 25M bolsonarista. Seria uma derrota política e um sinal de que estamos perdendo as ruas. Mas isso não ocorreu.
Apesar do medo e da cautela dos manifestantes em sair em meio a uma pandemia, o desespero deixou de paralisar e produziu um primeiro grito de ação.

Mais do que qualquer coisa, os atos do dia 29 de maio são uma mensagem de que estamos vivos. Quando escrevo sobre protestos, frequentemente recorro à expressão energia vital. A ideia de que multidões nas ruas são uma forma de vida não é nova. O sociólogo francês Émile Durkheim há mais de um século já descrevia sobre protestos como possibilidades de redirecionamento da vida, o elo reencontro do “eu” com o “coletivo”. Nunca isso fez tanto sentido depois de mais de um ano de isolamento e distanciamento social.

Lendo relatos ou trabalhos acadêmicos sobre manifestações desde 2013, encontrei dezenas de depoimentos de manifestantes que descreviam o ato de se juntar às multidões com frases como “estou vivo!”. Após 14 meses trancados dentro de casa por conta de uma pandemia, definhando mentalmente e vendo o bolsonarismo perverso debochar da nossa cara, o grito estava entalado. É emblemático que os muitos cartazes desse 29M diziam “estamos vivos”, especialmente porque grande parte de quem foi para as ruas foi justamente aquele que se isolou, quem perdeu amigos e familiares sabendo da importância de alguma forma de lockdown. Não foi uma escolha fácil. Muitas pessoas que não colocaram o nariz para fora de casa nos últimos meses sentiram que precisavam apoiar o ato para dizer que, apesar de tudo, estamos politicamente vivos.
[…]
O que sabemos é que os bolsonaristas possuem hegemonia na disputa das redes e virão com seus métodos mais sujos no ano eleitoral.
Também sabemos que setores da mídia tradicional, na hora H, se encolhem desde que o pacto Paulo Guedes permaneça. Portanto, não existe vitória garantida para ninguém.

muito a se fazer até eleições de 2022. Seja para quem defende um possível impeachment seja para quem entende que é preciso chegar até 2022, as ruas são um dos principais remédios para mostrar insatisfação popular, intimidar o bolsonarismo e causar ruptura da normalidade. Mas as ruas também são importantes para que as pessoas se reencontrem, rompam com a dor do isolamento político e possam reaprender a estar juntas novamente.

Rosana Pinheiro-Machado, Antropóloga, Escritora, Professora da Universidade de Bath (UK).
Autora de “Amanhã Vai Ser Maior” (Planeta).

Íntegra em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2021-05-31/ganhar-as-ruas-ate-2022.html

Marcos Rocha

O que vc espera de uma elite que odeia pobre, sobretudo, os negros. É logico que torcem pelo FHC aceitar morar no Brasil de novo.
Mas a coisa tá bem feia, pois o povao ja percebeu que tomou chapeu, sainha e lambreta.
E o Lula não é bobo, é um raposo assim como o FHC, nao sao amadores nao.
A direita fez o trabalho sujo que o PT demoraria uns 20 anos para fazer. O povo tomou atras e sem vaselina. Pois o PT nao vai desfazer nada disso exceto o teto de gastos.
Como um trabalhador vai juntar 40 anos de trabalho em carteira num pais que so tem bico, e o emprego que tem nao chega a 3 conto qdo tem, nem de nivel superior. Como ?
Os empregos migraram para o norte do mundo. Lá no norte do mundo tem + vacinas, aqui é o que sobra.
Aqui no sul é tudo caindo os pedaços.
Com certeza o FHC fala coisas no jantar com o Lula que ele irá levar em conta, pois nunca foram inimigos. É uma questao que nao passa batido a uma pessoa esperta e experiente como esses 2.
O povo que foi boca aberta e acreditou piamente em tudo que a tv dizia.

Já que o bozo gosta tanto de arroba, faaz a conta ai qtas arrobas de vaca seu salario comprava em 2015/6 e qto compra agora em 2021.
Tomou chapeu e sainha dentro da area em plena final de copa do mundo e nem perceberam. Gasosa em dolar é de matar, diesel entao é 10 x pior. Todo mundo usa diesel. Ate a salada.
Acha que o chupa cabra chupa dinheiro só de pobre.

Henrique martins

https://www.terra.com.br/diversao/tv/blog-sala-de-tv/bolsonaro-deve-ter-rido-ao-ser-poupado-na-inimiga-globo,834da4201aaf29e66a60bd3f9b2be010ga7u7opz.html

A postura da Globo me lembrou o personagem Jean Valjean do clássico Os Miseráveis, de Victor Hugo, na passagem em que ele livra seu carrasco Javert da morte. Quanta bondade dona Globo.
Detalhe: Nem por isso Javert deixou de persegui-lo.

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