Gasolina bate em R$ 8,20 no Acre. Gabrielli prevê alta ainda maior depois da venda de oito refinarias da Petrobras
Tempo de leitura: 4 minDa Redação
O Brasil tem algumas particularidades.
O SUS, por exemplo. E a rede nacional de transmissão que permite que energia produzida numa região possa ser transferida para outra.
Os Estados Unidos não dispõem nem de um, nem de outro.
Tiveram de improvisar postos de vacinação, inclusive em farmácias. E quando acontece um apagão no Texas não é possível transferir para lá energia produzida em Nova York.
Há uma terceira peculiaridade, graças à Petrobras: uma rede de 14 refinarias preparadas para produzir combustível e derivados a partir de petróleo de qualidades distintas.
Isso era uma grande vantagem quando a Petrobras era uma empresa “do poço ao poste” e dona da BR Distribuidora.
Desde o golpe de 2016, e com ajuda da Lava Jato, a Petrobras passou a ser esquartejada.
Apesar de vítima e não agente da corrupção, a estatal teve sua imagem jogada na lama pelo Jornal Nacional.
Diariamente, quando tratava de casos de pessoas que supostamente deram golpes na estatal, o telejornal da Globo exibia uma tubulação cuspindo dinheiro. E o símbolo da empresa aparecia na arte que ilustrava as manchetes bombásticas.
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Foi motivo até de um estudo na Universidade Federal do Ceará.
Os procuradores da Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba, ilegalmente, trocaram informações com promotores dos Estados Unidos e da Suiça, o que possibilitou que a Petrobras fosse forçada a pagar multa bilionária.
Além disso, a Força Tarefa pretendia usar dinheiro da Petrobras para financiar uma espécie de Partido da Justiça, sob o comando de Dallagnol.
O mais longevo dos presidentes da Petrobras, José Sergio Gabrielli, que comandou a estatal durante seis anos e meio, lembra em retrospectiva que o dinheiro desviado da estatal — R$ 6 bilhões — foi uma fração dos lucros extraordinários que a empresa teve no período da roubalheira praticada por alguns diretores.
Entre 2004 e 2014, o faturamento da Petrobras foi de R$ 2,6 trilhões — a corrupção foi de menos de 0,5%. Portanto, impossível atribuir à corrupção qualquer crise financeira na estatal.
Para Gabrielli, os danos causados pela Lava Jato à economia brasileira foram “100 vezes maiores” que o dinheiro recuperado pela Força Tarefa.
Os ladrões delataram, receberam pena branda e hoje dispõem de parte do dinheiro que desviaram.
A Petrobras e toda a sua cadeia produtiva, inclusive a indústria naval, sofreram um imenso baque, conforme demonstrou estudo do Dieese, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (ver íntegra no pé do post).
O estudo mostrou que a economia brasileira perdeu R$ 172,2 bilhões em investimentos e 4,4 milhões de empregos por causa da Lava Jato.
Gabrielli diz que a crise enfrentada pela Petrobras durante o governo Dilma não teve só a ver com a Lava Jato: foi causada pela queda repentina dos preços internacionais do petróleo, provocada pela Arábia Saudita e a Rússia, e pela apreciação do câmbio num momento em que a empresa, para atender à demanda do mercado interno, teve de importar combustível e derivados.
Porém, para ele, a Petrobras poderia ter contornado a crise, mesmo pagando juros mais altos para captar dinheiro no mercado internacional, sem as medidas drásticas que vieram depois do golpe de 2016, que resultaram na desintegração da estatal.
Ele enxerga dificuldades em o ex-presidente Lula, se concorrer em 2022 e for eleito, cumprir a promessa de recuperar ativos da Petrobras que foram vendidos na bacia das almas.
Sobre a programada venda de oito refinarias, ele concorda que há o risco delas se tornarem oito monopólios regionais distintos.
Sem a integração de que falamos acima, os donos das refinarias poderão ter custos mais altos para adequar a produção aos consumidores regionais e poderão ser obrigados a praticar preços mais altos que os de hoje.
Por causa da logística, será inviável para uma refinaria independente do Rio Grande do Sul vender seu produto no Amazonas com lucro.
Gabrielli não vê, no horizonte, uma queda no preço internacional do petróleo, ao qual os preços praticados nas bombas do Brasil estão amarrados.
De acordo com a CUT, o preço média da gasolina no Brasil está em R$ 5,20, com recorde de R$ 8,20 em Marechal Taumaturgo, no Acre.
No governo Dilma, houve protestos quando a gasolina ainda estava na casa dos R$ 3,70, sem considerar a inflação desde então.
“Nós não precisaríamos estar passando todos os dias, de forma contemporânea, todas as variações do preço internacional para o mercado brasileiro. Mas isso é uma escolha de política. E o governo Bolsonaro e o governo Temer vem desde 2016 adotando esta política de completo alinhamento do preço doméstico ao preço internacional para viabilizar as importações de derivados por agentes novos que foram autorizados a importar de 2016 para cá e para viabilizar a venda das refinarias”, diz Gabrielli.
Um das grandes importadoras é a Raízen, consórcio da anglo-holandesa Shell com a Cosan, da bilionária família Ometto.
Veja no topo a entrevista com Gabrielli.
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